sábado, 27 de abril de 2013

Capítulo 14 (Querido Jonh)


Nosso tempo restante na minha licença foi como eu tinha originalmente esperado.
Tirando o fim de semana com meu pai - no qual ele cozinhou pra nós e falou sem descanso
sobre moedas - ficávamos sozinhos o máximo possível. De volta a Chapel Hill, quando
Savannah terminava suas aulas do dia, nossas tardes e noites eram passadas juntos.
Caminhamos pelas lojas da rua Franklin, fomos ao Museu de História da Carolina do Norte
em Raleigh e até passamos algumas horas no zoológico da Carolina do Norte. Na minha
antepenúltima noite na cidade, fomos jantar no restaurante chique que o vendedor de sapatos
havia me falado. Ela não me deixou espiar enquanto ela estava se arrumando, mas quando ela
finalmente surgiu do banheiro, estava positivamente glamourosa. Fiquei encarando-a,
pensando no quanto eu era sortudo de estar com ela.


Não fizemos amor de novo. Depois da nossa noite juntos, acordei na manhã seguinte
para encontrar Savannah me estudando, as lágrimas rolando por suas bochechas. Antes que
eu pudesse perguntar o que havia de errado, ela colocou um dedo nos meus lábios e balançou
a cabeça, me pedindo pra não falar. "Noite passada foi maravilhoso," ela disse, "mas não
quero falar sobre isso." Ao invés disso, ela se enroscou ao meu redor e eu a segurei por um
longo momento, escutando o som da sua respiração. Eu sabia então que algo havia mudado
entre nós, mas naquela época, eu não tive a coragem de descobrir o que.


Na manhã em que parti, Savannah me levou até o aeroporto. Sentamos no portão juntos,
esperando pela chamada do vôo, seu polegar descrevendo pequenos círculos nas costas da
minha mão. Quando chegou a hora de eu embarcar, ela caiu em meus braços e começou a
chorar. Quando viu minha expressão, ela forçou uma risada, mas eu podia ouvir o pesar nela.
"Sei que prometi," ela disse, "mas não posso evitar."


"Vai ficar tudo bem," eu disse. "São apenas seis meses. Com tudo que está acontecendo
na sua vida, você vai se espantar com o quão rápido vai passar."


 fácil falar," ela disse, fungando. "Mas você está certo. Eu vou ser mais forte dessa
vez. Vou ficar bem."


Examinei seu rosto procurando sinais de negação mas não achei nenhum. "Sério," ela
disse. "Eu vou ficar bem."


Assenti e por um longo momento nós simplesmente nos encaramos.


"Você vai lembrar de olhar a lua cheia?" ela perguntou.


"Todas as vezes," prometi.


Compartilhamos um último beijo. A abracei com força e murmurei que a amava, depois
me forcei a soltá-la. Joguei minha mochila sobre os ombros e subi a rampa. Espiando por
cima do meu ombro me dei conta de que Savannah  havia ido embora, escondida em algum
lugar na multidão.


No avião, me deitei na poltrona, rezando para que Savannah estivesse dizendo a
verdade. Embora eu soubesse que ela me amava e se importava comigo, de repente entendi
que mesmo amor e cuidado nem sempre eram suficientes. Eles eram os tijolos concretos da
nossa relação, mas instáveis sem a argamassa do tempo passado juntos, tempo sem a ameaça
da separação iminente sobre nossas cabeças. Embora eu não quisesse admitir, havia mais
sobre ela que eu não sabia. Eu não tinha me dado conta de como a minha licença no ano
anterior a havia afetado e apesar de horas ansiosas pensando nisso, eu não tinha certeza de
como isso iria afetá-la agora. Nossa relação, senti com um peso em meu peito, estava
começando a parecer o movimento rotatório de um pião de criança. Quando estávamos
juntos, tínhamos o poder de mantê-lo girando e o resultado era beleza, magia e um senso de
maravilha quase infantil; quando separados, a rotação começava inevitavelmente a ficar mais
lenta. Nos tornamos cambaleantes e instáveis e eu sabia que tinha que encontrar um modo de
impedir que caíssemos.


Tinha aprendido minha lição do ano anterior. Não  escrevi mais cartas da Alemanha
durante julho e agosto, mas também telefonei pra Savannah mais freqüentemente. Ouvia
cuidadosamente durante as ligações, tentando reconhecer quaisquer sinais de depressão e
ansiando por ouvir palavras de afeto e desejo. No começo, eu ficava nervoso antes de fazer
aquelas ligações; no fim do verão, eu esperava por elas. Suas aulas iam bem. Ela passou
algumas semanas com os pais, depois começou o semestre de outono. Na primeira semana de
setembro, começamos a contagem regressiva dos dias que faltavam para minha dispensa.
Faltavam cem dias. Era mais fácil de falar de dias do que de semanas ou meses; de alguma
forma fazia a distância entre nós diminuir para algo mais íntimo, algo que nós dois sabíamos
que podíamos agüentar. A pior parte  tinha passado, lembrávamos um ao outro, e descobri
que enquanto eu cortava os dias no calendário, as preocupações que eu tive sobre nosso
relacionamento começaram a diminuir. Eu estava certo de que não havia nada no mundo que
pudesse nos impedir de ficar juntos.


Então o 11 de setembro veio.


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