segunda-feira, 22 de abril de 2013

Capítulo 13( Querido jonh)


Em junho de 2001, me deram licença e eu fui para casa imediatamente, voando de
Frankfurt à Nova York, e depois para Raleigh. Era uma noite de sexta e Savannah havia
prometido que me pegaria no aeroporto antes de me levar para Lenoir para conhecer seus
pais. Ela me lançou essa surpresinha um dia antes do meu vôo. Veja, eu não tinha nada contra
conhecer seus pais. Tinha certeza que eles eram pessoas maravilhosas e tudo, mas se fosse
por mim, preferiria ter Savannah toda para mim pelo menos pelos primeiros dias. É meio que
difícil compensar o tempo perdido com pais por perto. Mesmo que nós não fôssemos além - e
conhecendo Savannah, eu tinha certeza que nós não iríamos, mas ainda assim cruzava os
dedos - como os pais dela me tratariam se eu ficasse com a filha deles até altas horas, mesmo
que tudo o que fizéssemos fosse nos deitar embaixo das estrelas? Certamente ela era uma
adulta, mas pais eram engraçados quando se tratava de seus próprios filhos, e eu não tinha
ilusões de que eles seriam compreensivos sobre a coisa toda. Ela sempre seria a garotinha
deles, se você entende o que quero dizer.


Mas Savannah tinha uma razão quando me explicou. Eu tinha dois finais de semana
livres e se eu planejava ver meu pai no segundo fim de semana, eu tinha que ver os dela no
primeiro fim de semana. Além disso, ela estava tão animada com isso que tudo o que eu pude
dizer foi que estava ansioso para conhecê-los. Ainda assim, me perguntei se eu seria capaz de
até mesmo segurar sua mão, e especulei se poderia convencê-la a fazer um pequeno desvio
no caminho até Lenoir.

Assim que o avião pousou, minha expectativa cresceu e pude sentir meu coração
estrondando. Mas eu não sabia como agir. Eu deveria correr para ela assim que a visse ou
andar casualmente, calmo e sob controle? Eu ainda não tinha certeza, mas antes que eu
pudesse insistir nisso, estava na esteira, subindo o corredor. Lancei minha bolsa-sacola sobre
os ombros enquanto saía na rampa que dava acesso ao terminal. Eu não a vi a princípio -
muitas pessoas circulando. Quando examinei a área uma segunda vez, a vi à esquerda e me
dei conta instantaneamente que todas as minhas preocupações eram sem sentido, ela me viu e
veio correndo a toda. Mal tive tempo de soltar minha bolsa sacola antes que ela pulasse nos
meus braços, e o beijo que se seguiu foi como nosso próprio reino mágico, completo com sua
língua e geografia especiais, mitos fabulosos e maravilhas pelos tempos. E quando ela se
afastou e murmurou, "Senti tanto a sua falta," eu senti como se tivesse sido colado
novamente depois de passar um ano cortado em dois.


Não sei quanto tempo ficamos em  abraçados, mas quando finalmente começamos a
nos mover em direção a esteira de bagagens, deslizei minha mão dentro da dela sabendo que
a amava não apenas mais do que a última vez que a tinha visto, mas mais do que eu algum
dia poderia amar alguém.


No caminho falamos facilmente, mas fizemos um pequeno desvio. Depois de parar no
acostamento, nos agarramos como adolescentes. Foi ótimo - vamos deixar assim-e algumas
horas depois, chegamos à casa dela. Seus pais estavam esperando na varanda de uma
elegante casa Vitoriana. Me surpreendendo, a mãe dela me abraçou assim que eu cheguei
perto, depois me ofereceu uma cerveja. Recusei, principalmente por que sabia que seria o
único bebendo, mas gostei do esforço. A mãe de Savannah, Jill, era muito parecida com
Savannah: amigável, aberta e muito mais esperta do que parecia. O pai dela era exatamente o
mesmo e me diverti os visitando. Não doeu que Savannah tenha segurado minha mão todo o
tempo e parecia completamente à vontade. No fim da noite, fomos caminhar à luz da lua.
Quando voltamos à casa, parecia quase como se nunca tivéssemos nos separado.


Não preciso nem dizer que dormi no quarto de hóspedes. Não esperava que fosse de
outra forma, e o quarto era muito melhor que a maioria dos lugares que eu havia ficado, com
mobília clássica e um colchão confortável. O ar estava abafado porém, e eu abri a janela,
esperando que o ar da montanha trouxesse um frescor. Tinha sido um longo dia-eu ainda
estava com o horário da Alemanha - e peguei no sono imediatamente,  pra acordar uma
hora depois quando ouvi minha porta abrir rangendo. Savannah, vestindo confortáveis
pijamas de algodão e meias, fechou a porta atrás de si e andou em direção a cama, na ponta
dos pés.


Ela colocou um dedo na frente dos lábios pra me manter calado. "Meus pais me
matariam se soubessem que eu estou fazendo isso," ela murmurou. Se arrastou para a cama
ao meu lado e ajeitou as cobertas, as puxando até o pescoço como se estivesse acampando no
ártico. Coloquei meus braços ao redor dela, amando a sensação do seu corpo contra o meu.


Nos beijamos e rimos por quase toda a noite, então ela se esgueirou de volta ao seu
quarto. Adormeci novamente, provavelmente antes que ela alcançasse seu quarto e acordei
com a visão da luz do sol jorrando da janela. O cheiro do café da manhã entrando no quarto e
eu vesti rapidamente uma camisa e uma calça jeans e desci até a cozinha. Savannah estava na
mesa, falando com sua mãe enquanto seu pai lia o jornal e eu senti o peso da presença deles
quando entrei.


Me sentei na mesa, e a mãe de Savannah me serviu uma xícara de café antes de colocar
um prato de ovos com bacon na minha frente. Savannah, que estava sentada à minha frente 
tomada banho e vestida, estava muito feliz e impossivelmente bonita na luz macia da manhã.


"Dormiu bem?" ela perguntou, seus olhando brilhando travessos. Eu assenti.


"Na verdade, eu tive o sonho mais maravilhoso," eu disse.


"Oh?" a mãe dela perguntou. "Sobre o que foi?"


Senti Savannah me chutar embaixo da mesa. Ela sacudiu a cabeça quase
imperceptivelmente. Tenho que admitir que adorei a visão de Savannah se envergonhando,
mas era o bastante. Fingi me concentrar. "Não consigo me lembrar agora," eu disse.


"Odeio quando isso acontece," sua mão disse. "O café está bom?"


"Está ótimo," eu disse. "Obrigada." Olhei para Savannah. "Qual é a agenda de hoje?"


Ela se inclinou por cima da mesa. "Pensei que nós podíamos ir cavalgar. Acha que você
gostaria?"


Quando eu hesitei, ela riu. "Você vai ficar bem," ela acrescentou. "Prometo."


 fácil pra você falar."


Ela montou Midas; pra mim ela sugeriu um cavalo chamado Pepper, que seu pai
montava geralmente. Passamos a maior parte do dia subindo por trilhas, galopando por
campos abertos e explorando essa parte do mundo dela. Ela preparou um almoço de
piquenique e comemos em um lugar que tinha vista de toda Lenoir. Ela apontou escolas que
frequentou e casas de pessoas que ela conhecia. Me ocorreu que ela não apenas amava o
lugar como nunca iria querer viver em outro lugar.




Passamos seis ou sete horas nas selas e fiz o meu melhor para acompanhar Savannah,
embora isso fosse perto de impossível. Não acabei com minha cara na terra, mas houve
alguns momentos perigosos aqui e ali quando Pepper se comportou mal e levei tudo o que eu
tinha pra me segurar. Não foi até Savannah e eu nos aprontarmos para o jantar que eu me dei
conta no que tinha me metido, contudo. Pouco a pouco, comecei a me dar conta que a minha
caminhada lembrava o andar de um animal de quatro patas. Os músculos anteriores das
minhas pernas estavam como se Tony tivesse batido neles por horas.


No sábado á noite, Savannah eu fomos jantar num aconchegante restaurante italiano.
Depois disso, ela sugeriu que fôssemos dançar, mas  eu mal podia me mover. Enquanto eu
mancava em direção ao carro, ela adotou uma expressão preocupada e esticou o braço para
me parar.


Se inclinando ela agarrou minha perna. "Dói quando eu aperto aqui?"


Eu pulei e gritei. Por alguma razão, ela achou divertido.


"Por que você fez isso? Doeu!"


Ela sorriu. "Estava  checando?"


"Checando o que? Eu  lhe disse-estou inflamado."


"Eu  queria ver se a pequena eu podia fazer um cara do exército grande e duro como
você gritar."


Esfreguei minha perna. "É, bem, não vamos mais testar isso, certo?"


"Certo," ela disse. "Eu sinto muito."


"Você não parece sentir."


"Bem, eu sinto," ela disse. "Mas é meio que engraçado, não acha? Quer dizer, eu montei
o mesmo tempo que você e eu, estou bem."


"Você monta o tempo todo."


"Eu não montava a mais de um mês."


"É, bem."


"Vamos lá. Admita. Foi engraçado, não foi?"


"Nem um pouco."


No domingo, fomos à igreja com a família dela. Eu estava muito inflamado pra fazer
mais alguma coisa pelo resto do dia, então eu fiquei no sofá e assisti a uma partida de
baseball com o pai dela. A mãe de Savannah trouxe sanduíches e eu passei a tarde
estremecendo toda vez que tentava ficar confortável enquanto o jogo tinha entradas extras. O
pai dela era fácil de conversar e a conversa flutuou da vida no exército para ensinar algumas
das crianças que ele treinava e suas esperanças para o futuro delas. Gostei dele. Do meu
lugar, eu podia ouvir Savannah e sua mãe conversando na cozinha, e de vez em quando
Savannah vinha até a sala com uma cesta de roupas para dobrar enquanto sua mãe colocava
outra carga na máquina de lavar. Embora tecnicamente fosse uma universitária formada e
adulta, ela ainda trazia suas roupas sujas para a mãe lavar.


Naquela noite, dirigimos de volta à Chapel Hill e Savannah me mostrou seu
apartamento. Era escasso no departamento de móveis, mas era relativamente novo e tinha
uma lareira a gás e uma varanda que tinha vista para o campus. Apesar do clima ameno, ela
acendeu a lareira e lanchamos queijo e bolachas, o que, tirando cereal, era tudo que ela tinha
para oferecer. Pareceu indescritivelmente romântico para mim. Conversamos até quase meia-
noite, mas Savannah estava mais quieta do que o normal. Algum tempo depois, ela caminhou
até o quarto. Quando ela não voltou, fui encontrá-la. Estava sentada na cama, e eu parei na
porta.


Ela apertou as duas mãos e deu um longo suspiro. "Então...," ela começou.


"Então...," eu respondi quando ela permaneceu em silêncio.


Ela deu outro longo suspiro. "Está ficando tarde. E eu tenho aula cedo amanhã."


Assenti. "Você deveria ir dormir"

"É" ela disse. Assentiu como se não tivesse considerado isso e se virou para a janela.
Pelas persianas eu podia ver raios de luz jorrando do estacionamento. Ela ficava fofa quando
estava nervosa.


"Então...," ela disse novamente, como se falasse com a parede.


Levantei minhas mãos. "Por que eu não durmo no sofá?"


"Você não se importa?"


"Nem um pouco," eu disse. Na verdade, não era o que eu preferia, mas eu entendi.


Ainda olhando pela janela, ela não se moveu para levantar.


"Eu  não estou pronta," ela disse, sua voz suave. "Quer dizer, eu pensei que estava e
uma parte de mim realmente quer isso. Tenho pensado sobre isso pelas últimas semanas e me
decidi, e parecia certo, sabe? Eu te amo e você me ama, e é isso que as pessoas fazem quando
estão apaixonadas. Era fácil dizer isso a mim mesma quando você não estava aqui, mas
agora..." ela parou de falar.


"Tudo bem," eu disse.


Finalmente ela se virou pra mim. "Você estava com medo? Na sua primeira vez?"


Me perguntei qual a melhor maneira de responder isso. "Acho que é diferente para
homens e mulheres," eu disse.


"É. Acho que sim." Ela fingiu ajeitar os cobertores. "Você está com raiva?"


"Nem um pouco."
"Mas está decepcionado."


"Bem..." eu admiti e ela riu.


"Desculpe," ela disse.


"Não  razão para se desculpar."


Ela pensou nisso. "Então por que eu sinto como se tivesse que me desculpar?"


"Bem, eu sou um soldado solitário," afirmei e ela riu novamente. Eu ainda podia ouvir
o nervosismo nela.


"O sofá não é muito confortável," ela se preocupou. "E é pequeno. Você não vai poder
se esticar. E eu não tenho cobertores extras. Eu devia ter trazido alguns de casa, mas
esqueci."


"Isso é um problema."


"É," ela disse. Eu esperei.


"Acho que você poderia dormir comigo," ela arriscou.


Esperei um momento que ela continuasse seu próprio debate interno. Finalmente ela
deu de ombros. "Quer tentar?  dormir, eu quero dizer?"


"O que você quiser."


Pela primeira vez, seus ombros relaxaram. "Certo, então. Decidimos.  me  um
minuto para me trocar."
Ela se levantou da cama, cruzou o quarto e abriu uma gaveta. O pijama que ela
escolheu era parecido com o que ela tinha escolhido na casa dos pais e eu a deixei para voltar
à sala, onde eu vesti um dos meus shorts de malhar e uma camisa. Quando retornei, ela 
estava embaixo dos cobertores. Fui para o outro lado e me arrastei para o seu lado. Ela
ajeitou os cobertores antes de desligar a luz, depois deitou de volta, encarando o teto.


Deitei de lado, a olhando. "Boa noite," ela murmurou.


"Boa noite."




Eu sabia que não dormiria. Não por um tempo de qualquer forma. Eu estava muito...
incitado pra isso. Mas eu não queria ficar me remexendo, caso ela pudesse.


"Ei," ela finalmente sussurrou de novo.


"Sim?"


Ela se virou para me encarar. "Eu  quero que você saiba que essa é a primeira vez que
eu dormi com um homem. A noite toda, eu quero dizer. É um passo adiante, certo?"


"É," eu disse.  um passo adiante."


Ela acariciou meu braço. "E agora se alguém perguntar, você vai poder dizer que nós
dormimos juntos."


"Verdade," eu disse.


"Mas você não vai dizer a ninguém, vai? Quer dizer, eu não quero ficar com uma
reputação, você sabe."
Eu sufoquei uma risada. "Vai ser nosso segredinho."


Os próximos dias caíram para um padrão relaxado e fácil. Savannah tinha aulas pela
manhã e geralmente acabava um pouco antes do almoço. Teoricamente, acho que me deu a
oportunidade de dormir até tarde - algo que todo soldado sonha quando falam em sair de
licença - mas anos de acordar antes do amanhecer era um hábito impossível de quebrar. Ao
invés disso, eu acordava antes dela e fazia um bule de café antes de ir até à esquina pegar o
jornal. Ocasionalmente, comprava alguns bagels ou croissants; outras vezes, nós
simplesmente comíamos cereal em casa, e era fácil visualizar a nossa pequena rotina como
uma prévia dos primeiros anos da nossa futura vida juntos, Um êxtase sem esforço que era
quase bom demais pra ser verdade.


Ou, pelo menos, eu tentei me convencer disso. Quando ficamos com seus pais,
Savannah era exatamente a garota de quem eu lembrava. A mesma coisa na nossa primeira
noite sozinhos. Mas depois disso... comecei a notar diferenças. Acho que eu não tinha me
dado conta de que ela estava vivendo uma vida que parecia completa e realizada, mesmo sem
mim. O calendário que ela mantinha na porta da geladeira listava algo para fazer todo dia:
shows, palestras, meia dúzia de festas de vários amigos. Tim, eu notei, estava marcado para o
almoço ocasional também. Ela estava pagando quatro cadeiras e ensinava outra como
monitora e nas tardes de quinta, ela trabalhava com um professor no estudo de um caso que
ela tinha certeza que seria publicado. Sua vida era exatamente do modo como ela descreveu
nas cartas e quando retornava ao apartamento, ela me contava sobre o seu dia enquanto fazia
algo para comer na cozinha. Ela amava o trabalho que estava fazendo e o orgulho no seu tom
era evidente. Falava animadamente enquanto eu escutava e fazia perguntas suficientes para
manter o fluxo da conversa.


Nada anormal nisso, eu admiti. Eu sabia o bastante para me dar conta de que seria um
problema maior se ela não dissesse nada sobre o seu dia. Mas a cada nova história me faz
sentir naufragar,que me fazia pensar que não importava que nós mantivéssemos contato, não
importava que nos importássemos um com o outro, ela e eu tomamos caminhos contrários.
Desde a última vez que eu a tinha visto, ela havia completado sua graduação, lançado o
capelo* para o alto na formatura, encontrado trabalho como assistente graduada, se mudado e
mobiliado seu próprio apartamento. Sua vida havia entrado em uma nova fase, e enquanto eu
achava possível dizer a mesma coisa sobre mim, um fato simples era que nada tinha mudado
muito na minha vida, a menos que você conte o fato que agora eu sei como montar e
desmontar oito tipos de armas ao invés de seis e aumentei meu levantamento de peso em
mais 13 quilos. E, é claro, eu havia feito minha parte dando aos russos algo para pensar se
eles estivessem debatendo se deveriam ou não invadir a Alemanha com dúzias de divisões
mecanizadas.
*Chapéu de formatura.


Não me entenda mal. Eu ainda estava louco por Savannah e havia momentos em que eu
ainda sentia a força dos seus sentimentos por mim. Muitos momentos, de fato. Na maior
parte, foi uma semana maravilhosa. Enquanto ela estava fora, eu caminhava pelo campus ou
corria pela pista perto da casa de campo, aproveitando meu merecido tempo relaxado. Dentro
de um dia eu achei uma academia que me permitia malhar pelo tempo que eu estivesse  e
porque eu estava de licença eles nem me cobraram nada. Eu geralmente tinha acabado de
malhar e tomar banho na hora que Savannah voltava e nós passávamos o resto da tarde
juntos. Na terça à noite nos juntamos a um grupo de colegas de classe dela para jantar no
centro de Chapel Hill. Foi mais divertido do que eu pensei que seria, especialmente
considerando que eu estava saindo com um grupo de caras da aeronáutica de escola de
veraneio e a maior parte da conversa foi centrada em psicologia de adolescentes. Na quarta à
tarde, Savannah me deu um tour das suas aulas e me apresentou aos professores. Mais tarde
naquela tarde, nos encontramos com algumas pessoas as quais eu havia sido apresentado na
noite anterior. Naquela noite, compramos comida chinesa e comemos na mesa do
apartamento dela. Ela estava vestindo uma daquelas blusas de alças, que acentuavam seu
bronzeado e tudo o que eu podia pensar era que ela era a mulher mais sexy que eu  havia
visto.




Na quinta, eu queria passar algum tempo sozinho com ela e decidi surpreendê-la com
uma noite fora especial. Enquanto ela estava em aula e trabalhando no estudo do caso, eu fui
ao shopping e gastei uma pequena fortuna em um terno e outra pequena fortuna em um par
de sapatos. Eu queria vê-la vestida formalmente e fiz reservas nesse restaurante que o
vendedor de sapatos tinha me dito que era o melhor da cidade. Cinco estrelas, menu exótico,
garçons vestidos impecavelmente, a coisa toda. Certamente eu não contei a Savannah sobre
isso de antemão - deveria ser uma surpresa afinal de contas - mas assim que ela passou pela
porta, eu descobri que ela  havia feito planos para passar outra noite com os mesmo amigos
que nós havíamos visto nos últimos dias. Ela parecia tão animada que eu nunca me
incomodei em contá-la o que eu havia planejado.


Ainda assim, eu não estava apenas decepcionado, estava com raiva. Ao meu ver, eu
estava mais do que feliz em passar uma noite com seus amigos, até mesmo uma noite
adicional. Mas quase todo dia? Depois de um ano separados, onde nós tivemos tão pouco
tempo juntos? Me incomodava que ela não parecia compartilhar do mesmo desejo. Pelos
últimos meses eu havia imaginado que nós passaríamos o máximo de tempo juntos que
pudéssemos, compensando o ano que passamos separados. Mas eu estava chegando à
conclusão de que estava errado. O que significava... o que?


Que eu não era tão importante para ela como ela era pra mim? Eu não sabia, mas dado o
meu humor, eu provavelmente deveria ter ficado no apartamento e a deixado ir sozinha. Em
vez disso, sentei afastado, me recusei a tomar parte na conversa e praticamente desviei o
olhar de todos que olhavam na minha direção. Tinha ficado bom em intimidação com o
passar dos anos e eu estava em uma forma rara naquela noite. Savannah sabia que eu estava
com raiva, mas toda vez que ela perguntava se alguma coisa estava me incomodando, eu
estava no meu melhor modo passivo-agressivo de negar que alguma coisa estava errada.


"Só estou cansado," eu disse.


Ela tentou melhorar as coisas, admito. Ela segurava minha mão aqui e ali e me dava um
rápido sorriso quando achava que eu o veria, e me encheu de refrigerante e batatas fritas.
Depois de um tempo, contudo, ela se cansou da minha atitude e desistiu.


Não que eu a culpe. Eu tinha merecido e de alguma forma o fato de que ela tinha
começado a ficar com raiva de mim me deixou enrubescer com isso, ao invés de sentir
satisfação. Nós mal nos falamos no caminho para casa e quando fomos para cama, dormimos
em lados opostos do colchão. Pela manhã eu  tinha deixado pra lá, pronto para seguir em
frente. Infelizmente, ela não.




Enquanto eu estava fora pegando o jornal, ela deixou o apartamento sem tocar no café e
eu acabei bebendo meu café sozinho.


Eu sabia que tinha ido longe demais e planejei compensá-la assim que ela voltasse pra
casa. Queria deixar claras as minhas preocupações, contá-la sobre o jantar que eu havia
preparado e me desculpar pelo meu comportamento. Presumi que ela entenderia.
Colocaríamos tudo para trás com um romântico jantar fora. Era o que eu achava que
precisávamos, visto que íamos para Wilmington no dia seguinte para passar o fim de semana
com o meu pai.


Acredite ou não, eu queria vê-lo e assumi que ele estava ansioso para a minha visita
também, do seu próprio modo. Diferente de Savannah, meu pai se superava em se tratando
de expectativas. Pode não ter sido justo, mas Savannah tinha um papel diferente na minha
vida naquela época. Balancei a cabeça. Savannah. Sempre Savannah. Tudo nessa viagem,
tudo na minha vida, me dei conta, sempre tinha a ver com ela.


À uma hora, eu tinha acabado de malhar, tomado banho, arrumado a maioria das
minhas coisas e ligado para o restaurante para renovar minha reserva. Eu sabia da agenda de
Savannah àquela altura e presumi que ela estaria chegando a qualquer minuto. Sem mais
nada pra fazer, sentei no sofá e liguei a televisão. Programas de jogos, séries, programas de
vendas e entrevistas eram entremeados com comerciais de advogados oportunistas. O tempo
se arrastou enquanto eu esperava. Eu continuava andando até o pátio para olhar a vaga dela
no estacionamento e chequei meu equipamento três ou quatro vezes. Savannah, eu pensei,


estava certamente no caminho de casa, e eu me ocupei limpando a lava-louças. Alguns
minutos depois, escovei meus dentes pela segunda vez, então olhei pela janela mais uma vez.
Ainda sem Savannah. Liguei o rádio, ouvi algumas músicas e mudei de estação seis ou sete
vezes antes de desligá-lo. Caminhei até o pátio novamente. Nada. Nessa hora,  eram quase
duas.


Me perguntei onde ela estaria, senti os resquícios da raiva crescendo novamente, mas os
forcei a se afastar. Disse a mim mesmo que ela provavelmente teria uma explicação válida e
repeti de novo quando esse argumento não se segurou. Abri minha bolsa e tirei de  o último
livro de Stephen King. Enchi um copo com água gelada, me acomodei no sofá, mas quando
me dei conta de que estava lendo a mesma frase de novo, e de novo, coloquei o livro de lado.


Outros quinze minutos se passaram. Depois trinta. Na hora que eu ouvi o carro de
Savannah estacionando, minha mandíbula estava apertada e eu estava rangendo os dentes. Às
três e quinze, ela empurrou a porta. Estava toda sorrisos, como se nada estivesse errado.


"Oi, John," ela falou. Foi até a mesa e começou a desfazer sua bolsa. "Desculpe o
atraso, mas depois da minha aula, uma estudante apareceu para me contar que ela tinha
amado a minha aula e que por causa de mim ela queria se especializar em educação especial.
 pra acreditar nisso? Ela queria dicas sobre o que fazer, que cadeiras pagar, quais
professores eram os melhores... e o modo como ela ouviu minhas respostas..." Savannah
sacudiu a cabeça. "Foi tão... recompensador. O modo como essa garota estava se segurando a
tudo que eu dizia... bem, me faz sentir como se eu realmente estivesse fazendo a diferença
para alguém. Você ouve professores falando sobre experiências como essa, mas eu nunca
imaginei que aconteceria comigo."


Forcei um sorriso e ela o tomou como um sinal para continuar.




"De qualquer forma, ela perguntou se eu tinha algum tempo pra discutir isso e mesmo
eu dizendo a ela que  tinha alguns minutos, uma coisa levou à outra e nós acabamos indo


almoçar. Ela é mesmo especial, tem  dezessete anos mas se formou um ano mais cedo no
ensino médio. Ela passou em algumas provas especiais, então ela  está no segundo ano da
faculdade e vai pra escola de verão pra ir ainda mais longe. É impossível não admirá-la."


Ela queria coro pra seu entusiasmo, mas eu não pude reuní-lo. "Ela parece ótima," eu
disse.


Com a minha resposta, Savannah parecia realmente olhar pra mim pela primeira vez e
eu não fiz nenhum esforço para esconder meus sentimentos.


"O que  de errado?" ela perguntou.


"Nada," eu menti.


Ela colocou a bolsa de lado com um suspiro desgostoso. "Você não quer falar sobre
isso? Ótimo. Mas você deveria saber que isso está ficando um pouco cansativo."


"O que isso quer dizer?"


Ela virou em minha direção. "Isso! O modo como você está agindo," ela disse. "Você
não é tão difícil de interpretar, John. Você está com raiva mas não quer me dizer o porquê."




Hesitei, ficando na defensiva. Quando finalmente falei, me forcei a manter a voz firme.
"Certo," eu disse, "Eu achei que você estaria em casa horas atrás..."


Ela ergueu os braços.  por causa disso? Eu  te expliquei. Acredite ou não, eu tenho
responsabilidades agora. E se eu não estou errada, eu me desculpei pelo atraso assim que
passei pela porta."


"Eu sei, mas..."
"Mas o que? Minhas desculpas não foram boas o bastante?"


"Eu não disse isso."


"Então o que é?"


Quando eu não pude achar as palavras, ela colocou as mãos nos quadris. "Você quer
saber o que eu acho? Você ainda está zangado por causa de ontem à noite. Mas me deixe
adivinhar - você também não quer falar sobre isso, certo?"


Fechei meus olhos. "Ontem à noite você-"


"Eu?" ela me interrompei e começou a sacudir a cabeça. "Ah, não, não me culpe por
isso! Eu não fiz nada de errado. Não fui eu quem começou isso! Ontem à noite poderia ter
sido divertido-teria sido divertido - mas você tinha que ficar  sentado como se quisesse
atirar em alguém."


Ela estava exagerando. Ou, novamente, talvez não. De qualquer forma, permaneci
calado.


Ela continuou. "Sabia que eu tive que inventar desculpas pra você hoje? E como isso
me fez sentir? Ali estava eu, soltando elogios pra você durante todo o ano, contando aos
meus amigos que cara legal você era, o quão maturo você era, o quanto eu estou orgulhosa
do trabalho que você está fazendo. E eles acabaram vendo um lado seu que nem mesmo eu
tinha visto antes. Você foi... grosseiro."


"Você  pensou que eu podia estar agindo daquela maneira porque não queria estar lá?"


Isso a fez parar, mas  por um instante. Ela cruzou os braços. "Talvez o modo como
você agiu ontem à noite foi a razão para eu me atrasar hoje."

Nenhum comentário:

Postar um comentário