domingo, 2 de dezembro de 2012

Capítulo 9 (Opúsculo-A Paródia)


9 - CONVITE
PARALISADA DE MEDO, FIZ UM ESFORÇO PARA ME  LEMBRAR das regras de luta que  aprendi  na
Cardio Kicks
16
: 1) Você consegue, garota! 2) Manda ver! 3) Vamos lá, senhoras, mais dez vezes!
Nenhuma daquelas regras funcionaria. Os dentes de Josh estavam a quartos polegadas de minha garganta e era
só uma questão de tempo até que ele diminuísse essa distância pela metade, e então seus dentes estariam só a
duas polegadas. Depois, uma polegada. Então, meia polegada... um quarto... um oitavo... um dezesseis avos...
De repente,  lembrei-me do Paradoxo de Zeno.
Enquanto Josh continuasse se movendo em direção à minha
garganta em frações, nunca poderia alcançá-la.
Contudo,  ele não  avançou para mim  em  frações, mas  sim  num único  bote.  Abandonando  a lógica, por fim
decidi usar meu treinamento de
krav maga
, apanhando o banco à minha esquerda e atirando-o em cima dele.
17
O banco se esmigalhou com o impacto. É claro. Todos os bancos de vidro tradicionais de Oregon tinham sido
recentemente substituídos por bancos de vidro de segurança, quebram em mil pedacinhos. Pensando depressa,
agachei-me  e  saltei  para  intimidar  Josh  com  meu  treinamento de  combate.  Mas  Josh  não  recuou.  Em  vez
disso, assumiu a posição de guerreiro I, de ioga. Essa era a minha ideia! Minha única ideia.
Bem, pensei, sempre posso usar aqueles
nunchakus
que carrego comigo. Puxei-os de minhas meias e comecei
a girá-los sobre a cabeça. Imaginei se poderia girá-los tão rápido a ponto de eu ser erguida do chão, como um
helicóptero, mas antes que  eu  pudesse ver  para  onde  tinha  voado,  Josh me atingiu primeiro,  com força,  no
estômago.
Voei  para  trás  e  me  choquei  com  uma  lápide.  Graças  a  Deus,  não  estou  num  estúdio  de  balé  cheios  de
espelhos, pensei com alívio. Então ouvi o som mais doce que podia imaginar: um profundo e gutural  miado .
Foi quando eu soube que estava morta. Aquele som – o único que eu queria ouvir – estava me chamando para
o único paraíso aonde eu queria ir:  o Céu dos Gatos.
Abri os olhos para ver um gato preto se esfregando gentilmente em minhas pernas. Tudo bem, eu estava viva.
Não era de se espantar que eu achasse que ele era um anjo; o modo como ele ronronava me lembrava o jeito
de Edwart resmungar.
Foi quando
realmente
decidi lutar. Dei um salto para chutar Josh no traseiro. Consegui um tipo de meio-chute
ridículo, que acabou sendo mais um tímido toque com a ponta do pé. Suas nádegas sacudiram-se, incólumes,
jogando-me para trás dentro do túmulo vazio de onde ele surgira.
Eu  estava fitando o  céu  da noite,  deslumbrada, quando a cabeça de  Josh bloqueou minha  visão da lua. Ele
rapidamente se adiantou, como se fosse atacar, mas então parou. Teria o meu chutezinho enviado a ele o sinal
errado? Ele  ficou  de  pé ereto na beira da tumba,  olhando  para  mim lá embaixo.  Pela primeira vez, percebi
como era alto. Realmente, de onde eu estava sentada, ele parecia realmente muito, muito alto. Gosto de caras
altos.
As duas coisas que reparo em um cara são o quanto ele é alto e se ele é ou não um vampiro. Quase todas as
minhas  paixões  tem  sido  por  um  ou  por  outro.  Um  cara,  de  fato,  era  tanto  vampiro  quanto  alto,  mas  ele
terminou comigo para virar
gay.
- Morra! – ele rosnou.
- Socorro! – eu gritei.
Shhh!  Todo mundo no funeral próximo a nós sussurrava.
- Sinto muito – dissemos juntos. Ele me puxou para fora da tumba e continuamos a lutar em silêncio.
Lutamos por um tempo, ocasionalmente esquecendo-nos de quem era o humano e quem era o vampiro. Num
determinado  momento,  ele  ele  estava  usando  meu  vestido  e  eu,  sua  capa.  Estava  quase  o  mordendo,  mas
então, por um segundo, pensei ter visto algo que poderia redimi-lo sob aqueles olhos vermelhos, aquela capa e
aquela face pálida de talco.
- Você é o garoto que lia
Romeu e Julieta
todo dia na hora do almoço? – perguntei de repente.
-
Não
Belle. Pelo amor de Deus! Eu me sentava na mesa atrás de você e de seus amigos, com todos os meus
irmãos e irmãs.
Lembrei-me das mesas na lanchonete: a mesa de Edwart, a dos atletas, a dos populares (minha mesa), a dos
com pretensões artísticas, a dos vampiros. Ele devia ter se sentado na última.
Vendo que eu me sentava e abria um livro do ano para finalmente resolver isso, Josh continuou:
- Lembra daquele primeiro dia na lanchonete, quando nós dois chegamos no queijo cottage ao mesmo tempo?
E  então  tentamos  disfarçar,  como  se  estivéssemos  realmente  querendo  batatas  fritas,  mas  realmente  só
esperando a outra pessoa partir para poder pegar o queijo cottage? Ou do segundo dia, quando salvei você de
ser atropelada por um carro no estacionamento da escola?
Ele falava como alguém de um tempo muito, muito distante, como a escola de ensino fundamental. Era tão
encantador! Eu percebi que suas sentenças eram tão longas que eu facilmente poderia fugir. Poderia realmente
ter fugido em qualquer momento, mas algo me segurava lá, mesmo quando Josh afastou-se para gritar dentro
da escuridão.
- Vicky! – ele chamou. – Como está indo o vídeo?
-  Está  tudo  gravado!  –  disse  uma  pequena  vampira,  saindo  detrás  de  uma  lápide.  Estava  segurando  uma
filmadora, eu  podia  dizer que  ela era má porque tinha  cabelos  vermelhos ondulados, um  sorriso  estranho  e
estava usando um poncho felpudo de lã.
- Achei que este seria um lugar dramático para o nosso filme doméstico – Josh apontou para o cemitério.
- Como você se sente por ser uma estrela de cinema? – ele perguntou-me, ameaçador.
Antes que eu pudesse responder, Vicky apressou-se em arrumar meu cabelo e colar presas postiças em minha
boca.
- Que filme? – perguntei incredulamente. Eu não havia assinado nenhum contrato. Meus movimentos de luta
tinham copyright.
-   chamado  Um Dia na Vida de Josh e Vicky ! – disse Vicky. – Começamos a filmar essa manhã quando
acordamos e continuamos ao longo do dia. Está sendo realmente divertido, especialmente quando filmei Josh
fazendo sua lição de casa.
- Fiz um filme caseiro uma vez, logo antes de partir de Phoenix para sempre. Eu me produzi toda e dancei com
um traje de balé que costumava usar quando tinha dois anos de idade. Minha mãe adorou.
- Tenho uma ideia – Vicky continuou. – Belle, por que não  diz alguma coisa no vídeo?  Como por exemplo
Que ótimo conhecer vocês, Josh e Vicky! Obrigada por não me comerem .
Vicky ergueu sua câmera. Olhei de um vampiro para o outro. Engoli um inseto. Senti como se meus joelho
estivessem faltando.
- Memórias são tão importante, você não acha? – Vicky disse.
Eu falei o meu texto rapidamente para disfarçar minha pronúncia ruim da difícil para estrangeira  para . Sei
que ela pode ser pronunciada como  para  ou  pra , mas sempre me confundo.
- Agora beije! – Vicky sussurrou. A câmera ainda estava ligada.
Josh fechou os olhos e franziu os lábios. Ele se inclinou para a frente. Há apenas alguns minutos ele queria me
matar, o que acho que seria justo, porque eu queria lhe apunhalar um prego na axila. Além disso, alguns de
seus dentes afiados estavam saindo de  seus  lábios  franzidos  e eu estava alerta. O que aconteceria se minha
atuação fosse ruim?
Então, lembrei-me de que era uma grande atriz. Cerrei os olhos e inclinei-me para ele. Beijamo-nos. Não senti
nada, no entanto, porque era  tudo parte de um  dia  de trabalho  até aquele momento. Ocorreu-me  que beijar
talvez fosse a parte menos produtiva do cortejar humano, além de não ser muito higiênica. Foi isso o que o
modo dessensibilizado de atuar tinha feito em mim.
- O.k., ótimo! –  Vicky disse, desligando a câmera – Vejo você amanhã  de manhã para  O  Dia Seguinte na
Vida de Josh e Vicky!  – ela gritou, desaparecendo num túmulo próximo.
Sim
, decidi
. Ela é diabólica
.
Meus lábios estavam sangrando um pouco, então apressadamente os enxuguei. O que diria meu pai? Resolvi
que eu lhe diria que os  tinha mordido para deixá-los vermelhos, como costumava fazer antes de ser velha o
suficiente para usar brilho labial. Josh estava olhando para mim com olhos famintos.
- Cara, chove muito por aqui! – eu disse para preencher o silêncio.
-
Muito mesmo
. Então... ah... devemos continuar lutando ou o quê?
Josh  arremessou-se para  a  frente  e  pressionou seus  lábios  nos  meus  outras  dez  vezes.  Resisti  um  poco  no
começo, para parecer que eu era aquele tipo de garota – o tipo que não gosta de vampiros -, mas então ele me
deu  um  beijo de língua.
Que estranho!
Eu  já  tinha ouvido falar  sobre isso  antes,  mas  nada  poderia ter me
preparado para essa estranha sensação. Mesmo depois de ele tirar o nariz das minhas axilas, eu ainda sentia
uma ligeira sensação de cócegas.
-  Então,  é  estranho  se  eu  perguntar  qual  o  nosso
status
agora? – perguntei rapidamente. Não  que  isso  me
preocupasse de qualquer jeito. Só queria
saber
, entende?
- Não, de maneira nenhuma. Somos um casal agora.
Humm
Imaginei  como  expressaria  isso  no  Facebook.  Eu  teria  que  mudar  o  que  estava  escrito  antes:
complicado com um vampiro . Mas então percebi que essa frase funcionava muito bem na situação atual.
- Quer vir ao baila da formatura de vampiros comigo esta noite? – Josh perguntou.
Lembrei-me do meu último baile: as estúpidas fotos pré-formatura, os horríveis vestidos cor -de-rosa, o globo
espelhado cafona, os tiros, as chamadas par a o 190, a cobertura da mídia nacional e a péssima banda.
- Claro! – eu disse.
- Ótimo, porque já consegui um convite para você.
- Oh, espere – eu falei, de repente me lembrando do garoto que tinha dado no pé minutos atrás. – Acho que já
disse que ia com outra pessoa...
- Outro vampiro?
- Não. Achei que era, mas não é.
Lembrando de Edwart, fiquei nervosa e senti-me um pouco tola. Eu devia ter percebido  que ele não era um
vampiro.  Ele  fracassou  em  atender  aos  três  critérios  reveladores  de  vampirismo:  falar  à  moda  antiga,  ser
pomposo e ter pele brilhante.
-  Bem,  isso não importa mesmo –  Josh  disse. –  Nós,  vampiros, temos  uma  formatura  escolar  separada no
inverno, em vez da primavera. Coincidentemente, numa época muito inconveniente para fotos ao ar livre – ele
sorriu com sarcasmo. – Não acredito naquela história de  separados, mas iguais .
Sacudi  a  cabeça,  concordando.  Nunca  tinha  percebido  que  ser  um  vampiro  faz  você  diferente,  mas  não
daquele jeito legal do Dr. Seuss
, no qual você tem uma estrela na barriga.
18
Então nós nos sentamos para nos aconchegar em f rente a uma tumba.
- Josh – perguntei – como você se tornou um vampiro?
- Lutei  com Drácula. Quase o matei, também, só que me senti mal quando ele me disse que eu  era o único
amigo e que essa havia sido a razão pela qual ele tinha me mantido preso em um calabouço por cinco anos.
Ele me mordeu logo que me virei para  retornar ao calabouço. Que trapaceiro!  Mas ele pode  ser muito leal,
desde que você o conheça por alguns séculos.
- Você conhece o Drácula?! – gritei. – Que legal!
Imaginei o  que faria  se alguma  vez  me  encontrasse com Dr cula. Provavelmente  diria  sou Belle Goose, a
garota dos vampiros , e ele se curvaria e morderia meus pés.
- Bem, Belle – Josh disse. – Sou um cara muito descolado.
- Como o Drácula é?
- Tem caninos afiados. Tipo morcego.
Uau
. Namorar Josh  me  levaria  a todo  tipo  de oportunidades.  Talves ele conhecesse  p Monstro do Pântano
também.
- Levarei você para casa antes de irmos para a formatura – Josh disse, levantando-se e sacudindo o pó de sua
capa.  –  Você  provavelmente  vai  querer  colocar  um  pouco  de  maquiagem  ou  algo  assim.  Lave  seu  rosto
algumas vezes.
Corei. Não tinha percebido o cheiro tentador de sangue vindo dos poros do meu nariz.
Fomos  caminhando  de  mãos dadas  para  a  saída.  A  mão  de  Josh  estava  fria, mas  não  da  maneira suada  e
pegajosa com que eu  estava acostumada.  Edwart , pensei com um suspiro.  Edwart, Edwart . Onde eu tinha
ouvido esse nome?
- Espere aqui, minha bela – Josh disse, enquanto atravessávamos o portão do cemitério. – Vou pegar o carro.
Alguns minutos depois, ele apareceu dando um cavalo de pau e estacionou junto ao meio-fio.
- Entre – ele falou ferozmente.
O.k.  pensei.  Isso foi um pouco rude . Mas não disse nada, não naquele momento, nem quando ele saltou
do carro, vendou meus olhos e amarrou meus braços juntos.
- É para seu próprio bem, sua tonta.
Era duro argumentar contra isso, especialmente quando se está caindo dentro do carro.
Ele afivelou  meu cinto  de segurança. Poucos minutos depois, fiquei  surpresa de sentir o carro  mover -se tão
lenta e responsavelmente sob o controle de Josh. Mas, é claro, ele dirigia desde a invenção dos carros.
Paramos.
- Este é o plano: você sobe, se lava e se livra desse cheiro humano – Josh disse. Eu ainda estava vendada, mas
presumi que estivéssemos em minha casa, ou em algum outro lugar que tivesse escadas. – Vou enrolando seu
pai.
Ele tirou minha venda. Tropecei em direção à porta, mas ele me deteve no meio do caminho e tirou sua capa
para que eu caminhasse por cima dela, de modo que meus sapatos não se sujassem  na calçada. Eu o agradeci,
pisando  cuidadosamente  sobre  o  forro  de  cetim  vermelho.  Ele  rapidamente  ergueu  as  bordas  do  tecido,
fazendo uma sacola e carregando-me até a porta.
-  O  que  você  faria  sem  mim,  Belle?  –  ele  perguntou,  inserindo  um  dispositivo  de  rastreamento  em  meu
ouvido.
Seu  comportamento  era  incomum,  mas  eu  nunca  havia  namorado  um  vampiro  antes.  Além  disso,  quem
poderia culpar  Josh  por ele ser  possessivo? Eu  era  especial – uma  garota que  um  dia  estaria num show  de
entrevistas dizendo  Sim, Jô, minha infância foi difícil .
Levantando os ombros, procurei minhas chaves na bolsa, o que acabou por não ser necessário. Josh derreteu a
porta, fazendo um buraco, e me arremessou para dentro.
- Anda, anda, anda! – ele gritava. – Temos um baile de formatura de vampiros para ir!

Nenhum comentário:

Postar um comentário