domingo, 2 de dezembro de 2012

Capítulo 10 (Opúsculo-A Paródia)


10 -  FORMATURA DE VAMPIROS
CORRI ESCADA ACIMA  O  MAIS RÁPIDO  QUE  PUDE E então arranquei minha camisa e  atirei-a no
chão.
- Posso sugerir que vista algo simples? – uma voz me instruiu sem segundas intenções.
Virei para a janela e fiquei sem fôlego. Josh! Rapidamente, cobri minha blusinha estilo sutiã. Era tarde, no
entanto; Josh a tinha visto. Então, agora ele sabia que eu conhecia roupas de mulher.
- Não pretendo controlar cada faceta de sua vida – ele continuou, tomando minha mão e fechando a janela
com ela. – Mas acredito que não seria inteligente da sua parte usar algo chamativo na formatura. O tema é
Baile de Máscaras Veneziano, e você estará numa sala cheia de vampiros. Qualquer tecido que você tenha
que se camufle às paredes ou à pista de dança seria o melhor.
- Como você entrou aqui?
- Pela janela. Dããã. Esqueceu que eu sou um vampiro?
- Mas a minha janela mal tem sessenta centímetros de altura.
- Dããã. Fiz aquele truque vampírico em que você se encolhe com um raio vampírico e depois se bombeia
vampirescamente de volta ao tamanho normal.
Comecei a fazer perguntas, mas fomos interrompidos por uma violenta batida na porta.
- Onde ele está? – gritou Jim. – Aquele vampiro está aí dentro?
Josh disparou na minha direção e colocou a mão sobre a minha boca.
-
Nãão
– ele disse com uma voz baixa e máscula. –
Só a sua filha humana… completamente sozinha.
Tirei sua mão da minha boca.
- Não, pai – eu falei. – Não vejo nenhum vampiro por aqui. Mas vamos continuar procurando assim mesmo!
Quer dizer, eu continuarei procurando!
Depois de uma longa pausa, escutamos o som dos seus passos pesados descendo a escada.
Voltei-me para Josh.
- Não posso acreditar que você tenha dito a ele que era um vampiro! Jim detesta vampiros.
- Ficou  constrangida por minha  causa? – ele perguntou provocativamente. Então, agarrou minha cintura e
me puxou para mais perto. – E agora, hein? – ele disse, fazendo uma humilhante dança do pinguim.
- Não, não estou constrangida por sua causa. Apenas precisamos manter o seu vampirismo em segredo dos
meus amigos e da minha família para todo o sempre, certo?
Ele parou de dançar.
- Espera aí. Para todo o sempre?
Suspirei exasperada. Edwart podia ser ingênuo, mas não fazia metade dessas perguntas.
- Sim, para sempre. Assim que você tenha me mordido e me tornado sua companheira vampira.
Ele recuou devagar.
- Espere aqui, Belle – ele disse, abrindo a janela atrás de suas costas. – Existe algo que preciso fazer… em
outro lugar.
Quando escutei seu carro dar a partida e sair cantando pneus, voltei minha atenção ao meu
closet
. O que se
deveria vestir num baile de máscaras?  Atirei tudo o  que possuía sobre a cama. Atirei  o gesso  da perna, o
gesso  da  perna  esquerda,  o  do  pescoço,  o  de  vários  dedos.  No  final,  decidi  ir  com  todo  o  meu  corpo
engessado.
Um carro parou cantando pneus do lado de fora. Escutei vozes vindas da sala. Josh havia retornado! Rastejei
para a entrada, escutando o barulho de Jim recolocando seu rifle no mostruário de vidro na parede. Ele devia
ter convencido Jim de que não era um vampiro, pelo jeito, porque tudo o que eu ouvia era o zumbido baixo
da conversa deles.
Asseguro ao senhor que sou um cara muito conservador, Sr. Goose, prometo fazer tudo de acordo com as
regras. – Josh estava dizendo. – Aqui está o acor do que um intelectual da cidade vizinha redigiu para mim.
Ele diz que, em troca de namorar sua filha, eu te oferecei quatro gansas poedeiras, um fardo de barrotes de
madeira para barril e o uso da minha maior foice durante três semanas.
-  Isso me  agrada –  respondeu  Jim.  –  Sou  um  pai  extremamente permissivo  que  nunca  sonhou exigir  um
arranjo  desses,  mas  sou  declaradamente  um  aficionado  por  barrotes  de  madeira  para  barril.  Toma  uma
bebida comigo para celebrar?
Escutei o som de glub-glub sendo derramado em copos de vidro.
- Somente dois para mim, Sr. Goose – disse Josh. – Estou dirigindo.

- Mas o que você havia dito que era mesmo, Josh, meu garoto?
Inspirei profundamente e cerrei os olhos com for a. Não diga  vampiro .
- Um artista de grafite, senhor. Um artista de grafite em janelas.
- Sei…
De repente, o som de vidro se quebrando soou pela casa. Josh fugiu escada acima até o meu quarto, batendo
a porta atrás dele. Jim venceu rapidamente os degraus atrás dele, ficando mais e mais irritado a cada vez que
disparava seu rifle, enterrando as balas antigas, de valor incalculável, em nossos lambris de madeira feitos
na Frísia no século XVII.
- O que foi que eu disse de errado? – Josh gritou sem fôlego, empurrando minha penteadeira na frente da
porta.
- Jim é  lavador de janelas,  Josh.  E, de  acordo  com uma camiseta que ele tem,  também  é  um Inspetor do
Corpo Feminino. Acho que é tipo um ginecologista, mas sempre fico muito nauseada para perguntar.

Em  todo  o  caso,  ele  detesta  grafiteiros.  Na  verdade,  as  únicas  pessoas  que  ele  não  detesta  são  os
descendentes de lobisomens. Tente isso da próxima vez.
- O que você está vestindo? – perguntou Josh, admirando minha fantasia.
- Você gosta? É um gesso de corpo inteiro.
- Do que é essa fantasia? Algum tipo de múmia sinistra?
-  Sim  –  eu  respondi,  desconfortável.  Estava  um  pouco  sentida  que  ele  não  tivesse dito  que  era um belo
casulo. Talvez não tivéssemos sido feitos para criar três danchshunds
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juntos, afinal.
- Você está fantasiado de quê? – perguntei.
Josh estava vestindo um smoking preto formal com um colete cinza cor de fumaça.
- Sou um Cara Humano – ele disse com um sorriso forçado, fazendo seus falsos dentes humanos cintilarem.
Estremeci. Por que será que os caras insistem em vestir os trajes menos atraentes que conseguem encontrar
para festas à fantasia? – pensei justamente no momento em que Jim derrubou a porta.
- Você! – ele disse, apontando o rifle para Josh. Atirou.
BANG!
Josh voou para a esquerda, escapando sobrenaturalmente da bala.
BANG!
Josh deu um salto, escapando humanamente da bala.
Meu pai recarregou a arma. Primeiro, colocou a pólvora. Então, empurrou-a para baixo com uma vareta tipo
escova  e  adicionou  as  balas.  Naquele  momento,  pude  apostar  que  Jim  realmente  se  arrependera  de  ter
comprado aquele rifle da Guerra da Independência, embora o tivesse conseguido por um preço inacreditável.
Demorou  cerca  de  noventa  segundos  para  recarregar.  Não  parece  muito,  mas  experimente  esperar  em
silêncio apenas por cinco segundos. Parece muito tempo.
Um…
Dois…
Três…
Quatro…
Cinco…
Entende o que estou falando?
-  Relaxe,  pai  –  eu  disse,  antes  que  este  rídiculo  desperdício  de  papel  pudesse  continuar.  –  Ele  é  um
lobisomem.
Jim abaixou seu Rifle.
- Oh, sinto muito – ele murmurou. Então olhou para minha fantasia. – Uau, Belle! Você parece uma mulher
realmente madura!
Tive de admitir, eu estava formidável para uma embalagem de pupa de lagarta. Lucy e Laura diriam que eu
estava  sexy deliciosa , mas acho  formidável  uma palavra muito melhor. Eu tinha recentemente comprado
um dicionário. Você não pode imaginar quantas palavras existem nele! Quando abri aquele livro, eu fiquei
tipo assim  Uau, uma festa de palavras! .
Depois que extraímos as balas da parece, descemos as escadas para executar o tradicional ritual pai-esse-é-o-
meu-namorado.
- Então… Josh. Como vai a escola? – Jim perguntou.
- Bem.
- Hummm. Ah, você pratica algum esporte?
- Não. Importa-se se eu tirar meus dentes falsos? É difícil falar com eles – ele os tirou e expôs suas presas
afiadas e  pontudas. Pude ver o sangue  fugir do rosto  aterrorizado  de Jim  para a sua perna direita: o lugar
mais distante dos dentes de Josh que ele podia ficar.
- Você, hum, tem visto algum filme ultimamente?
- Por que pergunta? – Josh disse, calmamente, apertando um torniquete em torno da perna de Jim. Ela estava
agora inchada de sangue. Sangue delicioso, nutritivo.
-  Bem,  você  sabe…    simplesmente  uma  daquelas  perguntas  que  você  faz  aos  lobisomens.  Todo  o
lobisomem gosta de filmes, certo? – meu pai riu sabiamente.
- Essa é uma generalização muito ousada de se fazer, Sr. Jim. Pode permanecer  imóvel por um segundo? –
Josh tirou uma seringa do bolso e começou a extrair sangue da perna de Jim.
- Não estou sendo preconceituoso! Pode acreditar, alguns de meus melhores amigos são lobisomens.
- Bem, francamente, sou mais de televisão. Já assistiu  True Blood? É sobre vampiros. Divertido, mas não
muito realista. Cara, um sangue sintético que satisfaz vampiros? Sem Chance! Você  precisa da  coisa real.
De preferência, o sangue de uma adolescente. Tudo certo, Belle, está pronta?
- Sim! – levantei-me, exibindo as pregas suaves do meu gesso.
Comecei a girar graciosamente, mas depois que você começa é difícil parar. Senti-me como uma patinadora
de gelo, tanto em minha graça quanto em meu desejo de vomitar.
Josh finalmente me agarrou pelos ombros para me parar.
- Pare, Belle. Basta.
Sorri de volta para ele e olhei profundamente dentro de suas gigantescas pupilas perversas de vampiro. Ele
olhou friamente dentro das minhas.
- Agora sei por que eles a chamam de Bele – ele disse gentilmente. – Sabia que Belle significa  bela  em
espanhol?
- Estou quase certa de que você quer dizer em fr…
- Shhhh – disse Josh, efetivamente me silenciando. – Deixe Josh falar de agora em diante.
Ele era tão charmoso.
- Trarei sua estúpida filha para casa por volta da meia-noite, Sr. Jim – ele disse. – O senhor pode ficar com
isso – ele atirou a seringa de sangue de volta para ele. – Acho que estou pronto.
- Você  quer assistir ao  jogo dos Seahawks aqui em casa no domingo? – Jim  perguntou.  Jim era solitário.
Realmente, ele não tinha muitos amigos além do cara da cadeira de rodas.
- Já tenho compromissos, Sr.  Jim. Jogos de futebol são  geralmente durante o dia, e o senhor sabe… - ele
disse, timidamente apontando para sua pele e fazendo movimentos cintilantes com as mãos.
- Não compreendo. Meu outro amigo lobisomem assiste futebol o tempo todo.
- O.k., tchau, pai! – eu disse.
Josh  guiou-me porta  afora  na direção  de sua limusine preta. Antes que me empurrasse para dentro, olhou
para mim de cima a baixo.
- Ei, Belle, você sabe qual é o seu volume?
- O quê? – questionei, tentando pensar se uma esfera ou um cilindro eram uma representação melhor do meu
tipo de corpo.
- Então, quanto sangue você tem em seu corpo?
- Eu…  eu  não  sei.  Primeiro  preciso descobrir  qual    o  meu  raio,  Josh  –  eu  havia  decidido  que  cilindro
funcionaria melhor por causa da superficie achatada do meu crânio.
Em nosso  caminho  para  a formatura,  Josh  insistiu  em  me dar  uma  aula de  direção. Ele  apoiou  os pés no
painel e ficou gritando  Acelerar!  ou  Frear!  para mim enquanto eu manejava os pedais em baixo do seu
banco. Ele era um tipo de motorista controlador – não me deixou improvisar nenhuma vez. Eu nem podia
controlar o  rádio de onde eu estava sentada no chão do carro. Josh escutava  em  um volume ensurdecedor
suas canções
techno
de vampiro. Nenhuma de Schubert.
Como o tema do baile era Baile de Máscaras Veneziano, você poderia pensar que a formatura fosse melhor
decorada – havia um par de bandeiras pretas e um balão preto excessivamente inflado. Mas então eu disse a
mim mesma para ter a mente aberta. A maioria das lojas de artigos de festa fecha antes do pôr do sol. Se um
vampiro  fosse  até  uma  loja  à  luz  do  dia,  iria  parecer  que  ele  estava  roubando  um  monte  de  glitter
esfregando-o em seu corpo. Que confusão seria, do ponto de vista legal.
-  Espero  que  você  não  ache  os  trajes  desinteressantes  –  Josh  disse  em  tom  de  desculpas,  enquanto
caminhávamos  através  do ginásio  para chegar  ao fotógrafo. –  O  comitê  de  formatura  escolheu  um  tema
muito  sem  graça em  termos  de  trajes  neste  ano. Parece  que  todo  mundo  decidiu  ser  humano.  Existe  um
gigantesco fenômeno de romances sobre humanos acontecendo no mundo vampiro agora. Você deveria ter
visto as fantasias dos últimos anos de formatura: cafetões e suas prostitutas de rua; CEOs e suas prostitutas
de  escritório;  soldados  Joe  e  seus  prostitutos  de  combate;  jardineiros  e  duas  ferramentas  de  jardim;
bombeiros e suas mangueiras de incêncido… Se você me perguntar, acho que o tema de baile de máscaras
não é lisonjeiro para as feiçes de ninguém nem define os papéis de gênero muito claramente.
- Issi é brilhante – eu disse, mas uma pequena parte de mim desejava ter Edwart ao meu lado em vez daquele
vampiro impressionantemente belo. Alguém que sempre estaria lá para parecer mais desajeitado do que eu.
Josh e eu paramos para tirar uma foto de formatura. Ficou muito bonita, embora meu namorado parecesse
simplesmente um monte de roupas flutuando no ar. Mesmo assim, a luz captou magnificamente as fibras de
seda de sua gravata.
Enquanto  caminhávamos  em  direção  à  vasilha  de  ponche,  não  pude  deixar  de  pensar  que  Josh  estava
envergonhado por me ter como parceira. Talvez  fosse o modo como ele  ficava cochichando  Ela não est
comigo  para  quem  passava.  Não sei. Tenho  problemas em  compreender  os  sinais  dos meninos  algumas
vezes. Como diz o ditado, meninos são de Marte e meninas são de um planeta completamente normal.
Quando todos os vampiros romperam numa dança coreografada, afundei-me num sentimento de alienação.
Quando todos eles haviam encontrado tempo para praticar juntos? A dança estilo zumbi era realmente muito
boa, mas acho que muitos dos movimentos eram fortemente influenciados por um certo vídeo de um certo
Rei do Pop imortalizado – Black or White.
Fiquei  parada  junto  à  mesa  do  ponche  enquanto  os  vampiros  dançavam  o  último  verso.  Havia  quatro
vasilhas etiquetadas,  AB positivo ,  O negativo ,  AB negativo  e  Saco de Surpresas .
- Vou tomar AB positivo – disse a Josh quando ele voltou da pista de dança. – Do que é feito? Abacaxi e
banana?
- É feito de sangue, Belle. Você sabe o que é sangue, certo?
- Oh, claro. Estava só brincando – respondi, bebericando da minha taça horrorizada. Aquilo realmente exigia
uma entrega.
Enquanto  segurava  minha  taça de sangue, Josh me  apresentou  a  seus  amigos,  Levi  e  Zeke.  Eles ficaram
observando estupidamente minha fantasia.
- O que vocês estão olhando? – perguntei na defensiva. – Pelo menos eu tenho uma fantasia.
- Uau! – disse Levi. – Diga isso outra vez!
- Dizer o que outra vez?
- Há! Escutou isso, Zeke? Ela soa tãão humana.
- olá – disse Zeke, com uma voz profunda e inalterável. – Meu nome é Cara Humano.
Um grupo de vampiros se juntou a nossa volta, rindo.
- Ah, deixe-me tentar! – falou um deles. – olá, meu nome é Cara Humano.
Todos riram outra vez.
- Olá – disse Levi. – Sou um Humano.
- Porque humanos falam assim? – Zeke perguntou. – Humanos sempre falam desse jeito!
- Ninguém diz isso! – eu disse a eles, mas isso só fez com que rissem ainda mais.
- Olá – disse Josh. – Meu nome é Sr. Cara Humano – eles choraram de rir.
-
Josh
– sussurrei ferozmente. –Você não vai me
defender
?
- Ora,  vamos, Belle, você sabe  como  você  soa. Não é culpa sua –  ele acrescentou rapidamente. – É  uma
falha inerente aos  de  sua espécie.  Sei  que você não pode  evitar  e nunca  será capaz de  corrigir isso – ele
segurou meu queixo coberto de gesso em sua mão e acariciou meu cabelo coberto de gesso. – Orgulhe-se de
quem você é, Belle. Não se desculpe por suas diferenças. Suas diferenças esquisitas e defeituosas.
Naquele momento, alguém tocou meu ombro.
- Belle! – gritou uma voz familiar. Voltei-me para ver ninguém menos do que Lucy!
- Lucy, o que está fazendo aqui?
Ela riu loucamente.
- Belle, comprei mais de uma dúzia de vestidos de formatura porque você não conseguia me dizer qual era o
melhor.  Quer  dizer,  estes  vestidos  simplesmente  não  iam  vestir  a  si  mesmos!  É  o  meu  quinto  baile  de
formatura nesta semana.
- Mas… você nem gosta de vampiros! Eu gosto de vampiros. Isso é uma coisa
minha
. Quem a convidou?
- Levi me convidou – ela baixou a voz e falou diretamente em meu ouvido. – Belle Goose, se você arruinar
minha chance de ser a rainha da formatura nesta noite, vou me assegurar de que você viva o suficiente para
testemunhar a morte de seus entes queridos – ela sorriu e saiu caminhando para juntar-se a Levi na pista de
dança.
- Vamos, Belle – disse Josh. – Essa é a minha música favorita, vamos dançar!
- Eu realmente não quero dançar.
-
Dance comigo
, Belle – ele rosnou.
- Sério, Josh? A do Green Day
20
? Eles já são tão batidos.
.
- Errado – ele gritou. – Estiveram aqui somente nas últimas vinte formaturas.
- O quê? Vinte formaturas!
- Sim, esta é a minha octogésima sexta formatura. Sou imortal, lembra?
- Sim, eu sei disso. Quer dizer, só acho que eu nunca… realmente… pensei a respeito  – outra vez, desejei
Edwart. Edwart, que nunca deixaria escapar que ele já havia tido oitenta e seis formaturas pois ele não tinha
a menor idéia do que era o Green Day.
- Dance – Josh ordenou.
- Você não sabe o que está me pedindo – alertei.
- Só
uma vez
– ele determinou.
- Sério, Josh, eu nunca dancei sem causar, involuntariamente, uma revolta política.
-
Uma dança
–  ele decretou,  puxando-me  para  a  pista  e  manipulando-me como  se eu fosse uma boneca,
usando polias que ainda estavam presas ao meu gesso de corpo inteiros.
-  O.k.,
uma
dança  –  fiz  o  meu  irônico  sapateado.  É  uma  coreografia  complicada,  mas  os  espectadores
confundem sua falta de jeito com ironia se você ergue suas sobrancelhas o suficiente.
Como previsto, houve uma revolução quando terminei.
Uma multidão de vampiros ultrajados invadiu a pista, tentando freneticamente parar o sapateado que agora
tinha  saído  de  controle.  Uma  centena  de  vampiros  sapateando  estava  se  empurrando  e  se  chutando  na
tentativa  de  completar  a  coreografia.  Escorreguei  para  a  parede  ilesa  quando  um  casal  de  sapateadores,
irritados pelo opressivo tratamento da multidão, violentamente desmontou os alto-falantes, interrompendo a
música. O ginásio encheu-se com a algazarra da multidão. Um vampiro se jogou sobre  a mesa de  ponche
como se ela fosse um escorregador de água, enquanto seus amigos derramavam sobre si mesmos o conteúdo
das vasilhas molhando tudo à sua volta.
Outro  vampiro,  injuriado  com  a  molhadeira,  atirou  seu  ponche  de  sangue  nos  olhos  de  um  atirador  de
ponche e começou a jogar o ponche excedente. Isso  dividiu  os vampiros em  dois times: pró-molhadores e
antimolhadores.
Esperei pacientemente a baderna  acalmar, bebericando  meu  ponche de  sangue  numa cadeira  dobrável no
canto do salão, entediada demais ate  para dizer   Eu avisei  (mas não tão entediada para transmitir isso no
sistema de alto-falantes).
Vi lucy sendo socada enquanto tentava escapar da onda de vampiros.
- Cuidado  – gritei, mas já era tarde de mais. Alguém a tinha agarrado pelo vestido, soltando um alfinete de
segurança cuidadosamente preso em sua manga.
- Ui! – ela disse, examinando a espetadela em seu braço. Uma gota de sangue brotou.
Os  vampiros  pararam  a  baderna.  Ficaram  todos  realmente  quietos  e  começaram  a  lamber  os  lábios,
aproximando-se  de  Lucy.  Comecei  a  lamber  os  lábios  também,  pois  isso  é  uma  daquelas  coisas  sub-
conscientes e contagiosas, como espirrar, mas então parei porque não valia a pena se você se esquecesse de
passar hidratante no lábios.
A  gota  escorregou  pelo  braço  e  caiu  no  chão.  Três  vampiros  arremessaram-se  sobre  ela  imediatamente.
Outra  escorregou.  Mais  três  vampiros  mergulharam  para  o  chão.  Foi  quando  a  hemofilia  dela  irrompeu.
Sangue começou a jorrar de seu braço, como água de um hidratante. Os vampiros levantaram seus rostos e
abriram suas bocas para apanhar o sangue que caía como chuva, alguns gritando em volta e brincando nas
torrentes carmesins como crianças num dia quente de verão.
- Furem aquela garota! – Lucy gritou, apontando para mim. – Ela é humana também. Furem-na!
Alguns vampiros olharam para o meu lado. Sorri e acenei para eles generosamente. Eu era o Il Duce
deles,
21
a face da revolução.
- Peguem-na! – os vampiros gritaram. De repente, eu era  a garota mais popular da formatura.  A  multidão
mobilizou-se em direção à minha cadeira e  ergue-me em ombros.  Começaram  a cantar entusiasticamente,
dizendo  Mais sangue humano! Levem-na ao palco! Mais sangue humano! Furem o seu braço! Mais sangue
humano!
Apesar  de  minha  recém-descoberta  popularidade,  fiquei  muito  surpresa  quando  eles  anunciaram do  alto-
falante:  e esta noite o Rei e a Rainha da Formatura são… Joshua Vampiro e Belle Goose!
Quatro vampiros me colocaram no palco perto de Josh antes de voltarem para seus lugares na platéia com
um brilho louco e faminto nos olhos.
- Não posso acreditar que sou Rainha da Formatura! – sussurrei excitada para Josh.
- Eu  sei – ele  disse, passando o braço em  torno de  mim. – Também não posso acreditar nisso. Para mim,
você sempre será a minha Escrava da Formatura.
Franzi  minhas  sobrancelhas.  De  repente,  nada  parecia  certo.  Lucy  tentando  escapar  de  uma  dúzia  de
vampiros famintos; a atitude dominadora mas de alguma forma não romântica de Josh em relação a mim;
nossa coroação como Rei e Rainha da Formatura, quando essa honra obviamente deveria ter  sido concedida
a  um  casal  diferente,  que  tivesse  demonstrado  mais  coragem  como  o  vampiro
gay
dançando  com  seu
namorado no canto. Apesar dos olhares desaprovadores, eles não iam deixar ninguém reprimir o seu amor.
O ginásio inteiro estava nos aplaudindo. Lucy estava apontando para o ar acima da minha cabeça, gritando
alguma  coisa.  Olhei  para  cima,  para  onde  ela  estava  apontando,  para  contemplar  a  minha  tiara.  Perdi  o
fôlego.  A  nefasta  mensagem  epilética  de  Angélica  ressoou  em  meu  cérebro:  VEJO  UMA  SALA  NO
CAPÍTULO DEZ. UMA SALA CHEIA DE VAMPIROS. NO CANTO DA SALA, UMA CADEIRA DE
METAL DOBRÁVEL… CUIDADO COM A COROA.
Baixei a cabeça a tempo para me desviar um pouco da queda de um haltere de vinte quilos com uma tiara
cheia de espinhos presa a ele. Pulei do palco.
- Agarrem-na! – Josh gritou opressivamente.
Voltei-me para enfrentá-lo.
- Já estou cheia de suas ordens autoritárias, Joshua. Estou cansada de vampiros.
Saí correndo do ginásio para o puro as da noite, sentindo-me perdida e sem amigos porque, honestamente,
conversar com Jim é  como  falar com a parede.  Não tinha  ninguém a  quem recorrer – nem vampiro  nem
humano. Deus, preciso de um amigo lobisomem, pensava, enquanto caminhava para o estacionamento.
Então, algo divertido aconteceu. Minha visão formou um túnel e tudo que eu podia ver era uma luz branco-
pastel brilhando no horizonte. Passei  no topo das  escadas que levavam ao estacionamento e  me  apoiei no
corrimão.  A  luz  continuava  a  brilhar,  tão  pálida  como  antes,  mas  agora  duas  luzes  verdes  foram
acrescentadas na direção do topo, e então surgiu um sorriso pateta, cheio de aparelhos metálicos nos dentes.
Edwart. Eu  estava  vendo  Edwart.  Toda  a  minha  ansiedade e confusão evaporaram quando percebi o  que
tinha de fazer.
Primeiro, no entanto, precisava descer aqueles degraus sem me machucar. Com Edwart brilhando como um
farol em minha mente, olhei friamente para o caminho de obstáculos fatais sobre os degraus diante de mim.
Nunca havia me sentido tão calma em minha vida.
Saltei de um pé para o outro, escada abaixo, rolando quando necessário na hora em que machados suspensos
caíam  a  minha  volta,  aparentemente  do  nada.  Eu  estava  conseguindo!  Estava  realmente  conseguindo.
Desviei-me de uma estaca que brotou do chão. Isso quase me atrasou, abrindo um buraco em minha fantasia.
Quando  o relógio  bateu meia-noite, pude sentir  meu  casulo de gesso começando  a  se desfazer.
Logo me
transformaria  numa abóbora.
Ou  numa  moça indefesa? Uma  borboleta,  talvez? Em  todo  o caso,  alguma
coisa  estava  mudando  de  uma  maneira  que  implicava  que  minha  natureza  tinha  se  desenvolvido.  Mais
pertinentemente, minha capacidade para me equilibrar.
Mas eu não tinha terminado.
O.k.,  Belezinha , eu disse a  mim mesma, ganhando coragem  por causa do meu apelido  autoestabelecido,
existe mais uma coisa que você precisa consertar antes que esta noite termine.

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