sábado, 1 de dezembro de 2012

Capítulo 9 (Beijada por um Anjo)


Ele ganhou de mim! – disse Tristan. – Philip ganhou duas das três partidas que jogamos!
Ivy parou de tocar piano, olhou para Tristan e riu. Fazia uma semana que haviam trocado seu primeiro beijo
trêmulo. Toda noite, ao dormir, sonhava com aquele beijo, e todos os outros que vieram em seguida.
Estava  vivendo um  momento incrível. Seu corpo sentia  intensamente  até mesmo  o mais  simples toque de
Tristan. Cada vez que ele dizia o seu nome, tinha a sensação de que o interior do seu corpo queria responder a
ele. Mesmo assim, estar com ele era tão simples e natural. Às vezes, sentia que Tristan já fazia parte da sua vida
há anos,  principalmente  em momentos como  aquele, em que estava  esparramado no chão da  sala de música,
jogando dama com Philip.
–  Eu não acredito que ele ganhou duas das três partidas.
–  Quase três das três partidas – gabou– se Philip.
–  Talvez agora você aprenda a não brincar com a Ginger – disse Ivy.
Tristan franziu a testa para a estatueta de anjo que estava em cima do tabuleiro. Philip sempre usava Ginger
como uma das peças do jogo.
O anjo de porcelana de dez centímetros já tinha sido de Ivy, mas, quando Philip estava na educação infantil
decidiu enfeitá– la. Passou um esmalte cor– de– rosa no vestido dela e encheu o cabelo de glitter dourado para
melhorar o visual; então Ivy decidiu dá– la a Philip.
–  Ginger é muito esperta – disse Philip.
Tristan olhou para Ivy com cara de dúvida.
–    Talvez,  da  próxima  vez,  Philip  possa  emprestá–  la a  você,  assim  você  conseguirá  vencer  –  disse  Ivy,
sorrindo, virando– se para Philip. – Não está ficando tarde?
–  Por que você sempre diz isso? – seu irmão perguntou.
Tristan sorriu. – Porque ela está tentando se livrar  de você. Venha. Eu vou ler duas histórias, como fiz da
última vez, depois apago a luz.
Foi com Philip para  o  quarto  dele.  Ivy ficou  no sótão  folheando  seu  módulos  de  piano,  procurando  por
canções que Tristan pudesse gostar. Ele apreciava Hard Rock, mas não dava para tocar esse ritmo no piano. Ele
não sabia nada de Beethoven e Bach. Tristan achava que música clássica eram os musicais da coleção dos pais
dele. Tocou várias canções do álbum Carrousel, depois colocou o módulo de lado. A noite toda teve a impressão
de que a  música dentro dela fluía, como  um rio prateado.  Em seguida, apagou  as luzes, e  começou a tocar a
Sonata ao Luar
, de Beethoven, de cor.
Quando Tristan voltou, estava no meio da sonata. Ele percebeu uma leve hesitação nas mãos dela antes de
parar de tocar.
–  Não pare – disse suavemente, posicionando– se em pé, atrás dela.
Ivy tocou até o fim. Nenhum dos dois disse nada depois do som do último acorde e ninguém saiu do lugar.
Estavam ali, apenas tendo a lua prateada como companhia, iluminando as teclas do piano, e a música, que, no
silêncio, prolongava– se em suas mentes.
Ivy reclinou em Tristan.
–  Quer dançar? Tristan perguntou.
Ivy riu, e ele fez com que ela se levantasse para que os dois dançassem, circulando pelo quarto. Aninhou sua
cabeça no ombro dele e sentiu a intensidade do seu  abraço. Dançaram lentamente, cada vez mais lentamente.
Seu desejo era que ele não a soltasse nunca mais.
–  Como você consegue fazer isso? – sussurrou Tristan. – Como você dança comigo e toca piano ao mesmo
tempo?
–  Ao mesmo tempo?
–   Não é  você que está  tocando  a música  que estou  ouvindo? Ivy  afastou–  se  um  pouco.  –  Tristan,  essa
cantada é tão... tão...
–  Velha? Mas consegui fazer com que você olhasse para mim – abaixou a cabeça suavemente, roubando– lhe
um beijo longo e delicado.
***
–  Não se esqueça de falar para Tristan dar uma passada aqui na loja de vez em quando – disse Lillian. – Betty
e eu adoraríamos vê– lo de novo. Nós gostamos de rapazes bonitos.
–  Bonitão, Lillian –   Ivy respondeu com um sorriso. – Tristan é bonitão – o meu bonitão, pensou, depois
pegou a caixa que estava embrulhada no papel marrom. – É essa a entrega que devo fazer?
–  Sim, querida, obrigada. Sei que a entrega não fica no seu caminho.
–  Mas não é muito longe – disse Ivy, dirigindo– se para a porta.
–  Rua Willow, nº 528 – gritou Betty do fundo da loja.
–  530 – corrigiu Lillian em voz baixa.
Bem, pelo menos eram apenas duas opções, pensou Ivy, ao passar pela porta da loja =
Tis The Season
. Olhou
para  o  relógio.  Agora  não  daria  mais  tempo  de  ficar  um  pouco  com  suas  amigas.  Suzanne  e  Beth  estavam
esperando por ela na praça de alimentação do shopping.
–  Você disse que sairia do trabalho há 20 minutos – reclamou Suzanne.
–  Eu sei disso. Mas hoje foi um daqueles dias. Vocês me acompanham até o meu carro? Tenho de fazer essa
entrega e depois ir correndo para casa.
–  Você ouviu isso? Ela tem de ir correndo para casa – Suzanne disse a Beth. – Ela diz que é por causa de
uma festa de aniversário. Diz que é o aniversário de nove anos do Philip.
–  É 28 de maio – respondeu Ivy. – Você sabe que é, Suzanne.
–  Mas, pelo que sabemos – Suzanne continuou falando com Beth – trata– se de um casamento particular na
montanha.
Ivy revirou os olhos e Beth riu. Suzanne ainda não a tinha perdoado por ter mantido as aulas de natação em
segredo.
–  Tristan vai estar lá esta noite? – perguntou Beth ao saírem do shopping.
–  Ele é um dos dois convidados de Philip – respondeu Ivy. – E vai sentar– se ao lado de Philip, não do meu,
além  de  passar  a  noite  toda  brincando  com    Philip, e  não  comigo. Tristan  prometeu. Foi  o  único jeito  que
tivemos para  fazer com  que Philip desistisse  da  idéia  de nos  acompanhar até o baile de  formatura. Ei, onde
vocês duas estacionaram?
Suzanne  não  conseguia  se  lembrar  e  Beth  não  tinha  prestado  atenção.  Ivy  ficou  dirigindo  pelo
estacionamento do shopping. Beth procurava pelo carro enquanto Suzanne dava– lhe conselhos sobre roupas e
relacionamentos. Falou  de tudo, desde estratégicas  telefônicas,  até  como  era  preciso  se  comportar  de  forma
descontraída para não parecer tão fácil ou  tão  difícil.  Nas  últimas três  semanas,  ela  já  tinha  dado milhões de
conselhos.
–   Suzanne, acho  que a sua estratégia  de namora é  muito  complicada – Ivy  acabou dizendo. –  Toda  essa
encenação e planejamento. Para mim parece tão simples.
–  É porque ele é o seu príncipe encantado – disse Beth com conhecimento de causa.
Só havia uma coisa em relação a Ivy que Tristan não entendia. Os anjos.
–  Você teve uma vida difícil – disse ele uma noite. Era a noite de formatura, ou a manhã seguinte a ela, mas
o  dia  ainda  não tinha  amanhecido.  Estavam  caminhando descalços pela grama,  longe da  casa dela no  alto da
montanha. O brilho da lua crescente no céu parecia um enfeite de Natal fora de época. Só havia uma estrela no
céu. Do outro lado, bem longe deles, o único trem agitava– se pelo vale.
–  Você sofreu muito, por isso não a culpo por acreditar – disse Tristan.
–  Você não me culpa? Você não me culpa? O que você quer dizer com isso? – mas ela sabia o que ele queria
dizer. Para ele, um anjo era apenas um ursinho de pelúcia bonito – algo a que uma criança sempre se agarrava.
Deu– lhe um abraço bem apertado. – Não posso acreditar, Ivy. Eu tenho tudo o que preciso e tudo o que
quero bem aqui na Terra – disse. – Bem aqui. Nos meus braços.
–  Mas eu não – respondeu, e mesmo tendo a pálida lua como fonte de luz, pôde ver a amargura nos olhos
dele. Foi aí que começaram a brigar. Ivy percebeu, pela primeira vez, que quanto mais você ama, mais você se
magoa. E o que era pior, você magoa a pessoa que ama bem como a você mesma.
Depois que ele foi embora, ela passou a manhã inteira chorando. Ele não retornou as suas ligações naquela
tarde. Mas voltou à noite, com 15 rosas. – Uma para cada anjo – disse.
–  Ivy! Ivy, você ouviu algumas coisa que eu disse? – perguntou Suzanne, trazendo– a de volta à vida real. –
Sabe, achei que se nós conseguíssemos arrumar um namorado para você, você sairia do mundo da lua. Mas eu
estava enganada. Você continua por lá! No mundo dos anjos!
–    A gente  não  arrumou um  namorado  para  ele  –  Beth disse em voz  baixa, mas com  firmeza. – Eles  se
descobriram. Lá está o carro, Ivy. Divirta– se. É melhor nos apressarmos, vai cair uma tempestade.
As garotas saltaram  para  fora  do  carro  e  Ivy  olhou  de  novo  para o  relógio.  Agora  estava  super  atrasada.
Aumentou a velocidade  em direção à rua que dava acesso  à auto  estrada. Ao cruzar o rio, percebeu como as
nuvens escuras moviam– se rapidamente.
A entrega que ela tinha de fazer era em uma daquelas casas recém– construídas no sul da cidade, o mesmo
bairro em que tinha dado umas voltas de carro depois da sua primeira aula de natação com Tristan.
Ivy se perdeu, assim como da outra vez. Dirigia em círculos, de olho nas nuvens. O barulho dos trovões era
cada vez mais  retumbante. As  árvores agitavam–  se e  derrubavam  as suas folhas, acrescentando  um estranho
brilho de lima ao céu escuro. O vento começava a soprar. Os galhos das árvores se rebatiam e as flores e folhas
delicadas eram arrancadas pelo vento forte. Ivy inclinou– se para frente em seu assento, tentando descobrir qual
era a casa certa antes que a tempestade começasse.
Já tinha sido difícil encontrar a rua certa. Ela pensou que estivesse na rua  Willow, mas a placa dizia que era a
rua Fernway, perpendicular a Willow. Teve de sair do carro para ver se as placas não tinham sido trocadas – um
esporte cada vez mais popular entre as crianças da cidade. Foi então que ouviu um ronco de motor descendo a
curva da montanha. Ficou parada na rua para dar passagem ao motorista. A Harley parou um pouco, depois o
motor voltou a funcionar e o motoqueiro passou por ela.
Ia mesmo ter de encontrar a casa usando sua intuição. O terreno estava em uma área bem íngreme. E Lillian
disse que a senhora Abromaitis morava em uma ladeira, em um sobrado onde a escada era feita de pedras, com
vários vasos enfeitando a fachada da casa.
Ivy deu uma volta com  o carro por ali. O vento soprava cada vez  mais forte, balançando seu carr o. Lá no
alto, o céu pálido parecia engolido pelas nuvens escuras.
Ivy estacionou no meio de duas casas e tirou a caixa do carro, lutando contra o vento. As duas casas tinham
escadas de pedras. As duas casas tinham vasos com flores. Optou por uma delas, e, assim que passou pelo vaso,
ele saiu voando, espatifando– se no chão. Ivy gritou, depois riu de si mesma.
No alto da escada, olhou para uma casa, depois para outra, 528 e 530, esperando conseguir alguma pista que a
levasse  à casa certa.  Havia  um  carro  estacionado  no  528, escondido  entre  os  arbustos,  então  provavelmente
deveria  haver alguém  em  casa.  Em  seguida,  viu  uma  silhueta  na  janela  do 528.  Alguém  procurando  por  ela,
pensou, apesar de não conseguir ver se era homem ou mulher, ou se a pessoa tinha realmente acenado para ela.
Tudo que conseguia ver era a turva silhueta de uma pessoa, pois parte da janela refletia a agitação das árvores,
iluminadas pelos relâmpagos. Foi em direção à porta de entrada. A silhueta desapareceu. Ao mesmo tempo, a luz
da varanda do 530 acendeu. A porta de tela bateu com o vento.
–  Ivy? Ivy? – gritou uma mulher da varanda acesa.
–  Opa!
Correu  até  a  outra  casa,  entregou  o  pacote,  e  voltou  às  pressas  para  o  carro.  O  céu  se abriu,  e  a chuva
torrencial  começou.  Bem,  não  seria  a  primeira  vez  que  Tristan  olharia  para  ela,  e  ela estaria  parecendo  um
pintinho molhado.
Ivy, Gregory e Andrew chegaram tarde em casa, e Maggie parecia irritada. Philip, obviamente, nem ligou. Ele,
Tristan,  e  seu  novo  colega  de  escola,  Sammy,  estavam  jogando  videogame,  um  dos  muitos  presentes  que
Andrew dera a ele por causa de seu aniversário.
Tristan sorriu ao ver Ivy ensopada. – Estou feliz por ter ensinado você a nadar – disse, levantando– se para
beijá– la.
A água de seu corpo pingava por todo o chão do piso de madeira. – Vou te deixar todo molhado – avisou
Ivy.
Ele a envolveu ainda mais em seus braços e a puxou para mais perto de si. – Eu já seco – sussurrou. – Além
do mais, é engraçado ver a cara de nojo do Philip.
–  Eca! – disse Philip, como se estivesse ouvido a conversa deles.
– Argh! – concordou Sammy.
Ivy e Tristan permaneceram abraçados e riram. Depois, Ivy foi correndo para seu quarto para trocar de roupa
e secar o cabelo. Passou um batom e mais nada – seus olhos já estavam iluminados o suficiente e suas bochechas
bem  coradas.  Procurou  por  alguma  bijuteria  na  sua  caixa  de  brincos,  depois  desceu as  escadas,  chegando  a
tempo de ver Philip terminar de abrir os presentes.
–  Ela colocou os brincos de pavão – Philip disse a Tristan assim que Ivy sentou– se à mesa de frente para os
dois.
–  Droga – disse Tristan. – Esqueci de colocar os meus brincos de cenoura.
–  E os seus rabinhos de camarão – brincou Philip.
Ivy perguntava– se quem estava mais feliz naquele momento, Philip ou ela. Sabia que Gregory estava  em um
momento  ruim  da  sua  vida.  Tinha  sido  uma  semana  difícil  para  ele;  havia  lhe  confidenciado  estar  ainda
preocupado  com sua  mãe,  embora não  dissesse o  motivo. Ultimamente, seu  pai  falava  muito  pouco com  ele.
Maggie tentava puxar conversa, mas nunca dava certo.
Ivy virou– se para ele. – Os ingressos para ver o jogo dos Yankee foram uma idéia maravilhosa. Philip adorou
o presente.
– Ele tem um jeito bem estranho de demonstrar gratidão.
Era verdade. Philip havia agradecido de forma muito educada, mas pulou de alegria ao ver os exemplares da
revista
Sports Illustrated
, que continham reportagens sobre Dom Mattingly, que Tristan achara no fundo do baú.
Durante o jantar, Ivy esforçou– se para que Gregory participasse da conversa. Tristan tentou falar de esportes
e carros, mas só obteve respostas monossilábicas. Andrew mostrou– se irritado, mas Tristan não pareceu ficar
ofendido.
O cozinheiro de Andrew, Harry – que tinha sido despedido logo após o casamento e readmitido depois de
seis semanas da culinária  de Maggie – tinha preparado um jantar delicioso, porém, Maggie insistiu em fazer o
bolo de aniversário do filho. Harry trouxe o bolo, pesado e estranho, evitando olhar para ele.
O  rosto  de  Philip  se  iluminou.  –  É  o  Bolo  Todo!  –  a  cobertura  do  bolo  de  chocolate,  ridículo  e
exageradamente  confeitado,  possuía nove velas de vários ângulos diferentes,  que  foram rapidamente  apagadas
enquanto todos cantavam para Philip. No final do  parabéns, a campainha tocou. Andrew franziu  a  testa, mas
levantou– se para abrir a porta.
Do seu  lugar,  Ivy  conseguia ver o  hall. Eram  dois policiais, um  homem  e uma  mulher,  conversando  com
Andrew. Gregory inclinou– se para perto de Ivy para ver o que estava acontecendo. – O que você acha que é? –
sussurrou Ivy.
–  Alguma coisa na faculdade – foi o palpite dele.
Tristan fez uma cara de interrogação para Ivy e ela deu de ombros para ele. Sua mãe, sem perceber que havia
algo errado, continuou cortando bolo.
Então, Andrew voltou para a sala de jantar.
–  Maggie – ela deve ter percebido alguma coisa no olhar dele. Soltou a faca imediatamente e foi para o lado
de Andrew, que pegou em sua mão.
–    Gregory,  Ivy,  vocês  podem  vir  conosco  para  a  biblioteca,  por  favor?  Tristan,  você  pode  cuidar  dos
garotos? – perguntou.
Os policiais ainda estavam esperando no corredor . Andrew levou– os à biblioteca. Se fosse algum problema
na faculdade, não seria necessário conversar com todo mundo, pensou Ivy.
Quando todos estavam sentados, Andrew disse: –  Não existe uma maneira fácil de começar. Gregory, sua
mãe morreu.
–   Ah,  não! – disse  Maggie.  Ivy virou– se rapidamente  para  Gregory. Ele não saiu do  lugar em que estava
sentado e olhava fixamente para o pai, mas não disse nada.
–    A  polícia  recebeu  uma  ligação  anônima  por  volta  das  17h30,  dizendo  que  alguém  naquele  endereço
precisava de ajuda. Quando chegaram, ela já estava morta, com um tiro na cabeça.
Gregory não piscou. Ivy pegou na mão dele. Estava fria como gelo.
A polícia perguntou... eles precisam saber... faz parte do procedimento de rotina... – Andrew não conseguiu
continuar. Virou– se para os policiais. – Talvez fosse melhor vocês explicarem.
–    Como  procedimento  de  rotina  –  disse  a  policial  –  Precisamos  fazer  algumas  perguntas.  Estamos
averiguando a casa para ver se há alguma informação relevante ao caso, embora pareça muito conclusivo que a
morte dela tenha sido suicídio.
–  Deus! – disse Maggie.
–  Quais são as provas que vocês têm para chegar a esta conclusão? – perguntou Gregory. – Sei que é verdade
que minha mãe era depressiva e estava mais deprimida desde o começo de abril...
–  Deus! – repetiu Maggie. Andrew aproximou– se dela, mas ela se afastou.
Ivy  sabia  o  que  sua  mãe  estava  pensando, Lembrou–  se  da  cena que  havia  ocorrido  na  semana  anterior,
quando, de alguma forma, uma foto  de Caroline e Andrew foi para r na mesa do  hall. Andrew disse a Maggie
para jogar a foto no lixo.
Maggie não conseguiu. Ela não queria pensar que tinha sido ela quem tivesse  jogado Caroline fora daquela
casa  – nem antes e nem agora. Ivy percebeu que sua mãe se sentia responsável pela  infelicidade de Caroline, e
agora por sua morte.
–  Eu ainda gostaria de saber... – continuou Gregory. – o que leva vocês a pensarem que ela se matou? Essa
não parece uma atitude que ela tomaria. De forma alguma ela faria isso. Era uma mulher muito forte.
Ivy mal podia acreditar como Gregory conseguia falar de forma tão clara e tão objetiva.
–  Em primeiro lugar, existem as provas circunstanciais – disse i policial. – ela não deixou nenhum bilhete,
mas havia fotografias rasgadas e espalhadas em volta do corpo dela – disse olhando para Maggie.
–  Fotografias...? Perguntou Gregory.
Andrew prendeu a respiração.
–  Do senhor e da senhora Baines – disse o policial. – Fotos de jornal sobre o casamento deles.
Maggie inclinou– se na cadeira, abaixou a cabeça, e abraçou seus joelhos. Andrew olhava para ela, sentindo–
se impotente.
Ivy tentou soltar a mão de Gregory para confortar sua mãe, mas ele a segurou forte.
–  A arma ainda estava na mão dela. Havia queimaduras de pólvora em seus dedos, o tipo de queimadura que
uma pessoa sofre quando usa a arma. É claro que vamos verificar a arma para ver se existem impressões digitais
e se as balas conferem uma com a outra, e avisaremos vocês caso encontremos algo inesperado. Mas a porta da
casa dela estava destrancada, –  não havia sinal de arrombamento – o ar– condicionado estava ligado e as janelas
fechadas, então...
Gregory respirou fundo. – Então, acho que ela não era tão forte como pensava... A que horas vocês acham
que isso aconteceu?
–  Entre 17h e 17h30, não muito antes de chegarmos ao local.
Ivy sentiu uma  sensação  estranha tomar conta de seu corpo. Nesta mesma  hora ela estava  naquele  bairro.
Lembrava– se de ter olha do pra o céu raivoso e para a agitação das árvores. Será que ela tinha passado pela casa
de Caroline? Ser á que Caroline teria se matado em meio à fúria da tempestade?
Andrew perguntou se poderiam falar com a polícia mais tarde e tirou Maggie do ambiente. Gregory ficou ali
para responder a algumas perguntas sobre sua mãe e sobre relacionamentos ou problemas qu e ela pudesse ter
tido.  Ivy queria sair; não  queria  ouvir  os  detalhes da  vida  de Caroline  e  estava  louca  para ficar com Tristan,
ansiosa para sentir seus braços firmes entrelaçados aos seus.
Mas  Gregory não a  deixou  ir.  Sua  mão  era fria  e indiferente  para  ela  e  seu  rosto ainda  não  demonstrava
expressão  alguma. A voz  dele  era  tão  calma que  lhe dava  arrepios.  Mas, dentro  dele parecia  haver  uma  luta
interna, uma pequena parte dele admitia o horror da situação e pedia pela companhia dela. Então, ficou com ele.
Bem depois, Tristan foi embora e todos os outros já estavam dormindo.

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