sábado, 1 de dezembro de 2012

Capítulo 10 (Beijada por um Anjo)


Mas você me disse que o Gary queria sair na sexta– feira à noite! – disse Ivy.
–  E queria! – respondeu Tristan, deitando– se na grama ao lado dela. – Mas a garota com quem ele ia sair
mudou de idéia. Deve ter recebido um convite melhor.
Ivy balançou a cabeça. – Por que o Gary sempre corre atrás das garotas mais bonitas?
–  Por que a Suzanne corre atrás do Gregory? – contra– argumentou Tristan.
Ivy  sorriu. –  Pela  mesma  razão  que  Ella  corre  atrás  de  borboletas,  penso  eu  –  disse,  observando  o  balé
saltitante da gata.
Ella sentia– se totalmente à vontade no jardim que o reverendo Carruthers tinha plantado para ela. Plantas
que gatos apreciavam: bocas de dragão, lírios, rosas, entre outras.
–  Você tem algum problema em sair no sábado à noite? – perguntou Tristan. – Se for trabalhar, podemos
pegar a ultima sessão do cinema.
Ivy sentou– se. Tristan era sua prioridade, sempre. Mas já tinham planos para sexta à noite e sábado também.
Bem, pensou, era melhor contar logo a ele. – Gregory convidou Suzanne, Betty, eu e outros amigos para sair no
sábado à noite.
Tristan não escondeu a surpresa nem o descontentamento.
–  Suzanne ficou super ansiosa – disse Ivy rapidamente. – E Beth, toda animada; ela não sai muito.
–  E você? – perguntou Tristan levantando– se em um só impulso, arrancando um pedaço da grama.
–  Acho que tenho que ir... pelo bem de Gregory.
–  Acho que você tem feito muitas coisas pelo bem de Gregory nas ultimas semanas.
–  Tristan, a mãe dele se matou!
–  Eu sei disso.
–  Moro na mesma casa que ele. Dividimos a mesma cozinha, os mesmos corredores e a mesma sala de TV.
Tenho visto seus altos e baixos; mais baixos do que altos – acrescentou suavemente, pensando nos dias em que
Gregory não fazia nada alem de sentar e ler o jornal, folheando– o como se estivesse procurando algo que nunca
encontrava.
–    Acho  que ele  está muito  bravo.  Ele  tenta  esconder,  mas  sei  que está  furioso  com  sua  mãe  por  ter  se
matado.  Outro dia, era  1h30, e  ele  estava  na quadra de  tênis,  arremessando  as  bolas  violentamente  contra a
parede  –  naquela  noite,  Ivy  saiu  apara  falar  com  ele.  Ele  se  virou  ao  ouvir  seu  nome,  e  ela  pôde  ver  a
profundidade da sua raiva e da sua dor.
–  Acredite em mim, Tristan, vou ajudá– lo quando puder, e vou continuar ajudando, mas se você acha que
sinto alguma coisa por ele, se você acha que ele e eu... Isso é ridículo! Se você acha... Eu não posso acreditar que
você...
–  Ou, ou – jogou– se em cima dela na grama.
–  Não estou preocupado com nada disso.
–  Então o que está te incomodando?
–  Acho que são duas coisas. A primeira é que muito do que você está fazendo por ele deve– se ao fato de
estar se sentindo culpada.
–  Culpada! – ela o empurrou, voltando a sentar– se.
–   Acho  que a  sua atitude  é igual à  da sua  mãe,  acreditando que  você  e sua  família são responsáveis pela
infelicidade de Caroline.
–  Mas não somos.
–  Eu sei disso. Só quero ter certeza de que você também saiba...
E que você não está tentando compensar coisas para alguém que só está se aproveitando da situação; se me
permite falar.
–  Não sei do que você está falando – disse Ivy, arrancando um pedaço de grama. – Você realmente não sabe
o que ele está passando. Você não convive com Gregory. Você...

–  Convivo com Gregory desde o primeiro ano da escola.
–  As pessoas mudam quando crescem.
–    Convivo  com  Eric  durante  o  mesmo  período.  Eles  já  fizeram  coisas bem  feias  juntos,  extremamente
perigosas. E essa é a outra coisa que me preocupa.
–    Mas  Gregory  não  ia  tentar  fazer  coisas  desse  tipo  comigo  e  com os  meus  amigos  por  perto.  Ele  me
respeita, Tristan. Isso é só um jeito de tentar recomeçar, depois de três semanas.
Tristan não ficou convencido.
–  Não deixe isso interferir em nosso relacionamento – disse ela.
Colocou  a  mão  em  seu  rosto.  –  Não  deixaria  que  nada  interferisse  em  nosso  relacionamento.  Nem  as
montanhas, os rios, os continentes, a guerra, nem mesmo as inundações...
–  Ou a morte horrenda. Então você também leu a ultima historia da Beth? – Gary devorou!
–  Gary? Você está brincando?
–  Ele levou a copia que você tinha me dado, mas fez com que eu jurasse que iria dizer para você que tinha
perdido.
Ivy riu e deitou– se ao lado de Tristan, apoiando a cabeça em seu ombro. – Então, você entende porque disse
sim para Gregory?
–  Não, mas a escolha é sua e ponto final. Então, quais são seus planos para o outro sábado?
–  Quais são os seus planos? – Ivy perguntou.
–  Jantar no Hotel Durney.
–  No hotel! Nossa, você deve estar ganhando muito bem com as aulas de natação neste verão.
–  Estou ganhando o suficiente. Por acaso você conhece alguma garota bonita que gosta de ser tratada à luz
de velas e comida francesa?
–  Sim, conheço.
–  Ela vai estar disponível nesse dia?
–  Talvez. Ela tem direito a uma entrada?
–  Três, se quiser.
–  E sobremesa?
–  Suflê de framboesa. E beijos.
–  Beijos...
–  Bem, foi divertido – comentou Ivy secamente sobre a festa.
–  Eu já estava ficando entediado mesmo – disse Eric.
–  Eu não – disse  Beth. Ela foi a ultima a sair da festa na fraternidade do campus da universidade naquele
sábado à noite. Entrevistou quase todo mundo. Quando os alunos do Ensino Médio foram expulsos da festa, foi
convidada a ficar. A fraternidade Sigma PI Nu ficou lisonjeada em saber que ela iria escrever uma historia sobre
ela.
–  Eric, você tem de aprender a se controlar – disse Gregory, claramente irritado. Gregory tinha ficado em
um canto com uma ruiva ( o que foi a deixa para Suzanne iniciar um corpo ao corpo com um cara barbudo),
quando  Eric  decidiu  começar  uma  luta  com  um  gigante  que  usava  camiseta  do  time  da  universidade.  Nada
esperto.
Agora,  Eric estava  em  pé  nos  degraus  de  um  edifício sustentado  por pilares, olhando para  uma estátua  e
inclinando a cabeça para a esquerda e para a direita, como se estivesse conversando com ela. Suzanne deitou– se
de costas em um banco da  faculdade rindo de si mesma, com os joelhos levantados, e agitando– os de maneira
provocativa. Gregory de olho nela.
Ivy desviou o olhar. Ela e o Will eram os únicos que não tinham bebido. Will pareceu ficar à vontade na festa
do campus, mas impaciente. Talvez os rumores na escola fossem verdadeiros: ele já tinha visto de tudo e não se
impressionava com quase mais nada.
Assim como Ivy, Will também era aluno novo na escola. O pai dele era produtor de televisão em Nova York,
o que fez com que marcasse muitos pontos com a galera da escola. Assim que chegou, foi imediatamente aceito
pelo grupo, e seu jeito silencioso fez com que as pessoas não tivessem muita vontade de aprontar com ele. Era
fácil imaginar muitas coisas sobre o Will, e a maioria das pessoas que Ivy conhecia imaginava que ele era bem
maneiro.
–  Onde está o ssssseu velho? – perguntou Eric subitamente, ainda olhando para a estátua.
–  G.B., onde está o ssssseu velho?
–  Este é o velho do meu velho – Gregory respondeu.
Ivy percebeu que aquela era a estátua do avô de Gregory. É claro. Estavam na frente do Baine‘s Hall.
–  Por que ssssseu velho não essssstá lá?

Gregory sentou– se no banco na frente de Suzanne.
–  Acho que é porque ele ainda não morreu – disse, dando um longo gole na sua garrafa de cerveja.
–  Então por que a ssssssua velha não está lá? Heim? – Gregory não respondeu. Em vez disso, tomou outro
gole.
Eric franziu a testa para a estátua.
–  Sssssinto falta dela. Da velha Caroline. Sei muito bem disso.
–  Eu sei – disse Gregory em voz baixa.
–  Então, vamosssss colocá– la lá – disse , piscando para Gregory.
Gregory não respondeu e Ivy foi ficar ao lado dele. Pousou delicadamente a mão no ombro de Gregory.
–  Caroline está bem aqui no meu bolso –   disse Eric.
Todos  olharam  enquanto  ele  procurava  nos  bolsos  da  camisa  e  da  calça.  Finalmente,  tirou  um  sutiã  e
esfregou em seu rosto. – Ainda está quente.
Ivy colocou a outra mão no ombro de Gregory. Dava para sentir com estava tenso.
Eric enfiou o sutiã no braço e escalou a estátua com dificuldade.
–  Você vai se matar – Gregory disse a ele.
–  Igual a sua mãe – disse Eric.
Gregory não  respondeu  e tomou mais  um gole  de cerveja. Ivy desviou o olhar de Eric. Gregory apoiou a
cabeça contra o corpo de Ivy, e ela percebeu que ele ficou um pouco mais relaxado.
Tanto Suzanne quanto Will estavam de olho nos dois, Suzanne não parava de piscar.
Mas Ivy não saiu do lugar enquanto Eric colocava o sutiã no juiz Baines. Depois saiu para confiscar algumas
garrafas de cerveja que ainda não haviam sido abertas e foi em direção a Suzanne. – Acho que você podia dar
um pouco de apoio ao Gregory.
–  Depois de você e da ruiva.
Ivy ignorou o comentário. Suzanne já tinha bebido muito.
–  Eric deu um grito e eles se viraram rapidamente para vê– lo escorregando estátua abaixo. Caiu no cascalho,
rolando como uma lesma. Will correu na direção dele. Gregory riu.
–  Não quebrei nada, só meu cérebro – Eric respondeu quando Will o ajudou a se levantar.
–  Acho que a gente deveria voltar para o carro – disse Will.
–  Mas a festa mal começou – protestou Gregory, ficando de pé. Era obvio que o álcool já estava fazendo
efeito. – Não me sinto tão bem assim desde quem sabe quando.
–  Eu sei quando – disse Eric.
–  A festa vai acabar assim que a policia da faculdade nos pegar – salientou Will.
–  Meu pai é o mandachuva aqui. Ele vai mexer os pauzinhos por nós.
–  Ou vai nos dar umas pauladas – disse Eric.
Ivy olhou no relógio. Eram 11h45. Perguntou–  se onde Tristan poderia estar e o que estaria fazendo.  Será
que sentia falta dela? Podiam estar sentados, lado a lado, nesse momento, apreciando a bela noite de junho.
–  Vamos, Beth. Suzanne. – disse, triste por ter colocado as amigas nessa situação.
–   Sim,  mamãe –  Suzanne respondeu.  Gregory  riu, o que magoou um  pouco Ivy. Os dois  estão bêbados,
disse a si mesma.
Levou um tempão para que os seis encontrassem o carro de Gregory novamente. Quando encontraram, Will
tentou pegar a chave de Gregory. – Não é melhor eu dirigir?
–  Eu dou conta disso – disse Gregory.
–  Dessa vez não.
O tom de Will era descontraído, mas pegou as chaves de uma maneira determinada.
Gregory as pegou de volta. – Ninguém dirige a minha BMW, só eu.
Will olhou para Ivy.
–  Por favor Gregory – ela disse. Por favor, Gregory. Deixe que eu decida isso por você.
–  Se outra pessoa dirigir, você poderá beber muito mais – Will tentou convencer Gregory.
–  Vou beber o quanto quiser e dirigir o quanto quiser – gritou Gregory. – E se você não está contente, vá a
pé. – Ivy pensou em caminhar até o telefone mais próximo e pedir uma carona. Mas sabia que Suzanne ficaria
com Gregory, e sentia– se responsável por sua segurança.
Will  perguntou  para  Ivy  se  podia  pegar  sua  blusa  de  lã  emprestada,  depois  juntou  com  seu  casaco  e  os
colocou no meio dos assentos da frente e assim Gregory, ele e Eric estavam sentados os três juntos. Ivy entrou
no meio do banco de trás, com Beth e Suzanne de cada lado.
–  Nossa, Will! – disse Gregory, observando a forma como ele se enfiou no meio dos dois. – Não sabia dos
seus sentimentos. Suzanne venha para cá.
Ivy conteve Suzanne.
–  Eu disse, venha para cá. Deixa o Will sentar aí atrás com a garota dos seus sonhos.
Ivy balançou a cabeça e suspirou.
–  As pessoas que provavelmente vão vomitar têm de sentar perto da janela – disse Will.
Ivy afivelou o cinto de Suzanne.
Gregory deu de ombros e ligou o carro. Dirigia em uma velocidade muito rápida, rápida demais. Os pneus
derrapavam diante das curvas, pareciam estar se despregando da estrada. Beth fechava os olhos. Suzanne e Eric
colocavam a cabeça para fora da janela conforme o carro movia– se de forma  repugnante de um lado para o
outro. Ivy olhava sempre pra frente, seus músculos se contraiam cada vez que Gregory brecava ou fazia uma
curva,  como  se  estivesse  dirigindo  por ele.  Will,  na  verdade,  chegou  até  a  dirigir  um  pouco.  Foi  aí  que  Ivy
percebeu porque ele tinha se sentado em um lugar perigoso e sem cinto de segurança.
Seguiam por uma estrada paralela e, quando finalmente atravessaram o rio, aproximando– se da cidade, Ivy
soltou um  suspiro de  alivio. Mas Gregory  fez uma  curva  violenta e  tomou o rumo  norte  pegando  a estrada
paralela ao rio, abaixo da montanha, passando pela estação de trem e ultrapassando os limites da cidade.
–  Aonde vamos? – Ivy perguntou enquanto seguiam pela estrada estreita.
–  Você vai ver – Eric colocou a cabeça para fora da janela.
–  Medo, medo, medo! – cantava. – Quem tem medo, medo, medo? A montanha parecia um gigante escuro à
direita, comprimindo a estrada. Ivy sabia que estavam indo para o lugar em que os trilhos atravessavam o rio.
–   As  portas duplas –    Beth sussurrou para  ela  assim que  saíram da estrada.  Gregory  desligou o  motor e
apagou os faróis.
Ivy não conseguia ver nada. – Quem tem medo, medo,  medo? – disse Eric, balançando a  cabeça para lá e
para cá.
Ivy sentiu– se mal com a fumaça do carro e o odor de álcool. Ela e Beth saíram do carro. Suzanne sentou– se
no carro com a porta aberta do outro lado. Gregory abriu o porta malas. Mais cerveja.
–  Onde você comprou tudo isso? – indagou Ivy. Gregory sorriu e colocou seu braço pesado ao redor dos
ombros dela. – Mais uma coisinha que devemos agradecer ao Andrew.
–  Andrew comprou? – disse, incrédula.
–  Não, foi o cartão de credito dele.
Em seguida, ele e Eric pegaram a caixa de cerveja.
Apesar de Ivy entender a necessidade de Gregory aliviar o estresse, apesar de saber como estava sendo difícil
para desde a morte da mãe, não conseguia controlar a raiva que crescia dentro dela a cada minuto e que agora
começava lentamente a dar lugar ao medo.
O rio não estava muito longe dali; dava para ouvir sua força contra as pedras. Seus olhos adaptaram– se  à
escuridão para que pudesse seguir a fiação do trem elétrico. Lembrou– se porque os garotos iam ali: para brincar
do jogo do medo na ponte da ferrovia. Ivy não queria seguir Gregory na fila única em direção as pontes. Mas
não podia ficar para trás, não com Suzanne incapaz de cuidar de si mesma.
Eric estava atrás dela,  empurrando–  a,  cantando  em um tom alto e estranho: –   Quem  tem  medo, medo,
medo?
Dava para sentir as pedrinhas rolando embaixo dos seus pés. Eric e Suzanne não paravam de tropeçar nas
travessas da rodovia. O grupo caminhava pela avenida que bifurcava em meio às arvores, um caminho que os
trens faziam apressadamente de Nova York para as cidades do norte.
A avenida se abriu e Ivy viu duas pontes lado a lado, a mais nova tinha 200 metros a mais que a antiga. O
brilho do aço de seus trilhos delineava o caminho da mais nova. Não havia corrimão nem cerca de segurança.
Os arabescos abaixo dela alongavam– se como uma teia sinistra e escura na frente do rio. A ponte mais velha
tinha se quebrado ao meio. Cada lado parecia uma mão que se estendia pelas margens do rio, com os seus dedos
de metal e madeira podre, seguindo em frente, porem abaixo das duas pontes, a água agitava– se e assobiava.
–  Siga o líder, siga o líder – disse Eric com seu olhar arrogante na frente deles, cambaleando em direção à
ponte mais nova.
Ivy prendeu dois dedos no cinto da saia de Suzanne.
–  Você não.
–  Me solta! – gritou Suzanne.
Suzanne tentou seguir Ivy em direção à ponte, mas Ivy segurou Suzanne. – Me solta!
Elas brigaram e Gregory riu das duas. Depois Suzanne soltou– se de Ivy. Desesperada Ivy correu e pegou a
perna  de Suzanne, fazendo  com  que ela tropeçasse no  trilho,  caindo no  caminho  de pedras.  Suzanne tentou
levantar– se,  mas  não conseguiu.  Acabou recuando, seus olhos fuzilavam Ivy e  as mãos  estavam cerradas de
raiva.
–  Beth, é melhor você ver se ela está bem – disse Ivy, voltando sua atenção para Eric, que estava a uns 450
metros de lá, aproximando– se da água. Seu corpo magro demais pulava e virava sobre o trilho, parecendo um
esqueleto dançante.
–  Medo, medo, medo – provocava os outros – Quem tem medo, medo, medo?
Gregory encostou– se em uma arvore e riu. Will observava com cautela. Então, todo o mundo se virou ao
ouvir o assobio do outro lado do rio.
Era o assobio do trem da meia– noite que Ivy ouvia com tanta freqüência de sua casa do alto da montanha,
um som que embalava seu coração como uma fita toda noite, como se quisesse levá– la com ele.
–   Eric! – ela e  Will  gritaram  ao mesmo  tempo.  Beth segurou Suzanne, que estava  inclinada no meio  dos
arbustos, vomitando.
–  Eric!
Will foi correndo atrás dele, mas Eric saiu correndo de forma desvairada, saltando por entre os trilhos. Will
correndo atrás.
Os dois vão morrer, pensou Ivy. – Will, volte! Will! Você não pode!
O trem vinha em direção à ponte, o brilho do seu olho no meio da noite, transformando os dois garotos em
bonecos de papel. Ivy viu Eric cambalear na beira da ponte. Embaixo dele só havia água e pedras.
Ele vai pular a velha ponte, pensou, ele não vai sobreviver.
Anjos, ajudem– nos! Rezou. Anjo das águas, onde está você?
Tony? Estou te chamando! Eric inclinou– se e saltou de uma vez para o outro lado.
Ivy gritou. Ela e Beth não paravam de gritar.
Will corria de volta, tropeçava e corria. O trem não diminuía a velocidade. Era enorme e escuro. Tão grande
quanto à noite, aproximando– se por de trás dele com seu único olho cego. Seiscentos metros, 450 metros... Will
não ia conseguir! Parecia uma mosca sendo sugada em direção à luz.
–  Will! Will! – gritou Ivy. – Ah, anjos... Ele saltou.
O trem saiu correndo, embaixo dele o chão tremia, o cheiro de metal queimado  espalhava– se pelo ar. Ivy
saiu correndo ladeira abaixo, indo em direção ao lugar em que Will tinha saltado.
–  Will? Will, responda!
–  Estou aqui. Estou bem.
Levantou– se na frente dela. Erguido pelos anjos, pensou.
Abraçaram– se por um momento. Ivy não sabia se era ele ou ela que tremia tão violentamente.
–  Eric? Ele...
–  Não sei – respondeu rapidamente. – Podemos descer até o rio por aqui?
–  Tente o outro lado.
Subiram a margem juntos. Quando chegaram ao topo, pararam e olharam. Eric vinha na direção deles pela
ponte nova, trazia uma  corda  grossa e  uma corda de
bungee
perdurada casualmente no seu ombro. Levou um
tempo para que entendessem o que tinha acontecido. Ivy virou– se rapidamente para olhar para Gregory. Será
que ele sabia das intenções de Eric?
Ele sorria. – Excelente! – disse a Eric. – Excelente!

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