sábado, 1 de dezembro de 2012

Capítulo 11 (Beijada por um Anjo)


Sabe o que eu não entendo? – disse Gregory, inclinando a cabeça, examinando a saia de seda curta de Ivy
com um olhar travesso no rosto. – Não entendo por que você nunca usa o vestido do casamento da sua mãe.
Meg, que estava carregando um prato de sanduíches para Andrew, parou e olhou pra eles. todos iriam sair
naquela noite.
– Ah, é um vestido muito formal para o Hotel Durney – disse Maggie. – Mas você tem razão, Gregory, Ivy
tem de achar algum lugar para usar aquele vestido novamente.
Ivy deu um leve sorriso para sua mãe e depois fuzilou Gregory com o olhar, ele sorriu para ela.
Depois que Maggie saiu da cozinha, disse de forma casual: – Você está linda hoje! – apesar de não conseguir
tirar os olhos dela. Ivy não tentava mais entender o que Gregory queria dizer com os seus comentários... se
estava realmente fazendo um elogio ou sutilmente tirando sarro dela. Deixava para lá muito do que ele dizia.
Talvez, estivesse finalmente se acostumando a ele.
– Você está se acostumando a criar desculpas para ele – Tristan disse, depois que ela contou o que tinha
acontecido no sábado à noite.
Ivy ficou furiosa com Eric e sua pegadinha estúpida. Gregory não admitiu sua participação na brincadeira.
Deu de ombros e disse: – Você nunca sabe o que o Eric vai aprontar. É isso que faz dele um cara engraçado.
É claro que tinha ficado com raiva de Gregory também. Mas via as dificuldades pelas quais ele passava, pois
convivia com ele diariamente. Desde a morte da mãe, havia momentos em que ele parecia completamente
perdido em seus pensamentos. Pensou no dia em que a convidou para dar um passeio de carro e eles foram até
o antigo bairro da mãe dele. Contou a ele que tinha estado lá no dia daquela tempestade. Ele mal respondeu e,
depois disso, não olhou novamente nos olhos dela o restante do tempo até voltarem para casa.
– Eu teria de ser feita de pedra para não sentir pena dele – Ivy disse a Tristan e eles pararam de falar no
assunto.
Tanto Gregory quanto Tristan estavam determinados a se evitar. Como sempre, Gregory desapareceu assim
que Tristan chegou naquela noite. Tristan sempre chegava mais cedo para brincar um pouco com Philip. Ivy
percebeu com certa satisfação que, dessa vez, Tristan não conseguia se concentrar, apesar de o time da casa estar
perdendo por dois pontos na partida final com Don Mattingly vindo para rebater. A segunda base era roubada e
o apanhador não parava de olhar para Ivy.
Philip ficou frustrado na terceira vez em que Tristan não conseguiu se lembrar de quantas vezes a bola tinha
saído para fora, e saiu do quarto batendo os pés, para chamar Sammy. Ivy e Tristan aproveitaram a oportunidade
para sair da casa. No caminho do carro, Ivy percebeu que Tristan parecia estranhamente quieto.
– Como vai Ella?
– Bem.
Ivy esperou. Em geral ele contava alguma coisa engraçada sobre Ella. – Só bem?
– Muito bem.
– Você comprou um sino novo para coleira dela?
– Sim.
– Tem alguma coisa errada, Tristan?
Ele não respondeu logo em seguida. Deve ser Gregory, pensou. Ele ainda estava chateado com a história do
final de semana passado com Gregory.
– Me diga – olhou para ela e tocou seu pescoço nu. Seu cabelo estava preso naquela noite. Seus ombros
também estavam nus, exceto por duas tiras fininhas. O top que ela usava era feito de lingerie, com pequenos
botões na frente.
Tristan deslizou a mão pelo pescoço dela, depois por seus ombros nus. – Às vezes é difícil acreditar que você
seja de verdade – disse.
Ivy engoliu em seco. Ele a beijou ainda de forma mais gentil.
– Talvez... fosse melhor entrarmos no carro – sugeriu, olhando para as janelas da casa.
– Certo.

Ele abriu a porta. Havia flores no banco do carro, mais rosas. – Opa, esqueci. Você quer levá– las lá para
dentro?
Pegou– as e segurou bem perto do seu rosto. – As quero comigo.
– Provavelmente vão morrer.
– Podemos colocá– las em um copo com água no restaurante.
Tristan sorriu. – Isso vai mostrar ao
maître
que temos classe.
– São lindas.
– Sim – disse suavemente. Olhando– a de cima a baixo, como se estivesse memorizando– a. Então, beijou– a
na testa e segurou as rosas para que entrasse no carro.
Enquanto Tristan dirigia, falaram dos seus planos sobre o futuro. Ivy estava feliz por Tristan ter pego a
estrada antiga em vez de a autoestrada. As árvores tinham o aroma fresco e almiscarado de junho. A luz marcava
os seus galhos como moedas de ouro deslizando pelos dedos dos anjos. Tristan dirigia pela estrada sinuosa com
uma mão na direção e outra segurando a dela, como se ela fosse fugir.
– Quero ir ao lago Juniper. Vou boiar na parte mais funda por uma hora, com os raios do sol iluminando
meus dedos...
– Até que um peixe bem grande apareça – provocou Tristan.
– Vou boiar à luz da lua também.
– À luz da lua! Você nadaria no escuro?
– Com você eu nadaria. Poderíamos nadar nus – entreolharam– se e, por um momento, não conseguiam
desviar o olhar. – É melhor eu não olhar pra você e dirigir ao mesmo tempo.
– Então pare de dirigir – respondeu ela em voz baixa. Ele olhou para ela rapidamente e ela colocou a mão na
boca. As palavras tinham escapado de sua boca e agora sentia– se tímida e envergonhada. Os casais se
arrumavam para is aos restaurantes e não para parar na estrada para namorar.
– Vamos nos atrasar para nossa reserva – disse ela. – É melhor irmos – Tristan desviou o carro da estrada.
– Lá está o rio. Quer andar até lá?
– Sim – disse, colocando as rosas no banco do carro. Tristan deu a voltar para abrir a porta para Ivy.
– Você vai conseguir andar com esse sapato? – perguntou  Tristan olhando para o salto alto de Ivy.
Ela saiu do carro e os dois saltos afundaram– se na lama.
Ivy riu e Tristan a ergueu. – Vou te dar uma carona – disse.
– Não, você vai me derrubar na lama.
– Não, não até a gente chegar lá – disse, erguendo– a no alto, segurando suas duas pernas e deixando a parte
superior do seu corpo cair sobre os seus ombros, como se estivesse segurando um saco de batata.
Ivy riu e bateu nas costas dele. Seu cabelo estava se desprendendo todo. – Meu cabelo! Meu cabelo! Me
ponha no chão!
Ele a trouxe para frente e a escorregou lentamente na sua frente, a saia subiu e o cabelo ficou todo
desarrumado.
– Ivy.
Ele a abraçou tão forte, que dava para sentir o quanto o seu corpo estava tremendo.
– Ivy! – suspirou. Ela abriu a boca e pressionou os lábios contra o pescoço dele.
Os dois procuraram a maçaneta da porta do carro ao mesmo tempo, abrindo a porta traseira do carro.
– Nunca imaginei que o banco de trás de um carro pudesse ser romântico – disse Ivy, reclinando– se,
sorrindo para Tristan. Em seguida, olhou para a bagunça que estava no chão do carro. – Talvez fosse melhor
você tirar a sua gravata de dentro do copo do Burger King.
Tristan pegou a gravata encharcada e jogou no banco da frente, depois sorriu e sentou– se ao lado dela
novamente.
– Ai! – o odor de flores esmagadas espalhou– se por todo o carro.
Ivy deu uma gargalhada.
– Qual é a graça? – perguntou Tristan, tirando as rosas esmagadas, grudadas em suas costas; não conseguindo
evitar o riso.
– E se alguém passar por aí e reparar no adesivo de sacerdote do seu pai colado no pára– choque do carro?
Tristan jogou as flores no banco da frente e trouxe Ivy para mais perto. Deslizou a mão pelo vestido de seda
que ela usava e deu um beijo suave em seu ombro. – Eu falaria que estava com um anjo.
– Ah! Que conversa fiada!
– Ivy, eu te amo – disse Tristan, ficando sério subitamente.
Ela olhou para ele e depois mordeu os lábios.
– Isso não é um jogo. Eu amo você, Ivy Lyons, e um dia você vai acreditar em mim.
Ela deu– lhe um abraço bem apertado. – Te amo, Tristan Carruthers – sussurrou em seu ouvido. Ivy
acreditava, e confiava  nele como jamais havia confiado em alguém. Um dia, criaria coragem para dizer, como
todas as letras, Eu te amo, Tristan. Colocaria a cabeça para fora da janela e gritaria. E até colocaria uma faixa
bem no meio da piscina da escola.
Depois disso, levaram alguns minutos para se arrumar. Ivy começou a rir de novo. Tristan sorriu ao vê– la
tentar inutilmente arrumar os cabelos desalinhados. Em seguida, ligou o carro, passando por cima dos buracos e
das pedras até chegar à estrada estreita.
– Última olhada no rio – disse assim que fizeram uma curva, desviando– se do lugar em que estavam.
O sol de junho dominava toda a região oeste do interior de Connecticut, enviando os seus raios de luz às
copas das árvores, toldando– as como se fossem ouro. A estrada sinuosa parecia um túnel de bordos, álamos e
carvalhos. Ivy sentia estar nadando no meio às ondas com Tristan, o sol brilhando no alto, os dois juntos em
movimento uníssono, em direção a um abismo de azul, roxo e verde escuro. Tristan ligou os faróis do carro.
– Você não precisa correr – disse Ivy. – Não estou mais com fome.
– Eu matei a sua fome?
Ela balançou a cabeça negativamente. – Acho que me alimentei de felicidade – respondeu suavemente.
A velocidade do carro continuava aumentando pelas curvas da estrada.
– Já falei que a gente não precisa correr.
– Engraçado. Não sei o que... Não parece que... – murmurou Tristan, olhando para os seus pés.
– Vá mais devagar, está bem? Não tem problema se a gente se atrasar um pouquinho.
– Ah! – Ivy apontou para frente da estrada. – Tristan!
Havia algo saindo do meio dos arbustos e parando no meio da estrada. Não dava para ver o que era. Só dava
para perceber a movimentação entre as sombras. E, então, o cervo parou.

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