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Sabe o que eu não entendo? – disse Gregory, inclinando
a cabeça, examinando a saia de seda curta de Ivy
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com um olhar travesso no rosto. – Não entendo por que
você nunca usa o vestido do casamento da sua mãe.
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Meg, que estava carregando um prato de sanduíches para
Andrew, parou e olhou pra eles. todos iriam sair
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naquela noite.
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– Ah, é um vestido muito formal para o Hotel Durney –
disse Maggie. – Mas você tem razão, Gregory, Ivy
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tem de achar algum lugar para usar aquele vestido
novamente.
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Ivy deu um leve sorriso para sua mãe e depois fuzilou
Gregory com o olhar, ele sorriu para ela.
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Depois que Maggie saiu da cozinha, disse de forma
casual: – Você está linda hoje! – apesar de não conseguir
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tirar os olhos dela. Ivy não tentava mais entender o
que Gregory queria dizer com os seus comentários... se
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estava realmente fazendo um elogio ou sutilmente
tirando sarro dela. Deixava para lá muito do que ele dizia.
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Talvez, estivesse finalmente se acostumando a ele.
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– Você está se acostumando a criar desculpas para ele
– Tristan disse, depois que ela contou o que tinha
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acontecido no sábado à noite.
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Ivy ficou furiosa com Eric e sua pegadinha estúpida.
Gregory não admitiu sua participação na brincadeira.
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Deu de ombros e disse: – Você nunca sabe o que o Eric
vai aprontar. É isso que faz dele um cara engraçado.
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É claro que tinha ficado com raiva de Gregory também.
Mas via as dificuldades pelas quais ele passava, pois
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convivia com ele diariamente. Desde a morte da mãe,
havia momentos em que ele parecia completamente
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perdido em seus pensamentos. Pensou no dia em que a
convidou para dar um passeio de carro e eles foram até
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o antigo bairro da mãe dele. Contou a ele que tinha
estado lá no dia daquela tempestade. Ele mal respondeu e,
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depois disso, não olhou novamente nos olhos dela o
restante do tempo até voltarem para casa.
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– Eu teria de ser feita de pedra para não sentir pena
dele – Ivy disse a Tristan e eles pararam de falar no
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assunto.
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Tanto Gregory quanto Tristan estavam determinados a se
evitar. Como sempre, Gregory desapareceu assim
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que Tristan chegou naquela noite. Tristan sempre
chegava mais cedo para brincar um pouco com Philip. Ivy
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percebeu com certa satisfação que, dessa vez, Tristan
não conseguia se concentrar, apesar de o time da casa estar
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perdendo por dois pontos na partida final com Don
Mattingly vindo para rebater. A segunda base era roubada e
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o apanhador não parava de olhar para Ivy.
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Philip ficou frustrado na terceira vez em que Tristan
não conseguiu se lembrar de quantas vezes a bola tinha
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saído para fora, e saiu do quarto batendo os pés, para
chamar Sammy. Ivy e Tristan aproveitaram a oportunidade
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para sair da casa. No caminho do carro, Ivy percebeu
que Tristan parecia estranhamente quieto.
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– Como vai Ella?
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– Bem.
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Ivy esperou. Em geral ele contava alguma coisa
engraçada sobre Ella. – Só bem?
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– Muito bem.
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– Você comprou um sino novo para coleira dela?
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– Sim.
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– Tem alguma coisa errada, Tristan?
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Ele não respondeu logo em seguida. Deve ser Gregory,
pensou. Ele ainda estava chateado com a história do
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final de semana passado com Gregory.
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– Me diga – olhou para ela e tocou seu pescoço nu. Seu
cabelo estava preso naquela noite. Seus ombros
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também estavam nus, exceto por duas tiras fininhas. O
top que ela usava era feito de lingerie, com pequenos
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botões na frente.
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Tristan deslizou a mão pelo pescoço dela, depois por
seus ombros nus. – Às vezes é difícil acreditar que você
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seja de verdade – disse.
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Ivy engoliu em seco. Ele a beijou ainda de forma mais
gentil.
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– Talvez... fosse melhor entrarmos no carro – sugeriu,
olhando para as janelas da casa.
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Ele abriu a porta. Havia flores no banco do carro,
mais rosas. – Opa, esqueci. Você quer levá– las lá para
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dentro?
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Pegou– as e segurou bem perto do seu rosto. – As quero
comigo.
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– Provavelmente vão morrer.
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– Podemos colocá– las em um copo com água no
restaurante.
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Tristan sorriu. – Isso vai mostrar ao
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maître
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que temos classe.
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– São lindas.
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– Sim – disse suavemente. Olhando– a de cima a baixo,
como se estivesse memorizando– a. Então, beijou– a
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na testa e segurou as rosas para que entrasse no
carro.
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Enquanto Tristan dirigia, falaram dos seus planos
sobre o futuro. Ivy estava feliz por Tristan ter pego a
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estrada antiga em vez de a autoestrada. As árvores
tinham o aroma fresco e almiscarado de junho. A luz marcava
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os seus galhos como moedas de ouro deslizando pelos
dedos dos anjos. Tristan dirigia pela estrada sinuosa com
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uma mão na direção e outra segurando a dela, como se
ela fosse fugir.
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– Quero ir ao lago Juniper. Vou boiar na parte mais
funda por uma hora, com os raios do sol iluminando
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meus dedos...
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– Até que um peixe bem grande apareça – provocou
Tristan.
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– Vou boiar à luz da lua também.
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– À luz da lua! Você nadaria no escuro?
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– Com você eu nadaria. Poderíamos nadar nus –
entreolharam– se e, por um momento, não conseguiam
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desviar o olhar. – É melhor eu não olhar pra você e
dirigir ao mesmo tempo.
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– Então pare de dirigir – respondeu ela em voz baixa.
Ele olhou para ela rapidamente e ela colocou a mão na
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boca. As palavras tinham escapado de sua boca e agora
sentia– se tímida e envergonhada. Os casais se
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arrumavam para is aos restaurantes e não para parar na
estrada para namorar.
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– Vamos nos atrasar para nossa reserva – disse ela. –
É melhor irmos – Tristan desviou o carro da estrada.
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– Lá está o rio. Quer andar até lá?
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– Sim – disse, colocando as rosas no banco do carro.
Tristan deu a voltar para abrir a porta para Ivy.
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– Você vai conseguir andar com esse sapato? –
perguntou Tristan olhando para o salto
alto de Ivy.
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Ela saiu do carro e os dois saltos afundaram– se na
lama.
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Ivy riu e Tristan a ergueu. – Vou te dar uma carona –
disse.
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– Não, você vai me derrubar na lama.
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– Não, não até a gente chegar lá – disse, erguendo– a
no alto, segurando suas duas pernas e deixando a parte
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superior do seu corpo cair sobre os seus ombros, como
se estivesse segurando um saco de batata.
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Ivy riu e bateu nas costas dele. Seu cabelo estava se
desprendendo todo. – Meu cabelo! Meu cabelo! Me
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ponha no chão!
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Ele a trouxe para frente e a escorregou lentamente na
sua frente, a saia subiu e o cabelo ficou todo
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desarrumado.
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– Ivy.
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Ele a abraçou tão forte, que dava para sentir o quanto
o seu corpo estava tremendo.
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– Ivy! – suspirou. Ela abriu a boca e pressionou os
lábios contra o pescoço dele.
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Os dois procuraram a maçaneta da porta do carro ao
mesmo tempo, abrindo a porta traseira do carro.
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– Nunca imaginei que o banco de trás de um carro
pudesse ser romântico – disse Ivy, reclinando– se,
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sorrindo para Tristan. Em seguida, olhou para a
bagunça que estava no chão do carro. – Talvez fosse melhor
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você tirar a sua gravata de dentro do copo do Burger
King.
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Tristan pegou a gravata encharcada e jogou no banco da
frente, depois sorriu e sentou– se ao lado dela
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novamente.
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– Ai! – o odor de flores esmagadas espalhou– se por
todo o carro.
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Ivy deu uma gargalhada.
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– Qual é a graça? – perguntou Tristan, tirando as
rosas esmagadas, grudadas em suas costas; não conseguindo
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evitar o riso.
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– E se alguém passar por aí e reparar no adesivo de
sacerdote do seu pai colado no pára– choque do carro?
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Tristan jogou as flores no banco da frente e trouxe
Ivy para mais perto. Deslizou a mão pelo vestido de seda
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que ela usava e deu um beijo suave em seu ombro. – Eu
falaria que estava com um anjo.
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– Ah! Que conversa fiada!
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– Ivy, eu te amo – disse Tristan, ficando sério
subitamente.
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Ela olhou para ele e depois mordeu os lábios.
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– Isso não é um jogo. Eu amo você, Ivy Lyons, e um dia
você vai acreditar em mim.
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Ela deu– lhe um abraço bem apertado. – Te amo, Tristan
Carruthers – sussurrou em seu ouvido. Ivy
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acreditava, e confiava
nele como jamais havia confiado em alguém. Um dia, criaria coragem
para dizer, como
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todas as letras, Eu te amo, Tristan. Colocaria a
cabeça para fora da janela e gritaria. E até colocaria uma faixa
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bem no meio da piscina da escola.
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Depois disso, levaram alguns minutos para se arrumar.
Ivy começou a rir de novo. Tristan sorriu ao vê– la
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tentar inutilmente arrumar os cabelos desalinhados. Em
seguida, ligou o carro, passando por cima dos buracos e
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das pedras até chegar à estrada estreita.
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– Última olhada no rio – disse assim que fizeram uma
curva, desviando– se do lugar em que estavam.
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O sol de junho dominava toda a região oeste do
interior de Connecticut, enviando os seus raios de luz às
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copas das árvores, toldando– as como se fossem ouro. A
estrada sinuosa parecia um túnel de bordos, álamos e
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carvalhos. Ivy sentia estar nadando no meio às ondas
com Tristan, o sol brilhando no alto, os dois juntos em
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movimento uníssono, em direção a um abismo de azul,
roxo e verde escuro. Tristan ligou os faróis do carro.
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– Você não precisa correr – disse Ivy. – Não estou
mais com fome.
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– Eu matei a sua fome?
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Ela balançou a cabeça negativamente. – Acho que me
alimentei de felicidade – respondeu suavemente.
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A velocidade do carro continuava aumentando pelas
curvas da estrada.
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– Já falei que a gente não precisa correr.
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– Engraçado. Não sei o que... Não parece que... –
murmurou Tristan, olhando para os seus pés.
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– Vá mais devagar, está bem? Não tem problema se a
gente se atrasar um pouquinho.
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– Ah! – Ivy apontou para frente da estrada. – Tristan!
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Havia algo saindo do meio dos arbustos e parando no
meio da estrada. Não dava para ver o que era. Só dava
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para perceber a movimentação entre as sombras. E,
então, o cervo parou.
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