domingo, 9 de dezembro de 2012

Capítulo 7 (Fallen)


Capítulo 7 Emitindo Luz
       ― Você vai para onde agora? ― Cam perguntou, abaixando seu óculos de
plástico vermelho.
Ele aparecey do lado de fora da entrada de Augustine tão repentinamente que Luce
quase trombou diretamente com ele. Ou talvez ele tenha estado ali por um tempo e
ela simplesmente não tinha notado em sua pressa de chegar na aula. De qualquer
jeito, seu coração começou a bater rapidamente e suas palmas começaram a suar.
 ― Hm, aula? ― Luce respondeu, porque, onde parecia que ela estava indo? Seus
braços estavam cheios, com seus dois livros pesados de cálculo e sua tarefa de
religião parcialmente completa.
Essa seria uma boa hora para se desculpar por ir embora tão repentinamente ontem
à noite. Mas ela não conseguia se forçar a fazer isso. Ela já estava tão atrasada. Não
tivera água quente nos chuveiros do vestiário, então ela tivera que voltar para o
dormitório. De algum modo, o que acontecera após a festa não parecia mais
importante. Ela não queria chamar ainda mais atenção à sua saída ― especialmente
não agora, depois do Daniel tê-la feito se sentir tão patética. Ela também não
queria que Cam pensasse que ela estava sendo rude. Ela só queria evitá-lo e ficar
sozinha, para que pudesse se desvincilhar da série de envergonhamentos dessa
manhã.
Exceto que ― quanto mais Cam olhava para ela, menos importante parecia ir
embora. E menos o orgulho de Luce doía pela recusa de Daniel. Como um olhar do
Cam poderia fazer tudo isso?
Com sua pele clara e pálida e cabelo azeviche, Cam era diferente de qualquer cara
que ela já conhecera. Ele exalava confiança, e não só porque ele conhecia todo
mundo ― e como conseguir tudo ― antes que Luce tivesse ao menos descoberto
onde suas aulas eram. Bem ali, parado do lado de fora do prédio da escola
monótono e cinza, Cam parecia com uma fotografia artística em preto-e-branco,
suas lentes vermelhas em tecnicolor.
     ― Aula, hein? ― Cam bocejou dramaticamente. Ele estava bloqueando a
entrada, e algo no jeito divertido que sua boca estava posicionada faz Luce querer
saber que ideia selvagem ele tinha escondida. Havia uma sacola de tela pendurada
em seu ombro, e um copo descartável de café expresso entre seus dedos. Ele
apertou Stop em seu iPod, mas deixou os fones pendurados ao redor do seu
pescoço. Parte dela queria saber que música ele estivera escutando, e onde ele
tinha conseguido aquele café expresso do mercado negro. O sorriso brincalhão
visível apenas em seus olhos verdes a desafiavam a perguntar.
Cam tomou um gole superficial do seu café. Levantando seu dedo indicador, ele
disse, ― Permita-me compartilhar meu lema sobre as aulas da Sword & Cross:
Melhor nunca do que tarde. ―
Luce riu, e então Cam empurrou seu óculos de volta para o seu nariz. As lentes eram
tão escuras, ela não conseguia ver nem um traço de seus olhos.
 ― Além do mais. ― Ele sorriu, relampejando um arco branco de dentes. ― É quase
almoço, e eu tenho um piquenique. ―
Almoço? Luce não tinha tomado nem café-da-manhã ainda. Mas seu estômago
estava rosnando ― e a ideia de ser perfurada pelo Sr. Cole por perder todas as aulas
da manhã exceto pelos últimos vinte minutos parecia menos e menos atraente
quanto mais eu ficava perto do Cam.
Ela assentiu para a sacola que ele estava segurando. ― Você empacotou o bastante
para dois? ― Dirigindo Luce com uma mão ampla na parte debaixo de suas costas,
Cam a guiou para as áreas comuns, passou pela biblioteca e o dormitório
deplorável. Nos portões de metal para o cemitério, ele parou.
 ― Eu sei que esse é um lugar esquisito para um piquenique, ― ele explicou, ― mas
é o melhor local que eu conheço para ficar fora de vista por um tempinho. No
campus, de qualquer jeito. As vezes eu simplesmente não consigo respirar lá. ― Ele
gesticulou na direção do prédio.
     Luce conseguia definitivamente concordar com isso. Ela se sentia tanto
reprimida e exposta quase o tempo todo nesse lugar. Mas Cam parecia a última
pessoa que iria partilhar daquela síndrome de aluno novo. Ele era tão... controlado.
Depois daquela festa ontem à noite, e agora o café expresso proibido em sua mão,
ela nunca adivinharia que ele se sentia sufocado também. Ou que ele escolheria ela
para compartilhar essa sensação.
Por trás da cabeça dele, ela conseguia ver o resto do campus precário. Daqui, não
havia muita diferença entre um lado dos portões do cemitério e o outro.
Luce decidiu ir na onda. ― Só prometa me salvar se alguma estátua cair. ―
 ― Não, ― Cam disse com uma seriedade que apagou efetivamente sua piada. ―
Isso não acontecerá novamente. ―
Os olhos dela caíram no local onde, apenas alguns dias antes, ela e Daniel tinham
chegado perto deles próprios terminarem no cemitério. Mas o anjo de mármore
que tinha caído sobre eles tinha desaparecido, seu pedestal vazio.
 ― Vamos, ― Cam disse, arrastando-o junto com ele. Eles evitaram retalhos
abandonados de ervas daninhas, e Cam ficava se virando para ajudá-la a passar por
montículos de terra desenterrados por sabe Deus quem.
Numa hora, Luce quase perdeu seu equilíbrio e se agarrou à uma das lápides para se
firmar. Era uma laje ampla e polida com um lado áspero e inacabado.
 ― Eu sempre gostei dessa, ― Cam disse, gesticulando para a lápide rosada sob
seus dedos. Luce cruzou até a frente do terreno para ler a inscrição.
 ― ‘Joseph Miley’, ― ela leu em voz alta. ― “1821 a 1865. Serviu bravamente na
Guerra da Agressão do Norte15. Sobreviveu a três balas e a cinco cavalos caídos em
cima dele antes de encontrar sua paz final. “–
Luce estralou suas juntas. Talvez Cam só gostasse porque sua pedra rosada polida
se destacava entre quase todas as cinzas? Ou por causa dos complexos verticílios
pelo topo? Ela ergueu uma sobrancelha para ele.
      ― É. ― Cam deu de ombros. ― Eu simplesmente gosto de como a lápide
explica o jeito que ele morreu. É honesto, sabe? Geralmente, as pessoas não
querem falar sobre isso. ―
Luce desviou o olhar. Ela sabia isso muito bem pelo epigrafo inescrutável na lápide
do Trevor.
 ― Pense no quando mais interessantes esse lugar seria se a causa da morte de todo
mundo fosse revelada. ― Ele apontou para um pequeno túmulo a alguns lotes do de
Joseph Miley. ― Como você acha que ela morreu? ―
 ― Hm, escarlatina? ― Luce adivinhou, vagueando. Ela traçou as datas com seus
dedos. A garota enterrada aqui era mais nova do que Luce quando morrera. Luce
não queria realmente pensar muito em como poderia ter acontecido.
Cam inclinou sua cabeça, considerando. ― Talvez, ― ele disse. ― Ou isso ou um
incêndio misterioso no celeiro enquanto a jovem Betsy estava tirando uma ‘soneca’
inocente com o vizinho. ―
Luce começou a fingir estar ofendida, mas ao invés, o rosto esperançoso a fez rir.
Fazia tanto tempo desde que ela tinha simplesmente se divertido com um cara.
Claro, essa cena era um pouco mais mórbida do que os típicos flertes no
estacionamento de um cinema ao quais ela estava acostumada, mas também eram
os estudantes na Sword & Cross. De um jeito ou de outro, Luce era um deles agora.
Ela seguiu Cam para o fundo de um cemitério no formato de tigela e para tumbas e
mausoléus mais ornado. Na inclinação acima, as lápides pareciam estar olhando
para baixo para eles, como se Luce e Cam fossem artistas em um anfiteatro. O sol
do meio-dia brilhava laranja através de folhas de um carvalho vivo gigante no
cemitério, e Luce tampou seus olhos com suas mãos. Era o dia mais quente que eles
tinham tido na semana toda.
 ― Agora, esse cara, ― Cam disse, apontando para uma tumba enorme emoldurada
por colunas de ordem coríntia. ― Um desertor total. Ele sufocou quando uma viga
caiu em seu porão. O que te mostra, nunca se esconda de uma captura dos
Confederados.
      ― É mesmo? ― Luce perguntou. ― Me lembre o que te faz o especialista sobre
tudo isso? ― Mesmo enquanto ela provocava-o, Luce se sentia estranhamente
privilegiada por estar aqui com Cam. Ele ficava olhando para ela para se certificar de
que ela estava sorrindo.
 ― É só um sexto sentido. ― Ele relampejou seu sorriso enorme e inocente. ― Se
gosta disso, tem um sétimo sentido, e um oitavo sentido, e um nono sentido de
onde esse vem. ―
 ― Impressionante. ― Ela sorriu. ― Eu me satisfarei com o sentido do paladar agora.
Estou morrendo de fome. ―
 ― Ao seu serviço. ― Cam puxou uma coberta de sua sacola e a esticou em um
pedaço de sombra sob o carvalho vivo. Ele abriu a garrafa térmica e Luce conseguiu
sentir o cheiro de café expresso forte. Ela geralmente não bebia seu café preto, mas
ela observou enquanto ele enchia um copo com gelo, serviu o café expresso, e
acrescentou exatamente a quantidade certa de leite em cima. ― Eu esqueci de
trazer o açúcar, ― ele disse.
 ― Eu não bebo com açúcar. ― Ela tomou um gole do café gelado ultra-seco, seu
primeiro gole deliciosos da cafeína proibida da Sword & Cross em toda a semana.
 ― Que sorte, ― Cam disse, espalhando o resto do piquenique. Os olhos de Luce
alargaram-se enquanto ela observava-o arrumar a comida: uma baguete marrom-
escura, uma rodela pequena de queijo fedorento, um pote de azeitonas laranja
amarronzado, uma tigela de ovos apimentados, e duas maças verdes brilhantes.
Não parecia possível que Cam tivesse enfiado tudo isso em sua sacola ― ou se ele
estivera planejando comer toda essa comida sozinho.
 ― Onde conseguiu isso? ― Luce perguntou. Fingindo se focar em despedaçar um
pedaço grande de pão, ela perguntou, ― E com quem você estava planejando um
piquenique antes de eu aparecer? ―
 ― Antes de você aparecer? ― Cam riu. ― Eu mal consigo me lembrar da minha
triste vida antes de você. ―
     Luce lançou-lhe um ligeiro olhar depreciativo para que ele soubesse que ela
achou a observação dele incrivelmente brega... e só um pouquinhozinho charmosa.
Ela se reclinou em seus cotovelos no cobertor, suas pernas cruzadas nos tornozelos.
Cam estava sentado de pernas cruzadas a encarando, e quando ele se esticou na
direção dela para pegar a faca do queijo, seu braço roçou, então descansou, no
joelho da calça jeans preta dela. Ele olhou para ela, como se para perguntar, Tudo
bem?
Quando ela não recuou, ele ficou ali, pegando o pedaço grande de baguete da mão
dela e usando a perna dela como um tampo de mesa enquanto ele espalhava um
triângulo de queijo no pão. Ela gostava da sensação do peso dele nela, e nesse
calor, isso era dizer muito.
 ― Eu vou começar com a pergunta mais fácil primeiro, ― ele disse, finalmente se
sentando. ― Eu ajudo na cozinha alguns dias por semana. Parte do meu acordo de
readMissão na Sword & Cross. Eu devia estar ‘devolvendo.’ ― Ele revirou seus
olhos. ― Mas eu não me incomodo de estar lá. Acho que eu gosto do calor. Isso é,
se você não contar as queimaduras de gordura. ― Ele mostrou seus punhos virados
para cima para expor dúzias de minúsculas cicatrizes em seus antebraços, ―
Perigos do trabalho, ― ele disse casualmente. ― Mas eu gerencio a dispensa. ―
Luce não conseguiu resistir a correr seus dedos por elas, os inchaços pálidos
infinitesimais desbotando em sua pele ainda mais pálida. Antes que ela pudesse se
sentir envergonhada por sua audácia e recuar, Cam agarrou sua mão e apertou.
Luce encarou os dedos dele entrelaçados ao redor dos dela. Ela não tinha percebido
antes o quanto os tons das peles deles combinavam acuradamente. Em um cenário
de sulistas bronzeados, a palidez de Luce sempre a deixara auto-consciente. Mas a
pele de Cam era tão impressionante, tão notável, quase metálica - e agora ela
percebeu que poderia parecer a mesma coisa para ele. Os ombros dela
estremeceram e ela se sentiu um pouco tonta.
 ― Você está com frio? ― ele perguntou silenciosamente.
     Quando ela encontrou com os olhos dele, ela sabia que ele sabia que ela não
estava com frio.
Ele se aproximou no cobertor e abaixou sua voz para um sussurro. ― Agora eu acho
que você vá querer que eu admita que eu vi você cruzando o quadrângulo através da
janela da cozinha e empacotei tudo isso na esperança de convence-la a matar aula
comigo? ―
Agora seria quando ela teria pescado o gelo em sua bebida, se já não tivesse
derretido no calor fedorento de setembro.
 ― E você fez esse esquema toda de um piquenique romântico, ― ela terminou. ―
No cenário de um cemitério? ―
 ― Ei. ― Ele correu um dedo pelo lábio inferior dela. ― Você é quem está trazendo o
romance à tona. ― Luce recuou. Ele estava certo ― fora ela quem presumira... pela
segunda vez no dia. Ela conseguia sentir suas bochechas queimando enquanto
tentava não pensar em Daniel.
 ― Estou brincando, ― ele disse, balançando sua cabeça para o olhar chocado no
rosto dela. ― Como se não fosse óbvio. ― Ele olhou para um urubu-de-cabeça-
vermelha circulando uma grande estátua branca no formato de um canhão. ― Eu
sei que aqui não é nenhum Éden, ― ele disse, jogando uma maça para Luce, ― mas
simplesmente finja que estamos numa música dos Smith. E para meu crédito, não é
como se tivesse muito com que se trabalhar nessa escola. ―
E isso pegando leve.
 ― Do meu ponto de vista, ― Cam disse, reclinando-se no cobertor, ― localização é
insignificante. ―
Luce lançou-lhe um olhar duvidoso. Ela também desejou que ele não tivesse
recuado, mas ela era tímida demais para se aproximar quando ele reclinava.
 ― Onde eu cresci ― – ele pausou– ― as coisas não eram tão diferentes do estilo de
vista penitenciário da Sword & Cross. O resultado é que eu estou oficialmente
imune ao meu arredor. ―
 ― De jeito nenhum. ― Luce balançou sua cabeça. ― Se eu te desse uma passagem
de avião para a Califórnia agora mesmo, você não ficaria totalmente animado de
cair fora daqui? ―
 ― Hmm... indulgentemente indiferente, ― Cam disse, enfiando um ovo
apimentado em sua boca.
     ― Eu não acredito em você. ― Luce deu-lhe um empurrão.
 ― Então você deve ter tido uma infância feliz. ― Luce mordeu a pele verde
mastigável da maça e lambeu o suco escorrendo de seus dedos. Ela percorreu um
catálogo mental de todos as franzidas parentais, as visitas a médicos, e mudanças
escolares de sua infância, as sombras negras pairando como uma mortalha sobre
tudo. Não, ela não diria que teve uma infância feliz. Mas se Cam não conseguia nem
ao menos ver uma saída da Sword & Cross, algo mais esperançoso no horizonte,
então talvez a dele tenha sido pior.
Houve um farfalhar aos pés deles e Luce se encolheu quando uma grossa cobra
verde e amarela deslizou. Tentando não chegar muito perto, ela ficou de joelhos e
espiou-a. Não só uma cobra, mas uma cobra no meio da troca de pele. Um
invólucro translúcido estava saindo de sua cauda. Tinha cobras por toda a Geórgia,
mas ela nunca tinha visto uma se trocar.
 ― Não grite, ― Cam disse, descansando uma mão no joelho de Luce. O toque dele
fez Luce se sentir mais a salvo. ― Ela seguirá se simplesmente a deixarmos em paz.
Não podia demorar mais. Luce queria muito gritar. Ela sempre odiara e temera
cobras. Elas eram simplesmente tão escorregadias e escamosas e... ― Ui. ― Ela
estremeceu, mas não conseguiu tirar seus olhos da cobra até que tivesse
desaparecido na grama alta.
Cam sorriu forçadamente enquanto pegava a pele caída e a colocava na mão dela.
Ainda parecia viva, como a pele fresca de um bulbo de alho que seu pai tinha
colhido de seu jardim. Mas tinha acabado de sair de uma cobra. Nojento. Ela a
jogou de volta no chão e limpou suas mãos na sua calça jeans.
 ― Vamos, você não achou que era bonitinho? ―
 ― A minha tremedeira revelou isso? ― Luce já estava se sentindo um tanto
envergonhado pelo quanto ela deve ter parecido uma criança.
― E quanto a fé no poder da transformação? ― Cam perguntou, dedilhando a pele
caída. ― É por isso que estamos aqui, afinal. ―
      Cam tinha tirado seu óculos de sol. Seus olhos esmeralda estavam tão
confiantes. Ele estava naquela pose imóvel inumana novamente, esperando que ela
respondesse.
 ― Estou começando a achar que você é um pouquinhoo estranho, ― ela disse
finalmente, dando um pequenino sorriso.
 ― Ah, e só pense no quanto mais há para se conhecer sobre mim, ― ele respondeu,
inclinando-se para mais perto. Mais perto do que ele estivera quando a cobra
chegou. Mais perto do que ela estivera esperando que ele chegasse. Ele esticou sua
mão e correu seus dedos lentamente pelo cabelo dela. Luce ficou tensa.
Cam era lindo e intrigante. O que ela não conseguia entender era como, quando ela
devia estar uma pilha de nervos ― como bem agora ― ela ainda, de algum modo, se
sentia confortável. Ela queria estar exatamente onde estava. Ela não conseguia tirar
seus olhos dos lábios dele, que eram cheios e rosados e estavam se movendo mais
para perto, fazendo-a se sentir ainda mais tonta.
O ombro dele roçou o dela e ela sentiu um estranho tremor no fundo de seu peito.
Ela observou enquanto Cam separou seus lábios. Então ela fechou seus olhos. ― Aí
tão vocês! ― Uma voz sem fôlego tirou Luce diretamente do momento.
Luce soltou um suspiro exasperado e desviou sua atenção para Gabbe, que estava
parada diante deles com um rabo-de-cavalo alto e lateral, e um sorriso distraído em
seu rosto.
 ― Eu procurei por todo o lugar.
 ― Por que diabos você faria isso? ― Cam olhou feio para ele, ganhando mais alguns
pontos com Luce.
 ― O cemitério foi o último lugar em que pensei, ― Gabbe tagarelou, contando em
seus dedos. ― Eu chequei seus dormitórios, então debaixo das arquibancadas,
então– ―
 ― O que você quer, Gabbe? ― Cam a cortou, como um irmão, como se se
conhecessem por muito tempo.
     Gabbe pestanejou, então mordeu seu lábio. ― Foi a Miss Sophia, ― ela disse
finalmente, estalando seus dedos. ― É mesmo. Ela ficou frenética quando Luce não
apareceu na aula. Ficou falando como você era uma estudante tão proMissora e
tudo. ―
Luce não conseguia decifrar essa garota. Ela era genuína e estava simplesmente
seguindo ordens? Ela estava zombando da Luce por ter feita uma boa impressão
com uma professora? Não era o bastante para ela ter Daniel na palma da mão - ela
tinha que dar em cima do Cam agora, também?
Gabbe deve ter pressentido que estava interrompendo algo, mas ela simplesmente
ficou parada lá pestanejando seus grandes olhos de corça e torcendo uma mecha de
cabelo loiro ao redor de seu dedo. ― Bem, vamos, ― ela disse finalmente, esticando
as duas mãos para ajudar Luce e Cam a se levantarem. ― Vamos te levar de volta
para a aula. ―
      ― Lucinda, você pode ficar na estação três, ― a Miss Sophia disse, olhando
para baixo para uma folha de papel quando Luce, Cam, e Gabbe entraram na
biblioteca. Nada de Onde você esteve? Nada de desconto de pontos pelo atraso. Só
a Miss Sophia, distraidamente colocando Luce perto de Penn na seção do
laboratório de computação da biblioteca. Como se ela nem ao menos tivesse
notado que Luce não estava lá.
Luce lançou um olhar acusatório para Gabbe, mas ela simplesmente deu de ombros
para Luce e balbuciou, ― O quê? ―
 ― Ondevocêesteve? ― Penn exigiu assim que ela sentou. A única pessoa que
pareceu ter notado que ela não estivera lá.
Os olhos de Luce acharam Daniel, que estava praticamente enterrado em seu
computador na estação sete. De seu assento, tudo que Luce conseguia ver dele era
a auréola loira do cabelo dele, mas era o bastante para trazer um rubor à suas
bochechas. Ela afundou ainda mais em sua cadeira, envergonhada novamente pela
conversa dos dois no ginásio.
      Mesmo depois de todas as risadas e sorrisos e aquele potencial quase beijo que
ela tinha acabado de partilhar com Cam, ela não conseguia calar o que sentiu
quando viu Daniel.
E eles nunca iam ficar juntos.
Essa era a essência do que ele tinha dito a ela no ginásio. Depois de ela basicamente
ter se jogado em cima dele.
A rejeição a cortou tão profundamente, tão perto do seu coração, que ela teve
certeza de que todos ao redor dela podiam olhar para ela e saber exatamente o que
tinha acontecido.
Penn estava batendo seu lápis impacientemente na mesa de Luce. Mas Luce não
sabia como explicar. Seu piquenique com Cam tinha sido interrompido por Gabbe
antes que Luce tivesse ao menos sido capaz de realmente achar um sentido no que
estava acontecendo. Ou prestes a acontecer. Mas o que era estranho, e o que ela
não conseguia entender, era por que tudo isso parecia tão menos importante do
que o que tinha acontecido no ginásio com Daniel.
A Miss Sophia ficou de pé no meio do laboratório de computação, estalando seus
dedos no ar como uma professora de jardim para conseguir a atenção de seus
estudantes. Suas pilhas de braceletes prata batiam como sinos.
 ― Se algum de vocês já tiver traçada a sua própria árvore genealógica, ― ela falou
alto sobre o barulho da multidão, ― então você saberá que tipos de tesouro estão
escondidos nas raízes. ―
 ― Ah, meu, por favor mate essa metáfora, ― Penn sussurrou. ― Ou me mate. Um
ou outro. ―
 ― Vocês terão um acesso de vinte minutos a Internet para começar a pesquisar
sobre a sua própria árvore genealógica, ― a Miss Sophia disse, batendo num
cronômetro. ― Uma generação dá aproximadamente vinte a vinte e cinco anos,
então tenham como objetivo voltar pelo menos seis gerações. ―
Gemido.
Um suspiro audível irrompeu na estação sete ― Daniel.
A Miss Sophia virou-se para ele. ― Daniel? Você tem algum problema com essa
tarefa? ―
Ele suspirou novamente e deu de ombros. ― Não, não mesmo. Tudo bem. Minha
árvore genealógica. Deve ser interessante. ―
      A Miss Sophia inclinou sua cabeça escarnecedoramente. ― Eu tomarei essa
informação como uma confirmação entusiasmada. ― Dirigindo-se para a sala
novamente, ela disse, ― Tenho certeza de que acharão uma linha que valerá a pena
perseguir numa pesquisa de dez a quinze páginas. ―
Luce não poderia possivelmente se focar nisso agora. Não quando tinha tanto mais
para se processar. Ela e Cam no cemitério. Talvez não tenha sido a definição padrão
de romântico, mas Luce quase preferia isso desse jeito. Era como nada que ela já
tinha feito antes. Matar aula para perambular por todos aqueles túmulos. Partilhar
aquele piquenique, enquanto ele reenchia seu latte perfeitamente feito. Zombando
do medo dela de cobras. Bem, ela podia ter passado sem todo aquele
desenvolvimento da cobra, mas pelo menos Cam fora doce em relação a isso. Mais
doce do que Daniel fora a semana toda.
Ela odiava admitir isso, mas era verdade. Daniel não estava interessada.
Cam, por outro lado... Ela o estudou, a algumas estações a distância. Ele piscou
para ela antes que começasse a trabalhar no seu teclado. Então, ele gostava dela.
Callie não iria ser capaz de calar a boca sobre como ele estava tão obviamente a fim
dela.
Ela queria ligar para Callie agora, sair correndo dessa biblioteca e deixar sua tarefa
sobre a árvore genealógica para mais tarde. Falar sobre outro cara era o jeito mais
rápido - talvez o único - de tirar Daniel da sua cabeça. Mas havia aquela política
telefônica horrível na Sword & Cross, e todos os outros estudantes ao redor dela,
que pareciam tão diligentes.
Os minúsculos olhos da Miss Sophia procuravam na sala por procrastinadores.
Luce suspirou, vencida, e abriu o mecanismo de pesquisa no seu computador. Ela
estava presa aqui por mais vinte minutos ― sem nenhuma celular cerebral dedicada
a sua tarefa. A última coisa que ela queria era aprender sobre sua própria família
tediosa. Ao invés, seus dedos apáticos começaram a digitar treze letras
inteiramente por conta própria.
 ― Daniel Grigori. ― Buscar.



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