Capítulo 6 Sem Salvação
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Na manhã clara e cedo de quinta, um auto-falante estalou no
corredor do lado de
fora do quarto de Luce:
― Atenção, Sword &
Crossanos! ―
Luce rolou com um gemido, mas por mais arduamente que ela
compriMisse o
travesseiro ao redor de suas orelhas, pouco adiantava para
bloquear o rosnado de
Randy no sistema de auto-falante.
― Vocês têm exatos
nove minutos para aparecerem no ginásio para o seu exame
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estejam prontos e preparados para uma avaliação corporal.
―
Exame físico? Avaliação corporal? As seis e meia da manhã?
Luce já se arrependia
de ter ficado até tão tarde ontem a noite... e ter ficado
acordada até bem mais
tarde deitada na cama, se estressando.
Bem por volta da hora que ela começou a imaginar Daniel e
Gabbe se beijando,
Luce começou a se sentir enjoada - aquele tipo específico
de enjoo que vinha de
saber que ela fizera papel de boba. Não tinha como voltar
para a feMiss Só tinha
como sair espreitando da parede e escapar para seu dormitório
para duvidar
daquela sensação estranha que ela tinha perto de Daniel, aquela
que ela tolamente
tomara como algum tipo de conexão. Ela tinha acordado com
um gosto ruim das
consequências da festa ainda em sua boca. A última coisa que
ela queria pensar
agora era sobre capacidade física.
Ela girou seus pés para fora da cama e colocou-os no frio
chão de vinil. Escovando
seus dentes, ela tentou imaginar o que a Sword & Cross
poderia querer dizer por ―
avaliação corporal. ―
Imagens intimidantes de suas colegas ― Molly fazendo dúzias
de levantamentos
com cara de má, Gabbe escalando facilmente uma corda de nove
metros em
direção ao céu ― encheram sua mente. Sua única chance de não
fazer papel de
boba ― de novo ― era tentar tirar Daniel e Gabbe de sua mente.
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Ela cruzou a parte
sul do campus até o ginásio. Era uma ampla estrutura gótica
com arcobotantes e torres pequenas em pedra não-esculpida
que faziam-na
parecer mais com uma Igreja do que um lugar onde se iria para
fazer exercícios
físicos. Enquanto Luce se aproximava do prédio, a camada de
kudzu cobrindo sua
fachada farfalhava na brisa matinal.
― Penn, ― Luce chamou,
vislumbrando sua amiga vestindo uma roupa esportiva
amarrando seu tênis no banco. Luce olhou para baixo para sua
roupa preta e botas
pretas regulamentadas e de repente entrou em pânico por ter
perdido algum
memorando sobre o código de vestimenta. Mas então, alguns
dos outros
estudantes estavam vagabundeando fora do prédio e nenhum deles
parecia muito
diferente dela.
Os olhos de Penn estava grogues. ― Tão cansada, ― ela gemeu.
― Eu karaoquei
demais ontem a noite. Achei que poderia compensar ao tentar
pelo menos parecer
atlética. ― Luce riu enquanto Penn lutava com o nó duplo em
seu sapato.
― O que aconteceu com
você ontem a noite, de qualquer jeito? ― Penn perguntou.
― Você não voltou pra feMiss ―
― Ah, ― Luce disse,
enrolando. ― Eu decidi– ―
― Gaaahh. ― Penn cobriu
seus ouvidos. ― Cada som é como uma perfuratriz no
meu cérebro. Me conta mais tarde? ―
― É, ― Luce disse.
― Claro. ― As portas duplas para o ginásio estavam abertas.
Randy saiu com pesados crocs, segurando sua constante prancheta.
Ela acenou
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para que os estudantes seguissem em frente, e um por um eles
foram designados a
sua estação física.
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― Todd Hammond,
― Randy chamou a medida em que o garoto de joelhos
bambos se aproximava. Os ombros do Todd desabaram para frente
como
parêntesis, e Luce conseguia ver resquícios de um severo bronzeado
de fazendeiro
atrás de seu pescoço.
― Musculação, ― Randy
comandou, atirando Todd para dentro.
― Pennyweather Van
Syckle-Lockwood, ― ela gritou a seguir, fazendo com que
Penn se agachasse e pressionasse suas palmas contra seus ouvidos
novamente. ―
Piscina, ― Randy instruiu, esticando a mão para a caixa de
papelão atrás dela e
jogando para Penn um maiô único vermelho com corte nadador.
― Lucinda Price, ―
Randy continuou, após consultar sua liMiss Luce deu um passo
para frente e ficou aliviada quando Randy disse, ― Piscina
também. ― Luce se
esticou para pegar o maiô único no ar. Estava esticado e fino
como um pedaço de
pergaminho entre seus dedos. Pelo menos cheirava a limpo.
Mais ou menos.
― Gabrielle Givens,
― Randy disse a seguir, e Luce se virou para ver a sua nova
pessoa menos favorita resvalar em shorts pretos pequenos e
uma fina regata preta.
Ela estava nessa escola há três dias... como é que ela já
tinha o Daniel?
― Oiii, Randy, ― Gabbe
disse, arrastando as palavras com um som fanhoso que fez
Luce querer dar uma de Penn e cobrir seus próprios ouvidos.
Tudo menos a piscina, Luce desejou. Tudo
menos a piscina.
― Piscina, ― Randy disse.
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Andando para perto
de Penn na direção do vestiário das garotas, Luce tentou
evitar olhar para trás para Gabbe, que girou, em seu dedo
indicador com unha
francesinha, o que parecia ser o único maiô fashion na pilha.
Ao invés, Luce focou
nas paredes de pedra cinza e na velha parafernália religiosa
cobrindo-as. Ela passou
por cruzes entalhadas floreadamente em madeira com descrições
em seu baixo-
relevo da Paixão.
Uma série de trípticos desbotados estavam pendurados à vista,
com somente as
órbitas das auréolas das imagens ainda iluminadas. Luce se
inclinou para frente
para ter uma visão melhor do grande pergaminho escrito em
latim, envolto em
vidro.
― Decoração pra cima,
não é? ― Penn perguntou, engolindo um par de aspirinas
com um gole d’água de sua bolsa.
― O que são essas coisas
todas? ― Luce perguntou.
― História antiga.
As únicas relíquias sobreviventes de quando esse lugar era ainda
o local de Missas, lá nos dias da Guerra da Sucessão. ―
― Isso explica porque
parece tanto com uma igreja, ― Luce disse, parando na
frente de uma reprodução de mármore da Pietà de Michelangelo.
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― Como todo o resto nessa possilga, eles fizeram um trabalho
porco total em
atualizá-lo. Quero dizer, quem constrói uma piscina no meio
de uma igreja velha? ―
― Você está brincando,
― Luce disse.
― Bem que eu queria.
― Penn girou seus olhos. ― Todo verão, o diretor fixa na
cabecinha a ideia de me colocar para redecorar esse lugar.
Ele não admite, mas
todo o negócio de Deus aqui realmente o apavora, ― ela disse.
― O problema é
que, mesmo que eu sentisse vontade de dar uma ajuda, eu não
faço ideia do que
fazer com todo esse lixo, ou mesmo como limpar isso sem ofender,
tipo, meio
mundo e Deus. ―
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Luce lembrou-se
nas paredes brancas imaculadas dentro do ginásio de Dover,
fileira após fileira de fotos tiradas profissionalmente de
campeonatos estudantis,
cada uma combinando com o mesmo cartão azul-marinho, cada
uma exibida em
uma moldura dourada combinando. O único corredor mais santificado
na Dover era
sua entrada, que era onde todos os ex-alunos-que-viraram-senadores-estaduais
e
vencedores da Sociedade Guggenheim13 e bilionários comuns apresentavam seus
retratos.
― Você poderia pendurar
todas as fotos de polícia atuais dos ex-alunos, ― Gabbe
ofereceu de trás delas.
Luce começou a rir ― era
engraçado... e estranho, quase como se
Gabbe tivesse
acabado de ler sua mente - mas então ela se lembrou da voz
da garota na noite
anterior, dizendo a Daniel que ela era
a única que ele tinha. Luce rapidamente
engoliu qualquer noção de uma conexão com ela.
― Vocês estão se dispersando!
― Gritou uma desconhecida treinadora de ginásio,
aparecendo do nada. Ela ― pelo menos Luce achava que era ela
― tinha uma bucha
de cabelo castanho frisado puxado para trás em um rabo-de-cavalo,
panturrilhas
como um pernil de porco, e aparelho dental ― invisível ― amarelado
cobrindo seus
dentes de cima. Ela empurrou as garotas nervosamente para
um vestiário, onde a
cada uma foi dado um cadeado com uma chave e direções para
um armário vazio
com um empurrão.
― Ninguém se dispersa
na vigia da Treinadora Diante. ―
Luce e Penn lutaram para entrar em seus maiôs desbotados e
frouxos. Luce
estremeceu ao ver seu reflexo no espelho, então cobriu o máximo
de si mesma que
conseguiu com sua toalha.
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Dentro do espaço
de natação úmido, ela imediatamente entendeu sobre o que
Penn estava falando. A própria piscina era gigante, tamanho
olímpico, um das
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poucas características atuais que ela tinha encontrado até
então nesse campus. Mas
não era isso que a tornava notável, Luce percebeu espantosamente.
Essa piscina
tinha sido construída bem no meio do que costumava ser uma
igreja enorme.
Havia uma fileira de lindas janelas com vitrais, com apenas
alguns painéis
quebrados, atravessando as paredes perto do teto alto e arqueado.
Havia nichos de
pedra acesos por luz de vela pela parede. Um trampolim tinha
sido instalado onde o
altar provavelmente costumava estar. Se Luce não tivesse sido
criada agnóstica,
mas, ao invés, como uma fiel temente a Deus, como o resto
de seus amigos no
ensino fundamental, ela poderia ter pensado que esse lugar
essa sacrílego.
Alguns dos outros estudantes já estavam na água, arfando por
ar enquanto
completavam suas voltas. Mas eram os estudantes que não estavam
na água que
capturaram a atenção de Luce. Molly, Roland, e Arriane estavam
todos espalhados
nas arquibancadas pela parede. Eles estavam rindo de algo.
Roland estava
praticamente dobrado, e Arriane estava enxugando lágrimas.
Eles estavam com
maiôs e sungas muito mais atraentes do que Luce, mas nenhum
deles parecia que
tinha alguma intenção em fazer um movimento na direção da
piscina.
Luce cutucou seu maiô único caído. Ela queria ir se juntar
a Arriane ― mas bem
quando ela estava pesando os prós (a possível entrada num
mundo de elite) e
contras (a Treinadora Diante repreendendo-a como uma embargadora
consciente a
exercícios), Gabbe vagueou até o grupo. Como se ela já fosse
a melhor amiga de
todos eles. Ela tomou um assento ao lado de Arriane e imediatamente
começou a
rir também, como se, qualquer que fosse a piada, ela já tinha
entendido.
― Eles sempre têm bilhetes
para ficarem sentados, ― Penn explicou, olhando feio
para a galera popular nas arquibancadas. ― Não me pergunte
como eles se safam
disso. ―
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Luce circundou
e hesitou no lado da piscina, incapaz de captar as intruções da
Treinadora Diante. Ver Gabbe ‘et al’14
agrupados nas arquibancadas, estilo garotos
descolados, fez Luce desejar que Cam estivesse lá. Ela conseguia
imagina-lo
parecendo sarado em uma reluzente sunga preta, acenando para
que ela viesse
para o grupo com seu grande sorriso, fazendo-a se sentir imediatamente
bem-
vinda, até mesmo importante.
Luce sentiu uma necessidade persistente de se desculpar por
se evadir da festa dele
mais cedo. O que era estranho ― eles não estavam juntos, então
não era como se
Luce fosse obrigada a explicar suas idas e vindas para Cam.
Mas ao mesmo tempo,
ela gostava quando ele prestava atenção nela. Ela gostava
do jeito que ele tinha um
cheiro meio de livre e aberto, como dirigir com as janelas
abaixadas de noite. Ela
gostava do jeito que ele sintonizava completamente quando
ela falava, imóvel
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como se ele não conseguisse ver ou ouvir mais ninguém além
dela. Ela até mesmo
gostara de ser levantada do chão na festa, em plena vista
do Daniel. Ela não queria
fazer nada para que Cam reconsiderasse o jeito que ele tratava
ela.
Quando o apito da treinadora soou, uma Luce muito assustada
levantou-se, então
olhou para baixo com arrependimento enquanto Penn e todos
os outros estudantes
perto dela pularam para frente, na piscina.
Ela olhou para a Treinadora Diante por instruções.
― Você deve ser Lucinda
Price ― sempre atrasada e nunca escuta? ― A Treinadora
suspirou.
― A Randy me contou
sobre você. São oito voltas, Escolha seu melhor estilo de
natação. ―
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Luce assentiu
e ficou de pé com seus dedos dos pés curvados perto da beirada.
Ela costumava amar nadar. Quando seu pai a ensinou na piscina
comunitária de
Thunderbolt, ela até mesmo ganhara um prêmio como a criança
mais nova a já
desbravar as profundezas sem boias. Mas isso foi há anos.
Luce não conseguia nem
se lembrar da última vez que tinha nadado. A piscina exterior
aquecida da Dover
sempre brilhara, tentando-a - mas era fechada para qualquer
um que não estivesse
no time de natação.
A Treinadora Diante limpou sua garganta. ― Talvez você não
tenha entendido que
isso é uma corrida... e você já está perdendo. ―
Essa era a ― corrida ― mais patética e ridícula que Luce já
tinha visto, mas isso não
impediu seu lado competitivo de aparecer.
― E... você ainda está
perdendo, ― a Treinadora disse, mastigando seu apito.
― Não por muito tempo,
― Luce disse.
Ela checou a competição. O cara a sua esquerda estava cuspindo
água de sua boca e
fazendo um nado livre desajeitado. A sua direita, uma Penn
com tampão nasal
estava vagarosamente surfando junto, seu estômago descansando
em uma
pranchinha de espuma rosa. Por uma fração de segundos, Luce
olhou para a
multidão nas arquibancadas. Molly e Roland estavam assistindo;
Arriane e Gabbe
estavam desmoronadas uma em cima da outra em um ataque irritante
de
risadinhas.
Mas ela não ligava do que elas estavam rindo. Mais ou menos.
Ela tinha ido.
Com seus braços curvados sobre sua cabeça, Luce mergulhou,
sentindo suas costas
arquearem enquanto ela deslizava na água ondulada. Poucas
pessoas podiam fazer
isso muito bem, seu pai uma vez explicou para uma Luce de
oito anos na piscina.
Mas uma vez que você aperfeiçoou o nado borboleta, não havia
jeito de se mover
mais rápido na água.
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Deixando seu aborrecimento
a propelir para frente, Luce levantou a parte
superior de seu corpo para fora da água. O movimento voltou
imediatamente para
|
ela e ela começou a bater seus braços como asas. Ela nadou
mais arduamente do
que tinha nadado em muito, muito tempo. Se sentindo justificada,
ela passou pelos
outros nadadores uma vez, depois outra.
Ela estava chegando ao fim de sua oitava volta quando sua
cabeça apareceu para
fora da água por tempo o bastante para ouvir a voz vagarosa
de Gabbe dizer, ―
Daniel. ―
Como uma vela apagada, o ímpeto de Luce desapareceu. Ela colocou
seus pés para
baixo e esperou para ver o que mais Gabbe tinha a dizer. Infelizmente,
ela não
conseguiu ouvir mais nada além de um chapinhar ruidoso e,
um momento depois, o
apito. ―
― E o vencedor é, ―
a Treinadora Diante disse com uma expressão assombrada, ―
Joel Bland. ―
O garoto magrelo de aparelho da raia ao lado pulou para fora
da piscina e começar
a fazer barulho para celebrar sua vitória.
Na raia do lado, Penn parou abruptamente. ― O que aconteceu?
― ela perguntou a
Luce. ― Você estava arrasando total com ele. ―
Luce deu de ombros. Gabbe
era o que tinha acontecido, mas quando
ela olhou para
a arquibancada, Gabbe tinha ido, e Arriane e Molly tinham
ido com ela. Somente
Roland permanecia onde o grupo estivera, e ele estava imerso
em um livro.
A adrenalina de Luce tinha crescido enquanto ela nadava, mas
agora ela tinha caído
tanto que Penn teve que ajuda-la a sair da piscina.
Luce observou Roland pular das arquibancadas. ― Você estava
muito bem lá, ― ele
disse, jogando-lhe uma toalha e a chave do armário do vestiário
que ela tinha
perdido.
― Por um tempinho.
―
|
Luce pegou a chave
no ar e amarrou a toalha ao seu redor. Mas antes que ela
pudesse dizer algo normal, como ― Obrigada pela toalha, ―
ou ― Acho que estou
simplesmente fora de forma, ― esse novo e estranho lado ―
cabeça-quente ― dela,
ao invés, simplesmente falou, ― O Daniel e a Gabbe estão juntos
ou o quê? ―
Grande erro. Enorme. Ela conseguia dizer pelo olhar nos olhos
deles que a pergunta
dela estava direcionada bem para o Daniel.
― Ah, entendi, ― Roland
disse, e riu. ― Bem, eu não sei dizer ao certo... ― Ele
olhou para baixo para ela e coçou seu nariz e deu-lhe o que
pareceu ser um sorriso
solidário.
Então ele apontou na direção da porta do corredor aberto,
e quando Luce seguiu
seu dedo ela viu a silhueta composta e loira de Daniel passar.
― Por que você
simplesmente não pergunta a ele? ―
O cabelo da Luce ainda estava pingando e seus pés ainda estavam
descalços
quando ela se encontrou pairando na porta de uma enorme sala
de musculação. Ela
tinha intencionado ir diretamente para o vestiário se trocar
e secar. Ela não sabia
|
por que esse negócio com a Gabbe estava balançando ela tanto.
Daniel podia ficar
com quem ele quisesse, certo?
Talvez Gabbe gostasse de garotos que mostrassem-lhe o dedo
do meio. Ou, mais
provável, esse tipo de coisa não acontecia com a Gabbe.
Mas o corpo de Luce venceu sua mente quando ele captou outro
vislumbre de
Daniel. As costas dele estavam voltadas para ela e ele estava
de pé em um canto
pegando uma corda de pular de uma pilha de emaranhados. Ela
observou enquanto
ele selecionava uma fina corda azul-marinha com cabos de madeira,
então se
moveu para um espaço aberto no centro da sala. Sua pele dourada
estava quase
radiante, e cada movimento que ele fazia, fosse girando seu
longo pescoço para
esticar ou se curvando para coçar seu joelho esculpido, fazia
Luce ficar
completamente extasiada. Ela ficou pressionada contra a porta,
alheia de que seus
dentes estavam tremendo e sua toalha estava ensopada.
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Quando ele levou
a corda para trás de seus tornozelos logo antes de começar a
pular, Luce foi golpeada com uma onda de déjà vu. Não era
exatamente que ela
sentia que tinha visto Daniel pular corda antes, mas mais
que a postura que ele
tomava parecia inteiramente familiar.
Ele ficou de pé com seus pés a uma distância de quadril, destravou
seus joelhos,
pressionou seus ombros para baixo enquanto enchia seu peito
de ar. Luce quase
podia ter desenhado isso.
Foi só quando Daniel começou a girar a corda que Luce saiu
do transe... e entrou
logo em outro. Nunca em sua vida ela tinha visto outra pessoa
se mover como ele.
Era quase como se Daniel estivesse voando. A corda passou
por cima e sobre sua
alta estrutura tão rapidamente que desaparecia, e seus pés
― seus graciosos e
estreitos pés ― eles ao menos estavam tocando o chão? Ele
estava se movendo tão
rapidamente, mesmo ele não devia estar contando.
Um alto resmungo e uma pancada no outro lado da sala de musculação
tirou a
atenção de Luce. Todd estava em um amontoado na base de um
dos nós das cordas
de escalada. Ela sentiu, momentaneamente, pena de Todd, que
estava olhando
para baixo para suas mãos com bolhas.
Antes que ela pudesse olhar de volta para Daniel para ver
se ele tinha notado, uma
fria precipitação negra ao redor de sua pele fez Luce tremer.
A sombra varreu-a,
primeiramente devagar, gelada, tenebrosa, seus limites ocultos.
Então,
repentinamente bruta, ela golpeou seu corpo e a forçou para
trás. A porta para a
sala de musculação bateu em sua cara e Luce ficou sozinha
no corredor.
― Au! ― ela gritou,
não exatamente por estar machucada, mas porque ela nunca
fora tocada pelas sombras antes. Ela olhou para baixo para
seus braços, onde quase
parecera que mãos tinham agarrado-a, empurrando-a para fora
do ginásio.
|
muito forte deve ter passado pelo ginásio. Desconfortável,
ela se aproximou da
porta fechada e pressionou saeu rosto contra o pequeno retângulo
de vidro.
|
Daniel estava
olhando em volta, como se tivesse ouvindo algo. Ela tinha
certeza que ele não sabia que era ela: Ele não estava fazendo
cara feia.
Ela pensou na sugestão de Roland de que ela simplesmente perguntasse
a Daniel o
que estava acontecendo, mas rapidamente dispensou a ideia.
Era impossível
perguntar qualquer coisa ao Daniel. Ela não queria trazer
a tona aquela carranca no
rosto dele.
Além do mais, qualquer pergunta que ela talvez pudesse apresentar
seria inútil. Ela
já tinha escutado tudo que precisava escutar ontem a noite.
Ela teria que ser algum
tipo de sádica para pedir que ele admitisse que estava com
a Gabbe. Ela se virou na
direção do vestiário quando percebeu que não poderia partir.
Sua chave.
Deve ter escorregado de suas mãos quando ela tropeçou para
fora da sala. Ela ficou
na ponta dos pés para olhar para baixo pelo pequeno painel
de vidro na porta. Ali
estava, uma mancada bronze num tapete azul acolchoado. Como
tinha ido parar
tão longe na sala, tão perto de onde ele estava malhando?
Luce suspirou e
empurrou a porta para abrir, pensando que se tivesse que entrar,
pelo menos ela iria
rápido.
Alcançando sua chave, ela roubou uma última olhada nele. Seu
passo estava
ficando devagar, devagar, mas seus pés ainda mal tocavam o
chão. E então, com
um salto, leve-como-o-ar, final, ele parou e virou para encara-la.
Por um momento ele não disse nada. Ela conseguia sentir-se
ruborizar e realmente
desejou que não estivesse usando um maiô tão horroroso.
― Oi, ― foi tudo que
ela conseguiu dizer.
― Oi, ― ele disse de
volta, em um tom de voz muito mais calmo. Então,
gesticulando para o maiô dela, disse, ― Você ganhou? ―
Luce deu um riso triste e reticente e balançou sua cabeça.
― Bem longe disso. ―
Daniel franziu seus lábios. ― Mas você sempre foi... ―
― Eu sempre fui o quê?
― – Eu quero dizer, você parece que talvez seja uma boa
nadadora. ― Ele deu de ombros. ― Só isso. ―
|
Ela deu um passo
na direção dele. Eles estavam a apenas trinta centímetros de
distância. Gotas d’água caíram do cabelo dela e tamborilaram
como chuva nos
tapetes do ginásio. ― Não era isso o que você ia dizer, ―
ela insistiu. ― Você disse
que eu sempre... ―
Daniel se ocupou enrolando a corda de pular ao redor de seu
pulso. ― É, eu não quis
dizer você você. Eu quis dizer no geral. Eles sempre devem deixar você
vencer a sua
primeira corrida aqui. Um código de conduta não-falado nosso,
os mais velhos. ―
― Mas a Gabbe também
não ganhou, ― Luce disse, cruzando seus braços sobre
|
seu peito. ― E ela é nova. Ela nem ao menos entrou na piscina.
―
― Ela não é exatamente
nova, só está voltando após um tempo... fora. ― Daniel
deu de ombros, não transparecendo nada de seus sentimentos
por Gabbe. Sua
tentativa óbvia de tentar parecer despreocupado fez Luce ficar
com ainda mais
ciúmes. Ela observou ele terminar de enrolar a corda de pular
em uma bobina, o
jeito que suas mãos moviam-se quase tão rapidamente quanto
seus pés. E aqui
estava ela, tão desajeitada e solitária e gelada e isolada
de tudo por todos.
Seu lábio tremeu.
― Oh, Lucinda, ― ele
sussurrou, suspirando pesadamente.
Seu corpo todo aqueceu por aquele som. A voz dele era tão
íntima e familiar.
Ela queria que ele dissesse seu nome novamente, mas ele tinha
se virado. Ele
prendeu a corda de pular em um prego na parede. ― Eu deveria
ir me trocar antes
da aula. ―
Ela descansou uma mão no braço dele. ― Espera. ―
Ele empurrou com violência como se tivesse levado um choque
― e Luce sentiu
isso, também, mas era o tipo de choque que é bom.
― Você já teve a sensação...
― Ela levantou seus olhos para ele. De perto, ela
conseguia ver como eles eram diferentes. Eles pareciam cinzas
de longe, mas de
perto havia grãos violeta neles. Ela conhecia outra pessoa
com olhos como
aqueles...
― Eu podia jurar que
nos conhecemos antes, ― ela disse. ― Estou louca? ―
― Louca? Não é por
isso que está aqui? Ele disse, afastando-a.
― Estou falando sério.
―
|
― Eu também. ―
O rosto de Daniel ficou vazio. ― E só para constar ― – ele
apontou para um dispositivo piscando pregado ao teto ― – os
vermelhos
monitoram os perseguidores. ― – Eu não estou te perseguindo. ― Ela
endureceu,
muito ciente da distância entre seus corpos.
― Você pode dizer honestamente
que não faz ideia do que eu estou falando? ―
Daniel deu de ombros.
― Eu não acredito em
você, ― Luce insistiu. ― Olhe-me nos olhos e diga-me que
estou errada. Que nunca na minha vida eu te vi antes dessa
semana. ―
Seu coração disparou enquanto Daniel dava um passo na direção
dela, colocando
ambas as mãos em seus ombros. Seus dedões cabiam perfeitamente
nas ranhuras
de sua clavícula, e ela queria fechar seus olhos ao calor
do toque dele ― mas ela não
fechou. Ela observou enquanto Daniel curvava sua cabeça para
que seu nariz quase
tocasse o dela. Ela conseguia sentir seu hálito em seu rosto.
Ela conseguia sentir um
toque de doçura na pele dele.
Ele fez como pedido. Ele olhou-a no olho e disse, muito vagarosamente,
muito
|
interpretadas:
― Você nunca, na sua
vida, me viu antes dessa semana. ―
|
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