Capítulo 5 O Círculo Secreto
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― Nunca mais
me assuste desse jeito! ― Callie reprimiu Luce na tarde de
quarta-feira.
Foi logo depois de o pôr-do-sol, e Luce estava dobrada
dentro do cubículo
telefônico da Sword & Cross, um confinado minúsculo
no meio da área do escritório
frontal. Estava longe de ser privado, mas ninguém estava
ali vadiando. Seus braços
continuavam doloridos por causa da detenção do dia
anterior no cemitério, o
orgulho dela continuava ferido da fuga de Daniel no
instante em que eles foram
puxados para baixo da estátua. Mas por quinze minutos,
Luce estava tentando tirar
tudo aquilo de sua mente para absorver cada palavra
alegremente frenética que sua
melhor amiga poderia cuspir para fora no tempo repartido.
Era tão bom ouvir a voz
estridente de Callie que Luce nem ligava que ela
estivesse gritando.
― Nós prometemos
que não nos ficaríamos sem nos falar nem uma hora, ― Callie
continuou, acusadora. ― Eu pensei que alguém te comeu
viva! Ou então eles talvez
te prenderam na solitária em uma dessas camisas de força
que você tem que
mastigar através da manga para coçar seu rosto. Por tudo
que eu sei, você poderia
ter caído num desses nonos círculos de... ―
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― Okay, mãe, ― Luce disse, rindo e exercendo o papel de
instrutora de respiração
de Callie. ― Relaxe. ― Por um milésimo de segundo, ela se
sentiu culpada por não
ter usado sua única ligação telefônica para ligar para
sua mãe de verdade. Mas ela
sabia que Callie iria se descabelar se ela descobrisse
que Luce não havia agarrado a
primeira oportunidade de entrar em contato. E de um jeito
estranho, era sempre
tranquilizador ouvir a voz histérica de Callie. Era uma
das muitas razões que as duas
eram uma boa dupla: a paranóia acima do normal de sua
melhor amiga na verdade
tinha um efeito calmante em Luce. Ela poderia apenas
visualizar Callie em seu
dormitório na Dover, acariciando seu tapete laranja, com
Oxy espalhado sobre sua
zona T e espumas de pedicure separando seus dedos dos pés
pintados com esmalte
fúcsia ainda molhado.
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― Não me
chame de mãe! ― Calle bufou ― Comece a falar. Como são os
outros por aí? São todos assustadores e disparam
diuréticos como nos filmes? E
suas aulas? Como é a comida? ―
Através do telefone, Luce podia ouvir Roman Holiday
tocando ao fundo na tv de
Callie. A cena favorita de Luce sempre foi aquela que
Audrey Hepburn acorda no
quarto de Gregory Pack, ainda convencida que a noite
anterior foi um sonho. Luce
fechou os olhos e tentou visualizar a cena em sua mente.
Mimetizando o sussurro
sonolento de Audrey, ela citou a fala que ela sabia que
Callie ia reconhecer: ― Havia
um homem, ele era tão mal pra mim. Isso era maravilhoso.
―
― Okay, Princesa,
é sobre a sua vida que eu quero ouvir. ― Callie importunou.
Infelizmente, não havia nada sobre a Sword & Cross
que Luce consideraria
descrever como maravilhoso. Pensando sobre Daniel, pela,
oh, oitagésima vez no
dia, ela percebeu que o único paralelo entra sua vida e
Roman Holiday era que
Audrey também tinha um cara que era agressivelmente rude
e desinteressado nela.
Luce descansou sua cabeça sobre o linóleo bege das paredes
do cubículo. Alguém
havia esculpido as palavras ESPERANDO MINHA VEZ. Em
circunstâncias normais,
isso seria quando Luce falaria tudo sobre Daniel para
Callie.
Exceto, por uma razão, ela não fez.
O que quer que ela desejasse dizer sobre Daniel não seria
baseado em nada que
realmente aconteceu entre eles. E Callie sempre foi boa
em fazer os garotos
perceberem o quanto eram dignos de você. Ela gostaria de
saber coisas sobre como
quantas vezes ele abriu a porta para Luce ou se ele tinha
percebido quão bom era
seu sotaque francês. Callie não achava que havia nada de
errado com os caras
inexperientes que escreviam poemas de amor que Luce nunca
levou a sério. Luce
pensou em várias coisas para dizer sobre Daniel. E na
verdade, Callie estaria mais
interessada em ouvir sobre alguém como Cam.
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― Bom, tem um cara aqui ― Luce sussurrou para o telefone.
― Sabia! ― Callie guinchou. ― Nome. ―
|
Daniel.
Daniel. Luce pigarreou. ― Cam. ―
― Direto, sem
complicações. Eu posso lidar com isso. Comece do começo. ―
― Bom, nada
aconteceu ainda. ―
― Ele acha que
você é maravilhosa e blá blá blá. Eu te disse que o cabelo curto ia te
deixar como a Audrey. Vamos para a parte boa. ―
― Bem - ― Luce
interrompeu. O som de passos na sala a calaram. Ela inclinou-se
para o lado do cubículo e esticou seu pescoço para ver
quem estava interrompendo
os melhores quinze minutos que ela estava tendo em três
dias inteiros.
Cam estava andando na direção dela.
Falando do diabo. Ela engoliu as horríveis palavras
falhas na ponta de sua língua:
Ele me deu a paleta da guitarra. Ela ainda o tinha dentro
do bolso.
O comportamento de Cam era casual, como se por algum
golpe de sorte ele não
tivesse escutado o que ela havia dito. Ele parecia ser o
único aluno da Sword &
Cross que não tirava seu uniforme escolar no minuto
seguinte que a aula acabasse.
Mas o visual preto-no-preto parecia feito para ele, tanto
quanto fazia Luce parecer a
menina do caixa da mercearia.
Cam estava rodando um relógio de bolso dourado, que
balançava a partir de uma
longa cadeia laçada em volta de seu dedo indicador. Luce
seguiu aquele brilhante
arco por um momento, um pouco hipnotizada, até que Cam
agarrou a face do
relógio para parar em seu punho. Ele olhou para baixo
para ver isso, e depois olhou
para ela.
― Desculpe ― seus
lábios se contorceram confusos. ― Eu pensei que eu estava
com a ligação de sete horas. ― Ele encolheu. ― Mas eu
devo ter escrito isso errado.
―
O coração de Luce pulou quando ela olhou para seu próprio
relógio. Ela e Callie
haviam falado apenas quinze palavras uma para a outra ―
como seus quinze
minutos já podiam ter acabado?
― Luce? Oi? ―
Callie parecia impaciente do outro lado da linha. ― Você está sendo
estranha. Tem alguma coisa que você não está me contando?
Você já me substituiu
por algum cortador de escola reformatória? E o cara? ―
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― Shhh ― Luce
assobiou no telefone. ― Cam, espere, ― ela disse, segurando
o telefone longe de sua boca. Ele já estava meio caminho
da porta. ― Só um
segundo. Eu estava... ― Ela engoliu ― Eu estava só me
despedindo. ―
Cam deslizou seu relógio de bolso para dentro da parte da
frente de seu blazer
preto e se duplicou em relação a Luce. Ele ergueu seus
olhos castanhos e riu alto
quando ouviu a voz de Callie crescer do telefone. ― Não
pense em desligar. Você
não me contou nada! Nada! ―
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― Eu não quero por ninguém pra fora. ― Cam brincou,
gesticulando para o
telefone que ladrava. ― Pegue minha ficha, você pode me
devolver qualquer dia
desses. ―
― Não. ― Luce
disse rapidamente. Da mesma forma que ela queria continuar
falando com Callie, ela imaginou que Cam sentia do mesmo
jeito em relação a
quem quer que ele fosse telefonar. E diferente de várias
pessoas na escola, Cam não
havia sido nada mais que legal com ela. Ela não queria o
fazer abrir mão de seu
turno no telefone, especialmente agora, que ela estava
nervosa sobre fofocar com
Callie a respeito dele.
― Callie ― ela
disse, suspirando no telefone. ― Eu tenho que ir. Eu ligo logo assim
que - ― Mas então só havia o vago zumbido do tom de
discagem em seu ouvido. O
telefone havia sido programado para ser usado apenas por
quinze minutos. Agora
ela podia ver o pequeno contador marcando 0:00 em sua
base. Elas nem haviam se
despedido e agora ela teria que esperar mais uma semana
inteira para ligar. Horário
estendido na mente Luce é como um abismo sem fim.
― Melhor amiga? ―
Cam perguntou, entrando no cubículo ao lado de Luce. Seus
suas sobrancelhas continuavam arqueadas. ― Eu tenho três
irmãs mais novas, eu
posso praticamente cheirar a vibração de melhores amigas
ao telefone. ― Ele se
inclinou para frente como se ele fosse cheirar Luce, o
que a fez soltar um riso
abafado... E depois congelar. A aproximação inesperada
dele fez o coração dela
pular.
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― Deixe-me
ver ― Cam endireitou-se para trás e levantou o queixo. ― Ela
quer saber tudo sobre os bad boys de escolas
reformatórias? ―
― Não! ― Luce
sacudiu a cabeça para provar veementemente que caras não
estavam na sua mente de qualquer forma... Até que ela
percebeu que Cam estava
apenas brincando. Ela corou e fez uma piada de volta. ―
Eu quis dizer, não há
nenhum solteiro bom aqui. ―
Cam piscou. ― Precisamente o que deixa isso tão
excitante. Você não acha? ― Ele
tinha um jeito de permanecer muito quieto, o que fazia
Luce ficar muito quieta, o
que fazia o tique-taque do relógio de bolso dentro do
blazer dele parecer mais alto
do que possivelmente poderia ser.
Congelada próxima de Cam, Luce de repente estremeceu
quando alguma coisa
preta atacou violentamente a sala. A sombra parecia jogar
amarelinha entre os
painéis do teto de um jeito bem cauteloso, preenchendo um
quadrado e depois o
outro, e depois o outro. Maldição. Nunca seria bom estar
sozinha com alguém ―
especialmente alguém que estivesse centrado nela como Cam
estava naquele
momento ― quando as sombras vinham. Ela podia sentir
espasmos, tentando
parecer calma enquanto as sombras negras giravam em torno
do ventilador de
teto, dançando. Sozinha ela poderia ter resistido.
Talvez. Mas as sombras também
estavam fazendo os piores de seus terríveis barulhos, um
som que Luce havia
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escutado quando ela viu uma coruja bebê cair de uma
árvore e sufocar até a morte.
Ela queria que Cam apenas parasse de olhar para ela. Ela
queria que alguma coisa
acontecesse para chamar sua atenção. Ela desejava ―
Daniel Grigori.
|
E então ele
apareceu. Salva pelo maravilhoso cara usando jeans rasgados e
uma camiseta branca surrada. Ele não parecia muito com a
salvação ― desleixado
sobre sua pesada pilha de livros da biblioteca, olheiras
cinzas embaixo de seus olhos
cinzas. Daniel parecia estar meio acabado. Seu cabelo
loiro caía encima de seus
olhos, e quando eles se fixaram em Luce e Cam, Luce os
viu se estreitarem. Ela
estava tão ocupada se lamuriando sobre o que havia feito
para incomodar Daniel
dessa vez, que ela nem percebeu a coisa momentânea que
aconteceu: um segundo
depois que a porta se fechou atrás dele, as sombras
deslizaram sobre a porta e
foram para a noite. Era como se alguém houvesse tirado um
vácuo e limpado toda a
sujeira da sala.
Daniel apenas assentiu em sua direção e não desacelerou
enquanto ele passava.
Quando Luce olhou para Cam, ele estava observando Daniel.
Ele se virou para Luce
e disse, mais alto do que o necessário, ― Eu esqueci de
te dizer. Terá uma pequena
festa no meu quarto essa noite depois da social. Eu
amaria se você fosse. ―
Daniel continuava escutando. Luce não fazia idéia do que
era essa social que todo
mundo ficava resmungando sobre, mas ela supostamente
tinha que encontrar com
Penn depois. Elas supostamente tinham que andar juntas.
Seus olhos estavam fixos nas costas da cabeça de Daniel,
e ela sabia que tinha que
responder a Cam sobre sua festa, e isso não deveria ser
tão difícil, mas quando
Daniel se virou e olhou para ela com um olhar que ela
jurava ser cheio de lamentos,
o telefone atrás dela começou a tocar, e Cam o alcançou e
disse ― Eu tenho que
atender, Luce. Você estará lá? ―
Quase imperceptivelmente, Daniel assentiu.
― Sim, ― Luce
disse para Cam. ― Sim. ―
― Eu continuo sem
saber porque temos de correr. ― Luce estava ofegando vinte
minutos depois. Ela tentou alcançar Penn quando elas se
misturaram através da
área comum do auditório para a misteriosa Social de
Quarta-feira à Noite, que Penn
ainda não havia explicado. Luce mal teve tempo o
suficiente para subir em seu
quarto, colocar gloss e seu melhor jeans, apenas para o
caso de ser aquele tipo de
social. Ela ainda estava tentando acalmar sua respiração
depois de sua corrida com
Cam e Daniel quando Penn entrou no seu quarto para
arrasta-la para fora da porta
de novo.
― Pessoas que são
cronicamente lentas nunca entendem as várias maneiras que
elas estragam os horários das pessoas que são pontuais e
normais. ― Penn falou
para Luce quando elas espirraram em meio de uma poça em
particular no gramado.
― Ha! ― Uma
gargalhada explodiu atrás delas.
Luce olhou para trás e sentiu seu rosto se iluminar
quando ela viu o corpo magro e
|
pálido de Arriane se juntar à elas.
― Qual charlatão
disse que você é normal, Penn? ― Arriane cutucou Luce e
apontou para baixo. ― Atenção para a areia movediça! ―
Luce patinou e parou um pouco antes de ficar aterrada em
um trecho lamacento do
terreno. ― Alguém por favor me diz onde a gente está
indo! ―
― Noite de quarta.
― Penn disse terminantemente. ― Noite social. ―
― Como... um baile
ou algo assim? ― Luce perguntou, visões de Daniel e Cam de
movendo pela pista de dança de sua mente.
Arriane piou. ― Uma dança com morte por tédio. O termo
'social' é típico do duplo
sentido da Sword & Cross. Veja, eles requerem
planejar eventos sociais pra gente,
mas eles também ficam aterrorizados com eventos sociais
para nós. Escolha difícil.
―
― Então em vez
disso, ― Penn continuou ― eles tem esses horríveis eventos como
seções pipocas seguidas por palestras sobre os filmes, ou
― Deus, você se lembra
do último semestre? ―
― Que teve aquele
simpósio inteiro sobre taxidermia? ―
― Tão, tão
arrepiante. ― Penn sacudiu a cabeça.
|
― Essa noite,
minha querida ― Arriane a puxou ― Nós caímos fora fácil. Tudo
o que nós temos que fazer é roncar durante um dos três
filmes em exibição na
videoteca da Sword & Cross. O que você acha que
teremos essa noite, Penny
Vadia? Starman? Joe versus the
volcano? Ou Weekend at Bernie's?
― É Starmen. ― Penn gemeu.
Arriane lançou à Luce um olhar perplexo. ― Ela sabe de
tudo. ―
― Aguenta firme. ―
Luce disse, na ponta dos pés em volta da areia movediça e
abaixando o volume da sua voz quando se aproximaram da
escritório da escola. ―
Se vocês todas viram esses filmes tantas vezes pra quê a
pressa de chegar lá? ―
Penn empurrou as pesadas portas de metal para o ―
auditório ― , enquanto, Luce
percebeu, havia um eufemismo para um quarto normal, velho
e com teto baixo
aplainado e cadeiras dispostas à frente de uma parede em
branco.
― Não queira ficar
presa no assento quente perto do Sr. Colem, ― Arriane explicou,
apontando para o professor. Seu nariz estava enterrado
profundamente dentro de
um grosso livro, e ele estava rodeado pelas poucas
cadeiras restantes na sala.
Quando as três garotas passaram pelo detector de metais na
porta, Penn disse, ―
Qualquer um que sentar lá tem que passar a inquéritos
sobre a saúde 'mental'
semanal dele. ―
― O que não seria
tão ruim... ― Arriane continuou.
― Se você não
tivesse que ficar até mais tarde para analisar os 'achados'. ― Penn
terminou.
― Assim, em falta,
― Arriane disse com um sorriso largo direcionando Luce para a
segunda fila enquanto ela sussurrava. ― A pós festa ―
|
Finalmente elas chegaram no coração do problema. Luce
riu.
― Eu ouvi sobre isso. ― ela disse, sentindo um pouco com
ela para uma mudança.
― É no quarto do Cam, certo? ―
|
Arriane olhou
para Luce por um segundo e rolou sua língua sobre seus dentes.
Então ela olhou para além de Luce, quase através dela. ―
Ei Todd ― , ela chamou,
acenando apenas com a ponta dos dedos. Ela empurrou Luce
para um dos assentos,
reinvindicou o assento seguro ao lado dela (permanecendo
dois assentos abaixo do
Sr. Cole), e afagou o assento quente ao seu lado. ― Venha
sentar conosco, T-Man.
―
Todd, que estava mudando o peso do seu corpo no caminho
da porta, pareceu
extremamente aliviado de ser direcionado, qualquer
direção. Ele começou atrás
delas, engolindo. Tão logo que ele que ele foi
atrapalhado para seu lugar, o Sr. Cole
olhou por cima de seu livro, limpou seus óculos em seu
lenço e disse, ― Todd, estou
feliz que você está aqui. Eu estava me perguntando se
você poderia me ajudar com
um pequeno favor depois do filme. Você pode ver, o
diagrama de Venn é uma
ferramenta muito usual para... ―
― Ruim. ― Penn
colocou seu rosto entre Arriane e Luce.
Arriane deu de ombros e tirou um saco gigante de pipoca
de sua bolsa de sua bolsa
de viagem. ― Eu só posso olhar por alguns estudantes
novos, ― ela disse, lançando
uma amêndoa amanteigada para Luce. ― Sorte sua. ―
Enquanto as luzes da sala se esmaeciam, Luce olhou em
volta até seus olhos se
estacionarem em Cam. Ela pensou sobre sua abreviada
sessão no telefone com
Callie e como sua amiga sempre disse que assistir um
filme com um garoto era o
melhor jeito de saber coisas sobre ele, coisas que talvez
nunca viriam a tona em
uma conversa. Olhando para Cam, Luce pensou que ela sabia
o que Callie queria
dizer: há algum tipo de emoção em observar pelo canto do
olho para ver qual piada
Cam acha divertida, para se juntar a sua risada por si
mesma.
|
Quando o olho
dele encontrou o dela, Luce sentiu um instinto estranho de
olhar distante. Mas então, antes que ela pudesse, a face
de Cam se iluminou em um
largo sorriso. Isso fez ela parecer notavelmente
pertubada por ser pega olhando.
Quando ele colocou suas mãos num aceno, Luce não ajudou,
pensando sobre como
a oposição aconteceu exatamente alguns minutos que Daniel
tinha travado seu
olhar nele.
Daniel entrou com Rolland, tarde o suficiente para que
Randy já tivesse contado as
cabeças, tarde o suficiente para que os únicos assentos
restantes eram no chão na
frente da sala. Ele passou sobre o feixe de luz do
projetor e Luce notou pela
primeira vez a corrente de prata nas costas de seu
pescoço e algum tipo de
medalhão enfiado dentro de sua camisa. Então ele
mergulhou completamente para
fora de sua visão. Ela não podia nem ao menos ver seu
perfil.
|
Como já haviam despejado, Starman não foi muito legal,
mas os outros estudantes
fazendo imitações de Jeff Bridge eram. Foi difícil para
Luce focar no enredo. Além
disso, ela estava tendo essa desconfortável sensação
congelante atrás de seu
pescoço. Alguma coisa estava prestes a acontecer.
Quando as sombras vieram dessa vez, Luce estava esperando
por elas. Então, ela
começou a pensar sobre isso e contou com os dedos. As
sombras estavam
aparecendo em um ritmo cada vez mais alarmante, e Luce
não conseguia saber se
ela estava apenas nervosa na Sword & Cross... Ou se
isso significava algo a mais.
Elas nunca haviam sido tão ruins assim.
Elas vazaram por cima do auditório, então deslizaram
pelos cantos da tela de
projeção, e finalmente traçaram as linhas do assoalho
como tinta derramada. Luce
agarrou o assento de sua cadeira e sentiu o sofrimento
causado pelo medo inchar
através de seus braços e pernas. Ela apertou todos os
músculos de seu corpo, mas
ela não podia evitar tremer. Um tapinha no seu ombro
esquerdo a fez olhar para
Arriane.
― Você está bem? ―
Arriane sussurrou.
|
Luce assentiu
e abraçou seus ombros, fazendo parecer que estava apenas com
frio. Ela desejava que estivesse, mas esse calafrio em
particular não tinha nada a ver
com o ar-condicionado super potente da Sword & Cross.
Ela podia sentir as sombras rebocando sob seus pés,
abaixo da cadeira. Elas
permaneceram assim, paradas pelo filme inteiro, e cada
minuto parecia uma
eternidade.
|
***
|
Uma hora mais
tarde, Arriane pressionou seu olho contra o olho mágico da
porta pintada de bronze do quarto de Cam no dormitório. ―
Yo-hoo ― ela cantou,
dando risadinhas. ― A alma da festa está aqui! ―
Ela tirou um boá de penas rosas da mesma sacola mágica de
onde o saco de pipocas
veio. ― Me dê uma mãozinha, ― ela disse para Luce,
colocando um dos pés no ar.
Luce cruzou seus dedos e os posicionou debaixo das botas
pretas de Arriane. Ela
assistiu, enquanto Arriane se empurrava para fora do solo
e usava o boá para cobrir
a lente da câmera de segurança do corredor, quando ela
chegou em torno da parte
traseira do dispositivo e desligou-o.
― Isso não é
suspeito, ou algo assim, ― Penn disse.
― Seus fiéis
dormem com a pós festa? ― Arriane revidou. ― Ou a festa das
câmeras? ―
― Eu só estou
dizendo que há modos mais inteligentes, ― Penn bufou enquanto
|
Arriane descia. Arriane lançou o boá sobre os ombros de Luce, e Luce riu
e começou
a vibrar com a canção de Motown 12que eles podiam ouvir através da
porta. Mas
quando Luce ofereceu o boá para Penn, ela ficou surpresa
por ver que ela
continuava nervosa. Penn estava roendo suas unhas e
suando pelas sobrancelhas.
Penn vestia seis suéteres no pantanoso calor sulista de
Setembro ― ela nunca
estava com calor.
― O que está
errado? ― Luce sussurrou, inclinando-se.
Penn puxou a ponta de sua manga e deu de ombros. Ela
parecia estar prestes a
responder quando a porta atrás deles se abriu. Uma onda
de fumaça de cigarro, jato
de música, e de repente Cam abriu os braços,
cumprimentando elas.
― Você fez isso, ―
ele disse, sorrindo para Luce. Mesmo na luz turva, os lábios dele
tinham um brilho manchado de cereja. Quando ele a puxou
para um abraço, ela se
sentiu minúscula e segura. Isso durou apenas um segundo;
então ele acenou para
dar oi para as outras duas garotas, e Luce se sentiu um
pouco orgulhosa por ser a
única que ganhou um abraço.
Atrás de Cam, o pequeno, escuro quarto estava abarrotado
de pessoas. Roland
estava em um canto, na mesa giratória, levantando cds
para uma luz negra. O casal
que Luce tinha visto na quadra uns dias atrás estava se
agarrando contra a janela.
Os caras estilosos com as camisas oxford brancas estavam
todos amontoados no
mesmo círculo, ocasionalmente dando uma olhada nas
garotas. Arriane não perdeu
tempo fuzilando através do quarto até a escrivaninha de
Cam, que parecia estar
sendo usada como um bar. Quase imediatamente, ela tinha
uma garrafa de
champanhe entre suas pernas, e ria enquanto tentava abrir
a garrafa.
Luce estava perplexa. Ela nunca soube como pegar bebidas
alcóolicas em Dover,
onde o mundo exterior tinha sido muito menos fora dos
limites. Cam estava de
volta a Sword & Cross apenas há poucos dias, mas
ainda assim, ele parecia saber
como conseguir tudo que ele precisava para ter um soirée
digno de Dioniso, onde a
escola toda apareceu.
|
Ainda na
entrada, ela ouviu o estalo, então os vivas do resto da multidão,
então a voz de Arriane chamando: ― Luciiiiinda venha cá.
Eu estou prestes a fazer
um brinde! ―
Luce pode sentir o magnetismo da festa, mas Penn parecia
menos pronta a se
mover.
― Você vai em frente, ― ela disse, balançando a mão para
Luce.
― O que há de errado? Você não quer entrar? ― A verdade
era, Luce mesma estava
um pouco nervosa. Ela não fazia a menor idéia o que
poderia acontecer com essas
coisas, e desde que ela não tinha tanta certeza o quão
confiável Arriane era,
|
definitivamente a faria melhor ter Penn ao seu lado.
Mas Penn fez uma carranca. ― Eu estou... Estou fora do
meu mundo. Eu fico na
biblioteca, dou aulas de como usar o Power Point. Você
precisa hacker alguém, eu
sou a garota. Mas isso... ― Ela ficou na ponta dos pés e
espreitou para dentro da
sala. ― Eu não sei. As pessoas lá dentro pensam que eu
sou daquele tipo sabe-tudo.
―
Luce lançou para ela o melhor olhar dá-um-tempo. ― E eles
acham que eu sou um
bolo de carne, e nós pensamos que eles são totalmente uns
bananas. ― Ela riu. ―
Nós não podemos simplesmente ir em frente? ―
Lentamente, Penn enrolou o lábio, então pegou o boá de
penas e enrolou em volta
dos seus ombros. ― Oh, tudo certo, ― ela disse, entrando
à frente de Luce.
Luce piscou enquanto seus olhos se ajustavam. Uma
cacofonia encheu o quarto,
mas ela podia ouvir as risadas de Arriane. Cam fechou a
porta atrás delas e pegou a
mão de Luce, então ela tirou, longe do resto da festa.
― Eu estou muito feliz que você veio, ― ele disse,
colocando a mão nas costas dela
e inclinando a cabeça, então ela o podia ouvir no quarto
barulhento. Os lábios dele
pareciam apetitosos, especialmente quando ele dizia
coisas como ― Eu pulava toda
vez que alguém batia na porta, esperando que fosse você.
―
|
O que quer que
tenha ligado Cam a ela tão rápido, Luce não queria fazer nada
para mudar isso. Ele era popular e inesperavelmente
pensativo, e a atenção dele a
fez sentir mais do que lisonjeada. A fez se sentir mais
confortável nesse estranho e
novo lugar. Ela sabia se ela tentasse responder ao seu
elogio, ela iria tropeçar sobre
as palavras. Então, ela apenas riu, o que o fez rir
também, então ele a envolveu em
mais um abraço.
De repente, não havia outro lugar para por as mãos além
do pescoço dele. Ela
sentiu um pouco aliviada enquanto Cam a apertava, a
fazendo tirar os pés do chão.
Quando ele a colocou de volta, Luce se virou para o resto
da festa, e a primeira coisa
que ela viu foi Daniel. Mas ela não achava que ele
gostava de Cam. Contudo, ele
estava sentado de pernas cruzadas na cama, a camiseta
branca brilhando violeta
por causa da luz negra. Logo que seus olhos encontraram
os dele, ficou difícil olhar
para alguém mais. O que não fazia sentido, porque um cara
deslumbrante e
amigável estava parado logo atrás dela, perguntando o que
ela gostaria de beber. O
outro cara maravilhoso, infinitamente menos amigável,
sentado na frente dela, não
podia ser o único que ela não podia parar de olhar. E ele
a estava fitando. Tão
atentamente, com um secreto, furtivo olhar nos seus
olhos, que Luce pensou que
nunca ia decodificar, mesmo que o visse centenas de
vezes.
Tudo que ela sabia era o efeito que isso causava nela.
Todos os outros na sala
pareciam fora de foco e ela derreteu. Ela poderia ficar
olhando de volta toda noite,
se não fosse Arriane, que escalou para o topo da mesa e
gritou por Luce, seu copo
erguido no ar.
|
― Para Luce, ― ela brindou, lançando à Luce um sorriso
inocente. ― Que
obviamente está zoneando e perdeu meu discurso inteiro de
boas-vindas e que
nunca vai saber o quão fabuloso foi ― não foi fabuloso,
Ro? ― ela inclinou-se para
perguntar a Roland, que acariciou seu tornozelo,
afirmando.
|
Cam deslizou
um copo de plástico cheio de champanhe para a mão de Luce.
Ela corou e tentou rir enquanto o resto da festa ecoava:
― Para Luce! Para o Bolo de
Carne! ―
Ao lado dela, Molly deslizou e sussurrou uma versão curta
em sua orelha: ― Para
Luce, que nunca vai saber. ―
Alguns dias antes, Luce teria vacilado. Essa noite, ela
simplesmente rolou os olhos,
então deu as costas para Molly. A garota nunca falara
nenhuma palavra que não
fizesse Luce se sentir ofendida, mas mostrar isso só
parecia incita-la. Então Luce
apenas se agachou para compartilhar a cadeira da mesa com
Penn, que deu para
ela um cordão de alcaçuz preto.
― Você pode
acreditar? Eu acho que eu finalmente estou me divertindo, ― Penn
disse, digerindo a alegria.
Luce mordeu o alcaçuz e tomou um pequeno gole do
espumante champanhe. Uma
combinação não muito saborosa. Quase como ela e Molly. ―
Então, Molly é esse
diabo com todo mundo ou eu sou um caso especial? ―
Por um segundo, Penn pareceu que daria uma resposta
diferente, mas então ela
afagou as costas de Luce. ― Só o charme do seu
comportamento usual, minha
querida. ―
Luce olhou em volta do quarto, com toda a circulação
livre de champanhe, para a
extravagante mesa giratória de Cam, para a globo
espelhado rodando acima das
cabeças, pedaços de estrelas no rosto de todo mundo.
― Onde que eles
conseguem todas essas coisas? ― Ela perguntou em voz alta.
― As pessoas dizem
que Roland pode colocar qualquer coisa dentro da Sword &
Cross, ― Penn disse naturalmente. ― Não que eu já tenha
perguntado para ele. ―
Talvez seja isso que Arriane quis dizer quando ela disse
que Roland sabia como
conseguir coisas. A única coisa fora dos limites má o
suficiente que Luce podia
imaginar era perguntar sobre um celular. Mas então... Cam
havia dito para não
ouvir Arriane sobre os trabalhos secretos da escola. O
que teria sido bom, exceto
que boa parte dessa festa parecia ser cortesia de Roland.
|
Quanto mais
ela tentava desvendar suas questões, menos coisas se
encaixavam. Ela provavelmente só estava chocada por estar
― dentro ― o
suficiente para ser convidada para festas.
― Certo, todos
vocês rejeitados, ― Roland disse, lentamente, para ter a atenção de
todo mundo. O toca-discos tinha acalmado para o estático
entre músicas. ― Nós
vamos começar o espaço aberto da noite, e eu estou
solicitando pessoas para o
|
karaokê. ―
― Daniel Grigori ―
Arriane piou através de suas mãos.
― Não! ― Daniel
piou de volta, sem perder o ritmo.
― Aw, o silencioso
Grigori sente-se fora. ― Roland disse, no microfone. ― Você
tem certeza que não quer fazer sua versão de 'Hellhound
on My Trail'? ―
― Eu creio que
essa é sua música, Roland, ― Daniel disse. Um sorriso se espalhou
pelos seus lábios, mas Luce sentiu que era um sorriso
embaraçado, um sorriso de
alguém-por-favor-pegue-os-holofotes.
― Ele tem um
ponto, galera. ― Roland riu. ― Eu acho que o karaokê Robert
Johnson sabe como limpar uma sala ― Ele arrancou um álbum
de R.L. Burnside da
pilha e colocou toca-discos do canto. ― Vamos para o Sul
de vez. ―
Enquanto as notas de baixo de uma guitarra elétrica
começavam, Roland assumiu o
centro do palco, que estava apenas a poucos metros
quadrados do espaço
iluminado pela luz da lua, no meio do quarto. Todos em
volta estavam batendo
palma ou batendo os pés no tempo, mas Daniel estava
olhando para seu relógio.
Ela continuava vendo a imagem dele assentindo para ela no
lobby mais cedo aquela
noite, quando Cam a convidou para a feMiss
Se ela apenas pudesse ficar a sós com ele...
Roland estava monopolizando a atenção dos convidados, que
apenas Luce
percebeu quando, no meio da canção, Daniel levantou-se,
moveu-se em torno de
Molly e Cam, e saiu silenciosamente pela porta.
Essa era a chance dela. Enquanto todos a sua volta
estavam aplaudindo, Lucy
levantou-se devagar.
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― Bis! ― Arriane
gritou. Então, percebendo Luce se levantar da cadeira, ela
disse, ― Oh, espertinha, é a minha garota se levantando
para cantar? ―
― Não! ― Luce não
queria cantar nesse quarto cheio de pessoas tanto quanto ela
não queria admitir a razão pela qual ela estava se
levantando no meio da primeira
festa dela na Sword & Cross, com Roland empurrando o
microfone abaixo de seu
queixo. Agora o que?
― Eu ― Eu só estou
me sentindo mal por, uh, Todd. Porque ele está perdendo isso,
― A voz de Luce ecoou de volta para ela por cima dos
alto-falantes. Ela já estava
lamentando sua mentira ruim, e o fato de que não havia
retorno agora. ― Eu acho
que vou descer e ver se ele já terminou com o Sr. Cole. ―
Nenhum dos outros jovens parecia saber o que fazer com
isso. Apenas Penn falou,
timidamente, ― Volta rápido! ―
Molly estava dando um sorriso afetado para Luce. ― Amor
nerd, ― ela disse,
fingindo uma falsa síncope ― Tão romântico. ―
Espera, eles achavam que ela gostava de Todd? Oh, quem
liga ― a única pessoa que
Luce não queria que pensasse isso era a única pessoa que
ela estava tentando
|
Ignorando Molly, Luce fugiu para a porta, onde Cam a
encontrou com os braços
cruzados. ― Precisa de companhia? ― ele perguntou,
esperançoso.
Ela balançou a cabeça. Em outra situação, ela
provavelmente gostaria da
companhia de Cam. Aas não agora.
― Eu volto logo, ―
ela disse, brilhantemente. Antes que ela pudesse registrar o
desapontamento no rosto dele, ela deslizou para o
corredor. Após o murmurinho da
festa, o silêncio soou em suas orelhas. Levou um segundo
antes que ela pudesse
perceber vozes logo na curva do corredor.
Daniel. Ela reconheceria essa voz em qualquer lugar. Mas
ela não tinha certeza
quem estava falando com ele. Uma garota.
― Hm... Desculpe,
― qualquer coisa que ela tenha dito... Com um som nasalado
suliMiss
Gabbe? Daniel havia saído para ver a loira e escovada
Gabbe?
― Isso não vai
acontecer de novo, ― Gabbe continuou, ― Eu juro - ―
|
― Isso não
pode acontecer de novo, ― Daniel sussurrou, mas seu tom
praticamente gritava ― Você prometeu que estaria aqui e
você não estava. ―
Onde? Quando? Luce estava agonizando. Ela avançou ao
longo do corredor,
tentando não fazer barulho.
Mas os dois caíram no silêncio. Luce podia imaginar Daniel
pegando a mão de
Gabbe. Podia imaginar ele inclinando-se para ela em um
longo, profundo beijo.
Uma camada de inveja a consumiu em volta do peito de
Luce. Do outro lado do
corredor, um deles suspirou.
― Você vai ter que
confiar em mim, querido, ― ela escutou Gabbe dizer, em uma
voz sacarina que fez Luce decidir de uma só vez que a
odiava. ― Eu sou a única que
você vai ter.
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