domingo, 9 de dezembro de 2012

Capítulo 8 (Fallen)


Capítulo 8 Um Mergulho Profundo Demais
Quando Luce atendeu à batida em sua porta na manhã de sábado, Penn caiu em
seus braços.
 ― Era de se esperar que eu aprendesse algum dia que as portas abrem pra dentro,
― ela desculpou-se, ajeitando seus óculos. ― Tenho que me lembrar de parar de me
inclinar nos olhos mágicos. Belo local, a propósito, ― ela acrescentou, olhando ao
redor. Ela cruzou até a janela sobre a cama de Luce. ― Não é uma má vista, fora as
barras e tudo. ―
Luce ficou de pé atrás dela, olhando para o cemitério e, a plena vista, o carvalho
vivo onde ela fizera o piquenique com Cam. E, invisível daqui, mas claro em sua
cabeça, o lugar onde ela ficara esmagada sob a estátua com Daniel. O anjo vingador
que tinha desaparecido misteriosamente após o acidente.
Lembrando-se dos olhos preocupados de Daniel quando ele tinha sussurrado seu
nome naquele dia, o toque próximo de seus narizes, o jeito como ela tinha sentido
as pontas dos dedos dele em seu pescoço ― tudo isso a fazia se sentir quente.
E patética. Ela suspirou e se afastou da janela, percebendo que Penn tinha se
movido também.
Ela estava pegando coisas da mesa de Luce, dando a cada uma das posses de Luce
um exame detalhe cuidadoso. O peso de papel da Estátua da Liberdade que seu pai
tinha trazido de uma conferência na NYU16, a foto de sua mãe com um permanente
hilário de tão ruim quando ela tinha aproximadamente a idade de Luce, o epônimo
CD de Lucinda Williams que Callie tinha dado-a como presente de partida antes
mesmo que Luce tivesse ouvido o nome Sword & Cross.
– Onde estão os seus livros? ― ela perguntou a Penn, querendo desviar de uma
viagem pela rua das lembranças. ― Você disse que estava vindo estudar. ―
    Nessa hora, Penn tinha começado a remexer em seu guarda-roupa. Luce
observou enquanto ela rapidamente perdia interesse nas variações do estilo de
camisetas e suéteres pretos do código de vestimenta. Quando Penn se moveu na
direção das gavetas de sua penteadeira, Luce deu um passo para frente para
interceptar.
 ― Está bem, isso é o bastante, Bisbilhoteira, ― ela disse. ― Não tem uma pesquisa
que devíamos estar fazendo sobre as árvores genealógicas? ―
 ― Falando em bisbilhotar. ― os olhos de Penn cintilaram. ― Sim, há uma pesquisa
que deveríamos estar fazendo. Mas não a que você está pensando. ―
Luce encarou-a inexpressivamente. ― Hein? ―
 ― Olha. ― Penn colocou sua mão no ombro de Luce. ― Se você realmente quiser
saber sobre Daniel Grigori– ―
 ― Shhh! ― Luce sibilou, pulando para fechar sua porta. Ela enfiou sua cabeça no
corredor e escaneou a cena. A barra parecia limpa ― mas isso não significava nada.
As pessoas nessa escola tinham uma maneira suspeita de aparecer do nada. Cam
em particular. E Luce morreria se ele ― ou qualquer um ― descobrisse o quanto ela
estava enamorada pelo Daniel. Ou, a essa altura, qualquer um, excepto a Penn.
Satisfeita, Luce fechou e trancou a porta e se virou para sua amiga. Penn estava
sentada de pernas cruzadas na beira da cama de Luce. Ela parecia divertida.
Luce prendeu suas mãos atrás de suas costas e afundou seus dedos no tapete
vermelho circular perto de sua porta. ― O que te faz achar que eu quero saber algo
sobre ele? ―
 ― Me dá um tempo, ― Penn disse, rindo. ― A, é totalmente óbvio que você encara
o Daniel Grigori o tempo todo. ―
 ― Shhh! ― Luce disse novamente.
 ― B, ― Penn disse, não abaixando sua voz, ― eu te observei persegui-lo online por
uma aula inteira no outro dia. Me processa ― mas você estava sendo totalmente
descarada. E C, não fique toda paranóica. Você acha que eu fofoco com alguém
nessa escola além de você? ―
Penn tinha mesmo razão.
      ― Só estou dizendo, ― ela continuou, ― assumindo que, hipoteticamente,
você quisesse saber mais sobre uma certa pessoa sem nome, você podia
concebivelmente procurar numa árvore mais frutífera. ― Penn deu de ombros. ―
Sabe, se você tivesse ajuda. ―
 ― Estou escutando, ― Luce disse, afundando na cama. Sua pesquisa na internet no
outro dia se resumira a digitar, então deletar, então digitar novamente o nome de
Daniel no campo de pesquisa.
 ― Esperava que você dissesse isso, ― Penn disse. ― Eu não trouxe livros comigo
hoje porque eu vou te dar ― – ela arregalou seus olhos patetamente ― – uma
excursão guiada no covil subterrâneo altamente fora dos limites do escritório de
registros da Sword & Cross! ―
Luce fez careta. ― Eu não sei. Espiar os arquivos do Daniel? Eu não se preciso de
outra razão para me sentir como uma perseguidora louca. ―
― Ha. ― Penn relinchou. ― E sim, você acabou de dizer isso em voz alta. Vamos,
Luce. Será divertido. Além do mais, o que mais você vai fazer numa manhã
perfeitamente ensolarada de sábado? ―
Era um belo dia ― precisamente o tipo de belo que fazia você se sentir solitária se
não tivesse nada divertido planejado ao ar livre. No meio da noite, Luce sentira um
vento frio pela sua janela aberta, e quando ela acordara essa manhã, o calor e a
umidade não tinham desaparecido.
Ela costumava passar esses preciosos dias do começo do outono andando na trilha
de bicicleta da vizinhança com seus amigos. Isso fora antes de ela começar a evitar
a trilha da floresta por causa das sombras que nenhuma das outras garotas via.
Antes que seus amigos a fizeram se sentar durante o recesso e disseram que seus
pais não queriam mais que eles a convidassem para ir em suas casas, no caso de ela
ter um incidente.
      A verdade era que Luce tinha ficado um pouco em pânico sobre como passaria
esse primeiro final de semana na Sword & Cross. Nada de aulas, nada de exames
físicos aterrorizantes, nada de eventos sociais na liMiss Somente quarenta e oito
horas intermináveis de tempo livre. Uma eternidade. Ela tinha tido uma sensação
enjoada de saudades de casa a manhã toda - até Penn aparecer.
 ― Está bem. ― Luce tentou não rir quando disse, ― Me leve ao seu covil secreto. ―
      Penn praticamente saltitava enquanto levava Luce pela grama esmagada da
área comum até o salão principal perto da entrada da escola. ― Você não sabe
quanto tempo eu esperei em trazer um parceiro no crime aqui embaixo comigo. ―
Luce sorriu, feliz que Penn estava mais focada em ter uma amiga com quem
explorar do que estava em, bem, essa... coisa que Luce tinha por Daniel.
No fim da área comum, eles passaram por alguns garotos descansando nas
arquibancadas no claro sol de tarde da manhã. Era estranho ver cor no campus,
naqueles estudantes que Luce identificava tanto com a cor preta. Mas lá estava
Roland com um short de futebol verde-lima, driblando uma bola entre seus pés. E
Gabbe com sua blusa de guingão roxa abotoada. Jules e Phillip ― o casal das línguas
furadas ― estavam desenhando nos joelhos dos jeans desbotados um do outro.
Todd Hammond sentava-se distante do resto dos garotos nas arquibancadas, lendo
uma história em quadrinhos com uma camiseta de camuflagem. Até mesmo a
regata e o short cinza de Luce pareciam mais vibrantes do que qualquer coisa que
ela tinha usado a semana toda.
A Treinadora Diante e a Albatroz estavam cuidando do gramado e tinham colocado
duas cadeiras de jardim de plástico e um guarda-sol desconjuntado no fim da área
comum. Tirando a parte quando apagavam seus cigarros na grama, elas podiam
estar dormindo por trás de seus óculos de sol escuros. Elas pareciam absolutamente
entediadas, tão aprisionadas por seus trabalhos quanto os acusados que estavam
monitorando.
      Havia muitas pessoas na área comum, mas enquanto ela seguia perto de Penn,
ela ficou feliz de ver que não havia ninguém perto do salão principal. Ninguém tinha
dito nada para Luce sobre passar dos limites de áreas restritas, ou mesmo quais
áreas eram restritas, mas ela tinha certeza que Randy encontraria uma punição
apropriada.
 ― E quanto aos vermelhos? ― Luce perguntou, se lembrando das câmeras
onipresentes.
 ― Eu simplesmente coloquei umas baterias descarregadas em algumas dela no
caminho até seu quarto, ― Penn disse, no mesmo tom de voz indiferente que outra
pessoa usaria para dizer ― Eu acabei de encher o garro com gasolina. ―
Penn deu um olhar varredor ao redor antes de dirigir Luce para a entrada traseira do
prédio principal e por três degraus íngremes para baixo para uma porta de cor
azeitonada não visível do nível do solo.
 ― Esse porão é da época da Guerra da Sucessão também? ― Luce perguntou.
Parecia uma entrada para o tipo de lugar onde você dava para esconder alguns
prisioneiros de guerra. a
Penn deu uma cheirada longa e dramática no ar úmido. ― A raiz de mal-odor
responde a sua pergunta? Isso aqui é um mofo anterior à guerra. ― Ela sorriu
sarcasticamente para Luce. ― A maioria dos estudantes se ajoelharia pela chance
de inalar um ar tão célebre. ―
Luce tentou não respirar pelo nariz enquanto Penn pegava um amontoado de
chaves seguradas por uma passadeira gigante digno de loja de ferragens. ― Minha
vida seria tão mais fácil se eles fizessem uma chave mestra para esse lugar, ― ela
disse, procurando no sortimento e finalmente puxando uma fina chave de prata.
Quando a chave virou na fechadura, Luce sentiu um tremor inesperado de
animação.
Penn estava certa ― isso era muito melhor do que mapear nossa árvore
genealógica.
     Eles andaram uma pequena distância num corredor quente e úmido cujo teto
era apenas alguns centímetros mais alto que a cabeça deles. O ar estragado
cheirava como se algo tivesse morrido ali, e Luce ficou quase feliz pelo cômodo ser
escuro demais para ver claramente o chão. Bem quando ela estava começando a se
sentir claustrofóbica, Penn pegou outra chave que abria uma porta pequena, mas
muito mais moderna. Elas mergulharam nela, então foram capazes de ficar de pé
no outro lado.
Dentro, o escritório de registros fedia a mofo, mas o ar parecia muito mais frio e
seco.
Estava negro como breu, exceto pelo brilho vermelho fraco do sinal de SAÍDA sobre
suas cabeças.
Luce conseguia distinguir a silhueta robusta de Penn, suas mãos tateando o ar.
 ― Onde está aquela corda? ― ela resmungou. ― Aqui. ―
Com um empurrão gentil, Penn ligou uma lâmpada incandescente descoberta
pendurada no teto por uma corrente de elos de metal. O cômodo ainda estava
turvo, mas agora Luce conseguia ver que as paredes de cimento também estavam
pintadas de verde oliva e alinhadas com pesadas prateleiras de metal e fichários.
Dúzias de caixas de papelão tinham sido entulhadas nas prateleiras, e as fileiras
entre os fichários parecia se esticar para sempre. Tudo estava coberto por um feltro
espesso de poeira. A luz do sol do lado de fora repentinamente parecia muito
distante. Mesmo Luce sabendo que eles estavam apenas a uma escadaria do chão,
podia muito bem ser a um quilômetro. Ela roçou seus braços nus. Se ela fosse uma
sombra, esse porão era exatamente onde ela estaria. Não havia sinais delas ainda,
mas Luce sabia que isso não era uma razão boa o bastante para se sentir segura.
Penn, inabalada pela melancolia do porão, arrastou uma banqueta com degrau do
canto.
 ― Uau, ― ela disse, puxando-o atrás de si enquanto andava. ― Algo está diferente.
Os registros costumavam ficar bem aqui... Eu acho que eles fizeram uma
limpezinha geral desde a última vez que eu me intrometi aqui. ―
 ― Há quanto tempo foi isso? ― Luce perguntou.
      ― Cerca de uma semana... ― A voz de Penn se dissipou enquanto ela
desaparecia na escuridão atrás de um fichário alto.
Luce não conseguia imaginar para que a Sword & Cross poderia precisar de todas
essas caixas. Ela levantou uma tampa e puxou um arquivo espesso etiquetado
MEDIDAS CORRETIVAS. Ela engoliu secamente. Talvez fosse melhor que ela não
soubesse.
 ― Está em ordem alfabética por estudante, ― Penn chamou. Sua voz soava
abafada e distante. ― E, F, C... aqui estamos nós, Grigori. ―
Luce seguiu o som de papelada farfalhando por uma fileira estreita e logo
encontrou Penn com uma caixa apoiada em seus braços, lutando sob seu peso. O
arquivo de Daniel estava enfiado sob seu queixo. ― É tão fino, ― ela disse,
levantando seu queixo ligeiramente para que Luce pudesse pegá-lo. ―
Normalmente, há muito mais, hm... ― Ela olhou para cima para Luce e mordeu seu
lábio. ― Está bem, agora eu sôo como uma perseguidora maluca. Vamos
simplesmente ver o que tem dentro. ―
Havia apenas uma única página no arquivo de Daniel. Uma cópia em preto e branco
do que deveria ter sido sua foto da carteirinha de estudante estava colada no alto
do canto direito. Ele estava olhando diretamente para a câmera, para Luce, um
sorriso desbotado em seus lábios. Ela não conseguiu evitar sorrir de volta. Ele
parecia exatamente o mesmo que naquela noite quando ― bem, ela não conseguia
pensar exatamente quando. A imagem de sua expressão estava tão penetrante em
sua mente, mas ela não conseguia reconhecer onde ela a havia visto.
― Deus, ele não parece exatamente o mesmo? ― Penn interrompeu os
pensamentos de Luce. ― E olhe a data. Essa foto foi tirada há três anos quando ele
veio para Sword & Cross. ―
Devia ser isso que Luce estivera pensando... que Daniel parecia o mesmo de agora.
Mas ela sentira que estivera pensando - ou prestes a pensar ― em algo diferente, só
que agora ela não conseguia se lembrar o que era.
― Pais: desconhecidos,’ ― Penn leu, com Luce inclinando-se sobre seu ombro. ―
Guardião: Orfanato do Condado de Los Angeles.’ ―
      ― Orfanato? ― Luce perguntou, pressionando sua mão em seu coração.
 ― É só isso que tem. Todo o resto listado aqui é o seu– ―
 ― Histórico criminal, ― Luce terminou, lendo adiante. ― Vagabundear em um
banco público tarde... vandalismo com um carrinho de compras... andar fora da
faixa. ―
Penn alargou seus olhos para Luce e engoliu uma risada. ― Loverboy Grigori foi
preso por andar fora da faixa? Admita, isso é engraçado. ―
Luce não gostava de imaginar Daniel sendo preso por nada. Ela gostava ainda
menos que, de acordo com a Sword & Cross, a vida inteira dele somava um pouco
mais do que uma lista de contravenções. Todas essas caixas de papelada aqui
embaixo, e isso era tudo que tinha sobre o Daniel.
 ― Tem que ter mais, ― ela disse.
Passos acima. Os olhos de Luce e Penn foram para o teto.
 ― O escritório principal, ― Penn sussurrou, puxando um lenço de papel de dentro
de sua manga para assoar seu nariz. ― Pode ser qualquer um. Mas ninguém irá
descer aqui, confie em mim. ―
Um segundo mais tarde, uma porta bem nos fundos dentro do cômodo abriu
rangendo, e uma luz de um corredor iluminou a escadaria. Um som de sapatos
começou a descer. Luce sentiu o aperto de Penn nas costas de sua camiseta,
puxando-a contra a parede atrás de um estante de livros. Elas esperaram,
segurando suas respirações e apertando o arquivo de Daniel pego ilegalmente em
suas mãos. Elas foram tão, tão pegas no flagra.
Luce estava com seus olhos fechados, esperando o pior, quando um cantarolar
assombroso e melódico encheu o cômodo. Alguém estava cantando.
 ― Doooo da da da dooo, ― uma voz feminina sussurrava suavemente. Luce
suspendeu seu pescoço entre duas caixas de arquivos e conseguiu ver uma magra
mulher mais velha com uma pequena lanterna presa em sua testa como um
mineirador. Miss Sophia. Ela carregava duas caixas largas, uma empilhada em cima
da outra, assim a única parte dela que estava visível era sua testa brilhante. Seus
passos aéreos faziam parecer como se as caixas estivessem cheias de penas ao
invés de arquivos pesados.
     Penn agarrou a mão de Luce enquanto elas observavam a Miss Sophia colocar
as caixas de arquivos numa prateleira vazia. Ela tirou uma caneta para escrever algo
em seu caderno.
 ― Só mais algumas, ― ela disse, então algo baixinho que Luce não conseguiu ouvir.
Um segundo mais tarde, a Miss Sophia deslizava de volta pela escada, indo embora
tão rapidamente quanto tinha aparecido. Seu cantarolar permaneceu por apenas
um instante em seu rastro.
Quando a porta fechou, Penn soltou um trago enorme de ar. ― Ela disse que
tinham mais. Ela provavelmente vai voltar. ―
 ― O que fazemos? ― Luce perguntou.
 ― Você escapa pela escada, ― Penn disse, apontando. ― Vira a esquerda no alto e
estará bem no escritório principal. Se alguém te ver, você pode dizer que estava
procurando um banheiro. ―
 ― E quanto a você? ―
 ― Eu guardarei o arquivo do Daniel e te encontrarei na arquibancada. A Miss
Sophia não ficará desconfiada se ver apenas eu. Eu fico aqui embaixo tanto que é
como um segundo dormitório. ―
Luce espiou o arquivo de Daniel com uma pontadinha de arrependimento. Ela ainda
não estava pronta para ir embora. Bem na hora que ela tinha se resignado a checar
o arquivo de Daniel, ela também começou a pensar no do Cam. Daniel era tão
oculto ― e infelizmente, seu arquivo também. Cam, por outro lado, parecia tão
aberto e fácil de ler que a deixava curiosa. Luce se perguntou o que mais ela seria
capaz de descobrir sobre ele que ele não dividiria de outra forma. Mas uma olhada
no rosto de Penn a disse que elas já estavam com tempo curto demais.
 ― Se houver mais para acharmos sobre o Daniel, acharemos, ― Penn a assegurou.
― Vamos continuar procurando. ― Ela deu um pequeno empurrão em Luce na
direção da porta. ― Agora, vá. ―
      Luce se movia rapidamente pelo grosseiro corredor, então abriu uma porta até
a escada. O ar na base da escada ainda estava úmido, mas ela conseguia senti-lo
clarear um pouco com cada passo que dava. Quando ela finalmente curvou a
esquina no alto da escada, ela teve que piscar e esfregar seus olhos para se reajustar
à brilhante luz do sol inundando o corredor. Ela tropeçou na esquina e pelas portas
pintadas de branco até o salão principal. Lá ela congelou.
Duas botas pretas de salto agulha, cruzadas nos tornozelos, estavam apoiadas em
cima e para fora de uma cabine telefônica, parecendo muito a Bruxa Má do Sul.
Luce se apressava na direção da porta dianteira, esperando não ser avistada,
quando ela percebeu que as botas de salto agulha estavam presas a uma legging de
pele de cobra, que estava presa a uma Molly não-sorridente. A pequenina câmera
de prata descansava em sua mão. Ela levantou seus olhos para Luce, desligou o
telefone em seu ouvido, e ficou de pé no chão. ― Por que você parece tão culpada,
Bolo de Carne? ― ela perguntou, ficando de pé com suas mãos em seus quadris. ―
Deixe-me adivinhar. Você ainda está planejando ignorar a minha sugestão de ficar
longe do Daniel. ―
Todo o negócio de monstro malvado tinha que ser uma atuação. Não tinha jeito da
Molly saber onde Luce acabara de estar. Ela não sabia nada sobre a Luce. Ela não
tinha razão para ser tão má. Desde o primeiro dia de escola, Luce nunca fizera nada
para Molly ― exceto tentar ficar longe dela.
 ― Você está se esquecendo que desastre infernal foi da última vez que você tentou
se forçar sobre um cara que não estava interessado? ― A voz de Molly estava tão
afiada quanto uma faca.
 ― Qual é mesmo o nome dele? Taylor? Truman? ―
     Trevor. Como é que a Molly podia saber sobre o Trevor? Era isso, seu segredo
mais profundo e sombrio. A única coisa que Luce queria ― precisava ― manter em
segredo na Sword & Cross. Agora, não só o Mal Encarnado sabia sobre tudo isso,
como ela não sentia vergonha alguma em mencionar isso, cruel, arrogantemente ―
no meio do escritório principal da escola.
Era possível que Penn mentira, que Luce não era a única pessoa com quem ela
dividia seus segredos de escritório? Havia alguma outra explicação lógica? Luce
prendeu seus braços sobre seu peito, sentindo-se enojada e expoMiss.. e
inexplicavelmente culpada como se sentira na noite do incêndio.
Molly inclinou sua cabeça. ― Finalmente, ― ela disse, soando aliviada. ― Algo te
atingiu. ― Ela virou suas costas para Luce e empurrou a porta dianteira. Então, logo
antes de ela vaguear para fora, ela torceu seu pescoço e olhou para Luce. ― Então
não faça com o querido Daniel o que você fez com o qual-o-nome-dele. Capiche? ―
Luce começou a ir atrás dela, mas só deu alguns passos para fora da porta antes de
perceber que provavelmente explodiria se tentasse confrontar Molly agora. A
garota era simplesmente cruel demais. Então, esfregando sal na ferida de Luce,
Gabbe trotou da arquibancada para encontrar a Molly no meio do campo. Elas
estavam longe o bastante que Luce não conseguia distinguir suas expressões
quando ambas se viraram para olhar para ela. A cabeça da loira com rabo-de-cavalo
levantou-se na direção da com corte de fadinha e preto ― a conversa a dois mais
odiosa que Luce já tinha visto.
Ela curvou seus punhos suados juntos, imaginando Molly despejando tudo que
sabia sobre Trevor para Gabbe, que imediatamente correria para transmitir as
notícias para o Daniel. Pensando isso, uma dor enjoativa se espalhou dos dedos da
Luce, pelos seus braços, e em seu peito. Daniel podia ter sido pego andando fora da
faixa, mas e daí?
Era nada comparado pelo que Luce estava aqui.
      ― Cuidado com a cabeça! ― uma voz chamou. Essa sempre fora a coisa
menos favorita de Luce de se ouvir. Equipamentos esportivos de todos os tipos
tinham de jeito estranho de descontrolaram bem nela. Ela recuou, olhando para
cima diretamente para o sol. Ela não conseguia ver nada e nem teve tempo de
cobrir seu rosto antes de sentir um golpe contra a lateral de sua cabeça e ouvir um
thwunk alto tocando em seus ouvidos. Ai.
A bola de futebol do Roland.
 ― Boa! ― Roland chamou enquanto a bola viajava diretamente de volta para ele.
Como se ela tivesse tido a intenção de fazer isso. Ela esfregou sua testa e deu
alguns passos vacilantes. Uma mão ao redor de seu punho. Uma faísca de calor que
a fez arfar. Ela olhou para baixo para ver dedos bronzeados ao redor de seu braço,
então para cima para os olhos cinzas profundos de Daniel. ― Você está bem? ― ele
perguntou.
Quando ela assentiu, ele levantou uma sobrancelha. ― Se queria jogar futebol,
podia ter dito, ― ele disse. ― Eu ficaria feliz de explicar alguns detalhes do jogo,
como a maioria das pessoas usa partes do corpo menos delicadas para retornar um
chute. ―
Ele soltou seu punho, e Luce achou que ele estava esticando a mão na direção dela,
para acariciar o lado dolorido de seu rosto. Por um segundo, ela ficou parada lá,
segurando sua respiração. Então seu peito desmoronou quando a mão de Daniel
afastou-se para escovar seu próprio cabelo para longe de seus olhos.
Foi quando Luce percebeu que Daniel estava zoando dela.
E por que não deveria? Provavelmente devia haver uma impressão de uma bola de
futebol na lateral de seu rosto.
Molly e Gabbe ainda encaravam ― e agora Daniel ― com seus braços cruzados
sobre seus peitos.
 ― Acho que a sua namorada está ficando com ciúmes, ― Luce disse, gesticulando
para o par.
 ― Qual delas? ― ele perguntou.
 ― Eu não percebi que ambas eram suas namoradas. ―
      ― Nenhuma é minha namorada, ― ele disse simplesmente. ― Eu não tenho
namorada. Quis dizer, qual delas achou que fosse minha namorada? ―
Luce estava estupefata. E quanto a toda a conversa sussurrada com a Gabbe?
E quanto ao jeito que as garotas estavam olhando para eles agora? Daniel estava
mentindo?
Ele estava olhando para ela de um jeito estranho. ― Talvez você tenha batido sua
cabeça mais forte do que eu pensara, ― ele disse. ― Vamos, vamos dar uma volta,
respirar um pouco de ar. ―
Luce tentou localizar a piada depreciadora na última sugestão de Daniel. Ele estava
dizendo que ela era uma cabeça de vento que precisava de mais ar? Não, isso nem
mesmo fazia sentido. Ela olhou para ele. Como ele podia parecer tão ingenuamente
sincero? E bem quando ela estava se acostumando à rejeição de Grigori.
 ― Onde? ― Luce perguntou cuidadosamente. Porque seria fácil demais se sentir
regozijada agora sobre o fato de Daniel não ter uma namorada, sobre ele querer ir a
algum lugar com ela. Tinha que ter uma pegadinha.
Daniel meramente espremeu seus olhos para as garotas do outro lado do campo. ―
Algum lugar onde não seremos observados. ―
Luce dissera a Penn que a encontraria na arquibancada, mas haveria tempo para
explicar mais tarde, e é claro que Penn entenderia. Luce deixou Daniel guiá-la pelo
olhar examinador das garotas e pela alamedinha de pessegueiros parcialmente
apodrecidos, nos fundos da antiga igreja-ginásio. Eles estavam vindo por uma
floresta de carvalhos vivos lindamente retorcidos, que Luce nunca adivinharia que
estavam escondidos lá. Daniel olhou para trás para se certificar que ela estava
acompanhando. Ela sorriu como se segui-lo não fosse nada demais, mas enquanto
ela tomava seu caminho pelas velhas raízes nodosas, ela não conseguia evitar
pensar nas sombras.
Agora ela estava entrando no bosque, a escuridão sob a grossa folhagem furada de
vez em quanto por uma pequena coluna de luz do sol acima. O fedor de lama rica e
úmida encheu o ar, e Luce repentinamente soube que havia água por perto.
     Se ela fosse o tipo de pessoa que rezasse, seria agora que ela rezaria para as
sombras ficarem distantes, simplesmente pela fatia de tempo que ela tinha com
Daniel, para que ele não tivesse que ver como ele ficava maluco as vezes. Mas Luce
nunca rezara.
Ela não sabia como. Ao invés, ela simplesmente cruzou seus dedos.
 ― A floresta se abre bem aqui, ― Daniel disse. Eles tinham chegado numa clareira,
e Luce arfou em estupefação.
Algo tinha mudado enquanto ela e Daniel andavam pela floresta, algo mais do que
simplesmente a mera distância da Sword & Cross colorida por fleuma.
Porque quando eles saíram das árvores e ficaram parados nessa pedra alta e
vermelha, era como se estivessem parados no meio de um cartão postal, do tipo
que girava ao redor de uma prateleira de metal de uma farmácia de cidade
pequena, uma imagem sonhadora de um sul idílico que não existia mais. Cada cor
em que os olhos de Luce caíam era brilhante, mais clara do que tinha sido há um
momento. Do lago azul cristalino logo abaixo deles até a floresta esmeralda densa
cercando-os. Duas gaivotas voando em inclinação no céu claro acima. Quando ela
ficou na ponta dos pés, ela conseguiu ver o começo de um pântano salgado de cor
marrom-amarelada, um que ela sabia que cedia para um oceano de espuma branca
em algum lugar no horizonte invisível.
Ela olhou para cima para Daniel. Ele parecia brilhante também. Sua pele estava
dourada nessa luz, seus olhos quase chuvosos. A sensação deles em seu rosto era
uma coisa pesada e notável.
 ― O que você acha? ― ele perguntou. Ele parecia tão mais relaxado agora que
estavam longes de todos os outros.
 ― Eu nunca vi algo tão maravilhoso, ― ela disse, escaneando a superfície prisca do
lago, sentindo a vontade de mergulhar. A cerca de quinze metros na água estava
uma pedra larga, chata e coberta por musgo. ― O que é isso? ―
      ― Vou te mostrar, ― Daniel disse, chutando seus sapatos. Luce tentou sem
sucesso não encarar quando ele puxou sua camiseta pela sua cabeça, expondo seu
torso musculoso. ― Vamos, ― ele disse, fazendo ela perceber como ela devia ter
parecia enraizada no lugar.
 ― Você pode nadar naquilo, ― ele acrescentou, apontando para sua regata seu
short cinza. ― Eu até te deixarei vencer dessa vez. ― Ela riu. ― Versus o quê? Todas
aquelas vezes que eu te deixei vencer? ―
Daniel começou a assentir, então se parou abruptamente. ― Não. Desde que você
perdeu na piscina no outro dia. ―
Por um segundo, Luce teve vontade de dizer a ele por que tinha perdido. Talvez eles
pudessem rir sobre todo o mal-entendido da Gabbe-ser-sua-namorada. Mas então
os braços de Daniel estavam sobre sua cabeça e ele estava no ar, arqueando e então
caindo, mergulhando no lago com um respinguinho perfeito.
Era uma das coisas mais bonitas que Luce já tinha visto. Ele tinha uma graça como
nenhuma outra que ela já tinha testemunhado antes. Até mesmo o respingo que ele
fizera deixou um toque adorável em seus ouvidos.
Ela queria estar lá com ele.
Ela tirou seus sapatos e os deixou na margem da magnólia perto de Daniel, então
ficou de pé na beirada da pedra. A queda foi a cerca de sete metros, o tipo de
mergulho alto que sempre fizera o coração de Luce pular uma batida. De um jeito
bom.
Um segundo mais tarde, sua cabeça apareceu acima da superfície. Ele estava
sorrindo, mantendo a cabeça acima d’água sem se mover. ― Não me faça mudar de
ideia sobre deixar você vencer, ― ele chamou.
Tomando um fôlego profundo, ela mirou seus dedos sobre a cabeça de Daniel e se
empurrou em um alto mergulho de cisne. A queda durou apenas uma fração de
segundo, mas era a sensação mais deliciosa, velejar pelo ar ensolarado, para baixo,
baixo, baixo.
Splash. A água estava chocantemente fria no começo, então ideal um segundo
mais tarde. Luce subiu à superfície para recuperar seu fôlego, deu uma olhada em
Daniel, e começou seu nado borboleta.
Ela se impulsionou tão forte que perdeu ele. Ela sabia que estava se mostrando
e esperava que ele estivesse observando. Ela ficou mais e mais perto até que ela
bateu sua mão na pedra - um instante antes de Daniel.
Ambos arfavam enquanto se rebocavam na superfície chata e aquecida pelo sol.
Sua beirada era escorregadia por causa do musgo, e Luce teve dificuldade em se
firmar. Daniel não teve problema em escalar a pedra, contudo. Ele se esticou e deu-
lhe uma mão, então puxou-a para cima para onde ela podia colocar uma perna
sobre a lateral.
Quando ela se suspendeu completamente para fora da água, ele estava deitado de
costas, quase seco. Só seu short revelava qualquer indício que ele estivera no lago.
Por outro lado, as roupas molhadas de Luce prendiam em seu corpo, e seu cabelo
estava pingando por tudo. A maioria dos caras teria agarrado a oportunidade de
olhar provocativamente para uma garota pingando de molhado, mas Daniel
recostou-se na pedra e fechou seus olhos, como se estivesse dando-a um momento
para se secar - ou por bondade ou por falta de interesse.
Bondade, ela decidiu, sabendo que estava sendo irremediavelmente romântico.
Mas Daniel parecia tão perceptivo, ele deve ter sentido pelo menos um tiquinho do
que Luce sentira. Não só a atração, a necessidade de estar perto dele quando todos
ao seu redor estavam dizendo para ficar longe, mas aquela sensação muito real de
que eles se conheciam ― realmente se conheciam ― um ao outro de outro lugar.
Daniel abriu seus olhos num estralar e sorriu ― o mesmo sorriso da foto em seu
arquivo. Um ataque de déjà vu a engolfou tão completamente que Luce teve que se
deitar.
 ― O quê? ― ele perguntou, soando nervoso.
 ― Nada. ―
 ― Luce. ―
 ― Não consigo tirar isso da minha cabeça, ― ela disse, rolando de lado para encará-
lo. Ela não se sentia firme o bastante para se sentar ainda. ― Essa sensação de que
eu te conheço. Que eu te conheço faz tempo.
     A água agitou-se contra a pedra, respingando nos dedos dos pés de Luce onde
estavam pendurados na beirada. Estava fria e espalhou calafrios até suas
panturrilhas. Finalmente, Daniel falou.
 ― Já não passamos por isso? ― Seu tom tinha mudado, como se ele estivesse
tentando rir dela. Ele soava como um cara da Dover: satisfeito consigo mesmo,
eternamente entediado, presunçoso. ― Estou lisonjeado por você achar que temos
essa conexão, sério. Mas você não tem que inventar uma história esquecida para
fazer com que um cara preste atenção em você. ―
Não. Ele achava que ela estava mentindo sobre essa sensação estranha da qual não
conseguia se livrar como um jeito de dar em cima dele? Ela cerrou seus dentes,
mortificada.
― Por que eu inventaria isso? ― ela perguntou, espremendo os olhos na luz do sol.
― Você que me diga, ― Daniel disse. ― Não, na verdade, não diga. Não fará bem
algum. ― Ele suspirou.
 ― Olha, eu devia ter dito isso antes quando eu comecei a ver os sinais. ― Luce se
sentou.
Seu coração começou a acelerar. Daniel via os sinais também.
 ― Eu sei que te dei um fora no ginásio antes, ― ele disse lentamente, fazendo com
que Luce se inclinasse para frente, como se ela pudesse extrair as palavras mais
rapidamente. ― Eu devia simplesmente ter te contado a verdade. ―
Luce esperou.
 ― Uma garota me magoou. ― Ele balançou uma mão na água, arrancou uma folha
de nenúfar, e a despedaçou em suas mãos. ― Alguém que eu realmente amava, não
há muito tempo. Não é nada pessoal, e eu não quero te ignorar. ― Ele olhou para
ela e o sol foi filtrado por uma gota de água em seu cabelo, fazendo-o brilhar. ―
Mas eu também não quero que você tenha esperanças. Eu simplesmente não estou
querendo me envolver com ninguém, não tão cedo. ― Oh.
Ela desviou o olhar, para a água parada e azul-escura onde apenas minutos atrás
eles estiveram rindo e respingando água. O lago não mostrava mais sinais daquela
diversão. Assim como o rosto de Daniel.
      Bem, Luce tinha sido magoada também. Talvez se ela contasse a ele sobre
Trevor e como tudo tinha sido horrível, Daniel se abriria sobre seu passado. Mas,
também, ela já sabia que não conseguia suportar escutar sobre o passado dele com
outra pessoa. Pensar nele com outra garota ― ela imaginou Gabbe, Molly, uma
montagem de rostos sorridentes, olhos grandes, cabelos compridos ― era o
bastante para fazê-la se sentir nauseada. Sua história de término ruim deveria ter
justificado tudo. Mas não justificava. Daniel fora tão estranho com ela desde o
começo. Mostrando-lhe o dedo do meio um dia, antes mesmo deles terem sido
apresentados, então protegendo-a da estátua no cemitério no seguinte. Agora ele
tinha trazido ela aqui no lago ― sozinha. Ele era uma bagunça só.
A cabeça de Daniel estava abaixada, mas seus olhos estavam encarando-a. ― Não é
uma resposta boa o bastante? ― ele perguntou, quase como se soubesse o que ela
estava pensando.
 ― Eu ainda sinto como se houvesse algo que você não está me contando, ― ela
disse.
Tudo isso não podia ser explicado por um coração quebrado, Luce sabia. Ela tinha
experiência nesse departamento.
As costas dele estavam voltadas para ele e ele olhava na direção do caminho que
eles tinham tomado até o lago.
Após um instante, ele riu amargamente. ― É claro que há coisas que eu não estou
te contando. Eu mal te conheço. Não tenho certeza do por que você achar que eu te
devo alguma coisa. ― Ele ficou de pé.
― Onde está indo? ―
― Tenho que voltar, ― ele disse.
― Não vá, ― ela sussurrou, mas ele não pareceu ouvir.
Ela observou, o peito pesando, enquanto Daniel mergulhava na água.
Ele ergueu-se distante e começou a nadar na direção da coMiss Ele olhou de volta
para ela uma vez, perto da metade, e deu-lhe um aceno de adeus definitivo.
      Então seu coração inchou enquanto ele circulou seus braços sobre sua cabeça
num nado borboleta perfeito. Por mais vazia que ela se sentisse por dentro, ela não
conseguia evitar admirar isso. Tão puro, tão fácil, mal parecia com natação.
Rapidamente ele alcançara a costa, tornando a distância entre eles parecer muito
menor do que parecera para Luce. Ele parecera tão calmo enquanto nadava, mas
não havia jeito dele poder ter alcançado o outro lado tão rapidamente a não ser que
ele realmente estivesse dilacerando a água.
Era tão urgente para ele se afastar dela?
Ela observou ― sentindo uma mistura confusa de envergonhamento profundo e até
mesmo uma tentação mais profunda ― enquanto Daniel se suspendia de volta na
coMiss Uma coluna de luz do sol apareceu através das árvores e enquadrou sua
silhueta com uma radiação brilhante, e Luce teve que espremer os olhos à visão
perante seus olhos.
Ela se perguntou se a bola de futebol na sua cabeça tinham sacudido sua visão. Ou
se o que ela achou que estava vendo era uma miragem. Um truque da luz do sol da
tarde.
Ela ficou de pé na pedra para dar uma olhada melhor.
Tudo que ele estava fazendo era chacoalhar a água de sua cabeça molhada, mas um
verniz de gotinhas parecia pairar sobre ele, do lado de fora dele, desafiando a
gravidade em uma amplitude ampla ao longo de seus braços.
Do jeito que a água brilhava na luz solar, quase parecia que ele tinha asas.

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