Capítulo 8 Um Mergulho Profundo Demais
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Quando Luce atendeu à batida em sua porta na manhã de sábado,
Penn caiu em
seus braços.
― Era de se esperar
que eu aprendesse algum dia que as portas abrem pra dentro,
― ela desculpou-se, ajeitando seus óculos. ― Tenho que me
lembrar de parar de me
inclinar nos olhos mágicos. Belo local, a propósito, ― ela
acrescentou, olhando ao
redor. Ela cruzou até a janela sobre a cama de Luce. ― Não
é uma má vista, fora as
barras e tudo. ―
Luce ficou de pé atrás dela, olhando para o cemitério e, a
plena vista, o carvalho
vivo onde ela fizera o piquenique com Cam. E, invisível daqui,
mas claro em sua
cabeça, o lugar onde ela ficara esmagada sob a estátua com
Daniel. O anjo vingador
que tinha desaparecido misteriosamente após o acidente.
Lembrando-se dos olhos preocupados de Daniel quando ele tinha
sussurrado seu
nome naquele dia, o toque próximo de seus narizes, o jeito
como ela tinha sentido
as pontas dos dedos dele em seu pescoço ― tudo isso a fazia
se sentir quente.
E patética. Ela suspirou e se afastou da janela, percebendo
que Penn tinha se
movido também.
Ela estava pegando coisas da mesa de Luce, dando a cada uma
das posses de Luce
um exame detalhe cuidadoso. O peso de papel da Estátua da
Liberdade que seu pai
tinha trazido de uma conferência na NYU16, a foto de sua mãe com um permanente
hilário de tão ruim quando ela tinha aproximadamente a idade
de Luce, o epônimo
CD de Lucinda Williams que Callie tinha dado-a como presente
de partida antes
mesmo que Luce tivesse ouvido o nome Sword & Cross.
– Onde estão os seus livros? ― ela perguntou a Penn, querendo
desviar de uma
viagem pela rua das lembranças. ― Você disse que estava vindo
estudar. ―
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Nessa hora, Penn
tinha começado a remexer em seu guarda-roupa. Luce
observou enquanto ela rapidamente perdia interesse nas variações
do estilo de
camisetas e suéteres pretos do código de vestimenta. Quando
Penn se moveu na
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direção das gavetas de sua penteadeira, Luce deu um passo
para frente para
interceptar.
― Está bem, isso é
o bastante, Bisbilhoteira, ― ela disse. ― Não tem uma pesquisa
que devíamos estar fazendo sobre as árvores genealógicas?
―
― Falando em bisbilhotar.
― os olhos de Penn cintilaram. ― Sim, há uma pesquisa
que deveríamos estar fazendo. Mas não a que você está pensando.
―
Luce encarou-a inexpressivamente. ― Hein? ―
― Olha. ― Penn colocou
sua mão no ombro de Luce. ― Se você realmente quiser
saber sobre Daniel Grigori– ―
― Shhh! ― Luce sibilou,
pulando para fechar sua porta. Ela enfiou sua cabeça no
corredor e escaneou a cena. A barra parecia limpa ― mas isso
não significava nada.
As pessoas nessa escola tinham uma maneira suspeita de aparecer
do nada. Cam
em particular. E Luce morreria se ele ― ou qualquer um ― descobrisse
o quanto ela
estava enamorada pelo Daniel. Ou, a essa altura, qualquer
um, excepto a Penn.
Satisfeita, Luce fechou e trancou a porta e se virou para
sua amiga. Penn estava
sentada de pernas cruzadas na beira da cama de Luce. Ela parecia
divertida.
Luce prendeu suas mãos atrás de suas costas e afundou seus
dedos no tapete
vermelho circular perto de sua porta. ― O que te faz achar
que eu quero saber algo
sobre ele? ―
― Me dá um tempo, ―
Penn disse, rindo. ― A, é totalmente óbvio que você encara
o Daniel Grigori o tempo todo. ―
― Shhh! ― Luce disse
novamente.
― B, ― Penn disse,
não abaixando sua voz, ― eu te observei persegui-lo online por
uma aula inteira no outro dia. Me processa ― mas você estava
sendo totalmente
descarada. E C, não fique toda paranóica. Você acha que eu
fofoco com alguém
nessa escola além de você? ―
Penn tinha mesmo razão.
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― Só estou dizendo,
― ela continuou, ― assumindo que, hipoteticamente,
você quisesse saber mais sobre uma certa pessoa sem nome,
você podia
concebivelmente procurar numa árvore mais frutífera. ― Penn
deu de ombros. ―
Sabe, se você tivesse ajuda. ―
― Estou escutando,
― Luce disse, afundando na cama. Sua pesquisa na internet no
outro dia se resumira a digitar, então deletar, então digitar
novamente o nome de
Daniel no campo de pesquisa.
― Esperava que você
dissesse isso, ― Penn disse. ― Eu não trouxe livros comigo
hoje porque eu vou te dar ― – ela arregalou seus olhos patetamente
― – uma
excursão guiada no covil subterrâneo altamente fora dos limites
do escritório de
registros da Sword & Cross! ―
Luce fez careta. ― Eu não sei. Espiar os arquivos do Daniel?
Eu não se preciso de
outra razão para me sentir como uma perseguidora louca. ―
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― Ha. ― Penn relinchou. ― E sim, você acabou de dizer isso
em voz alta. Vamos,
Luce. Será divertido. Além do mais, o que mais você vai fazer
numa manhã
perfeitamente ensolarada de sábado? ―
Era um belo dia ― precisamente o tipo de belo que fazia você
se sentir solitária se
não tivesse nada divertido planejado ao ar livre. No meio
da noite, Luce sentira um
vento frio pela sua janela aberta, e quando ela acordara essa
manhã, o calor e a
umidade não tinham desaparecido.
Ela costumava passar esses preciosos dias do começo do outono
andando na trilha
de bicicleta da vizinhança com seus amigos. Isso fora antes
de ela começar a evitar
a trilha da floresta por causa das sombras que nenhuma das
outras garotas via.
Antes que seus amigos a fizeram se sentar durante o recesso
e disseram que seus
pais não queriam mais que eles a convidassem para ir em suas
casas, no caso de ela
ter um incidente.
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A verdade era
que Luce tinha ficado um pouco em pânico sobre como passaria
esse primeiro final de semana na Sword & Cross. Nada de
aulas, nada de exames
físicos aterrorizantes, nada de eventos sociais na liMiss
Somente quarenta e oito
horas intermináveis de tempo livre. Uma eternidade. Ela tinha
tido uma sensação
enjoada de saudades de casa a manhã toda - até Penn aparecer.
― Está bem. ― Luce
tentou não rir quando disse, ― Me leve ao seu covil secreto. ―
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Penn praticamente
saltitava enquanto levava Luce pela grama esmagada da
área comum até o salão principal perto da entrada da escola.
― Você não sabe
quanto tempo eu esperei em trazer um parceiro no crime aqui
embaixo comigo. ―
Luce sorriu, feliz que Penn estava mais focada em ter uma
amiga com quem
explorar do que estava em, bem, essa... coisa que Luce tinha
por Daniel.
No fim da área comum, eles passaram por alguns garotos descansando
nas
arquibancadas no claro sol de tarde da manhã. Era estranho
ver cor no campus,
naqueles estudantes que Luce identificava tanto com a cor
preta. Mas lá estava
Roland com um short de futebol verde-lima, driblando uma bola
entre seus pés. E
Gabbe com sua blusa de guingão roxa abotoada. Jules e Phillip
― o casal das línguas
furadas ― estavam desenhando nos joelhos dos jeans desbotados
um do outro.
Todd Hammond sentava-se distante do resto dos garotos nas
arquibancadas, lendo
uma história em quadrinhos com uma camiseta de camuflagem.
Até mesmo a
regata e o short cinza de Luce pareciam mais vibrantes do
que qualquer coisa que
ela tinha usado a semana toda.
A Treinadora Diante e a Albatroz estavam cuidando do gramado
e tinham colocado
duas cadeiras de jardim de plástico e um guarda-sol desconjuntado
no fim da área
comum. Tirando a parte quando apagavam seus cigarros na grama,
elas podiam
estar dormindo por trás de seus óculos de sol escuros. Elas
pareciam absolutamente
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entediadas, tão aprisionadas por seus trabalhos quanto os
acusados que estavam
monitorando.
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Havia muitas pessoas
na área comum, mas enquanto ela seguia perto de Penn,
ela ficou feliz de ver que não havia ninguém perto do salão
principal. Ninguém tinha
dito nada para Luce sobre passar dos limites de áreas restritas,
ou mesmo quais
áreas eram restritas, mas ela tinha certeza que Randy encontraria
uma punição
apropriada.
― E quanto aos vermelhos?
― Luce perguntou, se lembrando das câmeras
onipresentes.
― Eu simplesmente coloquei
umas baterias descarregadas em algumas dela no
caminho até seu quarto, ― Penn disse, no mesmo tom de voz
indiferente que outra
pessoa usaria para dizer ― Eu acabei de encher o garro com
gasolina. ―
Penn deu um olhar varredor ao redor antes de dirigir Luce
para a entrada traseira do
prédio principal e por três degraus íngremes para baixo para
uma porta de cor
azeitonada não visível do nível do solo.
― Esse porão é da época
da Guerra da Sucessão também? ― Luce perguntou.
Parecia uma entrada para o tipo de lugar onde você dava para
esconder alguns
prisioneiros de guerra. a
Penn deu uma cheirada longa e dramática no ar úmido. ― A raiz
de mal-odor
responde a sua pergunta? Isso aqui é um mofo anterior à guerra.
― Ela sorriu
sarcasticamente para Luce. ― A maioria dos estudantes se ajoelharia
pela chance
de inalar um ar tão célebre. ―
Luce tentou não respirar pelo nariz enquanto Penn pegava um
amontoado de
chaves seguradas por uma passadeira gigante digno de loja
de ferragens. ― Minha
vida seria tão mais fácil se eles fizessem uma chave mestra
para esse lugar, ― ela
disse, procurando no sortimento e finalmente puxando uma fina
chave de prata.
Quando a chave virou na fechadura, Luce sentiu um tremor inesperado
de
animação.
Penn estava certa ― isso era muito melhor do que mapear nossa
árvore
genealógica.
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Eles andaram uma
pequena distância num corredor quente e úmido cujo teto
era apenas alguns centímetros mais alto que a cabeça deles.
O ar estragado
cheirava como se algo tivesse morrido ali, e Luce ficou quase
feliz pelo cômodo ser
escuro demais para ver claramente o chão. Bem quando ela estava
começando a se
sentir claustrofóbica, Penn pegou outra chave que abria uma
porta pequena, mas
muito mais moderna. Elas mergulharam nela, então foram capazes
de ficar de pé
no outro lado.
Dentro, o escritório de registros fedia a mofo, mas o ar parecia
muito mais frio e
seco.
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Estava negro como breu, exceto pelo brilho vermelho fraco
do sinal de SAÍDA sobre
suas cabeças.
Luce conseguia distinguir a silhueta robusta de Penn, suas
mãos tateando o ar.
― Onde está aquela
corda? ― ela resmungou. ― Aqui. ―
Com um empurrão gentil, Penn ligou uma lâmpada incandescente
descoberta
pendurada no teto por uma corrente de elos de metal. O cômodo
ainda estava
turvo, mas agora Luce conseguia ver que as paredes de cimento
também estavam
pintadas de verde oliva e alinhadas com pesadas prateleiras
de metal e fichários.
Dúzias de caixas de papelão tinham sido entulhadas nas prateleiras,
e as fileiras
entre os fichários parecia se esticar para sempre. Tudo estava
coberto por um feltro
espesso de poeira. A luz do sol do lado de fora repentinamente
parecia muito
distante. Mesmo Luce sabendo que eles estavam apenas a uma
escadaria do chão,
podia muito bem ser a um quilômetro. Ela roçou seus braços
nus. Se ela fosse uma
sombra, esse porão era exatamente onde ela estaria. Não havia
sinais delas ainda,
mas Luce sabia que isso não era uma razão boa o bastante para
se sentir segura.
Penn, inabalada pela melancolia do porão, arrastou uma banqueta
com degrau do
canto.
― Uau, ― ela disse,
puxando-o atrás de si enquanto andava. ― Algo está diferente.
Os registros costumavam ficar bem aqui... Eu acho que eles
fizeram uma
limpezinha geral desde a última vez que eu me intrometi aqui.
―
― Há quanto tempo foi
isso? ― Luce perguntou.
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― Cerca de uma
semana... ― A voz de Penn se dissipou enquanto ela
desaparecia na escuridão atrás de um fichário alto.
Luce não conseguia imaginar para que a Sword & Cross poderia
precisar de todas
essas caixas. Ela levantou uma tampa e puxou um arquivo espesso
etiquetado
MEDIDAS CORRETIVAS. Ela engoliu secamente. Talvez fosse melhor que ela não
soubesse.
― Está em ordem alfabética
por estudante, ― Penn chamou. Sua voz soava
abafada e distante. ― E, F, C... aqui estamos nós, Grigori.
―
Luce seguiu o som de papelada farfalhando por uma fileira
estreita e logo
encontrou Penn com uma caixa apoiada em seus braços, lutando
sob seu peso. O
arquivo de Daniel estava enfiado sob seu queixo. ― É tão fino,
― ela disse,
levantando seu queixo ligeiramente para que Luce pudesse pegá-lo.
―
Normalmente, há muito mais, hm... ― Ela olhou para cima para
Luce e mordeu seu
lábio. ― Está bem, agora eu sôo como uma perseguidora maluca.
Vamos
simplesmente ver o que tem dentro. ―
Havia apenas uma única página no arquivo de Daniel. Uma cópia
em preto e branco
do que deveria ter sido sua foto da carteirinha de estudante
estava colada no alto
do canto direito. Ele estava olhando diretamente para a câmera,
para Luce, um
sorriso desbotado em seus lábios. Ela não conseguiu evitar
sorrir de volta. Ele
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parecia exatamente o mesmo que naquela noite quando ― bem,
ela não conseguia
pensar exatamente quando. A imagem de sua expressão estava
tão penetrante em
sua mente, mas ela não conseguia reconhecer onde ela a havia
visto.
― Deus, ele não parece exatamente o mesmo? ― Penn interrompeu
os
pensamentos de Luce. ― E olhe a data. Essa foto foi tirada
há três anos quando ele
veio para Sword & Cross. ―
Devia ser isso que Luce estivera pensando... que Daniel parecia
o mesmo de agora.
Mas ela sentira que estivera pensando - ou prestes a pensar
― em algo diferente, só
que agora ela não conseguia se lembrar o que era.
― Pais: desconhecidos,’ ― Penn leu, com Luce inclinando-se
sobre seu ombro. ―
Guardião: Orfanato do Condado de Los Angeles.’ ―
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― Orfanato? ―
Luce perguntou, pressionando sua mão em seu coração.
― É só isso que tem.
Todo o resto listado aqui é o seu– ―
― Histórico criminal,
― Luce terminou, lendo adiante. ― Vagabundear em um
banco público tarde... vandalismo com um carrinho de compras...
andar fora da
faixa. ―
Penn alargou seus olhos para Luce e engoliu uma risada. ―
Loverboy Grigori foi
preso por andar fora da faixa? Admita, isso é engraçado. ―
Luce não gostava de imaginar Daniel sendo preso por nada.
Ela gostava ainda
menos que, de acordo com a Sword & Cross, a vida inteira
dele somava um pouco
mais do que uma lista de contravenções. Todas essas caixas
de papelada aqui
embaixo, e isso era tudo que tinha sobre o Daniel.
― Tem que ter mais,
― ela disse.
Passos acima. Os olhos de Luce e Penn foram para o teto.
― O escritório principal,
― Penn sussurrou, puxando um lenço de papel de dentro
de sua manga para assoar seu nariz. ― Pode ser qualquer um.
Mas ninguém irá
descer aqui, confie em mim. ―
Um segundo mais tarde, uma porta bem nos fundos dentro do
cômodo abriu
rangendo, e uma luz de um corredor iluminou a escadaria. Um
som de sapatos
começou a descer. Luce sentiu o aperto de Penn nas costas
de sua camiseta,
puxando-a contra a parede atrás de um estante de livros. Elas
esperaram,
segurando suas respirações e apertando o arquivo de Daniel
pego ilegalmente em
suas mãos. Elas foram tão, tão pegas no flagra.
Luce estava com seus olhos fechados, esperando o pior, quando
um cantarolar
assombroso e melódico encheu o cômodo. Alguém estava cantando.
― Doooo da da da dooo,
― uma voz feminina sussurrava suavemente. Luce
suspendeu seu pescoço entre duas caixas de arquivos e conseguiu
ver uma magra
mulher mais velha com uma pequena lanterna presa em sua testa
como um
mineirador. Miss Sophia. Ela carregava duas caixas largas,
uma empilhada em cima
da outra, assim a única parte dela que estava visível era
sua testa brilhante. Seus
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passos aéreos faziam parecer como se as caixas estivessem
cheias de penas ao
invés de arquivos pesados.
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Penn agarrou a mão de Luce enquanto elas observavam
a Miss Sophia colocar
as caixas de arquivos numa prateleira vazia. Ela tirou uma
caneta para escrever algo
em seu caderno.
― Só mais algumas,
― ela disse, então algo baixinho que Luce não conseguiu ouvir.
Um segundo mais tarde, a Miss Sophia deslizava de volta pela
escada, indo embora
tão rapidamente quanto tinha aparecido. Seu cantarolar permaneceu
por apenas
um instante em seu rastro.
Quando a porta fechou, Penn soltou um trago enorme de ar.
― Ela disse que
tinham mais. Ela provavelmente vai voltar. ―
― O que fazemos? ―
Luce perguntou.
― Você escapa pela
escada, ― Penn disse, apontando. ― Vira a esquerda no alto e
estará bem no escritório principal. Se alguém te ver, você
pode dizer que estava
procurando um banheiro. ―
― E quanto a você?
―
― Eu guardarei o arquivo
do Daniel e te encontrarei na arquibancada. A Miss
Sophia não ficará desconfiada se ver apenas eu. Eu fico aqui
embaixo tanto que é
como um segundo dormitório. ―
Luce espiou o arquivo de Daniel com uma pontadinha de arrependimento.
Ela ainda
não estava pronta para ir embora. Bem na hora que ela tinha
se resignado a checar
o arquivo de Daniel, ela também começou a pensar no do Cam.
Daniel era tão
oculto ― e infelizmente, seu arquivo também. Cam, por outro
lado, parecia tão
aberto e fácil de ler que a deixava curiosa. Luce se perguntou
o que mais ela seria
capaz de descobrir sobre ele que ele não dividiria de outra
forma. Mas uma olhada
no rosto de Penn a disse que elas já estavam com tempo curto
demais.
― Se houver mais para
acharmos sobre o Daniel, acharemos, ― Penn a assegurou.
― Vamos continuar procurando. ― Ela deu um pequeno empurrão
em Luce na
direção da porta. ― Agora, vá. ―
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Luce se movia
rapidamente pelo grosseiro corredor, então abriu uma porta até
a escada. O ar na base da escada ainda estava úmido, mas ela
conseguia senti-lo
clarear um pouco com cada passo que dava. Quando ela finalmente
curvou a
esquina no alto da escada, ela teve que piscar e esfregar
seus olhos para se reajustar
à brilhante luz do sol inundando o corredor. Ela tropeçou
na esquina e pelas portas
pintadas de branco até o salão principal. Lá ela congelou.
Duas botas pretas de salto agulha, cruzadas nos tornozelos,
estavam apoiadas em
cima e para fora de uma cabine telefônica, parecendo muito
a Bruxa Má do Sul.
Luce se apressava na direção da porta dianteira, esperando
não ser avistada,
quando ela percebeu que as botas de salto agulha estavam presas
a uma legging de
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pele de cobra, que estava presa a uma Molly não-sorridente.
A pequenina câmera
de prata descansava em sua mão. Ela levantou seus olhos para
Luce, desligou o
telefone em seu ouvido, e ficou de pé no chão. ― Por que você
parece tão culpada,
Bolo de Carne? ― ela perguntou, ficando de pé com suas mãos
em seus quadris. ―
Deixe-me adivinhar. Você ainda está planejando ignorar a minha
sugestão de ficar
longe do Daniel. ―
Todo o negócio de monstro malvado tinha que ser uma atuação.
Não tinha jeito da
Molly saber onde Luce acabara de estar. Ela não sabia nada
sobre a Luce. Ela não
tinha razão para ser tão má. Desde o primeiro dia de escola,
Luce nunca fizera nada
para Molly ― exceto tentar ficar longe dela.
― Você está se esquecendo
que desastre infernal foi da última vez que você tentou
se forçar sobre um cara que não estava interessado? ― A voz
de Molly estava tão
afiada quanto uma faca.
― Qual é mesmo o nome
dele? Taylor? Truman? ―
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Trevor. Como é
que a Molly podia saber sobre o Trevor? Era isso, seu segredo
mais profundo e sombrio. A única coisa que Luce queria ― precisava
― manter em
segredo na Sword & Cross. Agora, não só o Mal Encarnado
sabia sobre tudo isso,
como ela não sentia vergonha alguma em mencionar isso, cruel,
arrogantemente ―
no meio do escritório principal da escola.
Era possível que Penn mentira, que Luce não era a única pessoa
com quem ela
dividia seus segredos de escritório? Havia alguma outra explicação
lógica? Luce
prendeu seus braços sobre seu peito, sentindo-se enojada e
expoMiss.. e
inexplicavelmente culpada como se sentira na noite do incêndio.
Molly inclinou sua cabeça. ― Finalmente, ― ela disse, soando
aliviada. ― Algo te
atingiu. ― Ela virou suas costas para Luce e empurrou a porta
dianteira. Então, logo
antes de ela vaguear para fora, ela torceu seu pescoço e olhou
para Luce. ― Então
não faça com o querido Daniel o que você fez com o qual-o-nome-dele.
Capiche? ―
Luce começou a ir atrás dela, mas só deu alguns passos para
fora da porta antes de
perceber que provavelmente explodiria se tentasse confrontar
Molly agora. A
garota era simplesmente cruel demais. Então, esfregando sal
na ferida de Luce,
Gabbe trotou da arquibancada para encontrar a Molly no meio
do campo. Elas
estavam longe o bastante que Luce não conseguia distinguir
suas expressões
quando ambas se viraram para olhar para ela. A cabeça da loira
com rabo-de-cavalo
levantou-se na direção da com corte de fadinha e preto ― a
conversa a dois mais
odiosa que Luce já tinha visto.
Ela curvou seus punhos suados juntos, imaginando Molly despejando
tudo que
sabia sobre Trevor para Gabbe, que imediatamente correria
para transmitir as
notícias para o Daniel. Pensando isso, uma dor enjoativa se
espalhou dos dedos da
Luce, pelos seus braços, e em seu peito. Daniel podia ter
sido pego andando fora da
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faixa, mas e daí?
Era nada comparado pelo que Luce estava aqui.
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― Cuidado com
a cabeça! ― uma voz chamou. Essa sempre fora a coisa
menos favorita de Luce de se ouvir. Equipamentos esportivos
de todos os tipos
tinham de jeito estranho de descontrolaram bem nela. Ela recuou,
olhando para
cima diretamente para o sol. Ela não conseguia ver nada e
nem teve tempo de
cobrir seu rosto antes de sentir um golpe contra a lateral
de sua cabeça e ouvir um
thwunk alto
tocando em seus ouvidos. Ai.
A bola de futebol do Roland.
― Boa! ― Roland chamou
enquanto a bola viajava diretamente de volta para ele.
Como se ela tivesse tido a intenção de fazer isso. Ela esfregou
sua testa e deu
alguns passos vacilantes. Uma mão ao redor de seu punho. Uma
faísca de calor que
a fez arfar. Ela olhou para baixo para ver dedos bronzeados
ao redor de seu braço,
então para cima para os olhos cinzas profundos de Daniel.
― Você está bem? ― ele
perguntou.
Quando ela assentiu, ele levantou uma sobrancelha. ― Se queria
jogar futebol,
podia ter dito, ― ele disse. ― Eu ficaria feliz de explicar
alguns detalhes do jogo,
como a maioria das pessoas usa partes do corpo menos delicadas
para retornar um
chute. ―
Ele soltou seu punho, e Luce achou que ele estava esticando
a mão na direção dela,
para acariciar o lado dolorido de seu rosto. Por um segundo,
ela ficou parada lá,
segurando sua respiração. Então seu peito desmoronou quando
a mão de Daniel
afastou-se para escovar seu próprio cabelo para longe de seus
olhos.
Foi quando Luce percebeu que Daniel estava zoando dela.
E por que não deveria? Provavelmente devia haver uma impressão
de uma bola de
futebol na lateral de seu rosto.
Molly e Gabbe ainda encaravam ― e agora Daniel ― com seus
braços cruzados
sobre seus peitos.
― Acho que a sua namorada
está ficando com ciúmes, ― Luce disse, gesticulando
para o par.
― Qual delas? ― ele
perguntou.
― Eu não percebi que
ambas eram suas namoradas. ―
|
― Nenhuma é minha
namorada, ― ele disse simplesmente. ― Eu não tenho
namorada. Quis dizer, qual delas achou que fosse minha namorada?
―
Luce estava estupefata. E quanto a toda a conversa sussurrada
com a Gabbe?
E quanto ao jeito que as garotas estavam olhando para eles
agora? Daniel estava
mentindo?
Ele estava olhando para ela de um jeito estranho. ― Talvez
você tenha batido sua
cabeça mais forte do que eu pensara, ― ele disse. ― Vamos,
vamos dar uma volta,
|
respirar um pouco de ar. ―
Luce tentou localizar a piada depreciadora na última sugestão
de Daniel. Ele estava
dizendo que ela era uma cabeça de vento que precisava de mais
ar? Não, isso nem
mesmo fazia sentido. Ela olhou para ele. Como ele podia parecer
tão ingenuamente
sincero? E bem quando ela estava se acostumando à rejeição
de Grigori.
― Onde? ― Luce perguntou
cuidadosamente. Porque seria fácil demais se sentir
regozijada agora sobre o fato de Daniel não ter uma namorada,
sobre ele querer ir a
algum lugar com ela. Tinha que ter uma pegadinha.
Daniel meramente espremeu seus olhos para as garotas do outro
lado do campo. ―
Algum lugar onde não seremos observados. ―
Luce dissera a Penn que a encontraria na arquibancada, mas
haveria tempo para
explicar mais tarde, e é claro que Penn entenderia. Luce deixou
Daniel guiá-la pelo
olhar examinador das garotas e pela alamedinha de pessegueiros
parcialmente
apodrecidos, nos fundos da antiga igreja-ginásio. Eles estavam
vindo por uma
floresta de carvalhos vivos lindamente retorcidos, que Luce
nunca adivinharia que
estavam escondidos lá. Daniel olhou para trás para se certificar
que ela estava
acompanhando. Ela sorriu como se segui-lo não fosse nada demais,
mas enquanto
ela tomava seu caminho pelas velhas raízes nodosas, ela não
conseguia evitar
pensar nas sombras.
Agora ela estava entrando no bosque, a escuridão sob a grossa
folhagem furada de
vez em quanto por uma pequena coluna de luz do sol acima.
O fedor de lama rica e
úmida encheu o ar, e Luce repentinamente soube que havia água
por perto.
|
Se ela fosse o
tipo de pessoa que rezasse, seria agora que ela rezaria para as
sombras ficarem distantes, simplesmente pela fatia de tempo
que ela tinha com
Daniel, para que ele não tivesse que ver como ele ficava maluco
as vezes. Mas Luce
nunca rezara.
Ela não sabia como. Ao invés, ela simplesmente cruzou seus
dedos.
― A floresta se abre
bem aqui, ― Daniel disse. Eles tinham chegado numa clareira,
e Luce arfou em estupefação.
Algo tinha mudado enquanto ela e Daniel andavam pela floresta,
algo mais do que
simplesmente a mera distância da Sword & Cross colorida
por fleuma.
Porque quando eles saíram das árvores e ficaram parados nessa
pedra alta e
vermelha, era como se estivessem parados no meio de um cartão
postal, do tipo
que girava ao redor de uma prateleira de metal de uma farmácia
de cidade
pequena, uma imagem sonhadora de um sul idílico que não existia
mais. Cada cor
em que os olhos de Luce caíam era brilhante, mais clara do
que tinha sido há um
momento. Do lago azul cristalino logo abaixo deles até a floresta
esmeralda densa
cercando-os. Duas gaivotas voando em inclinação no céu claro
acima. Quando ela
ficou na ponta dos pés, ela conseguiu ver o começo de um pântano
salgado de cor
marrom-amarelada, um que ela sabia que cedia para um oceano
de espuma branca
|
em algum lugar no horizonte invisível.
Ela olhou para cima para Daniel. Ele parecia brilhante também.
Sua pele estava
dourada nessa luz, seus olhos quase chuvosos. A sensação deles
em seu rosto era
uma coisa pesada e notável.
― O que você acha?
― ele perguntou. Ele parecia tão mais relaxado agora que
estavam longes de todos os outros.
― Eu nunca vi algo
tão maravilhoso, ― ela disse, escaneando a superfície prisca do
lago, sentindo a vontade de mergulhar. A cerca de quinze metros
na água estava
uma pedra larga, chata e coberta por musgo. ― O que é isso?
―
|
― Vou te mostrar,
― Daniel disse, chutando seus sapatos. Luce tentou sem
sucesso não encarar quando ele puxou sua camiseta pela sua
cabeça, expondo seu
torso musculoso. ― Vamos, ― ele disse, fazendo ela perceber
como ela devia ter
parecia enraizada no lugar.
― Você pode nadar naquilo,
― ele acrescentou, apontando para sua regata seu
short cinza. ― Eu até te deixarei vencer dessa vez. ― Ela
riu. ― Versus o quê? Todas
aquelas vezes que eu te deixei vencer? ―
Daniel começou a assentir, então se parou abruptamente. ―
Não. Desde que você
perdeu na piscina no outro dia. ―
Por um segundo, Luce teve vontade de dizer a ele por que tinha
perdido. Talvez eles
pudessem rir sobre todo o mal-entendido da Gabbe-ser-sua-namorada.
Mas então
os braços de Daniel estavam sobre sua cabeça e ele estava
no ar, arqueando e então
caindo, mergulhando no lago com um respinguinho perfeito.
Era uma das coisas mais bonitas que Luce já tinha visto. Ele
tinha uma graça como
nenhuma outra que ela já tinha testemunhado antes. Até mesmo
o respingo que ele
fizera deixou um toque adorável em seus ouvidos.
Ela queria estar lá com ele.
Ela tirou seus sapatos e os deixou na margem da magnólia perto
de Daniel, então
ficou de pé na beirada da pedra. A queda foi a cerca de sete
metros, o tipo de
mergulho alto que sempre fizera o coração de Luce pular uma
batida. De um jeito
bom.
Um segundo mais tarde, sua cabeça apareceu acima da superfície.
Ele estava
sorrindo, mantendo a cabeça acima d’água sem se mover. ― Não
me faça mudar de
ideia sobre deixar você vencer, ― ele chamou.
Tomando um fôlego profundo, ela mirou seus dedos sobre a cabeça
de Daniel e se
empurrou em um alto mergulho de cisne. A queda durou apenas
uma fração de
segundo, mas era a sensação mais deliciosa, velejar pelo ar
ensolarado, para baixo,
baixo, baixo.
Splash. A água estava chocantemente fria no começo, então
ideal um segundo
mais tarde. Luce subiu à superfície para recuperar seu fôlego,
deu uma olhada em
|
Ela se impulsionou tão forte que perdeu ele. Ela sabia que
estava se mostrando
e esperava que ele estivesse observando. Ela ficou mais e
mais perto até que ela
bateu sua mão na pedra - um instante antes de Daniel.
Ambos arfavam enquanto se rebocavam na superfície chata e
aquecida pelo sol.
Sua beirada era escorregadia por causa do musgo, e Luce teve
dificuldade em se
firmar. Daniel não teve problema em escalar a pedra, contudo.
Ele se esticou e deu-
lhe uma mão, então puxou-a para cima para onde ela podia colocar
uma perna
sobre a lateral.
Quando ela se suspendeu completamente para fora da água, ele
estava deitado de
costas, quase seco. Só seu short revelava qualquer indício
que ele estivera no lago.
Por outro lado, as roupas molhadas de Luce prendiam em seu
corpo, e seu cabelo
estava pingando por tudo. A maioria dos caras teria agarrado
a oportunidade de
olhar provocativamente para uma garota pingando de molhado,
mas Daniel
recostou-se na pedra e fechou seus olhos, como se estivesse
dando-a um momento
para se secar - ou por bondade ou por falta de interesse.
Bondade, ela decidiu, sabendo que estava sendo irremediavelmente
romântico.
Mas Daniel parecia tão perceptivo, ele deve ter sentido pelo
menos um tiquinho do
que Luce sentira. Não só a atração, a necessidade de estar
perto dele quando todos
ao seu redor estavam dizendo para ficar longe, mas aquela
sensação muito real de
que eles se conheciam ― realmente se conheciam ― um ao outro
de outro lugar.
Daniel abriu seus olhos num estralar e sorriu ― o mesmo sorriso
da foto em seu
arquivo. Um ataque de déjà vu a engolfou tão completamente
que Luce teve que se
deitar.
― O quê? ― ele perguntou,
soando nervoso.
― Nada. ―
― Luce. ―
― Não consigo tirar
isso da minha cabeça, ― ela disse, rolando de lado para encará-
lo. Ela não se sentia firme o bastante para se sentar ainda.
― Essa sensação de que
eu te conheço. Que eu te conheço faz tempo.
|
A água agitou-se
contra a pedra, respingando nos dedos dos pés de Luce onde
estavam pendurados na beirada. Estava fria e espalhou calafrios
até suas
panturrilhas. Finalmente, Daniel falou.
― Já não passamos por
isso? ― Seu tom tinha mudado, como se ele estivesse
tentando rir dela. Ele soava como um cara da Dover: satisfeito
consigo mesmo,
eternamente entediado, presunçoso. ― Estou lisonjeado por
você achar que temos
essa conexão, sério. Mas você não tem que inventar uma história
esquecida para
fazer com que um cara preste atenção em você. ―
Não. Ele achava que ela estava mentindo sobre essa sensação
estranha da qual não
conseguia se livrar como um jeito de dar em cima dele? Ela
cerrou seus dentes,
mortificada.
|
― Por que eu inventaria isso? ― ela perguntou, espremendo
os olhos na luz do sol.
― Você que me diga, ― Daniel disse. ― Não, na verdade, não
diga. Não fará bem
algum. ― Ele suspirou.
― Olha, eu devia ter
dito isso antes quando eu comecei a ver os sinais. ― Luce se
sentou.
Seu coração começou a acelerar. Daniel via os sinais também.
― Eu sei que te dei
um fora no ginásio antes, ― ele disse lentamente, fazendo com
que Luce se inclinasse para frente, como se ela pudesse extrair
as palavras mais
rapidamente. ― Eu devia simplesmente ter te contado a verdade.
―
Luce esperou.
― Uma garota me magoou.
― Ele balançou uma mão na água, arrancou uma folha
de nenúfar, e a despedaçou em suas mãos. ― Alguém que eu realmente
amava, não
há muito tempo. Não é nada pessoal, e eu não quero te ignorar.
― Ele olhou para
ela e o sol foi filtrado por uma gota de água em seu cabelo,
fazendo-o brilhar. ―
Mas eu também não quero que você tenha esperanças. Eu simplesmente
não estou
querendo me envolver com ninguém, não tão cedo. ― Oh.
Ela desviou o olhar, para a água parada e azul-escura onde
apenas minutos atrás
eles estiveram rindo e respingando água. O lago não mostrava
mais sinais daquela
diversão. Assim como o rosto de Daniel.
|
Bem, Luce tinha
sido magoada também. Talvez se ela contasse a ele sobre
Trevor e como tudo tinha sido horrível, Daniel se abriria
sobre seu passado. Mas,
também, ela já sabia que não conseguia suportar escutar sobre
o passado dele com
outra pessoa. Pensar nele com outra garota ― ela imaginou
Gabbe, Molly, uma
montagem de rostos sorridentes, olhos grandes, cabelos compridos
― era o
bastante para fazê-la se sentir nauseada. Sua história de
término ruim deveria ter
justificado tudo. Mas não justificava. Daniel fora tão estranho
com ela desde o
começo. Mostrando-lhe o dedo do meio um dia, antes mesmo deles
terem sido
apresentados, então protegendo-a da estátua no cemitério no
seguinte. Agora ele
tinha trazido ela aqui no lago ― sozinha. Ele era uma bagunça
só.
A cabeça de Daniel estava abaixada, mas seus olhos estavam
encarando-a. ― Não é
uma resposta boa o bastante? ― ele perguntou, quase como se
soubesse o que ela
estava pensando.
― Eu ainda sinto como
se houvesse algo que você não está me contando, ― ela
disse.
Tudo isso não podia ser explicado por um coração quebrado,
Luce sabia. Ela tinha
experiência nesse departamento.
As costas dele estavam voltadas para ele e ele olhava na direção
do caminho que
eles tinham tomado até o lago.
Após um instante, ele riu amargamente. ― É claro que há coisas
que eu não estou
te contando. Eu mal te conheço. Não tenho certeza do por que
você achar que eu te
|
devo alguma coisa. ― Ele ficou de pé.
― Onde está indo? ―
― Tenho que voltar, ― ele disse.
― Não vá, ― ela sussurrou, mas ele não pareceu ouvir.
Ela observou, o peito pesando, enquanto Daniel mergulhava
na água.
Ele ergueu-se distante e começou a nadar na direção da coMiss
Ele olhou de volta
para ela uma vez, perto da metade, e deu-lhe um aceno de adeus
definitivo.
|
Então seu coração
inchou enquanto ele circulou seus braços sobre sua cabeça
num nado borboleta perfeito. Por mais vazia que ela se sentisse
por dentro, ela não
conseguia evitar admirar isso. Tão puro, tão fácil, mal parecia
com natação.
Rapidamente ele alcançara a costa, tornando a distância entre
eles parecer muito
menor do que parecera para Luce. Ele parecera tão calmo enquanto
nadava, mas
não havia jeito dele poder ter alcançado o outro lado tão
rapidamente a não ser que
ele realmente estivesse dilacerando a água.
Era tão urgente para ele se afastar dela?
Ela observou ― sentindo uma mistura confusa de envergonhamento
profundo e até
mesmo uma tentação mais profunda ― enquanto Daniel se suspendia
de volta na
coMiss Uma coluna de luz do sol apareceu através das árvores
e enquadrou sua
silhueta com uma radiação brilhante, e Luce teve que espremer
os olhos à visão
perante seus olhos.
Ela se perguntou se a bola de futebol na sua cabeça tinham
sacudido sua visão. Ou
se o que ela achou que estava vendo era uma miragem. Um truque
da luz do sol da
tarde.
Ela ficou de pé na pedra para dar uma olhada melhor.
Tudo que ele estava fazendo era chacoalhar a água de sua cabeça
molhada, mas um
verniz de gotinhas parecia pairar sobre ele, do lado de fora
dele, desafiando a
gravidade em uma amplitude ampla ao longo de seus braços.
Do jeito que a água brilhava na luz solar, quase parecia que
ele tinha asas.
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