Mas você gosta de cachorros! – disse Gary na sexta–
feira à tarde. –Você sempre gostou de cachorros!
|
– Acho que meus
pais vão gostar de ter um gato –
respondeu Tristan enquanto andava para
lá e para cá,
|
tentando
arrumar a bagunça da
sala: as revistas
de pediatria da sua
mãe, os horários de visita
de seu pai ao
|
hospital, vários santinhos, seus horários de natação,
exemplares antigos da revista
|
Sports Illustrated
|
e o frango que
|
haviam comido no jantar na noite anterior. Seus pais ficariam confusos ao vê– lo tão
preocupado em arrumar a
|
casa. Em geral, a rotina da família era sentar no chão
para ler e comer.
|
Gary não estava entendendo muito bem o objetivo de
Tristan e perguntou: – Você acha que
seus pais vão
|
gostar? A gata
está doente? Ela tem religião? Se sua mãe não precisar medicá– la e
seu pai, sendo pastor, não
|
puder rezar com ela e aconselhá– la...
|
– Toda casa
precisa de um animal de estimação – disse Tristan, tentando terminar a
conversa.
|
– Para os
gatos, os animais de estimação são habitantes da casa. Pode acreditar,
Tristan, gatos têm raciocínio
|
próprio. São piores que garotas. Se você acha que Ivy te enlouquece. Opa
espera aí! Espera aí... – disse Gary,
|
batendo os dedos na mesa. – Acabo de me lembrar de um
anúncio no quadro de avisos da escola.
|
– Legal – disse
Tristan, entregando a mala de ginástica ao amigo. – Você disse que tinha de
chegar cedo em
|
casa hoje.
|
Gary soltou a mochila. Já tinha entendido a armação de
Tristan. – E perder toda a diversão? Lembro– me
|
bem da
última vez que você fez papel
de bobo. Você acha
que não quero ver
novamente? – sentou– se no
|
tapete em frente à lareira.
|
– Você se
diverte com a minha desgraça, não é mesmo?
|
Gary deitou no chão, segurando a cabeça com as mãos. –
A galera e eu vimos você pegar todas as garotas nos
|
últimos três anos – não, nos últimos sete anos; você
já era o garoto mais popular da escola no 6º ano. Nossa!
|
Como me divirto!
|
Tristan sorriu e viu uma mancha de café no tapete q ue
parecia ter triplicado de tamanho desde a última vez
|
que tinha visto. Não fazia idéia de como aquilo tinha
acontecido.
|
Tristan se perguntou se Ivy acharia sua casa pequena,
velha e inacreditavelmente desarrumada.
|
– Então, o
que vocês combinaram?
Um encontro em troca da gata?
Ou que tal
um encontro por cada
|
semana que você ficar com a gata? – sugeriu Gary.
|
– Suzanne disse
que ela é muito ligada à gata – Tristan sorriu, satisfeito com o que tinha
planejado. – Vou
|
dizer a ela que ode visitar a gata sempre que quiser.
|
– E se Ivy não
sentir saudades da bola de pelo?
|
– Ela vai
sentir saudade de mim.
|
A campanhia tocou. Na mesma hora, perdeu toda a sua
autoconfiança.
|
– Rápido, como
é que se pega uma gata?
|
– Pagando uma
bebida para ela?
|
– Estou falando
sério!
|
– Pelo rabo.
|
– Você só pode
estar de brincadeira.
|
– Acertou!
|
A campanhia tocou
novamente. Tristan foi correndo
atender. Foi sua imaginação ou Ivy
corou ao vê– lo?
|
Definitivamente, sua boca tinha um tom cor– de– rosa.
Seus cabelos brilhavam como ouro e seus olhos verdes
|
remetiam– no ao calor das águas de um oceano.
|
– Trouxe Ella –
disse.
|
– Ella?
|
– Minha gata.
|
Tristan olhou para baixo e viu que, ao lado dela, na
varanda, havia todo tipo de parafernália para gatos.
|
– Ah, Ella! Que
bom! – por que não conseguia formar uma frase completa quando estava perto
dela?
|
– Você ainda a
quer? – uma ruga de preocupação surgiu em seu rosto.
|
– Ah, sim, ele
ainda a quer – respondeu Gary, levantando– se do chão.
|
Ivy entrou na casa e deu uma olhada ao redor, sem
tirar a gata do transportador. Balançou a cabeça e deu um
|
sorriso distante. – Você também esteve no casamento?
|
– É verdade!
Tristan e eu, mas consegui ficar até o final sem ser demitido.
|
Ivy sorriu novamente, um sorriso mais amigável dessa
vez, então voltou a concentrar– se em
seu objetivo.
|
– A caixa de
areia de Ella está lá fora, junto com algumas latas de comida. Trouxe também
seu cestinho e sua
|
almofada, mas ela nunca usa.
|
Tristan concordou com
a cabeça. O cabelo de Ivy esvoaçava por causa da corrente de vento deixada pela
|
porta aberta. Queria tocá– la. Tirar o cabelo dela do
rosto e beijá– la.
|
– Você se
importaria em dividir a sua cama?
|
Tristan piscou, espantando. – Como?
|
– Ele não se
importaria nem um pouco! – respondeu Gary.
|
Tristan olhou feio para ele.
|
– Que bom! –
respondeu Ivy, sem
ter percebido a piscadinha de
Gary. – Ella adora
dormir em cima do
|
travesseiro, mas é só dar uma empurradinha nela que
logo sai.
|
Gary deu uma gargalhada. Em seguida, ele e Tristan
pegaram as coisas que ficaram na entrada da casa.
|
– Você gosta de
gatos? – Ivy perguntou para Gary.
|
– Não. Mas quem
sabe mudo de idéia agora – inclinou– se para dar uma olhada na gata. – Agora
que Tristan
|
passou a gostar... Oi, Ella. Vamos nos divertir
juntos.
|
– Que pena que
não será hoje, pois Gary já estava de saída – disse a Ivy.
|
Gary endireitou o corpo e sua expressão denotava falsa
surpresa. – Estou de saída? Tão rápido?
|
– Já ficou
bastante – respondeu Tristan, segurando a porta aberta.
|
– Tudo bem, nos
falamos mais tarde, Ella. Quem sabe não saímos para caçar ratos juntos?
|
Após a saída de Gary, o ambiente ficou bem silencioso.
Tristan não conseguiu abrir a boca, mas tinha feito
|
uma lista de perguntas que devia estar em algum lugar
atrás do sofá, onde havia jogado toda a bagunça. Mas Ivy
|
não parecia interessada em conversar. Abriu a porta do
transportador e deixou Ella sair.
|
A gata era engraçadinha, quase toda preta com uma pata
branca.
|
– Tudo bem,
querida – disse Ivy, segurando Ella em seus braços enquanto a acariciava.
|
Ella piscou seus olhos verdes para Tristan, como se
estivesse se gabando pela atenção de Ivy.
|
Não acredito que estou com ciúmes de uma gata, pensou
Tristan.
|
Quando Ivy finalmente decidiu colocar a gata no chão,
Tristan estendeu a mão. A gata olhou feio para ele e
|
tomou distância.
|
– Você tem que
esperar até que ela decida se aproximar de você – aconselhou Ivy. – Ignore– a
por uns dias,
|
talvez algumas semanas, se preciso for. Quando se
sentir solitária, ela mesma virá para você.
|
Será que Ivy faria o mesmo algum dia?
|
Tristan pegou a tigela amarela. – Que tal você me
ensinar sobre a alimentação dela?
|
Ivy tinha trazido todas as instruções impressas. –
E esse
é o histórico médico dela e uma
lista de vacinas
|
habituais, junto com o telefone do veterinário.
|
Parecia estar com pressa em resolver a situação.
|
– Esses são os
brinquedinhos dela – disse, hesitante.
|
– Não deve
estar sendo fácil para você, não é? – falou gentilmente.
|
– E essa é sua
escova. Ela adora ser escovada.
|
– Mas não
lavada – acrescentou Tristan.
|
Ivy mordeu os lábios. – Você não entende nada de
gatos, não é?
|
– Mas vou
aprender. Ela será uma boa companhia para
mim e eu serei para ela. E é claro que você pode
|
visitá– la sempre que quiser, Ivy. Ela sempre será sua
gata. Mas também será minha. Venha sempre que sentir
|
vontade.
|
– Não –
respondeu incisivamente. – Não.
|
– Não? – sentiu como se seu coração tivesse parado da
bater. Ainda estava sentado, olhando
para aquela
|
parafernália toda de gato, mas tinha certeza de ter
tido um ataque cardíaco.
|
– Isso a
deixaria confusa – explicou Ivy. – E acho que... acho que seria demais para
mim.
|
Sentiu
vontade de tocá–
la, de segurar
sua mão delicada,
mas seria muita
ousadia. Em vez
disso, fingiu
|
examinar a almofadinha cor– de– rosa enquanto
aguardava Ivy se recompor.
|
Ella aproximou– se para cheirar sua almofada e recuou
novamente. Tristan gentilmente deslizou a mão pelo
|
– Ela
prefere perto da nuca – disse
Ivy, pegando na mão dele
e fazendo os movimentos. –
Debaixo do
|
queixo e na bochecha – suas glândulas olfativas ficam
nessas regiões, é assim que ela se lembra das coisas. Acho
|
que ela gosta de você, Tristan.
|
Tirou a mão. Tristan continuou a acariciar Ella.
Subitamente, a gata ficou de barriga para cima.
|
Ivy riu. – Sua safadinha!
|
Tristan acariciou a barriga dela. O pelo era
esplendorosamente longo e macio.
|
– Por que será que gatos não gostam de água? Será que
ela nadaria se fosse jogada em uma piscina?
|
– Nem ouse! Nem ouse fazer isso!
|
A gata levantou e foi se esconder debaixo de uma
cadeira.
|
Tristan olhou surpreso para Ivy. – É claro que não
faria uma coisa dessas. Só queria saber.
|
Ela abaixou a cabeça e enrubesceu.
|
– Foi isso que aconteceu com você, Ivy?
|
Ao silêncio dela, reformulou a pergunta. – Por que
você tem medo de água? Aconteceu alguma coisa quando
|
você era pequena?
|
Ivy não conseguia olhar para ele. – Eu te devo uma.
Por ter me tirado do trampolin.
|
– Você não me deve nada. Só perguntei para tentar
entender. A natação é a minha vida. Acho inconcebível
|
uma pessoa não gostar de água.
|
– Acho que você não conseguiria entender. A água para
você é como a brisa para o pássaro. Pelo menos, é o
|
que parece. Para mim, é difícil entender essa
sensação.
|
– Por que você tem medo? – ele insistiu. –Quem deixou
você com medo?
|
Ela pensou um pouco. Em me lembro o nome dele. Era um
dos namorados da minha mãe. Ela teve muitos e
|
alguns eram legais. Mais esse não era. Ele nos levou à
piscina da casa de um amigo. Acho que eu não tinha nem
|
quatros
anos. Não sabia
nadar e não
queria entrar na
água. Acho que,
depois de algum
tempo, devia estar
|
irritando todo mundo, pois não desgrudava da minha
mãe.
|
Ela engoliu em seco e olhou para Tristan.
|
– Então? – perguntou
Tristan suavemente.
|
– A mamãe tinha entrado na casa para ajudar a fazer
sanduíches ou algo assim. Ele me agarrou, Sabia o que ia
|
acontecer e comecei a gritar e chutar, mas a mamãe não
conseguia me ouvir de onde estava. Ele me arrastou até
|
a beira da piscina e disse: – Vamos ver se ela nada ou
não! Levantou– me e me jogou na água.
|
Tristan fez uma expressão de horror, como se estivesse
realmente revivendo a cena.
|
– A piscina não dava pé para mim. Debati– me, agitando
meus braços e minhas pernas, mas não conseguia
|
colocar o rosto para d‘água. Comecei a sufocar,
engolindo a água. Não conseguia respirar.
|
Tristan olhava para ela, mal acreditando no que ouvia.
– E o cara? Pulou na água para te socorrer?
|
– Não – Ivy levantou– se e andava pela sala como se
fosse uma gata agitada. Ella deu uma olhadinha, em sua
|
boca havia uma bolinha.
|
– Tenho certeza de que ele estava bêbado. Tudo ficou
meio turvo para mim. Depois, totalmente negro. Meus
|
braços e pernas pareciam tão pesados, e sentia que meu
peito ia explodir. Rezei. Pela primeira vez na vida, rezei
|
para meu anjo da guarda. Então, senti que estava sendo
retirada de dentro d‘água.
|
Meus pulmões pararam de doer e recuperei a visão. Não
me lembro de muitos detalhes do anjo; só sei que
|
brilhava, tinha muitas cores e era lindo.
|
Ivy olhou para Tristan pelo canto do olho, depois
sorriu abertamente. Voltou para perto dele e sentou– se no
|
chão novamente mantendo o contato visual.
|
– Não tem problema. Não espero que você acredite em
mim. Ninguém mais acreditou. Parece que minha
|
mãe saiu da casa para ver o estava acontecendo, mas
uma amiga virou– se para falar com ela, então ninguém viu
|
como eu consegui chegar a beira da piscina. Apenas
acreditaram que eu aprenderia a nadar após ter sido jogada
|
na água –
sua expressão era
de melancolia. Parecia
estar em outro
lugar, rememorando os
acontecimentos
|
daquele dia.
|
–Gostaria de acreditar em seu anjo – Tristan deu de
ombros. – Desculpe! – já tinha ouvido historias similares.
|
De vez em quando, seu pai contava fatos parecidos,
ocorridos no hospital. Mas, para ele, era apenas um sinal de
|
que a mente estava trabalhando, pensou; era a forma
como algumas mentes reagiam aos momentos de crise.
|
– Sabe, quando estava lá em cima, no trampolim, na
segunda– feira... rezei para meu anjo da guarda.
|
– Mas eu apareci no lugar dele – salientou Tristan.
|
– O que foi muito bom – ela respondeu, rindo.
|
– Ivy... –ele tentou controlar o tremor em sua voz, a
fim de que ela não percebesse o quanto esperava uma
|
resposta positiva dela. – Posso te ensinar a nadar.
|
– Depois da aula, o técnico nos daria permissão para
usar a piscina.
|
Suas mãos, seus olhos, o corpo inteiro dela estava
tenso e ela não parava de encará– lo.
|
– É uma sensação maravilhosa, Ivy. Você sabe o que é
boiar no meio de um lago, circundando pelas árvores,
|
olhando para o céu azul? Você só fica lá, deitando na
água, com o brilho do sol aquecendo sues dedos. Sabe o
|
que é nadar no mar? Você nada forte e a onda te pega e te levanta, sem
esforço algum... Sem perceber o que
|
estava fazendo, colocou suas mãos em seus braços e a
fez ficar de pé. Ela ficou toda arrepiada.
|
– Desculpe – disse, soltando– a. – Desculpe! Me
empolguei demais.
|
– Tudo bem! – disse, sem conseguir olhar para ele
novamente.
|
Ele ficou imaginando do que ela tinha mais medo – se
da água ou dele.
|
Provavelmente dele, pensou, e não sabia como resolver
isso. – Eu te ensinaria de uma forma divertida, assim
|
como faço com as crianças no acampamento de verão.
Pense nisso, está bem?
|
Ela concordou com a cabeça.
|
Era obvio que
não sentia confortável
ao lado dele.
Queria pedir desculpas
pro ter esbarrado
nela nos
|
corredores
de escola, por
ter ido ao
casamento da mãe
dela, por ter
telefonado a respeito
da gata. Queria
|
prometer que não iria mais incomodá– la, esperando que
isso a fizesse ficar mais à vontade. Mas ela parecia tão
|
cansada e confusa; sentiu que era melhor não dizer
nada.
|
– Vou cuidar
muito bem de Ella. Se a situação mudar e você a quiser de volta, ligue para
mim. E se quiser
|
visitá– la, eu não preciso estar por perto, certo?
|
Ivy olhou com espanto para ele.
|
– Bem – disse,
levantando– se, – às terças e quintas quem cozinha sou
eu. É melhor começar a fazer o
|
jantar.
|
– O que você
vai fazer?
|
– Molho de
carne com pedaços de fígado. Ah, não, desculpe. Essa é a comida da gata.
|
A piada não era tão boa, mas fez com que ela sorrisse.
|
– Você pode
ficar e brincar com ela o quanto quiser.
|
– Obrigada.
|
Depois, foi para cozinha para deixá– la a sós com a
gata. Mas antes que tivesse chegado à porta da cozinha,
|
ouviu– a dizer: –
Adeus, Ella. Batendo a porta da frente atrás dela.
|
***
|
Quando Ivy saiu do vestiário, Tristan já estava dentro
d‘água.
|
O técnico tinha lhe dado permissão para ficar na parte
fechada da piscina. Ela esperava que ele tivesse olhado
|
para ela e dito, incrédulo: –
Você está dizendo que não sabe nadar? – mas seu rosto, que era
comprido e cheio
|
de marcas de expressão, parecendo uma uva passa, era
gentil e nada indagador. Cumprimentou–
a e voltou para
|
a sua sala.
|
Ivy demorou uma
semana para se decidir. Ela nadava em seus sonhos: em algumas noites chegava a nadar
|
quilômetros de distancia. Quando disse a Tristan que
queria aprender, os olhos dele se iluminaram. Ivy estava
|
certa de que ele não estava interessado nela de alguma
forma especial: de acordo com Suzanne, ele estava saindo
|
com outras duas garotas. Ma sentia que ele era seu amigo.
Ajudou– a a sair do trampolim, ficou com Ella, e
|
agora a ajudava
a enfrentar seu maior medo – estava
sempre por perto quando precisava, de
uma forma que
|
nenhum outro rapaz jamais esteve, como um amigo de
verdade deve ser.
|
Ela estava vendo– o nadar. A água passando por seu
corpo másculo: erguendo– o enquanto ele se movia de
|
forma suave e poderosa por entre ela. Quando passou a
nadar borboleta, seus braços pareciam asas saindo da
|
piscina, parecia musica aos seus ouvidos – forte,
cadenciada, graciosa.
|
Ivy ficou um bom
tempo olhando para ele, estão lembrou– se da razão de estar ali. Andou
até a borda da
|
piscina,
na parte rasa
e ficou olhando.
Depois, sentou– se e colocou
as pernas na
água. Estava quente
e
|
tranqüila. Mas,
mesmo assim, ela estava
morrendo de frio. Batia os dentes e resolveu abaixar um pouco mais
|
dentro da água, ficando bem na altura do pescoço.
Ficou imaginando a água chegar em sua garganta, sua boca.
|
Então, fechou os olhos e segurou– se na borda,
tentando conter o medo que a dominava.
|
Anjo das águas, rezou, não me abandone. Confio em
você, anjo. Estou em suas mãos.
|
Tristan parou de nadar. – Você veio. E já entrou.
|
Ele estava tão contente que, por um momento, um
momento bem breve, ela esqueceu– se de seu medo.
|
– Como você
está se sentindo?
|
– Bem. Você não
se importa se eu ficar parada aqui, tremendo, não é?
|
– Você vai se
aquecer movimentando– se.
|
– Venha, vamos
passear – pegou na mão dela e
caminharam juntos pela piscina, como se estivesse em um
|
shopping, apesar de que, dentro da água, cada passo
parecia ser dado em câmera lenta.
|
– Você quer que
eu fale sobre Ella e o caos que ela
está causando na minha casa?
|
– Claro. Ela
achou aquele pedaço de frango enfiado no armário da TV?
|
Tristan
ficou espantado por um
momento, depois se
recompôs. – Claro. Logo após
ter espalhado toda a
|
bagunça que eu escondi atrás do sofá – ele contou
várias histórias sobre Ella, caminhando para lá e para cá na
|
parte rasa da piscina.
|
Quando pararam, disse: – Acho melhor você molhar um pouco o rosto
agora.
|
Ela temia esse momento.
|
Ele pegou um pouco de água com as mãos e jogou na
testa e nas bochechas dela, como se estivesse dando
|
banho em um bebê.
|
– Faço isso
quando tomo banho – Ivy disse, sarcasticamente.
|
–
Desculpe– se Srta.
Nível Avançado. Vamos
para o próximo
passo. Respire fundo.
Quero ver você
|
olhando para mim debaixo d‘água. O cloro vai incomodar
um pouco, mas quero ver esses olhões verdes abertos
|
e umas
bolhinhas saindo do seu nariz.
Prenda o fôlego
antes de entrar na
água e solte– o
quando estiver lá
|
dentro.
Entendeu? Um, dois, três. Ele
a puxou para dentro da água. Mergulhavam e voltavam à
superfície, a
|
cada vez ele a segurava um pouco mais dentro da água,
fazendo caretas para ela.
|
Ivy voltou à superfície, tossindo por ter– se
engasgado.
|
– Bem, se você
não consegue seguir instruções tão simples...
|
– Você está me
fazendo rir. Não vale se você me faz rir.
|
– Tudo bem.
Vamos ficar sérios. Mais ou menos sérios.
|
Ele a ensinou como deveria respirar ao nadar, fingindo
que a água era um travesseiro, virando a cabeça para o
|
lado para inspirar. Ela praticou,
segurando a borda da piscina.
Então, ela pegou em suas mãos e
a levou pela
|
água. Instintivamente, ela começou
a bater os pés para manter– se na
superfície. Teve vontade de levantar a
|
cabeça para olha para ele, quando o fez, viu que
sorria para ela.
|
Treinaram esse movimento por um tempo. Depois de
treinar na borda, brincaram de trenzinho. Ele fez com
|
que ela segurasse seus tornozelos e o seguisse pela
água: ele batia os braços e ela os pés. Ficou impressionada
|
com a facilidade com que a puxava pela piscina só com
a força dos braços.
|
Quando pararam, perguntou a ela: – Está ficando cansada? Quer sentar um pouco
lá fora?
|
Ivy balançou a cabeça negativamente. – Se sair, não
sei se consigo entrar novamente.
|
– Você é
corajosa.
|
Ela riu: –
Estou em pé na água que só bate nos meus ombros e você me acha
corajosa?
|
– Sim – nadou
em volta dela. – Ivy, todo mundo tem medo de alguma coisa. Você é uma das
poucas pessoas
|
que enfrenta seu medo. Mas eu sempre soube que você
tinha coragem. Percebi logo no primeiro dia, quando te
|
vi na lanchonete deixando para trás a líder de torcida
que, supostamente, você deveria estar seguindo.
|
– Estava com
fome. E aquilo era tudo encenação.
|
– Mas você
mandou bem.
|
Ela sorriu e ele também, seus olhos da cor do mel
iluminaram– se e as gotas d‘água em seus cílios brilharam.
|
– Certo. Quer
boiar de costas?
|
– Não Mas vou.
|
– É fácil –
Tristan alongou– se na água e boiou, par ecendo inteiramente relaxado, – Está vendo o que estou
|
fazendo?
|
Está maravilhoso, pensou, agradecendo aos anjos por
ele não poder ler sua mente tão bem quanto Beth.
|
– Estou
mantendo o quadril para cima, arqueando as costas e deixando o restante
relaxado. Agora, tente.
|
Tentou e afundou. Sentou o velho pânico retornar por
um momento.
|
– Você sentou.
Desse jeito você afunda. Tente de novo.
|
Quando ela deitou, ele colocou braço embaixo dela. –
Isso, não se contraia. Arquei as costas. É assim que se
|
faz – disse, tirando o braço debaixo dela.
|
Ivy levantou a cabeça e afundou novamente. Ficou em pé
com a cara brava. Seu cabelo molhado sai para fora
|
do rabo de cavalo, caindo pelo pescoço.
|
Tristan riu. – Se um dia Ella ficasse molhada, ficaria
exatamente assim.
|
– Qualquer
criança consegue fazer isso!
|
– Crianças
conseguem fazer várias coisas, porque confiam. O truque
para conseguir nadar é não resistir à
|
água. É se deixar
levar por ela.
Brincar com ela. Entregar– se a
ela. Que tal tentarmos novamente? – disse,
|
Ela se deitou. Sentiu o braço dele embaixo de seu
corpo. Com uma das mãos, gentilmente forçou a ca beça
|
dela para baixo. A
água abatia na sua testa e no seu
queixo, Ivy fechou os olhos
e se deixou levar pela água.
|
Imaginou– se no meio de um lago, com os raios do sol
iluminando a ponta de seus dedos.
|
Quando
abriu os olhos,
viu que ele
a observava. O
rosto dele era
como sol, mantendo–
a aquecida,
|
iluminando o ambiente ao seu redor. – Estou flutuando
– disse, baixinho.
|
Você está flutuando – disse suavemente, aproximando u
pouco mais o rosto.
|
– Flutuando...
– estavam lendo os lábios um do
outro seus rostos
ficando cada vez mais perto,
cada vez
|
mais, cada vez....
|
– Tristan!
|
Tristan se endireitou e Ivy afundou.
|
Era o técnico, gritando da porta da sua sala. –
Desculpe interromper – gritou. – Mas tenho de ir embora em
|
dez minutos.
|
– Tudo bem,
professor – disse Tristan.
|
– Vou ficar até
mais tarde amanhã – disse, saindo da sala. Talvez possam continuar de onde
pararam.
|
Tristan olhou para Ivy. Ela deu de ombros e concordou
com a cabeça, mas sem olhar nos olhos dele.
|
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