sábado, 1 de dezembro de 2012

Capítulo 7 (Beijada por um Anjo)


Mas você gosta de cachorros! – disse Gary na sexta– feira à tarde. –Você sempre gostou de cachorros!
–  Acho que meus pais  vão gostar de ter um gato – respondeu  Tristan enquanto andava para lá e para cá,
tentando  arrumar a  bagunça  da  sala:  as  revistas  de  pediatria da  sua  mãe,  os horários de  visita  de seu pai  ao
hospital, vários santinhos, seus horários de natação, exemplares antigos da revista
Sports Illustrated
e o frango que
haviam comido no jantar na noite anterior.  Seus pais ficariam confusos ao vê– lo tão preocupado em arrumar a
casa. Em geral, a rotina da família era sentar no chão para ler e comer.
Gary não estava entendendo muito bem o objetivo de Tristan e perguntou: –  Você acha que seus pais vão
gostar? A gata  está doente? Ela tem religião? Se sua mãe não precisar medicá– la e seu pai, sendo pastor, não
puder rezar com ela e aconselhá– la...
–  Toda casa precisa de um animal de estimação – disse Tristan, tentando terminar a conversa.
–  Para os gatos, os animais de estimação são habitantes da casa. Pode acreditar, Tristan, gatos têm raciocínio
próprio. São piores que garotas. Se  você acha que Ivy te enlouquece. Opa espera  aí! Espera aí... – disse Gary,
batendo os dedos na mesa. – Acabo de me lembrar de um anúncio no quadro de avisos da escola.
–  Legal – disse Tristan, entregando a mala de ginástica ao amigo. – Você disse que tinha de chegar cedo em
casa hoje.
Gary soltou a mochila. Já tinha entendido a armação de Tristan. – E perder toda a diversão? Lembro– me
bem  da última  vez que você  fez papel  de bobo.  Você  acha  que não  quero ver novamente?  –  sentou– se no
tapete em frente à lareira.
–  Você se diverte com a minha desgraça, não é mesmo?
Gary deitou no chão, segurando a cabeça com as mãos. – A galera e eu vimos você pegar todas as garotas nos
últimos três anos – não, nos últimos sete anos; você já era o garoto mais popular da escola no 6º ano. Nossa!
Como me divirto!
Tristan sorriu e viu uma mancha de café no tapete q ue parecia ter triplicado de tamanho desde a última vez
que tinha visto. Não fazia idéia de como aquilo tinha acontecido.
Tristan se perguntou se Ivy acharia sua casa pequena, velha e inacreditavelmente desarrumada.
–    Então,  o  que  vocês  combinaram?  Um  encontro em troca  da gata?  Ou  que  tal  um  encontro por cada
semana que você ficar com a gata? – sugeriu Gary.
–  Suzanne disse que ela é muito ligada à gata – Tristan sorriu, satisfeito com o que tinha planejado. – Vou
dizer a ela que ode visitar a gata sempre que quiser.
–  E se Ivy não sentir saudades da bola de pelo?
–  Ela vai sentir saudade de mim.
A campanhia tocou. Na mesma hora, perdeu toda a sua autoconfiança.
–  Rápido, como é que se pega uma gata?
–  Pagando uma bebida para ela?
–  Estou falando sério!
–  Pelo rabo.
–  Você só pode estar de brincadeira.
–  Acertou!
A campanhia tocou  novamente. Tristan foi correndo  atender. Foi sua imaginação ou Ivy  corou ao vê– lo?
Definitivamente, sua boca tinha um tom cor– de– rosa. Seus cabelos brilhavam como ouro e seus olhos verdes
remetiam– no ao calor das águas de um oceano.
–  Trouxe Ella – disse.
–  Ella?
–  Minha gata.
Tristan olhou para baixo e viu que, ao lado dela, na varanda, havia todo tipo de parafernália para gatos.
–  Ah, Ella! Que bom! – por que não conseguia formar uma frase completa quando estava perto dela?
–  Você ainda a quer? – uma ruga de preocupação surgiu em seu rosto.
–  Ah, sim, ele ainda a quer – respondeu Gary, levantando– se do chão.
Ivy entrou na casa e deu uma olhada ao redor, sem tirar a gata do transportador. Balançou a cabeça e deu um
sorriso distante. – Você também esteve no casamento?
–  É verdade! Tristan e eu, mas consegui ficar até o final sem ser demitido.
Ivy sorriu novamente, um sorriso mais amigável dessa vez, então voltou a  concentrar– se em seu objetivo.
–  A caixa de areia de Ella está lá fora, junto com algumas latas de comida. Trouxe também seu cestinho e sua
almofada, mas ela nunca usa.
Tristan concordou com  a cabeça. O  cabelo  de Ivy esvoaçava por causa  da corrente de vento deixada  pela
porta aberta. Queria tocá– la. Tirar o cabelo dela do rosto e beijá– la.
–  Você se importaria em dividir a sua cama?
Tristan piscou, espantando. – Como?
–  Ele não se importaria nem um pouco! – respondeu Gary.
Tristan olhou feio para ele.
–   Que  bom! –  respondeu  Ivy,  sem  ter percebido a piscadinha  de Gary. –  Ella  adora  dormir em  cima do
travesseiro, mas é só dar uma empurradinha nela que logo sai.
Gary deu uma gargalhada. Em seguida, ele e Tristan pegaram as coisas que ficaram na entrada da casa.
–  Você gosta de gatos? – Ivy perguntou para Gary.
–  Não. Mas quem sabe mudo de idéia agora – inclinou– se para dar uma olhada na gata. – Agora que Tristan
passou a gostar... Oi, Ella. Vamos nos divertir juntos.
–  Que pena que não será hoje, pois Gary já estava de saída – disse a Ivy.
Gary endireitou o corpo e sua expressão denotava falsa surpresa. – Estou de saída? Tão rápido?
–  Já ficou bastante – respondeu Tristan, segurando a porta aberta.
–  Tudo bem, nos falamos mais tarde, Ella. Quem sabe não saímos para caçar ratos juntos?
Após a saída de Gary, o ambiente ficou bem silencioso. Tristan não conseguiu abrir a boca, mas tinha feito
uma lista de perguntas que devia estar em algum lugar atrás do sofá, onde havia jogado toda a bagunça. Mas Ivy
não parecia interessada em conversar. Abriu a porta do transportador e deixou Ella sair.
A gata era engraçadinha, quase toda preta com uma pata branca.
–  Tudo bem, querida – disse Ivy, segurando Ella em seus braços enquanto a acariciava.
Ella piscou seus olhos verdes para Tristan, como se estivesse se gabando pela atenção de Ivy.
Não acredito que estou com ciúmes de uma gata, pensou Tristan.
Quando Ivy finalmente decidiu colocar a gata no chão, Tristan estendeu a mão. A gata olhou feio para ele e
tomou distância.
–  Você tem que esperar até que ela decida se aproximar de você – aconselhou Ivy. – Ignore– a por uns dias,
talvez algumas semanas, se preciso for. Quando se sentir solitária, ela mesma virá para você.
Será que Ivy faria o mesmo algum dia?
Tristan pegou a tigela amarela. – Que tal você me ensinar sobre a alimentação dela?
Ivy tinha trazido todas as instruções impressas. – E  esse  é o histórico médico  dela  e uma  lista de  vacinas
habituais, junto com o telefone do veterinário.
Parecia estar com pressa em resolver a situação.
–  Esses são os brinquedinhos dela – disse, hesitante.
–  Não deve estar sendo fácil para você, não é? – falou gentilmente.
–  E essa é sua escova. Ela adora ser escovada.
–  Mas não lavada – acrescentou Tristan.
Ivy mordeu os lábios. – Você não entende nada de gatos, não é?
–  Mas vou aprender. Ela será uma boa companhia para  mim e eu serei para ela. E é claro que você pode
visitá– la sempre que quiser, Ivy. Ela sempre será sua gata. Mas também será minha. Venha sempre que sentir
vontade.
–  Não – respondeu incisivamente. – Não.
–   Não? –  sentiu como se seu coração  tivesse parado  da  bater. Ainda estava sentado, olhando  para aquela
parafernália toda de gato, mas tinha certeza de ter tido um ataque cardíaco.
–  Isso a deixaria confusa – explicou Ivy. – E acho que... acho que seria demais para mim.
Sentiu  vontade  de  tocá–  la,  de  segurar  sua  mão  delicada,  mas  seria  muita  ousadia.  Em  vez  disso,  fingiu
examinar a almofadinha cor– de– rosa enquanto aguardava Ivy se recompor.
Ella aproximou– se para cheirar sua almofada e recuou novamente. Tristan gentilmente deslizou a mão pelo
torso da gata.
–   Ela prefere  perto da nuca –  disse  Ivy, pegando na  mão  dele  e  fazendo os movimentos. – Debaixo do
queixo e na bochecha – suas glândulas olfativas ficam nessas regiões, é assim que ela se lembra das coisas. Acho
que ela gosta de você, Tristan.
Tirou a mão. Tristan continuou a acariciar Ella. Subitamente, a gata ficou de barriga para cima.
Ivy riu. – Sua safadinha!
Tristan acariciou a barriga dela. O pelo era esplendorosamente longo e macio.
– Por que será que gatos não gostam de água? Será que ela nadaria se fosse jogada em uma piscina?
– Nem ouse! Nem ouse fazer isso!
A gata levantou e foi se esconder debaixo de uma cadeira.
Tristan olhou surpreso para Ivy. – É claro que não faria uma coisa dessas. Só queria saber.
Ela abaixou a cabeça e enrubesceu.
– Foi isso que aconteceu com você, Ivy?
Ao silêncio dela, reformulou a pergunta. – Por que você tem medo de água? Aconteceu alguma coisa quando
você era pequena?
Ivy não conseguia olhar para ele. – Eu te devo uma. Por ter me tirado do trampolin.
– Você não me deve nada. Só perguntei para tentar entender. A natação é a minha vida. Acho inconcebível
uma pessoa não gostar de água.
– Acho que você não conseguiria entender. A água para você é como a brisa para o pássaro. Pelo menos, é o
que parece. Para mim, é difícil entender essa sensação.
– Por que você tem medo? – ele insistiu. –Quem deixou você com medo?
Ela pensou um pouco. Em me lembro o nome dele. Era um dos namorados da minha mãe. Ela teve muitos e
alguns eram legais. Mais esse não era. Ele nos levou à piscina da casa de um amigo. Acho que eu não tinha nem
quatros  anos.  Não  sabia  nadar  e  não  queria  entrar  na  água.  Acho  que,  depois  de  algum  tempo,  devia  estar
irritando todo mundo, pois não desgrudava da minha mãe.
Ela engoliu em seco e olhou para Tristan.
– Então? – perguntou  Tristan suavemente.
– A mamãe tinha entrado na casa para ajudar a fazer sanduíches ou algo assim. Ele me agarrou, Sabia o que ia
acontecer e comecei a gritar e chutar, mas a mamãe não conseguia me ouvir de onde estava. Ele me arrastou até
a beira da piscina e disse: – Vamos ver se ela nada ou não! Levantou– me e me jogou na água.
Tristan fez uma expressão de horror, como se estivesse realmente revivendo a cena.
– A piscina não dava pé para mim. Debati– me, agitando meus braços e minhas pernas, mas não conseguia
colocar o rosto para d‘água. Comecei a sufocar, engolindo a água. Não conseguia respirar.
Tristan olhava para ela, mal acreditando no que ouvia. – E o cara? Pulou na água para te socorrer?
– Não – Ivy levantou– se e andava pela sala como se fosse uma gata agitada. Ella deu uma olhadinha, em sua
boca havia uma bolinha.
– Tenho certeza de que ele estava bêbado. Tudo ficou meio turvo para mim. Depois, totalmente negro. Meus
braços e pernas pareciam tão pesados, e sentia que meu peito ia explodir. Rezei. Pela primeira vez na vida, rezei
para meu anjo da guarda. Então, senti que estava sendo retirada de dentro d‘água.
Meus pulmões pararam de doer e recuperei a visão. Não me lembro de muitos detalhes do anjo; só sei que
brilhava, tinha muitas cores e era lindo.
Ivy olhou para Tristan pelo canto do olho, depois sorriu abertamente. Voltou para perto dele e sentou– se no
chão novamente mantendo o contato visual.
– Não tem problema. Não espero que você acredite em mim. Ninguém mais acreditou. Parece que minha
mãe saiu da casa para ver o estava acontecendo, mas uma amiga virou– se para falar com ela, então ninguém viu
como eu consegui chegar a beira da piscina. Apenas acreditaram que eu aprenderia a nadar após ter sido jogada
na  água  –  sua  expressão  era  de  melancolia.  Parecia  estar  em  outro  lugar,  rememorando  os  acontecimentos
daquele dia.
–Gostaria de acreditar em seu anjo – Tristan deu de ombros. – Desculpe! – já tinha ouvido historias similares.
De vez em quando, seu pai contava fatos parecidos, ocorridos no hospital. Mas, para ele, era apenas um sinal de
que a mente estava trabalhando, pensou; era a forma como algumas mentes reagiam aos momentos de crise.
– Sabe, quando estava lá em cima, no trampolim, na segunda– feira... rezei para meu anjo da guarda.
– Mas eu apareci no lugar dele – salientou Tristan.
– O que foi muito bom – ela respondeu, rindo.
– Ivy... –ele tentou controlar o tremor em sua voz, a fim de que ela não percebesse o quanto esperava uma
resposta positiva dela. – Posso te ensinar a nadar.
Ela arregalou os olhos.
– Depois da aula, o técnico nos daria permissão para usar a piscina.
Suas mãos, seus olhos, o corpo inteiro dela estava tenso e ela não parava de encará– lo.
– É uma sensação maravilhosa, Ivy. Você sabe o que é boiar no meio de um lago, circundando pelas árvores,
olhando para o céu azul? Você só fica lá, deitando na água, com o brilho do sol aquecendo sues dedos. Sabe o
que é nadar no mar? Você nada  forte e a onda te pega e te levanta, sem esforço algum...  Sem perceber o que
estava fazendo, colocou suas mãos em seus braços e a fez ficar de pé. Ela ficou toda arrepiada.
– Desculpe – disse, soltando– a. – Desculpe! Me empolguei demais.
– Tudo bem! – disse, sem conseguir olhar para ele novamente.
Ele ficou imaginando do que ela tinha mais medo – se da água ou dele.
Provavelmente dele, pensou, e não sabia como resolver isso. – Eu te ensinaria de uma forma divertida, assim
como faço com as crianças no acampamento de verão. Pense nisso, está bem?
Ela concordou com a cabeça.
Era  obvio  que  não  sentia  confortável  ao  lado  dele.  Queria  pedir  desculpas  pro  ter  esbarrado  nela  nos
corredores  de  escola,  por  ter  ido  ao  casamento  da  mãe  dela,  por  ter  telefonado  a  respeito  da  gata.  Queria
prometer que não iria mais incomodá– la, esperando que isso a fizesse ficar mais à vontade. Mas ela parecia tão
cansada e confusa; sentiu que era melhor não dizer nada.
–  Vou cuidar muito bem de Ella. Se a situação mudar e você a quiser de volta, ligue para mim. E se quiser
visitá– la, eu não preciso estar por perto, certo?
Ivy olhou com espanto para ele.
–   Bem – disse, levantando–  se, –   às terças e  quintas quem  cozinha sou  eu.  É  melhor começar a fazer o
jantar.
–  O que você vai fazer?
–  Molho de carne com pedaços de fígado. Ah, não, desculpe. Essa é a comida da gata.
A piada não era tão boa, mas fez com que ela sorrisse.
–  Você pode ficar e brincar com ela o quanto quiser.
–  Obrigada.
Depois, foi para cozinha para deixá– la a sós com a gata. Mas antes que tivesse chegado à porta da cozinha,
ouviu– a dizer: –  Adeus, Ella. Batendo a porta da frente atrás dela.
***
Quando Ivy saiu do vestiário, Tristan já estava dentro d‘água.
O técnico tinha lhe dado permissão para ficar na parte fechada da piscina. Ela esperava que ele tivesse olhado
para ela e dito, incrédulo:  –  Você está dizendo que não sabe nadar? – mas seu rosto, que era comprido e cheio
de marcas de expressão, parecendo uma uva passa, era gentil  e nada indagador. Cumprimentou– a e voltou para
a sua sala.
Ivy demorou  uma semana para se decidir. Ela nadava em seus sonhos:  em algumas noites chegava a nadar
quilômetros de distancia. Quando disse a Tristan que queria aprender, os olhos dele se iluminaram. Ivy estava
certa de que ele não estava interessado nela de alguma forma especial: de acordo com Suzanne, ele estava saindo
com  outras  duas garotas. Ma sentia que ele era  seu amigo.  Ajudou– a a sair do trampolim, ficou com Ella, e
agora  a ajudava a enfrentar seu maior  medo – estava sempre por perto quando precisava,  de uma forma  que
nenhum outro rapaz jamais esteve, como um amigo de verdade deve ser.
Ela estava vendo– o nadar. A água passando por seu corpo másculo: erguendo– o enquanto ele se movia de
forma suave e poderosa por entre ela. Quando passou a nadar borboleta, seus braços pareciam asas saindo da
piscina, parecia musica aos seus ouvidos – forte, cadenciada, graciosa.
Ivy ficou um bom  tempo olhando para ele, estão lembrou– se da razão de estar ali. Andou até a borda da
piscina,  na  parte  rasa  e  ficou  olhando.  Depois,  sentou–  se  e  colocou  as  pernas  na  água.  Estava  quente  e
tranqüila. Mas,  mesmo  assim, ela estava morrendo de frio. Batia  os dentes  e resolveu abaixar um pouco mais
dentro da água, ficando bem na altura do pescoço. Ficou imaginando a água chegar em sua garganta, sua boca.
Então, fechou os olhos e segurou– se na borda, tentando conter o medo que a dominava.
Anjo das águas, rezou, não me abandone. Confio em você, anjo. Estou em suas mãos.
Tristan parou de nadar. –   Você veio. E já entrou.
Ele estava tão contente que, por um momento, um momento bem breve, ela esqueceu– se de seu medo.
–  Como você está se sentindo?
–  Bem. Você não se importa se eu ficar parada aqui, tremendo, não é?
–  Você vai se aquecer movimentando– se.
Ela olhou para a água.
–  Venha, vamos passear – pegou  na mão dela e caminharam juntos pela piscina, como se estivesse em um
shopping, apesar de que, dentro da água, cada passo parecia ser dado em câmera lenta.
–  Você quer que eu fale sobre Ella e o caos  que ela está causando na minha casa?
–  Claro. Ela achou aquele pedaço de frango enfiado no armário da TV?
Tristan  ficou  espantado  por um  momento,  depois  se  recompôs. –  Claro. Logo após ter espalhado toda a
bagunça que eu escondi atrás do sofá – ele contou várias histórias sobre Ella, caminhando para lá e para cá na
parte rasa da piscina.
Quando pararam, disse: –  Acho melhor você molhar um pouco o rosto agora.
Ela temia esse momento.
Ele pegou um pouco de água com as mãos e jogou na testa e nas bochechas dela, como se estivesse dando
banho em um bebê.
–  Faço isso quando tomo banho – Ivy disse, sarcasticamente.
–    Desculpe–  se  Srta.  Nível  Avançado.  Vamos  para  o  próximo  passo.  Respire  fundo.  Quero  ver  você
olhando para mim debaixo d‘água. O cloro vai incomodar um pouco, mas quero ver esses olhões verdes abertos
e  umas bolhinhas saindo do  seu  nariz.  Prenda  o  fôlego  antes  de entrar  na  água  e solte–  o  quando  estiver  lá
dentro.  Entendeu?  Um, dois, três.   Ele  a  puxou para  dentro da água. Mergulhavam e voltavam à superfície, a
cada vez ele a segurava um pouco mais dentro da água, fazendo caretas para ela.
Ivy voltou à superfície, tossindo por ter– se engasgado.
–  Bem, se você não consegue seguir instruções tão simples...
–  Você está me fazendo rir. Não vale se você me faz rir.
–  Tudo bem. Vamos ficar sérios. Mais ou menos sérios.
Ele a ensinou como deveria respirar ao nadar, fingindo que a água era um travesseiro, virando a cabeça para o
lado para inspirar. Ela  praticou,  segurando  a borda da piscina. Então, ela pegou  em suas  mãos e  a levou pela
água. Instintivamente, ela  começou  a bater os  pés  para manter–  se na  superfície.  Teve vontade  de levantar a
cabeça para olha para ele, quando o fez, viu que sorria para ela.
Treinaram esse movimento por um tempo. Depois de treinar na borda, brincaram de trenzinho. Ele fez com
que ela segurasse seus tornozelos e o seguisse pela água: ele batia os braços e ela os pés. Ficou impressionada
com a facilidade com que a puxava pela piscina só com a força dos braços.
Quando pararam, perguntou a ela: –  Está ficando cansada? Quer sentar um pouco lá fora?
Ivy balançou a cabeça negativamente. – Se sair, não sei se consigo entrar novamente.
–  Você é corajosa.
Ela riu: –   Estou em pé na água que só bate nos meus ombros e você me acha corajosa?
–  Sim – nadou em volta dela. – Ivy, todo mundo tem medo de alguma coisa. Você é uma das poucas pessoas
que enfrenta seu medo. Mas eu sempre soube que você tinha coragem. Percebi logo no primeiro dia, quando te
vi na lanchonete deixando para trás a líder de torcida que, supostamente, você deveria estar seguindo.
–  Estava com fome. E aquilo era tudo encenação.
–  Mas você mandou bem.
Ela sorriu e ele também, seus olhos da cor do mel iluminaram– se e as gotas d‘água em seus cílios brilharam.
–  Certo. Quer boiar de costas?
–  Não Mas vou.
–  É fácil – Tristan alongou– se na água e boiou, par ecendo inteiramente relaxado, –  Está vendo o que estou
fazendo?
Está maravilhoso, pensou, agradecendo aos anjos por ele não poder ler sua mente tão bem quanto Beth.
–  Estou mantendo o quadril para cima, arqueando as costas e deixando o restante relaxado. Agora, tente.
Tentou e afundou. Sentou o velho pânico retornar por um momento.
–  Você sentou. Desse jeito você afunda. Tente de novo.
Quando ela deitou, ele colocou braço embaixo dela. – Isso, não se contraia. Arquei as costas. É assim que se
faz – disse, tirando o braço debaixo dela.
Ivy levantou a cabeça e afundou novamente. Ficou em pé com a cara brava. Seu cabelo molhado sai para fora
do rabo de cavalo, caindo pelo pescoço.
Tristan riu. – Se um dia Ella ficasse molhada, ficaria exatamente assim.
–  Qualquer criança consegue fazer isso!
–   Crianças conseguem  fazer  várias coisas, porque confiam. O truque para conseguir nadar é não  resistir à
água. É  se  deixar  levar  por  ela.  Brincar com ela. Entregar– se a  ela.  Que  tal tentarmos  novamente? – disse,
jogando um pouco de água nela.
Ela se deitou. Sentiu o braço dele embaixo de seu corpo. Com uma das mãos, gentilmente forçou a ca beça
dela para baixo. A  água abatia na  sua testa e  no seu  queixo,  Ivy fechou os olhos e  se deixou levar pela água.
Imaginou– se no meio de um lago, com os raios do sol iluminando a ponta de seus dedos.
Quando  abriu  os  olhos,  viu  que  ele  a  observava.  O  rosto  dele  era  como  sol,  mantendo–  a  aquecida,
iluminando o ambiente ao seu redor. – Estou flutuando – disse, baixinho.
Você está flutuando – disse suavemente, aproximando u pouco mais o rosto.
–   Flutuando... – estavam lendo  os lábios  um do  outro  seus  rostos  ficando cada vez mais  perto, cada vez
mais, cada vez....
–  Tristan!
Tristan se endireitou e Ivy afundou.
Era o técnico, gritando da porta da sua sala. – Desculpe interromper – gritou. – Mas tenho de ir embora em
dez minutos.
–  Tudo bem, professor –  disse Tristan.
–  Vou ficar até mais tarde amanhã – disse, saindo da sala. Talvez possam continuar de onde pararam.
Tristan olhou para Ivy. Ela deu de ombros e concordou com a cabeça, mas sem olhar nos olhos dele.
–  Talvez – disse.

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