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6 - BOSQUES
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NÃO CONSEGUI DORMIR NAQUELA NOITE. TINHA MEDO de que
houvesse uma sanguessuga do lado
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de fora da
minha janela. Tinha medo
de que
ela tivesse pronta para
pular pela janela e
então rastejar par a
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dentro do
quarto, usando seus sensores de
hemoglobina para descobrir onde
todo o meu
sangue estava. O
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problema em exalar um
belo aroma de sangue é que todo
mundo vai querer um pouco.
Levantei e fechei a
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janela.
Mas isso somente
causou uma nova
onda de temores,
porque o aconteceria
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se a sanguessuga
já
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estivesse no
quarto?
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O que aconteceria
se Edwart estivesse
mancomunado com ela, e a sanguessuga
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fosse
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meramente
um pau-mandado dele,
escondendo-se embaixo da
minha cama ate
que eu adormecesse? Uma
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coisa era Creta – eu não a impediria de fazer o seu
trabalho. Esse não era o modo de fazer a minha parte pela
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economia. Escancarei a janela e voltei para a cama.
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Fiquei me revirando durante alguns minutos. Por sorte,
minha distraída mãe havia se lembrado de colocar a
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injeção de tranqüilizante que eu costumava usar nela
quando ela estava de mau humor. Apliquei-a em mim e
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cai num sono profundo. Ela também havia colocado na
mala nosso video cassete e o seu anel de diamantes.
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Apesar do tranqüilizante, eu ainda estava nervosa na
manhã seguinte. O que Edwart ia fazer comigo? Estaria
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me colocando em grave perigo? Por que uma sanguessuga sugando meu sangue me
aborrecia, mas não um
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vampiro? Mais importante, como iria conciliar o fato
de usar um vestido de baile e, ao mesmo tempo, parecer
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despreocupada
com minha aparência?
Terminei trocando o vestido
do baile por uma camisa convencional,
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mas uma camisa convencional de menina. Você podia
dizer isso pelos bolsos.
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Escutei uma batida na porta e inspirei profundamente.
Como Edwart er a gentil em bater, na porta e inspirei
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profundamente arrebentar a porta. Eu a abri cheia de
expectativa.
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Era o carteiro, sorrindo para mim com aquele típico
sorriso de Switchblade.
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- Oi – ele disse. – Tempo agradável, não?
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Desvie-me sem jeito. Sentia-me confortável falando de
um monte de coisas, mas não sobre o tempo. Eu não
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entendia
muito da terminologia, pois
havia perdido a
aula na qual
você aprende sobre
as condições
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atmosféricas variáveis.
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- Sim, o sol está brilhante hoje – conjecturei,
hesitante.
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- Bem, diga a seu pai que eu disse alô.
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Foi quando finalmente compreendi. Ele estava
apaixonado por mim. Estava tudo lá – a campainha, a posição
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da porta, a exibição
de seus conhecimentos sobre o
clima. Será que não havia outras meninas nesta
cidade
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com quem dividir a responsabilidade de provocar
paixões?
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Apanhei a única carta que ele tinha para nós. Era da
Companhia de Gás e Eletricidade de Switchblade. Não
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imaginava que tivesse admiradores por lá também, mas
não fiquei tão surpresa. Atirei-a no cesto de lixo com
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as cartas de amor da receita Federal e fechei a porta
sem responder.
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Fui para a cozinha tomar um café da manha antes que
Edwart chegasse. O café da manha é a refeição mais
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importante
do dia, e
este era o
meu dia mais
importante do ano.
Tomaria dois cafés
da manha em
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reconhecimento a isso.
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Papai estava na cozinha, como sempre, com dificuldade em mexer nas gavetas. Ele nem conseguia colocar
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seu próprio cereal na tigela! Eu ficava imaginando
como ele havia consegui viver sozinho antes de chegar.
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- Aqui está uma
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tigela,
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pai – eu disse.
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- Uma o quê?
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- É como um
prato, mas com lados – expliquei.
Quando a tirei para fora do guarda-louças,
acidentalmente
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arremessei-a na direção do ventilador de teto. Peguei
outra tigela e dei para meu pai. Ele ficou para ela até eu
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derramar o cereal dentro.
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- Aqui, pai. Aqui esta a colher. Coma seu cereal com a
colher.
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- Obrigado,
Belle – ele disse com sinal de
apreço. Ele era muito sem noção,
mas pelo menos conseguia se
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alimentar
sozinho, o que
eu não podia
dizer da minha
mãe. Eu costumava
fazer aquela coisa
de olha o
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aviãozinho para alimentá-la, mas
então um avião caiu perto de
nossa casa e
isso a assustou. Depois disso,
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passei a imitar carros voadores, o que grosseiramente
o mesmo som, mas num registro mais baixo.
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- E então, Belle, o que há de novo hoje?
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- Pai – eu disse, agarrando suas mãos e olhando
diretamente em seus olhos – Estou sentindo o mais profundo
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amor que já houve na historia do mundo.
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- Meu Deus, Belle. Quando alguém te pergunta o que há de novo? , a resposta correta
nada demais . Alem
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disso, não é um pouco cedo demais para afastar-se do
resto de seus colegas, dependendo de
namorado para
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satisfazer suas necessidades sociais em vez de
fazer amigos? E imagine o que aconteceria se alguma coisa
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forçasse o garoto a partir! Estou imaginando páginas e
páginas do que aconteceria, com nada alem de nomes
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de meses sobre elas.
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- Se
Edwart algum dia se fosse,
encontraria outro monstro para
sair comigo. Você
sabe que não
gosto de
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pessoas reais. Não tenho habilidades sociais – eu
disse. – Puxei de certo modo – sorri generosamente. Eu não
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era geralmente assim emocional com ele, e em senti
bem.
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Minha
mente saltou para minha
preocupação principal. Precisava que
ele saísse de casa
– pais são muito
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prejudiciais quando namorados aparecem. Tive muitas
experiências com isso antes em Phoenix, onde minha
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mãe sai de casa sempre que um menino aparecia,
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forçando-me
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a encontrar uma maneira de entretê-lo quando
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era ela quem o tinha convidado em primeiro lugar.
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- Ei, pai – eu disse. – Por que não vai pescar?
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- Sim, acho que devo ir pescar hoje. Ou não era hoje?
Eu achava que era hoje. Eu esqueço!
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- Era hoje
– afirmei, militar-estrategicamente. –
Por que você
não experimenta o
lugar de pescaria
mais
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distante? Dessa maneira, chegaria em casa mais tarde.
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-
Parece-me uma idéia muito
boa! – disse ele. – talvez eu
leve aquele amigo de cadeira de
rodas comigo.
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Gosto de pescar o dia todo quando você esta em casa –
ele disse ao sair. – não estou acostumado a dividir uma
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casa com outra pessoa. É exaustivo!
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Então era isso. Jim
estava fora de casa e não se
importava que eu tivesse planejado ver
Edwart. Ninguém
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mais poderia saber que estávamos indo a um encontro,
no entanto eu precisava proteger Edwart em caso de
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algo acontecer. Além disso, nunca tinha saído com um
cara fogoso assim antes, então enviei um email vago
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para toda a classe dizendo Edwart Mullen e Belle Goose estão
totalmente juntos .
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De
repente, escutei uma
batida na porta.
Espiei através do
buraquinho, que como
minha mãe e eu
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chamávamos o olho mágico porque a palavra olho
provoca nela um ataque de riso.
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Era Edwart.
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- Só um
segundo! – gritei,
agarrando umas revistas
e correndo para
o banheiro. – Tenho
algumas coisas
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humanas pra fazer – disse.
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O banheiro era onde eu guardava o espremedor de suco.
Espremi alguns
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grapefruits
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em cima de minhas veias
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para obter meu odor característico extra-apetitoso de
sangue.
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- Belle – ele disse, quando finalmente abri a porta da
frente.
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- Edwart – repliquei, demonstrando que eu, também,
tinha passado uma hora em meu quarto,
memorizando
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seu nome.
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De
repente, ele começou
a rir. Teria
eu dito alguma
coisa engraçada? Ou
ele? Quanto tempo
eu estive
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atordoada, lentamente tomando consciência de que me
mataria só por causa de uma risada.
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Mal sabiam eles
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que eu estava organizando uma rebelião.
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- Estamos
usando as mesmas
roupas – ele disse.
E era verdade. Ele
também estava vestindo
uma camisa
|
|
branca convencional. De fato, uma camisa convencional
de mulher. Ele também estava usando um
clipe de
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cabelo que parecia um pouco feminino. Ri também, e
então parei quando vi que ele parecia melhor que eu, e
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então voltei a rir porque tudo o que eu queria er a
que ele fosse feliz.
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- Vamos, Belle. Existe uma coisa que quero te mostrar.
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- Aonde estamos indo?
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- A um lugar
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arriscado.
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- Itália? –
perguntei, com base
em fundamentos. Apensar
dos Italianos serem
conhecidos por sua
pele
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bronzeada e sua cozinha carregada de alho, eu sabia,
graças ás minhas pesquisas, que a família mais poderosa
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de vampiros havia decidido viver lá pra sempre.
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- Você verá – disse ele, misteriosamente. – Ah, Belle,
acho que seria melhor você trocar seus sapatos por uns
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mais resistentes.
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Olhei para os meus pés. Mais resistentes que minhas
galochas especiais á prova de fogo? Acho que tinha um
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par de botas de caminhada.
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- Você nunca
sabe o que
estará á espreita
a quilômetros e
quilômetros de planalto
cheio de mato...-
ele
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acrescentou,
soltando outra pista-chave. –
Você também vai precisar de um tanque de oxigênio, uma tenda,
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|
rações para uma tarde e seu próprio
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sherpa
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Vamos escalar a montanha do morto.
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Estremeci.
Cada parte do
meu corpo me dizia
para não embarcar nessa aventura
– cada parte
menos meu
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coração, que realmente precisava de exercício.
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- Mas Edwart, não tenho nenhuma dessas coisas.
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- Nem eu
Belle – ele de
um passo adiante
e inspirei seu
perfume almiscarado, ensopado
de Axé. –
Sem
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oxigênio não serei um problema só para mim lá em cima.
Serei uma responsabilidade para
|
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você.
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Ele fez uma pausa. Arregalei os olhos de medo, uma boa
maneira de encobrir um terrível silêncio que você
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não sabe como preencher .
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- Vê como
é arriscado? –
ele continuou. –
Levar você lá
para cima sem
tomar nenhuma precaução
de
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segurança, como minha medicação contra ansiedade?
Você, responsável por minhas ações pelo resto da tarde?
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– ele cambaleou, embriagado.
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Concordei com determinação.
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- Meu bem-estar emocional depende demais de você para
eu ficar longe.
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- Graças a Deus –
ele disse. – Eu preferia,
no entanto, que
você tivesse me dito
isso antes de jogar
meus
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remédios na privada. Eu realmente desejava que você
tivesse me dito isso antes – ele me atirou uma pequena
|
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rede. – se a qualquer momento, enquanto estivermos
subindo, eu me arrastar para dentro da vegetação ou para
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outro espaço misterioso, simplesmente pendure a rede
em seu ombro e me balance por um tempo.
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Coloquei-a em minha bolsa e destranquei meu caminhão.
Dei um passo para abrir a porta e imediatamente
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caí.
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Tão
|
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Belle.
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- Você parece exausta – disse Edwart, enquanto
entravamos no carro.
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- É, não consegui dormir tão bem a noite passada.
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- Nem eu – disse ele, enquanto saíamos apressadamente.
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- Sim, aquelas sanguessugas noturnas estão se tornando
uma preocupação grande, não estão?
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- Oh, Belle – ele riu suavemente. – Quando você fala
assim, fico com medo e, se continuar a fazer isso, serei
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obrigado a notificar as autoridades – sua risada era
como o canto de milhares de sereias másculas.
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Encostei o carro no estacionamento no fim do nosso
quarteirão.
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- Aqui estamos – anunciei. – O início da trilha do
Morto.
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Saltei do carro, inflei minha bola para exercícios de
estabilidade do tronco e comecei meus alongamentos.
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- Seu pai se importaria se fossemos por essa trilha? –
Edwart perguntou. – Nesta estrada?
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- O que Jim não sabe não o afeta – joguei meu estomago
sobre a bola e fiz o alongamento em que você a deixa
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ir aonde ela quer.
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- Você não diz a seu pai onde vai estar? Nossa, Belle!
Não sei se posso assumir esse risco! – ele começou a
|
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ficar ofegante e seu nariz esguichou sangue. – Ótimo.
E agora, isto – disse ele, segurando o nariz, com uma
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voz anasalada como a de Alvin, o Esquilo.
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Eu o coloquei sobre a bola e apoiei sua cabeça contar
ela.
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- O que aconteceria se você não chegasse em casa antes
do jantar? – ele continuou a dizer durante. – O que
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acontecera se Jim não fizer um prato extra pra você porque pensa que você
já comeu?
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Então
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, onde de você
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estaria?
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- Ele sabe que estou você.
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- Isso será de pouca utilidade quando estivermos
abandonados na estrada. Para sempre. É uma boa coisa meus
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pais terem inserido um chip no meu braço que lhes diz
onde estou e lista as maneiras possíveis de como eu
|
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poderia me perder.
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- Sinto muito – eu disse, mas não sentia de fato.
Quando caras rangem os dentes e franzem as sobrancelhas
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numa expressão preocupada, furiosa, isso significa que encontraram sua
alma gêmea. Além disso, sua raiva
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tinha posto suas glândulas sudoríparas hiperativas
para funcionar, fazendo-o rasgar sua camisa. Quando ele se
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levantou para caminhar pela estrada, agachando-se aqui
e ali para examinar o terreno, a musculatura de seus
|
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braços vibrava como bastões de queijo provolone.
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No céu, havia uma única nuvem, pequena como um disco,
cobrindo precisamente o sol. Olhei
detidamente
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para Edwart.
Ocorreu-me que nunca o tinha
visto á luz direta do sol. E, bem interessante, eu nunca o tinha
|
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visto
brilhar. Poderiam as
duas coisas estar
relacionadas?Eu tinha teoria
de que a
luz do sol
alterava
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drasticamente a aparência de um vampiro; assim como a
luz verde os fazia parecer doentes.
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- Estou pronta, quando você estiver – eu disse, minha
pele descascando no calor (mas, significativamente, não
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luminoso)
quente. Edwart voltou-se
e eu gritei.
Novamente, ele estava
vestindo o mesmo
que eu: uma
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blusinha branca, justa. Como não tinha percebido isso
quando ele chegou? Algumas vezes, o manto que minha
|
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Entretanto, Edwart tinha feito alguns melhoramentos. Ele havia cortado a camisa
pelo meio e aplicado um
|
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zíper, que ele agora abria ate seu umbigo. Sua carne
nua brilhava translúcida, revelando as veias azuis sobre
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seu peito com
dois pelos. A
camisa ajustava-se perfeitamente á
sua barriga côncava,
destacando todas as
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|
costelas protuberantes, não deixando nada para a
imaginação. Seu pescoço irradiava como um deus por cauda
|
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de todos
os diamantes falsos que ele
tinha colado no decote do seu top. Baixei os
olhos para minha camisa
|
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simples sem zíper. Estava começando a me cansar do
método competitivo de cortejar de Edwart.
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Vamos ver
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quem vence na corrida de sacos de batata, pensei
maliciosamente. Venho praticando há anos.
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- Vamos, ele disse – começamos a subir a estrada para
a montanha do Morto. A estrada fazia curvas em torno
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de bosques em
aclive. Nos bosques,
vimos alguns besouros e
vermes. Menciono isso porque, agora
que os
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mamíferos fizeram fugir o pouco que a natureza cria
perto da civilização, temos de nos animar com as coisas
|
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pequenas.
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Edwart continuava consultando seu mapa para que não
nos perdêssemos. Quando nos perdemos de fato, ele
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teve a clareza mental de pegar sua tenda para que
pudéssemos acampar pela noite. Então, tirei meus binóculos
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e encontrei o topo da colina, 20 metros a nossa
esquerda. Seguimos adiante ate a estrada chegar a uma parada
|
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abrupta no meio de um campo. Um carro vinha subindo,
parou e fez meia-volta. Saltei para o meio do campo
|
|
e
continuei saltando e saltando
por ali. Nunca tinha me sentido tão
livre. Nunca tinha cantado o tema de
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|
A
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|
Noviça Rebelde
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em voz alta. Era belo. Havia maravilhosas ervas
daninha em toda parte, além daquelas flores
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amarelas que, quando assim, parecia estranhamente
familiar.
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- É o meu quintal? – perguntei.
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Edwart estava de pé, recostado contra uma arvore dos
bosques que bordejavam o prado.
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- Não, Belle. Estamos pelo menos a cinco minutos de
sua casa.
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- Oh – repliquei. Eu era muito ruim em estimativa.
Isso era uma coisa estranha, mas tudo parecia tão familiar
|
|
que eu adivinhei
que milhões de
garotas no mundo
todo poderiam se
identificar com isso.
De repente
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|
envergonhada,
olhei para Edwart,
que estava na
sombra, observando-me prostrada em
reverencia aos oitos
|
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espíritos do vento.
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- Não havia
uma coisa que
você queria me mostrar? – lembrei-o. Algo sobre o
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|
Elasticidade de Preços?
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–
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perguntei, sua deslumbrante transformação á luz do
sol.
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- Oh! Certo. Feche os olhos e conte até cem.
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Fechei os olhos e contei extravagarosamente, um
mississippi, dois mississippis, três mississippis... . Então,
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distraí-me e comecei a pensar sobre o mississippi.
Haveria vampiros no mississippi? Chovia lá? Por um breve
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segundo, esqueci que numero vinha depois de 79.
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Depois de ter
contado até cem por dez vezes
seguidas, começando de novo
todas as vezes em que Edwart
|
|
gritava ainda
não , abri os olhos e fiz uma aba com a mão para protegê-los de sol, que
agora estava bastante
|
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exposto no céu claro. O que vi me desnorteou. Edwart
estava de pé no meio do campo, todo iluminado. Sua
|
|
pele tinha se
transformado num tom
de vermelho caro
de bombeiros, e
o suor pingando
de cada poro
|
|
intensificava a ilusão de sua cabeça fosse um tomate
brilhante.
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|
Em sua mão havia uma pá, e a seus pés, um buraco.
|
|
- Isso é o quero te mostrar – ele disse.
|
|
- Já estou familiarizada com Besouros – eu disse,
habilidosamente atirando um para dentro da boca.
|
|
- Ouça, Belle. Esse é um segredo que só posso confiar
a você – ele inclinou-se para o buraco e arrancou de lá
|
|
um andróide de formato humano. – Ainda está com medo?
|
|
- Não. É belo – dei um passo adiante para tocar seu
braço, Edwart ficou rígido.
|
|
- Desculpe – ele disse. – Não estava preparado para o
seu movimento. Quando se está ás voltas com andróides
|
|
o dia todo, você se acostuma a controlar quando e como
as pessoas se movem. Toda essa coisa de interação
|
|
humana, bem... leva um tempo pra você se adaptar.
|
|
- Esta tudo bem – então eu era o único humano com qual
Edwart tinha contato. Caminhei na direção daquilo
|
|
mais vagarosamente, tentando fazer justiça
humanitária. – O que é isso, exatamente?
|
|
- É um andróide
movido a energia solar anatomicamente
correto. Eu o mantenho neste
prado ensolarado e
|
|
isolado
para que possa
se carregar tranquilamente sem
temer que aqueles
rivais da Competição
Anual de
|
|
Robótica o seqüestrem. Depois, eu o desligo e o
enterro por precaução.
|
|
- O que ele faz?
|
|
- Permita-me demonstrar – ele ligou o robô, e os seus
olhos brilharam com uma luz vermelha. Ele ergueu-se
|
|
devagar cada junta entrando em seu devido lugar.
Quando alcançou sua altura total, sua cabeça voltou-se na
|
|
minha direção. Então, ele caiu para trás no chão, como
um suflê arruinado, antes de começar a se levantar de
|
|
novo, outra vez e outra vez?
|
|
- É. Veja sua luta.
Olhe quantos músculos
sintáticos ele tem
que usar. O
corpo humano é
uma coisa
|
|
extraordinária – ele tocou minha mão. – Sinta quão
suave fiz sua pele.
|
|
Quando ele puxou minha mão, inclinei-me, hipnotizada
pela face de Edwart. Meus lábios foram atraídos para
|
|
mais perto de sua boca cheia de aparelhos dentais.
|
|
- Ahhhhh!
|
|
Edwart estava
rolando no chão, os braços
esticados como um
rolo de abrir massa.
Minhas ações rápidas o
|
|
tinham apanhado de surpresa outra vez.
|
|
- É minha culpa
– ele uivou, ainda rolando. – Não posso
beijá-la ate que estejamos
saindo oficialmente. É
|
|
parte das
Regras – ele parou de rolar e
sentou-se, sua respiração agitada quando se levantou – Isabelle. Isa.
|
|
Izzy. Belly
|
|
- Belle. Você vai sair comigo? Não quero dizer
fisicamente, podemos permanecer dentro de casa
|
|
11
|
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e trabalhar no website que promove este robô o quanto
você quiser. Quero dizer hipoteticamente. Quer dizer,
|
|
se você fosse sair para algum lugar com alguém, esse
alguém seria eu. E o lugar seria uma casa de fliperama.
|
|
Olhei dentro dos olhos dele e vi a coisa que ele não
conseguia dizer: Todos os momentos em
que olho pra
|
|
você preciso de toda minha disciplina para não tomá-la
em meus braços e beber da fonte do seu pesco.
|
|
- Não estou com medo de você, Isa-Edwart – eu disse,
falando seu nome completo tão suavemente quanto ele
|
|
havia dito o meu.
|
|
- Verdade? Você ainda não está com medo de mim? Eu te
asseguro, sou um cara incrivelmente assustador!
|
|
- Ele ficou ali de pé por um minuto, pensando, e então
saiu correndo pelo campo.
|
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- Como se você pudesse correr mais do que eu! – ele
gritou.
|
|
- Como se você pudesse lutar mais do que eu! – ele
esmurrou o ar.
|
|
- Como se você pudesse subir mais alto do que eu! –
ele abraçou-se a uma arvore e tentou envolve-la com as
|
|
pernas, antes de cair no chão e trotar de volta para
mim, colocando suas mãos na cabeça
para maximizar o
|
|
fluxo de Oxigênio.
|
|
-
|
|
Agora
|
|
está com medo?
|
|
Agora
|
|
vai sair comigo?
|
|
Isso me pegou
de surpresa. Pedir
permissão era algo
que somente cavaleiros
de séculos passados
faziam.
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Então lembrei-me de quão velho Edwart realmente era –
que há centenas de anos ele conviveu com Napoleão
|
|
e Jesus.
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- Sim, Edwart. Sim – eu estava tão atraída por ele que
poderia ter feito xixi nas calças, mas já algum tempo eu
|
|
não fazia mais isso. Eu era mais velha agora e
dominava meus sentimentos em momentos como este abrindo e
|
|
fechando meus punhos bem rápido.
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|
- Ótimo! – ele disse, e então olhou fixamente para
mim. Olhei de volta para ele. Deitei-me sobre a relva. Ele
|
|
deitou-se
ao meu lado. Imprimimos nossas formas sobre a
grama em movimentos
sincronizados. O tempo
|
|
voou como se fosse um sonho.
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|
- Belle – ele disse. – É hora de ir.
|
|
- Já?
|
|
-
Passaram-se cinco horas.
Ficamos deitados na grama
olhando um para
o outro durante
cinco horas. Por
|
|
favor... preciso mesmo ir para casa.
|
|
Concordei sonolenta.
|
|
- Você acha que poderia me carregar nas costas até o
carro com sua super força? Nem todo mundo pode correr
|
|
através de uma floresta densa a mais de 160 km/h, você
sabe.
|
|
- Mais de 160
km/h? caramba – ele
murmurou, mas respirou
fundo – O.k. Belle. Mais de
160 km/h, aqui
|
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vamos nós – ele tirou um saco de dormir de dentro da
sua mochila de acampamento.
|
|
- Feche os olhos e ponha seus braços em torno do meu
pescoço.
|
|
Fiz o que ele pediu. A principio, senti que nós
estávamos abaixando até o chão, rapidamente. Então, tive a
|
|
sensação
confortante de maciez
embaixo das panturrilhas. Edwart
remexeu o traseiro
e lá fomos
nós,
|
|
acelerando colina abaixo.
|
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Quando me senti segura o suficiente par a abrir os
olhos, meu caminhão estava á nossa frente.
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Edwart estava de pé, tirando o pó de cima da sua
roupa. O sol havia se posto, mas imaginei ter percebido um
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fraco reflexo de vermelho ardente assombrando a pele
dele.
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- Leve-me até
o carro, por
favor. O motor
zumbiu gentilmente, harmonizando-se com
o súbito ataque
de
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roncos de Edwart. Olhei para o doce vampiro, a baba
escorrendo de sua boca aberta pelas suas bochechas. De
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repente, ocorreu-me que, depois de
toda aquela dança saltitante nos prados, ele não tinha me beijado. Teria
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o fungo fosse derramar gordura fervendo no meu nariz,
massacrando suas colônias? Ou ele estava aborrecido
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porque, profundamente em meu coração, eu considerava o
fungo parte de mim?
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Não. Ele não poderia saber disso. O fungo no nariz era
um segredo que eu carregaria comigo até a cova.
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A cova!
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Não havia escapatória. Um dia, eu morreria numa bela
explosão, mas Edwart continuaria vivendo.
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Talvez fosse por isso que ele não tinha me
beijado. Talvez não pudesse
suportar estar ligado a uma pessoa
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tragicamente destinada a se transformar num milhão de
partículas brilhantes.
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Olhei para seu corpo pequeno curvado no assento de
passageiros. Dentro de um ano, eu completaria dezoito,
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mas Edwart ainda teria dezessete. Ele ainda teria a
estrutura física de um menino de doze anos, mas eu teria
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pelancas, gordura pós-parto e reumatismo.
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Não podia culpá-lo
por não querer
me beijar. Quem
iria querer beijar
um par de
lábios que, a
qualquer
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momento, poderiam se transformar num velho e enrugado
monte de pó?
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A menos que
eu, também, tornasse-me
uma vampira!
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Nada
afastaria os lábios
de Edwart dos
meus se
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fossemos
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ambos
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imortais. Tudo
o que
Edwart tinha de
fazer era me
morder e ele
nunca mais teria
de se
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preocupar sobre as belas memórias que eu perderia para
o Alzheimer na época da faculdade.
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Sobre três coisas eu estava absolutamente certa.
Primeira, Edwart talvez fosse, muito provavelmente, minha
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alma
gêmea. Segunda, existia
uma parte do
vampiro dentro dele
– que eu
presumia que estivesse
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completamente
fora de seu
controle – que
queria me ver
morta. E terceira,
eu incondicionalmente,
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irrevogavelmente, impenetravelmente,
heterogeneticamente e ginecologicamente desejava que ele tivesse me
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beijado.
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