domingo, 2 de dezembro de 2012

Capítulo 5 (Opúsculo-A Paródia)


5 - COMPRAS
- Então, o que acha deste vestido, Belle?
Eu  estava numa  cadeira  dura  de  madeira  num  cubículo  do lado  de fora dos  vestiários da loja,  cercada  por
cetim stretch de todos os lados. Estava surpresa pela velocidade com que as outras meninas haviam se rendido,
oferecendo  seus  corpos como  abrigo  ao inimigo  parasitário: vestidos  de  festa.  Sobriamente,  percebi  que  o
combate era inevitável. Faria o que fosse necessário para proteger minha espécie.
- Muito satisfatório, Lucy – eu disse cautelosamente, não querendo revelar o quanto eu sabia.
- E o que acha deste? – perguntou Angélica.
- Que ele evidencia a massa cinzenta em seu cérebro humano – eu respondi naturalmente, como se ela tivesse
um.
Angélica enrugou a sobrancelha e me deu um olhar desconfiado. Seu parasita estava interessado em mim. Eu
tinha de agir depressa.
- Angélica, eu posso te fazer uma pergunta muito pessoal, pois confio em você como amiga?
- Claro.
Tentei pensar em alguma coisa que amigas normalmente perguntam umas às outras.
- Alguma vez você ficou preocupada que a contagem de suas células brancas pudesse ser mais baixa que a de
suas amigas? Quero dizer, claro, seu sistema imune é bom, mas será que é o melhor?
Ela  ajeitou  nervosamente  seu  cinto.  Minha  tática  estava  funcionando.  Decidi  atingi-la  com  outra  questão
íntima, forçando o parasita para fora com o poder do discurso humano.
- Não é estranho que garotas tenham atração cinquenta vezes maior por homens com caninos afiados do que
os que tem caninos arredondados  e bonitinhos? Quero dizer, como isso é evolutivamente benéfico! Imagino
que seja porque homens com dentes afiados sejam mais confiantes com comida mastigável.
- Edwart tem dentes afiados? – Angélica perguntou. As garotas riram.
- Quem falou isso? Quem disse Edwart? Eu disse evolutivamente benéfico. Não Edwart benéfico. Jesus. O que
é que há, tá apaixonada por ele ou algo assim? Você o acha engraçadinho? Eu não.
- Engraçadinho não. Mas legal. Ele é um cara realmente legal.
- Ele não é um cara realmente legal! – gritei com lealdade. – É um homem muito perigoso!
As meninas trocaram olhares. Lucy trocou um olhar agourento com o olhar sabido de  Laura, e Laura trocou
aquele olhar pelo olhar carregado de Angélica.
-  Bem,  ele é estranhamente quieto –  admitiu  Laura, astutamente notando  o quão  peculiar era para  um  não
vampiro falar  macio. –  é estranho  quando as  pessoas não  saem por  aí  gritando  quaisquer  palavras e  ideias
semi-formadas que estão incubando em suas cabeças. Isso me dá arrepios.
- Concordo. – disse Lucy. – Ouvi falar que, na antiga escola de ensino fundamental dele, os rapazes maiores
costumavam abusar de Edwart, dia após dia. Até que um dia Edwart decidiu que já era o bastante e bam! Os
meninos maiores bateram nele ainda mais. Depois disso, Edwart entrou numa fase de morder por um tempo
porque, você sabe, ele não conseguia exatamente revidar – ela apertou seu bíceps magro quando disse isso,
implicando  que  Edwart  não  conseguia  revidar  porque  um  único  soco  dele  seria  fatal.  –  É  claro,  -  ela
acrescentou – essa história provavelmente é apenas uma lenda urbana.
- Sim, - concordei – é apenas uma história urbana. – Mesmo assim, eu não podia deixar de lembrar o alerta de
Angélica enquanto os músculos de sua boca estavam esporadicamente fora de qualquer controle consciente.
Cuidado com a coroa.  Coroa  como em  coroa dental ? Tipo, Edwart entraria numa f arra de mordidas de
vampiro depois que o seu dentista tivesse  consertado alguns de seus problemas estáticos? Humm. Eu queria
acrescentar  isso   minha  rubrica  razões  pelas quais  namorar Edwart é  um  esporte  radical e, portanto,  uma
alternativa legal   ginástica .
- Então,  em  que  loja compraremos  em  seguida? – perguntei  enquanto caminhávamos  pelo  shopping. Tinha
visto  uma  loja de  artigos  de cozinha  no caminho.  Será que teriam um livro de  cozinha para vampiros?  Era
engraçado, toda essa preocupação sobre se Edwart era um vampiro e eu nem sabia o que eles comiam.
- Qualquer uma que tenha vestidos de formatura – Lucy respondeu.
Parei de repente.
- Ei, ei, espere aí – eu disse, fincando os calcanhares no chão para resistir ao movimento para a frente, como
Scooby  Doo,  só que ninguém  estava  me  puxando,  então  era  mais como  se eu estivesse  caminhando  sobre
meus calcanhares. – Não existem livros em lojas de vestidos.

-  Estamos  procurando  roupas.  –  Angelica  falou,  tão  casualmente  quanto  eu  diria   bom-dia a  um  vizinho
antigamente.
- Não posso comprar mais roupas, meninas. Sou um modelo para 1,3 milhão de garotas. Tive que provar a elas
que existem mais coisas na vida além de roupas. Existem romances por aí. Histórias românticas para todo tipo
de fetiche com monstros.
-  Certo  –  disse  Lucy.  –  Vamos  nos  dividir.  Nós  três  continuamos  a  fazer  compras  neste  shopping
brilhantemente iluminado e bem frequentado, Belle, você vai por aí sozinha, procurando alguma coisa para ler
pelas vielas escuras.
- Grande plano! Vejo vocês mais tarde – respondi.
- O.k. Encontre-nos em algum lugar por aí mais tarde!
Procurei e  procurei nas  ruas  por material  de  leitura  em vão.  Mesmo as  lojas de  produtos  alimentícios, que
geralmente trazem algumas etiquetas de vinho bem escritas, falharam. Todas tinham apenas pictogramas.
Estava quase desistindo quando vi um brilhante carro de corrida coberto de antenas. Alguma coisa em relação
àquele carro provocou um forte sentimento em mim… senti o impulso de guincha -lo. Nada me irrita mais do
que  um  carro  antes  de  entrar  na  loja   Jogos  de  Computador  e  Elasticidade  de  Preços  para  Caçadores  de
Tempestades . Alguém ia sentir a mão fria da Justiça  hoje.
- Posso ajudá-la?
Um velho pobre coitado com um bafo de onça estava enfiando seu nariz torto e mofado no meu rosto. Senti-
me  mal  por  ele.  Era  tarde  demais  para  sua  vida  causar  um  impacto  em  mim,  Belle  Goose,  baby-sitter
certificada pela Cruz Vermelha.
- Você  por acaso  tem algum jogo  de simulação de vampiro? – eu queria ver o mundo  através dos olhos de
Edwart. – Ou melhor, você tem algum jogo de simulação de Edwart Mullen?
- Bem, não sei sobre esse último, mas temos bastante do primeiro tipo. Temos o jogo de simulação de sono em
caixão de vampiro, simulação de medo de crucifixo de vampiro, simulação de seu sangue humano bebido por
um vampiro, simulação de aparência acima da média como um vampiro completamente normal…
- Oh! Esse último que você falou! É esse.
- Certo, querida. Sente-se na cabine e eu a ajudarei com os óculos 3D.
-  Presumo  que  esses  óculos  também  impeçam  que  o  espírito  de  vampiro  escape  quando  você  desliga  seu
espírito humanos – eu disse, colocando os óculos e os prendendo bem.
- Estes óculos fazem todas as coisas verdes terem sombras vermelhas.
- Certo. E o efeito secundário é que eles transformam você num vampiro.
- Se esse é o personagem que você escolheu, sim. Mas permita-me sugerir Yoshi, um formidável perdedor em
meio a um elenco completamente bem armado.
- Sim, claro, Farei isso – eu disse, dando ao meu personagem vampiro um lançador de mísseis.
Imediatamente  após o  início  da simulação,  comecei a  sentir minha  pele empalidecer e  meu cabelo crescer.
Senti meus dentes se afiando e meu  sangue morrendo. Tive de repente aquele  desejo insaciável.  Um desejo
insaciável por magnésio.
Não, não era isso. Eu queria sangue.
Abri com força a cortina da cabine, minha própria força me surpreendendo enquanto o tecido deslizava sem
esforço para o lado. Eu estava livre e nem mesmo minha moral poderia me deter.
- Você! – eu disse ameaçadoramente, virando-me para o velho. Não tinha nada contra ele pessoalmente, mas
não conseguia me controlar. Ser um vampiro é difícil. Fui invadida por um sentimento de admiração e medo
em  relação  a  Edwart,  um  temor  de  que  ele  não  conseguisse  entrar  no  corredor  da  escola  a  cada  dia  sem
arremessar-se para o pulso da pessoa mais próxima e cravá-lo com seus dentes, como eu estava fazendo agora.
O senhor  era  velho,  mas  forte.  Ele  me  dominou  com  uma terrível torção  de  punho, arrancando-me  fora  os
óculos com cinco gestos vagarosos, mas persistentes.
Quando o espírito do vampiro escapou, rapidamente voltei ao meu estado normal.
- Hã? – sacudi a tontura da minha cabeça e limpei minha saliva do pulso dele. – Esta máquina é louca, velho –
eu o informei.
-  Espero  que  você  tenha  uma  licença  para  isso  –  juntei  minhas  coisas  e  caminhei  para  fora  sem  pegar  o
controle de videogame que tinha comprado. Não daria a ele essa satisfação.
O sol tinha se posto agora e  as  suas estavam assustadoramente silenciosas, exceto  pelo fantasmagórico som
uuuuuu  que fiz para assustar os zumbis – inimigos dos fantasmas. Eu tinha então que neutralizar isso com
barulhos  zumbis  para  afastar  quaisquer  fantasmas  que  eu  pudesse  ter atraído.  Enquanto  vagava  sem  rumo
pelas vielas escuras como piche, tive o sentimento divertido que estava sendo observada. Escutei farfalhar e o
som distinto de um controle de videogame Sega flutuando no ar. Virei-me. Era o velho, agitando senilmente
sua mercadoria. Meu coração começou a bater forte contra meu peito e contra minhas costelas, ficando todo
orgulhoso de sua força muscular. Eu estava sendo seguida.
Depressa, eu disse a mim mesma:  tente se lembrar do que aprendeu no Curso Jimbo de Defesa Pessoal para
Senhoritas . Jimbo era um homem musculoso com tatuagens de prisão.
entre na viela escura mais próxima ,  lembrei da voz de Jimbo dizendo isso.  Congele como um coelho ou
como  a  criatura  com  a  qual  você  deseja  que  seu  assaltante  a  confunda.  Se  ele  gritar  com  você,  responda
polidamente – talvez seu otimismo o faça mudar de ideia. Se você for entrar num elevador com um homem
com quem se sentiria desconfortável numa pequena sala sem saída, entre direto sem pestanejar. Lembre-se, o
medo é uma emoção irracional que você deve ignorar.
Armada  com  essas  dicas  entrei  no  beco  sem  saída  mais  próximo,  enrolei-me  como  se  fosse  uma  bola  e
comecei a rolar.
- Para onde você está me atraindo? – zombou o velho. – Por favor, levante-se e pegue seu controle, não posso
me abaixar tanto.
Foi quando escutei um zumbido familiar. Olhei para cima. O corpo de Edwart estava mergulhando do telhado
do prédio mais próximo em direção à rua.  Levantei-me para  tentar salvá-lo,  mas ele  dirigiu  habilmente seu
corpo sobre o homem, jogando-o no chão. O velho gemeu e então se ajeitou para um pequeno cochilo sobre o
chão, usando seus braços como travesseiro. Pessoas velhas gostam de ter uma desculpa para dormir.
- Por favor, venha comigo para o meu carro, Belle – ele ofereceu gentilmente, mancando na minha direção. –
quero dizer, somente se você quiser.
- Nananinão. Não com essa atitude.
- Por favorzinho?
Sacudi minha cabeça desapontadamente.
- Qual é a forma verbal mágica?
- Belle – ele rugiu. – Não temos tempo para isso. Além do mais, odeio quando você me força a fazer isso.
- Imperativo, Edwart. A forma verbal mágica é imperativo. Você não tem de esconder sua inclinação natural
de me dar ordens. Quero que se sinta confortável comigo, Edwart. Ao ponto da dominação.
-  O.k.,  O.k. –  ele respirou  fundo e apontou  para  mim. – Você – disse  ele  rigidamente, as  palavras fluindo
direto de algum banco de palavras primordial e mandão – vá para o lugar aonde quer ir, o qual, espero, seja o
meu carro, onde estarei, se Deus quiser.
- Tudo bem.
Ele relaxou.
- Não está zangada comigo por eu ser dominador? Você não está blefando?
- Não, Edwart – eu disse, levando-o até o seu carro. – Entre.
Ele esperou que eu ligasse o motor para ele, olhando para mim suavemente – daquele jeito matador.
- Você está bem? – ele perguntou.
- Sim, por que não estaria?
-  Você  está  falando  sério,  Belle?  Não  percebeu  o  que  aquele  homem  doente  estava  tentando  fazer?  –  ele
sacudiu a cabeça,  enfurecido. –  Você  tem  sorte  de  eu  ter  passado  o  dia  em cima  daquele  telhado.  Aquele
velho… ele estava tentando vender a você um produto Sega.
- O que você estava fazendo, esperando por mim em cima de um telhado o dia todo? – perguntei, observando
os nós dos seus dedos ficarem mais brancos com a sua própria referência à Sega. – Como você poderia prever
que o velho me atrairia até aqui se não fosse pelo poder de, telepaticamente, conhecer suas intenções? – eu o
tinha apanhado. Somente vampiros têm esse super talento.
- Estava observando o céu daquele telhado – ele disse, mansamente. – examinando Mercúrio por meio do
meu telescópio. As coisas que eu vi e ouvi, Belle…   tão difícil de explicar.
-  Tente,  Edwart.  A  única  maneira  disso  funcionar  é  se  formos  honestos  um  com  o  outro.  Honestos  sobre
Mercúrio.
- Ele estava girando. Um monte de planetas está lá, Belle. Girando e girando.
Ficamos em silêncio por um momento.
- Prometa-me que nunca mais vai  andar nestas ruas sozinha outra vez, Belle – seu rosto contorceu-se  numa
raiva espasmódica. De  repente, ele baixou o vidro de sua janela e gritou:  - Ela joga Nintendo! –  ele  inspira
profundamente: - Joga Nintendo – ele expirou. – Não estarei sempre aqui para mantê-la a salvo da Sega.
Tentei não respirar tão alto para não interromper sua ira protetora. Isso era belo.
-  Está  com fome?  –  perguntou  finalmente.  – Eu sei… sei que somos  apenas  amigos, mas… podíamos  ser
amigos  jantando  juntos,  se  você  quiser.  Ou  podemos  comer  em  mesas  separadas,  e  ainda  ser  amigos.  Ou
comer  em  mesas  separadas,  mas  saindo  juntos.  Quer   dizer…  -  ele  lançou  um  olhar  para  mim.  –  Você
provavelmente já sabe disso porque é realmente uma garota esperta.
- Você está se oferecendo para me levar para jantar?
Ele concordou devagar.
De repente, meus olhos começaram a brilhar e a  se  incendiar. Nada me deixa  mais zangada do que pessoas
que são legais comigo.
- Ouça. – eu disse,  agarrando-o pelo  colarinho –  eu sou a pessoa  legal. Você é a pessoa com agressividade
incontrolável. Compreendeu?
-  Oh  Deus!  –  disse  ele,  o  sangue  esguichando  do  seu  nariz.  –  Agora  você  conseguiu,  Belle.  Agora  você
realmente conseguiu. Frases diretas me dão sangramento no nariz.
- Assim é melhor – eu disse, soltando seu colarinho. – Numa boa e furioso.
- Você poderia, por favor, segurar meu nariz para mim? Não quero tirar minhas mãos do volante.
-  Claro  –  pincei  o  nariz  dele.  –  Vampirinho  inútil  –  acrescentei  baixinho  antes  que  baixasse  a  minha
adrenalina. – Ei! Olhe para aquele palácio!
Edwart freou e encostou o carro. Estávamos estacionando perto de que eu posso somente descrever como um
panteão dos dias modernos.  Buca di Beppo , dizia o letreiro decorado e as luzes de néon.
- Não parece ótimo? – Edwart perguntou, tocando meu ombro, destroncando-o e firmemente colocando-o de
volta quando eu mandei – Pense… a Itália   cheia desses… desses bistrôs.
Eu estava intimidada e lisonjeada por Edwart querer me apresentar ao seu estilo de vida cultural. E, mesmo
assim,  uma  pequena parte do  meu coração, talvez  a válvula pulmonar, apertou.  Éramos  realmente tão bons
como casal quanto eu dizia a mim mesma repetidamente no espelho? Ele era mais vivido nesse mundo e no
outro mundo do que eu. Que mundo eu poderia trazer ao nosso relacionamento?
O  submundo,  pensei,  resolutamente  rasgando  ao  meio meu  cupom   Entre  no Paraíso  Grátis . Olhando em
retrospecto,  eu provavelmente poderia ter imaginado um  mundo melhor  se tivesse pensado duas vezes. Sean
World
7
veio-me à mente.
Edwart levou-me até uma pequena mesa íntima perto da televisão do bar. Curiosamente, a garçonete foi muito
rápida em interromper nosso tête-à-tête particular, sobre o desempenho do time de azul com seus comentários
irrelevantes  sobre  as  promoções  de  casa.  E  seria  somente  impressão  minha,  ou  ela  estava  com  as  costas
completamente  viradas  para  mim  enquanto  Edwart  falava?  Talvez  eu  estivesse  sendo  territorialista,  mas
parecia que ela estava parada sobre a mesa para expressar o propósito de me desprezar e preenchendo todo seu
campo de ação com Edwart.
- Vou querer um lasanha pequena – eu disse às suas musculosas panturrilhas.
- Peça uma grande – Edwart sugeriu.
- Tem  certeza? – perguntou a  garçonete. – Uma  porção  pequena serve de  sete  a  nove pessoas. Fazemos as
coisas em tamanho  família  aqui. Dane-se o estilo família em crescimento sustentável.
- Tenho certeza – ele disse,  suavemente piscando os olhos para mim através das pernas dela. Ela cruzou as
pernas. Não podíamos ver realmente um ao outro depois disso.
Quando ela partiu, Edwart virou, seus olhos ofuscantes, seus globos espelhados para mim. Somente olhar para
ele  me  transportava  para  fora  dali,  para  um  delírio.  Um  delírio  com  luzes  pulsantes  e  multicoloridas  em
formato de olho.
- Normalmente, eu não faria o pedido por você – ele disse – mas, com tudo o que aconteceu na última hora,
tudo tão confuso, tão rápido e condensado par a propósitos cósmicos, posso apostar que você está faminta.
- Como consegue saber? É como se pudesse ler a minha expressão.
Ele franziu as sobrancelhas e olhou para baixo, para a toalha da mesa.
- Na verdade, você é a única pessoa que eu não consigo ler. Sempre me considerei bom em ler as expressões
das pessoas e fazer adivinhações absurdas sobre como se sentiam, mas você… olho para o seu rosto e tento
adivinhar o que estava  pensando, e tudo o que ou o    BIIIIIIIIIIIIIIP .
Simplesmente  esse  longo  bip,  o  som  que  um  monitor  cardíaco  faz  quando  você  morre  e  tudo  para.
BIIIIIIIIIIIIIIIIIP . Assim.
Ah, o velho  BIIIIIIIIIIP , um som com o qual cresci acostumada. Um som padrão, se você preferir, ao qual
retorna minha mente sempre que não há nada mais interessante em que pensar.
- Sei o que quer dizer – eu disse.
- Aí  está  aquele som  outra vez –  ele falou. – O  que você disse? Porque para mim  soa simplesmente  como
BIIIP BIIIP BIIIP .
A garçonete trouxe a minha lasanha.
-Tem certeza de que você não quer nada? – ela perguntou a Edwart, tipicamente.
- Na verdade, vocês fazem chouriço?
- Sim.
- Ótimo. Mande um, então. Mas com pouca carne.
- Com pouca carne?
- Sim, sou mais de molhos.
- Molho de sangue?
- Sim, molho de sangue – ele voltou-se para mim. – O que você estava dizendo?
BIIIIIIIIIIIIIIIP, pensei enquanto me agarrava desesperadamente a algo mais para dizer. Então, tive outra de
minhas bem-pesquisadas epifanias. Seu uso constante de desinfetante, seu amor por videogames, sua falta de
amigos, seu gosto por observação de planetas e seu andar se debatendo.
- Você é um zumbi – eu disse, ofegante.
- Não. Não sou – ele respondeu.
Voltei à teoria do vampiro.
No caminho de volta para casa, ele me perguntou se eu tinha outras teorias.
-  Algumas –  eu  disse. –  Sabe  quando dizem que o  universo está  sempre  se expandindo? Bem, acho que o
espaço sideral é um embuste e que a NASA é uma casa de repouso para oficiais da CIA – expliquei. – A lua é
real.
- Eu quis dizer teorias a meu respeito – disse Edwart. – O modo como você olha para mim  s vezes… o.k., o
modo  como você olha para  os  meus  dentes  algumas  vezes  e  comenta  sobre quão inumanamente pálido  ou
inumanamente frio eu sou, e o modo como você est  colocando seu ouvido sobre o meu peito agora… quero
dizer, o que está se passando dentro dessa sua cabeça?
- Você não tem absolutamente nenhum batimento cardíaco.
- Isso é o que eu estou dizendo! Por que você diz coisas como essa? O que você pensa que eu sou? – ele me
espiou com o canto do olho, nervosamente. – Você não acha que eu sou um robô como os outros, acha? Por
favor, Belle… eu… eu simplesmente não poderia aceitar isso.
- Por que eu não faço as perguntas e você me dá as respostas? – sugeri. E para ser honesta, a teoria do robô era
nova para mim. Ela iria requerer mais reflexão.
- Está bem. Manda.
- Existe alguma razão para que não devamos estar juntos?
Ele suspirou.
- Estava com medo de que você perguntasse isso. A verdade é que não sou bom para você, Belle. Sou perigoso
– ele começou a dirigir em zigue-zague. – Perigoso demais. Não quero machucar você – ele atravessou o sinal
vermelho. – Nunca me perdoaria se colocasse você em perigo – ele parou no farol amarelo para que pudesse
virar à esquerda no farol vermelho.
- Por que eu não dirijo da próxima vez? – perguntei.
-  Isso  resolveria – ele  riu.  –  Nunca  tirei  carteira de motorista. Agora  existe  uma  coisa que ando querendo
perguntar a você também: qual é a sua cor favorita?
- Azul.
- A sua flor favorita?
- Margarida.
- Legal. Bem, Não tenho mais perguntas. Acho interessante que você tenha uma flor favorita. Essa era minha
pergunta-pegadinha.
- Eu menti sobre a cor. Realmente não me importo com cores. Azul não tem nenhum, valor para mim.
Ele tirou a mão do volante para enfiar o cabelo atrás da minha orelha mais ainda.
- é isso que quero dizer sobre você. Você é especial. Nós somos. Nós dois pensamos sobre coisas além do que
os outros pensam – ele estacionou o carro e virou-se para mim. Quer conversar sobre essas coisas?
- Certamente – eu disse. – Adoraria ter uma discussão sobre aquelas coisas.
Tivemos uma conversa séria. Foi realmente interessante.
- eu  acho que devo entrar – eu disse  quando o assunto acabou. – São nove da noite e  tenho que começar a
preparar o café da manhã para o meu pai.
- Boa noite – ele disse e apertou minha mão.
Inclinei-me para dar um beijo de boa noite no rosto dele. De repente, estava beijando o ar. Ele não estava lá.
- Nem pense em tentar qualquer gracinha outra vez – uma voz raivosa censurou, vinda debaixo do banco do
motorista.
- Sinto muito, Edwart.
- Nem estamos namorando firme ainda! – a voz disse. – Preciso de tempo para conseguir me acostumar a estar
perto de você. Tempo para praticar segurar sua mão, pelo amor de Deus! – sua cabeça surgiu entre o assento e
o volante. – Belle, podemos ser totalmente honestos um com o outro?
- Claro, Edwart. Não podemos estar num relacionamento a menos que você seja totalmente honesto sobre a
destruição de que é capaz de fazer.
- Certo. Bem… e se eu te dissesse que não sou capaz de destruir? Que tenho que levantar o suco de maçã da
geladeira com nada menos do que duas mãos e que nunca serei capaz de abrir um pote de nada para você? O
que  aconteceria  se  eu  te  dissesse que uma  vez  havia uma  aranha  no  meu chuveiro  e  eu  joguei  nela  vários
copos de água, até que ela lentamente se afogasse, e eu vivi com o complexo de culpa subsequente por anos,
antes de me tornar vegetariano?
Vegetariano  no  mundo  dos  vampiros  significa  que  você  bebe  todo  o  tipo  de  sangue,  exceto  humano.
Francamente,  acho  que  a  analogia  mais  adequada     Kosher
8
,  e  um  método  melhor  seria  um  comitê  de
palavras para vampiros, similar a Academia Francesa, que se reúnem sobre quem contatar a respeito disso. E
realmente não tenho tempo de descobrir. Estou muito ocupada com a escola e essas coisas.
- E se eu dissesse a você – Edwart continuou hipoteticamente e de modo não muito relevante – que você é a
segunda garota que já segurou  a minha mão, sendo que a  primeira foi minha mãe? E então confessasse que
gritaria na TV reativa minha hérnia? Você ainda iria quer er sair comigo?
- Bem, Edwart. Em primeiro lugar, se essas coisas fossem verdade, nem mesmo estaríamos no mesmo carro
juntos – eu disse. – Segundo, eu nunca poderia sair com um mentiroso que dissesse que não consegue levantar
dez galões de suco de maçã. Francamente, acho sua capacidade sobre-humana para arremessar jarros de suco
de  maçã  tão  grandes quanto  carros, a coisa  mais  atraente  em  você, Por  favor,  Edwart,  -  eu  disse,  olhando
profundamente dentro de sua alma e vendo que nela havia muitos outros terríveis segredos de vampiro – sou a
única pessoas em quem você pode confiar eternamente. Daqui pra frente, vamos er diretos um com o outro.
Ele  me  olhou como  se estivesse  a  ponto  de chorar,  obviamente por  causa da  alegria  de  atirar  para longe  a
terrível carga de seus segredos.
- O.k. – ele disse, finalmente. – Você me pegou. Sou a maior ameaça à sua segurança e, se namorarmos, não
posso  prometer  que  serei  capaz  de  me  impedir  de…  de…  -  sua  voz  falhou,  envergonhada  demais  para
pronunciar todas as coisas terríveis de que ele era capaz.
- De me transformar num saco vazio de pele? – sussurrei.
- Você é  estranha,  Belle –  ele disse,  com  o conforto de alguém  que  conhece você tão  bem  que  de vez em
quando pode provocar com suas falhas, que, embora indesculpáveis, são, apesar de tudo, adoráveis – você é
linda. Mas assustadoramente, inconcebivelmente estranha.
-  Eu  sabia! –  atirei  meus  braços  em  volta  do  ar  em torno  dele  para  que  ele  pudesse  se  aclimatar  ao meu
delicioso cheiro de sangue. Sabor de
grapefruit
.
9
- Virei apanhar você amanhã às sete horas para nosso primeiro encontro do Elasticidade de Preços.
- Isso é um disfarce para que atividade perigosa? – perguntei, quando ele ia saindo.
Ele coçou seu queixo sem barba em silenciosa contemplação.
- Você verá – disse ele, finalmente.
Corri para dentro de casa, confusa, mas excitada. Teriam os vampiros sua própria maneira de transmutar papel
em dinheiro? Será que isso afetaria severamente a inflação? Não teriam as mudanças de preço efeito zero em
Edwart, já que ele vinha economizando dinheiro por mais de centenas de anos?
Então, outra vez, a economia nestes dias.
- Ei, Belle – chamou meu pai quando me ouviu entrar. – Como foi sua noite?
Não respondi. Teria de explicar muito. Ele não fazia ideia de que existiam vampiros de verdade lá fora e que
sua  preocupação  por  mim  nada  mais  era  do  que  uma  reação  química  em  seu  cérebro  para  assegurar  a
preservação de seus genes. Uma reação similar à que me fez achar os vampiros tão terrivelmente fofos.

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