quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Capítulo 15 (Fallen)


Capitulo 15 A Caverna do Leão
     Fazia um bom tempo desde que Luce havia dado uma boa olhada no espelho.
Ela costumava nunca se importar com seu reflexo, seus olhos claros esverdeados,
seus pequenos e retos dentes, seus espessos cílios, e sua densa cabeleira negra. Isso
era antes. Antes do verão passado. Após a mãe dela ter cortado todo o cabelo dela,
Luce havia começado a evitar espelhos. Não era só por causa do cabelo curto, ela
não achava que gostava mais de quem ela era, então ela não queria ver nenhuma
evidência. Ela começou a olhar para baixo e para as mãos dela quando ela as lavava
no banheiro. Ela mantinha seu rosto olhando para frente quando passava em frente
a janelas de vidros fumados e desviava de pós compactos com espelhos.
Mas vinte minutos antes do horário que ela deveria se encontrar com Cam, Luce
ficou parada em frente ao espelho no banheiro feminino vazio em Augustine. Ela
achava que aparentava tudo bem. O cabelo dela estava finalmente crescendo, e o
peso estava começando a soltar alguns dos seus cachos. Ela deu checada nos
dentes, então endireitou os ombros e olhos para o espelho como se estivesse
olhando Cam nos olhos. Ela tinha que lhe dizer algo, algo importante, e ela queria
ter certeza que conseguiria manobrar um olhar que exigisse que ele a levasse a
serio.
Ele não havia ido à aula hoje. Nem Daniel, então Luce presumiu que Mr. Cole havia
colocado os dois em algum tipo de liberdade condicional. Ou isso ou eles estavam
lambendo as feridas. Mas Luce não tinha duvidas que Cam iria esperar por ela hoje.
Ela não queria ver ele. De jeito nenhum. Pensar sobre os punhos dele batendo em
Daniel fez o estomago dela se revirar. Mas era culpa dela eles terem brigado, em
primeiro lugar.
      Ela havia iludido Cam e se ela fez por que ela estava confusa ou lisonjeada ou
estivesse o menor que seja interessada não importava mais. O que importava era
que ela fosse direta com ele hoje.
Não havia nada entre eles.
Ela respirou fundo, puxou sua camiseta em direção aos quadris e abriu a porta do
banheiro.
Se aproximando dos portões, ela não conseguia ver ele. Mas então, era difícil ver
qualquer coisa além da zona de construção no estacionamento. Luce não havia
estado de volta à entrada da escola desde que eles haviam começado as renovações
ali e ela estava surpresa do quão complicado era se mover através do esburacado
estacionamento. Ela desviou de poças e tentou se esquivar do radar da equipe de
construção, abanando a fumaça do asfalto que parecia nunca dissipar.
Não havia sinal de Cam. Por um segundo ela se sentiu tola, quase como se ela
tivesse caído em algum tipo de pegadinha. Os portões de metal alto eram cheios de
bolha e ferrugem vermelha. Luce olhou através deles para um bosque fechado de
antigas olmeiras do outro lado da rua. Ela estalou as juntas dos dedos, pensando na
vez que Daniel havia lhe dito que ele odiava quando ela fazia aquilo. Mas ele não
estava ali para vê-la fazer aquilo, ninguém estava. Então ela notou um papel
dobrado com o nome dela nele. Estava preso no galho espesso da árvore de
magnólia próxima ao interfone.
      Eu estou salvando você dos eventos sociais esta noite. Enquanto nossos colegas
estudantes apresentam uma reencenação da Guerra Civil triste, mas verdadeira, você
e eu iremos pintar a cidade de vermelho. Um sedan preto com uma placa dourada irá
trazer você até mim. Achei que nós dois podiam usar uma dose de ar fresco. C.
Luce tossiu da fumaça. Ar fresco era uma coisa, mas um sedan preto buscando ela
do campus? Para levá-la até ele, como se ele fosse algum tipo de monarca que
podia arranjar em um impulso para que mulheres fossem buscadas? Onde estava
ele afinal?
Nada disso era parte do plano dela. Ela havia concordado se encontrar com Cam
somente para dizer a ele que ele estava sendo muito avançado e ela realmente não
conseguia se ver se envolvendo com ele. Porque, apesar de que ela nunca contará a
ele, cada vez que os punhos dele atingiram Daniel na noite anterior, algo dentro
dela havia se esquivado e começado a ferver.
Claramente ela precisava cortar essa coisinha com o Cam pela raiz. Ela tinha o colar
dourado de serpente no bolso. Era hora de devolvê-lo.
Exceto que agora ela se sentia estúpida por presumir que Cam iria querer só
conversar. È claro que ele tinha algo mais embaixo da manga. Ele era esse tipo de
cara.
O som das rodas do carro desacelerando fez Luce virar a cabeça. Um sedan preto
parou em frente aos portões. A janela esfumada do banco do motorista rolou para
baixo e uma mão peluda saiu e pegou o receptor do interfone do lado de fora dos
portões.
      Após um momento, o receptor estava de volta no seu lugar e o motorista se
inclinou sobre sua buzina.
Finalmente os grandes portões de metal gemeram e se partiram e o carro entrou
parando na frente dela. As portas se destrancaram suavemente. Ela ia mesmo
entrar naquele carro e ir para sabe-se-lá-onde para se encontrar com ele?
A ultima fez que ela havia estado parada naqueles portões havia sido para dizer
adeus aos pais dela.
Sentindo falta deles antes mesmo de eles irem embora, ela havia abanado daquele
mesmo lugar, próxima do interfone quebrada dentro dos portões e, ela se lembrava
de ter notado uma câmera de segurança mais moderna. O tipo com detectores de
movimento, dando zoom nela toda vez que ela se movia. Cam não podia ter
escolhido um ponto pior para o carro buscar ela.
Do nada ela teve visões do confinamento solitário na cela do porão. Paredes de
cimento úmido e baratas correndo pelas pernas dela. Sem luz de verdade. Os
rumores ainda estavam correndo pelo campus sobre aquele casal, Jules e Phillip,
que não haviam sido mais vistos desde que eles haviam escapado. Cam achava que
Luce queria tanto ver ele que ariscaria saindo do campus em plena visão das
vermelhas?
O carro ainda estava com o motor ligado em frente a ela. Após um momento, o
motorista, um homem de óculos escuros estilo esportivo com um pescoço grosso e
cabelos ralos estendeu sua mão. Nela estava um pequeno envelope branco. Luce
hesitou um segundo antes de ir para frente e tirar ele dos dedos dele.
   O material personalizado de Cam. Um cartão pesado de cor marfim com o
nome dele impresso em letras douradas decadentes no canto inferior a esquerda.
     Devia ter mencionado antes, as vermelhas foram fitadas. Veja por si mesma. Eu
cuidei disso, como irei cuidar de você. Vejo você logo, espero.
      Fitadas? Ele quis dizer? Ela ousou uma olhada para as vermelhas. Ele fez. Um
círculo de fita preta havia sido colocado perfeitamente sobre as lentes da câmera.
Luce não sabia como essas coisas funcionavam ou quanto tempo levaria para a
escola descobrir, em uma maneira estranha, ela estava aliviada por Cam ter
pensado em cuidar disso. Ela não podia imaginar Daniel pensando tão à frente.
Ambos Callie e os pais dela estavam esperando telefonemas esta tarde. Luce havia
lido a carta de dez paginas da Calli três vezes e ela tinha todos os detalhes
engraçados da viagem do final de semana da amiga dela a Nantucket
memorizados, mas ela ainda não saberia como responder a qualquer uma das
perguntas de Callie sobre sua vida em Swords & Cross. Se ela se virasse e fosse para
dentro para pegar o telefone, ela não saberia como começar a contar à Callie e seus
pais sobre a sinistra virada que os últimos dois dias haviam tomado. Mais fácil não
contar nada a eles, ou até que ela encerrasse as coisas de um jeito ou de outro.
Ela deslizou no luxuoso assento de couro bege do sedan e colocou o cinto. O
motorista ligou a inguinissão do carro sem dizer uma palavra.
 ― Aonde nós vamos? ― ela perguntou a ele.
Um lugarzinho que fica no remanso do rio. Sr. Briel gosta das cores locais. Apenas
se recoste e relaxe, querida. Você verá. ―
     Sr. Briel? Quem era esse cara? Luce nunca gostou que a mandassem relaxar,
especialmente quando parecia uma ameaça para não fazer mais nenhuma
pergunta. De qualquer maneira, ela cruzou os braços sobre o peito, olhou para fora
da janela e tentou esquecer do tom do motorista quando ele a chamou de querida.
Através dos vidros fumados, as árvores la fora e a estrada cinza pavimentada
embaixo delas pareciam marrons. Na virada onde a bifurcação levava á
Thunderbolt, o sedan preto virou para o leste. Eles estavam seguindo o rio em
direção a coMiss Uma vez ou outra, quando o caminho deles e o rio convergiam,
Luce podia ver a água turva marrom se retorcendo ao lado deles. Vinte minutos
depois o carro desacelerou até parar em frente ao bar batido de beira de rio.
Era feito de uma madeira cinza, apodrecida e inchada, havia marcas de água sobre
a porta da frente vermelha que se lia STYX em irregulares letras vermelhas pintadas
a mão. Bandeirolas de plástico de propaganda de cerveja haviam sido grampeadas
em um feixe de madeira embaixo do telhado de zinco, uma tentativa medíocre de
festividade. Luce estudou as imagens impressas nos triângulos de plástico,
palmeiras e garotas bronzeadas de biquínis com garrafas de cerveja nos seus lábios
sorridentes, e se perguntou quando foi a ultima vez que uma garota de verdade
havia colocado os pés naquele lugar.
Dois punks mais velhos se sentaram fumando no banco que ficava de frente para a
água. Moicanos cansados caiam sobre as testas de meia-idade deles, e as suas
jaquetas de couro tinham uma aparência feia e suja de algo que eles estivessem
usando desde que punk era novidade. A expressão vazia dos seus bronzeados e
caídos rostos fazia a cena toda parecer ainda mais desolada.
O pântano que beirava a rodovia de duas vias havia começado a cobrir o asfalto, e a
estrada parecia meio que sumir por entre a grama do pântano e a lama. Luce nunca
havia estado tão longe no rio pantanoso.
     Enquanto ela se sentava, incerta do que ela faria uma vez que saísse do carro,
ou se essa era realmente uma boa idéia, a porta da frente do Styx se abriu
abruptamente e Cam andou para fora. Ele se inclinou descontraidamente contra a
tela da porta, uma perna cruzada sobre a outra. Ela sabia que ele não podia ver ela
através da janela esfumada do carro, mas ele levantou sua mão como se ele
pudesse e gesticulou para ela ir até ele.
 ― Aqui vai nada. ― Luce resmungou antes de agradecer o motoriMiss Ela abriu a
porta e foi recebida por uma rajada de vento salgado enquanto subia os três
degraus até a varanda de madeira do bar.
O cabelo bagunçado de Cam estava solto ao redor do rosto dele e ele tinha uma
expressão calma em seus olhos verdes. Uma manga da camiseta preta dele estava
puxada sobre o ombro dele, e Luce podia ver a suave marcação do bíceps dele. Ela
dedilhou a corrente de ouro no bolso dela. Lembre-se porque você está aqui.
O rosto de Cam não mostrava nenhum sinal da briga da noite anterior, o que a fez
se perguntar, imediatamente, se Daniel tinha alguma marca.
Cam a deu um olhar inquisitivo, correndo sua língua ao longo do seu lábio inferior.
― Eu só estava calculando quantos drinques de consolação eu precisaria se você me
desse o cano hoje. ― Ele falou, abrindo os braços para um abraço. Luce andou até
eles. Cam era uma pessoa muito difícil de dizer não, até mesmo quando ela não
estava totalmente certa sobre o que ele estava pedindo.
      ― Eu não daria o cano em você. ― Ela falou, então imediatamente se sentiu
culpada, sabendo que as palavras dela vieram do senso de dever, não o romance
que Cam teria preferido. Ela estava ali somente porque ela ia dizer a ele que não
queria se envolver com ele. ― Então, o que é esse lugar? E desde quando você tem
um serviço de carro? ―
 ― Cola em mim, criança. ― Ele falou, parecendo tomar a pergunta dela como um
elogio, como se ela gostasse de ser arrastada para bares que cheiravam como o
interior de um ralo de pia.
Ela era tão ruim nesse tipo de coisa. Callie sempre dizia que Luce era incapaz de
honestidade brutal e era por isso que ela ficava presa em tantas situações
desagradáveis com caras que ela devia apenas ter dito não. Luce estava tremendo.
Ela tinha que desabafar aquilo. Ela pescou no seu bolso e tirou o pendente. ― Cam.
 ― Oh que bom, você trouxe. ― Ele pegou o colar das mãos dela e girou ela, ―
Deixe-me ajudar você a colocar ele. ―
 ― Não, espere. ―
 ― Pronto. ― Ele falou. ― Ele realmente combina com você. Dê uma olhada. ― Ele
a acompanhou ao longo do assoalho de madeira que rangia até a janela do bar,
onde um numero de bandas havia colocado posters para shows. OS VELHOS
BEBES. PINGANDO COM ÓDIO. RACHADORES DE CASAS. Luce teria preferido
estudar qualquer um deles a olhar seu reflexo. ― Viu? ―
      Ela não conseguia distinguir direito as feições dela no enlameado vidro da
janela, mas o pendente de ouro brilhava na sua pele quente. Ela pressionou sua
mão nele. Ele era adorável. E tão distinto, com sua pequena serpente esculpida a
mão pairando no centro. Não era como nada que você vê nas vitrinas dos
mercados, onde vendedores locais superfaturam os trabalhos manuais para
turistas, suvenires da Geórgia feito nas Filipinas.
Atrás do reflexo dela na janela, o céu estava com uma cor rica de laranja-picolé,
quebrado por linhas finas de nuvens rosa.
 ― Sobre a noite passada ..., ― Cam começou a dizer. Ela conseguia ver vagamente
os lábios rosados dele se moverem pelo vidro sobre os ombros dela.
 ― Eu queria falar sobre a noite passada, também. ― Luce falou, parando do lado
dele. Ela podia ver as pontas da tatuagem em formato de raios de sol atrás do
pescoço dele.
 ― Venha para dentro. ― Ele falou guiando ela de volta para a porta de tela meio
caída. ― Nós podemos conversar lá. ―
O interior do bar era de madeira plainada, com algumas fracas lâmpadas laranja
provendo a única luz. Todos os tamanhos e formar de galhadas estavam
amontoados na parede, e uma cheetah empalhada posava sobre o bar, parecendo
pronta para da o bote a qualquer momento.
      Um retrato desbotado composto com as palavras Condado de Pulaski
Clube de Oficiais Alce 1964-1965 era a única outra decoração na parede, mostrando
cem faces ovais, sorrindo modestamente acima de laços cor pastel. A jukebox
tocava Ziggy Stardust, e um cara mais velho com a cabeça raspada e calça de couro
estava cantarolando e dançando sozinho no meio de um pequeno palco elevado.
Além de Luce e Cam, ele era a única outra pessoa naquele lugar.
Cam apontou para dois banquinhos. As almofadas verdes de couro gastas haviam
se partido no meio, a espuma bege saia para fora como um pedaço maciço de
pipoca. Já havia uma taça pela metade onde Cam havia se sentado. A bebida nela
era marrom e aguada com gelo, banhada com suor.
 ― O que é isso? ― Luce Perguntou.
 ― Luar da Geórgia. ― Ele falou tomando um gole. ― Eu não recomendo ele para
começar. ― Quando ela olhou torto para ele, ele falou, ― Eu estive aqui o dia
inteiro. ―
 ― Encantador. ― Luce falou dedilhando o colar de ouro. ― Quantos anos você tem,
dezessete? Sentado em um bar sozinho o dia inteiro? ―
Ele não parecia obviamente bêbado, mas ela não gostava da idéia de ir toda aquela
distância até lá para terminar tudo com ele, e ele estar bêbado demais para
entender. Ela estava começando a se perguntar como ela iria voltar para a escola.
Ela nem sabia onde era aquele lugar.
      ― Ai. ― Cam esfregou seu coração. ― A beleza de ser suspenso das aulas,
Luce, é que ninguém sente a sua falta durante as aulas. Eu achei que eu merecia um
tempinho para me recuperar. ― Ele levantou a cabeça. ― O que está realmente
incomodando você? É este lugar? Ou a briga da noite passada? Ou o fato de não
estarmos tendo nenhum atendimento? ― ele elevou a voz para gritar as ultimas
palavras, auto o bastante para fazer um enorme, bruto bar tender se virar em frente
a porta da cozinha atrás do bar. O barman tinha cabelos longos, repicados com
franja, e tatuagens que pareciam cabelos humanos trançados que percorriam seus
braços de cima a baixo. Ele era só músculos e devia pesar uns cento e cinquenta
quilos.
Cam se virou para ela e sorriu. ― Qual é o seu veneno? ―
 ― Eu não me importo. ― Luce falou. ― Eu na verdade não tenho meu próprio
veneno. ―
 ― Você estava bebendo champanhe na minha feMiss ― Cam falou. ― Viu quem
estava prestando atenção? ― ele esbarrou nela com seu ombro. ― Seu champagne
mais fino aqui. ― Ele falou para o bar tender que jogou a cabeça para trás e soltou
uma risada maléfica.
Não fazendo nenhuma tentativa de ver a identidade dela ou até mesmo olhar ela
tempo o bastante para adivinhar sua idade, o bar tender se abaixou sobre um
pequeno refrigerador com uma porta de vidro de correr. As garrafas se bateram
enquanto ele cavava e cavava. Após o que pareceu como um longo tempo, ele
emergiu novamente com uma pequena garrafa de Freixenet. Parecia que tinha uma
coisa laranja crescendo em volta da base.
 ― Eu não aceito nenhuma responsabilidade por isso. ― Ele falou entregando a
garrafa.
Cam estourou a rolha e elevou sua sobrancelha a Luce. Ele serviu o Freixebet
cerimoniosamente nas taças de vinho.
      ― Eu queria me desculpar. ― Ele falou. ― Eu sei que eu tenho forçado um
pouco a barra. E a noite passada, o que aconteceu com Daniel, eu não me sinto bem
a respeito daquilo. ― Ele esperou Luce consentir com a cabeça antes de continuar.
― Ao invés de ficar bravo, eu só devia ter ouvido você. É com você que eu me
importo, não ele. ―
Luce observou as bolhas subirem no seu vinho, pensando que se ela tivesse que ser
honesta, ela diria que era com Daniel que ela se importava, não Cam. Ela tinha que
contar a Cam. Se ele já se arrependia de não ter escutado ela na noite passada,
talvez agora ele iria começar a ouvir. Ela ergueu a taça dela para beber um gole
antes de ela começar.
 ― Oh, espere. ― Cam colocou sua mão no braço dela. ― Você não pode beber até
que nós tenhamos brindado alguma coisa. ― Ele ergueu a taça dele e segurou os
olhos dela. ― O que deve ser? Você escolhe. ―
A porta de tela bateu e os caras que haviam estado fumando na varanda entraram.
O mais alto, com cabelos pretos oleosos, nariz cortado e unhas muito sujas, deu
uma olhada em Luce e foi até eles.
 ― O que estamos celebrando? ― ele olhou ela, batendo na taça erguida dela com
seu copo. Ele se inclinou mais perto, e ela pode sentir a carne dos quadris dele
pressionando os dela através da camisa de flanela. ― É a primeira noite fora do
bebê? Qual é a hora do toque de recolher? ―
 ― Nós estamos celebrando você levando seu traseiro de volta para fora agora
mesmo. ― Cam falou agradavelmente como se ele tivesse anunciado que era o
aniversário de Luce. Ele fixou os olhos verdes no homem, que mostrou seus
pequenos dentes pontudos e a boca cheia de gengiva.
 ― Lá fora, é? Só se eu levar ela comigo. ―
Ele agarrou a mão de Luce. Após o jeito que a briga com Daniel havia começado,
Luce esperava que Cam precisaria de pouca desculpa para perder o controlo de
novo.
Especialmente se ele realmente tivesse bebido o dia inteiro. Mas Cam se
manteve excepcionalmente calmo.
Tudo que ele fez foi espanar a mão do cara para longe com a velocidade, graça e
força brutal de um leão espanando um rato.
Cam assistiu o cara cambalear para trás vários passos. Cam sacudiu sua mão com
uma expressão desinteressada no rosto, então acariciou o pulso de Luce onde o
cara tinha tentado agarrar.
 ― Lamento por isso. Você estava dizendo, sobre a noite passada? ―
 ― Eu estava dizendo... ― Luce sentiu o sangue drenar de seu rosto. Diretamente
sobre a cabeça de Cam, uma enorme sombra preta havia se aberto, se esticando
para frente e se desdobrando até que se tornou a maior, mais negra sombra que ela
jamais havia visto. Um sopro de ar ártico soprou de seu centro, e Luce sentiu o gelo
da sombra mesmo nos dedos de Cam, ainda traçando a pele dela.
 ― Oh. Meu.Deus. ― ele sussurrou.
Houve um estrondo de vidro quando o cara quebrou o copo sobre a cabeça de Cam.
Lentamente, Cam ficou de pé em frente a cadeira dele e sacudiu alguns dos
estilhaços de vidro do cabelo. Ele se virou para encarar o homem que era
facilmente duas vezes a sua idade e vários centímetros mais alto.
Luce se acovardou em seu banco de bar se esquivando do que ela sentia que estava
prestes a acontecer entre Cam e esse outro cara. E o que ela temia que poderia
acontecer com a espalhada, negra como a noite sombra que estava sobre as
cabeças
 ― Separando. ― O enorme bar tender falou categoricamente sem nem se
preocupar em tirar os olhos da sua revista de luta.
     Imediatamente, o cara começou a lançar socos cegamente em Cam que
tomou os socos sem sentido como se eles fossem tapas vindas de uma criança.
Luce não era a única espantada pela compostura de Cam. O dançarino-usador-de-
calças-de-couro estava se acovardando contra o jukebox. E após o cara de cabelo
oleoso socar Cam algumas vezes, até ele foi para trás e ficou ali, confuso.
Enquanto isso, a sombra estava se juntando contra o forro, ramos escuros como
ervas e descendo para cada vez mais perto de suas cabeças. Luce se retraiu e se
esquivou assim que Cam se esquivou de um último soco do cara sórdido.
E então decidiu contra-atacar.
Foi só um simples virar dos dedos dele, como se Cam estivesse retirando uma folha
morta. Em um minuto, o cara estava em cima de Cam, mas quando os dedos de
Cam conectaram com o peito do oponente dele, o cara foi voando, jogado de pés
para cima no ar, garrafas de cerveja se quebrando com sua subida até as costas dele
baterem na parede oposta próxima ao jukebox.
Ele esfregou a cabeça e, gemendo, começou a se amontoar e ficar agachado.
 ― Como você fez aquilo? ― Os olhos de Luce estava arregalados.
Cam ignorou ela, se virou em direção ao amigo mais baixo, mais parrudo do cara e
falou. ― Você é o próximo? ―
O segundo cara levantou suas palmas. ― Não é minha briga, cara. ― Ele falou se
esquivando para longe.
     Cam encolheu os ombros, andou em direção ao primeiro cara e o levantou do
chão pelas costas da camiseta dele. Seus membros balançavam vulneravelmente
no ar, como de uma marionete. Então, com um fácil giro de pulso,Cam jogou o cara
contra a parede. Ele quase parecia grudar lá enquanto Cam se soltou, socando o
cara e dizendo de novo e de novo, ― Eu falei vá para fora! ―
 ― Basta! ― Luce gritou, mas nenhum deles ouviu ou se importou. Luce se sentiu
mal. Ela queria tirar os olhos do nariz e gengivas sangrentas do cara pendurado
contra a parede, da força quase sobre humana de Cam. Ele queria dizer a ele para
esquecer, que ela acharia o caminho para escola sozinha. Ela queria, mais que tudo,
fugir da sombra medonha que agora cobria o teto e pingava pelas paredes. Ela
agarrou a sua bolsa e correu noite adentro E direto nos braços de alguém.
 ― Você está bem? ― era Daniel.
Como você me encontrou aqui? ― ela perguntou, desavergonhadamente
enterrando sua face no ombro dele. Lágrimas com as quais ela não queria lidar
estavam se enchendo dentro dela. ― Venha. ― Ele falou ― Vamos sair daqui. ―
     Sem olhar para trás, ela deslizou sua mão para dentro da mão dele. Calor se
espalhou acima do braço dela e através do seu corpo. E então as lágrimas
começaram a rolar. Não era justo se sentir tão a salvo quando as sombras ainda
estavam tão perto.
Até Daniel parecia agitado. Ele estava arrastando ela através do lote tão rápido, ela
quase precisou correr para alcançá-lo.
Ela não queria olhar para trás quando ela sentiu as sombras se derramarem para
fora da porta do bar e ganhar forma no ar. Mas então, não precisava. Elas flutuaram
em um fluxo constante sobre a cabeça dela, sugando toda a luz do caminho deles.
Era como se o mundo inteiro estava sendo rasgado em pedaços bem diante de seus
olhos. Um cheiro podre de enxofre ficou preso em seu nariz, pior do que qualquer
coisa que ela conhecia.
Daniel olhou para cima também, e fez uma careta, só que parecia que ele estava
apenas tentando se lembrar onde tinha estacionado. Mas então a coisa mais
estranha aconteceu. As sombras se encolheram para trás, se afastando em jatos
pretos que se aglomeravam e dispersavam
Luce vagou seus olhos em descrença. Como Daniel tinha feito aquilo? Ele não tinha
feito aquilo, ou tinha?
 ― Quê? ― Daniel perguntou, distraído. Ele destrancou a porta do lado do caroneiro
de um branco Taurus Station Wagon. ― Alguma coisa errada? ―
― Nós não temos tempo para eu listar todas as muitas, muitas coisas que estão
erradas. ― Luce falou, se afundando no acento do carro. ― Olha. ― Ela apontou em
direção a entrada do bar. A porta de tela se abriu no Cam. Ele deve ter desacordado
o outro cara, mas ele não parecia que tinha estado em uma briga. Os punhos dele
estavam fechados.
      Daniel sorriu e sacudiu a cabeça. Luce estava batendo seu sinto de segurança
inutilmente de novo e de novo na fivela até ele estender as mãos e tirar as mãos
dela do caminho. Ela segurou a respiração enquanto os dedos dele roçaram o
estômago dela. ― Tem um truque. ― Ele sussurrou, encaixando a tranca na base.
Ele ligou o carro e, em seguida recuou lentamente, tomando seu tempo enquanto
eles passavam a porta do bar. Luce não conseguia pensar em uma única coisa a
dizer a Cam, mas sentiu perfeito quando Daniel abriu a janela e disse simplesmente.
― Boa noite, Cam. ―
 ― Luce. ― Cam falou andando em direção ao carro. ― Não faça isso. Não vá
embora com ele. Vai acabar mal. ― Ela não podia tirar os olhos dos olhos dele, os
quais ele sabia que estavam apelando para ela voltar. ― Eu sinto muito. ―
Daniel ignorou Cam inteiramente e só dirigiu. O pântano parecia nublado no
crepúsculo, e as matas em frente a eles pareciam ainda mais nubladas.
 ― Você ainda não me disse como me achou aqui. ― Luce falou. ― Ou como você
sabia que eu fui me encontrar com Cam. Ou onde você conseguiu esse carro. ―
 ― É da Srta Sophia. ― Daniel explicou, ligando o farol alto enquanto as árvores
cresciam juntas a frente e deixando a estrada na sombra densa.
 ― Srta Sophia deixou você pegar o carro dela emprestado? ―
 ― Depois de anos vivendo em Skid Row em L.A. ― ele falou encolhendo os
ombros. ― Você pode dizer que eu tenho um toque mágico quando se fala em ―
emprestar ― carros. ―
 ― Você roubou o carro da Miss Sophia? ― Luce zombou, perguntando-se como a
bibliotecária iria anotar este desenvolvimento em seus arquivos.
 ― Nós vamos levar de volta. ― Daniel falou. ― Além disso, ela estava muito
preocupado com a noite da encenação da Guerra Civil. Algo me diz que ela não vai
nem mesmo notar que ele se foi. ―
     Foi só aí que Luce percebeu o que Daniel estava vestindo. Ela assimilou o
uniforme azul de soldado da União dele com sua ridícula tira de couro jogada
diagonalmente sobre o peito dele. Ela tinha estado tão aterrorizada das sombras,
de Cam, de toda a horrorosa cena que ela não tinha nem pausado para assimilar
Daniel.
― Não ria. ― Daniel falou tentando não rir. ― Essa noite você se safou do
possivelmente pior evento social do ano. ―
Luce não conseguiu se conter. Ela estendeu o braço e deu bateu com o dedo em um
dos botões de Daniel. ― Uma pena. ― Ela falou, usando um sotaque suliMiss ― Eu
tinha acabado de mandar passar meu vestido-bela-do-baile. ―
Os lábios de Daniel se contorceram em um sorriso, mas então ele suspirou. ― Luce,
essa noite, as coisas podiam ter acabado muito feio. Você sabia disso? ―
Luce olhou para a estrada, incomodada que a atmosfera havia mudado tão de
repente para uma depressiva. Uma coruja cantadora olhou para ela de uma árvore.
 ― Eu não tinha a intenção de vir aqui. ― Ela falou o que parecia ser verdade. Foi
quase como se Cam tivesse enganado ela. ― Eu queria não ter vindo. ― Ela
adicionou quietamente, se perguntando onde a sombra estava agora. Daniel bateu
os punhos no volante fazendo ela pular. Ele estava rangindo os dentes, e Luce
odiava que ela era quem havia feito ele parecer tão zangado.
 ― Eu não consigo acreditar que você está envolvida com ele. ― Ele falou.
 ― Eu não estou. ― Ela insistiu. ― A única razão que me fez aparecer era para dizer
a ele … ― era sem sentido. Envolvida com Cam!. Se Daniel soubesse que ela e Penn
passavam a maioria do tempo delas pesquisando a família dele … bem, ele
provavelmente ficaria igualmente irritado.
      ― Você não precisa se explicar. ― Daniel falou, acenando com a mão. ― É
minha culta de qualquer jeito. ―
 ― Sua culpa? ―
Aquela altura Daniel havia saído da rua e parado o carro em uma pequena estrada
de areia. Ele apagou os faróis e eles ficaram olhando para o oceano. O céu
acinzentado estava com um tom extraordinariamente profundo e o pico das ondas
pareciam quase prata, brilhando. A grama da praia sacudia no vento, fazendo um
alto, desolado som de assovio. Um bando de gaivotas sentaram em uma longa linha
ao longo do parapeito da passarela, ajeitando as penas.
 ― Nós estamos perdidos? ― ela perguntou.
Daniel ignorou ela. Ele saiu do carro e fechou a porta, começou a andar em direção
a água, Luce esperou dez agonizantes segundos, assistindo a silhueta dele ir
diminuindo no crepúsculo púrpura, antes dela pular para fora do carro e seguir ele.
O vento jogou o cabelo dela contra seu rosto. Ondas batiam na costa, levando
linhas de conchas e algas marinhas de volta para sua contracorrente submarina. O
ar estava mais frio perto da água. Tudo tinha um aroma forte de maresia.
 ― O que está acontecendo, Daniel? ― ela falou, correndo ao longo da duna. Ela se
sentiu mais pesada andando na areia. ― Onde nós estamos? ― E o que você quis
dizer , é sua culpa? ― ele se virou para ela. Ele parecia tão abatido, sua fantasia de
uniforme toda amassada, seus olhos cinza caindo. O barulho das ondas quase
abafaram a voz dele. ― Eu só preciso de um tempo para pensar. ―
Luce sentiu um nó crescendo de novo na sua garganta. Ela finalmente havia parado
de chorar, mas Daniel estava dificultando tudo. ― Por que me resgatar então? ―
Por que vir todo o caminho até aqui para me apanhar, então gritar comigo e então
me ignorar? ― ela secou os olhos na barra da camiseta preta dela e o sal do mar nos
dedos dela fizeram seus olhos arderem. ― Não que isso seja alguma diferença do
jeito que você tem me tratado na maioria do tempo, mas. ―
      Daniel se virou e bateu na testa dele com as duas mãos. ― Você não entende,
Luce. ― Ele sacudiu a cabeça. ― Isso é o que você nunca entende. ―
Não tinha nada maldoso na voz dele. Em fato, era quase bondosa demais. Como se
ela fosse lenta demais para captar o que quer que seja que era tão obvio para ele. O
que fez ela ficar absolutamente furiosa.
― Eu não entendo? ― ela perguntou. ― Eu não entendo? Deixe eu te dizer uma
coisa sobre o que eu não entendo. Você se acha tão esperto? Eu passei três anos
com uma bolsa integral na melhor escola preparatória do país. E quando eles me
chutaram, eu tive que fazer uma petição, petição! Para que eles não apagassem
meu histórico das minha notas quatro-ponto-zero. ―
      Daniel se afastou, mas Luce perseguiu ele, dando um passo a frente a cada
passo de olhos arregalados que ele dava para trás. Provavelmente assustando ele,
mas e daí? Ele estava pedindo por isso toda vez que ele era condescendente com
ela.
 ― Eu sei Latim e Francês, e no ensino médio, eu ganhei a feira de ciências três anos
seguidos. ―
Ela tinha encurralado ele contra o parapeito da passarela e estava tentando se
segurar para não cutucar ele no peito com o dedo dela. Ela não tinha terminado.
 ― Eu também faço as palavras cruzadas do jornal Sunday, algumas vezes em
menos de uma hora. Eu tenho um preciso sentido de direção ... apesar de isso nem
sempre se aplicar aos garotos. ― Ela engoliu e tomou um momento para recuperar
o fôlego.
 ― E algum dia, eu serei uma psiquiatra que realmente ouve os pacientes e ajuda
pessoas. Ok? Então não fique falando comigo como se eu fosse uma estúpida e não
me diga que eu não entendo só porque eu não consigo decodificar seu erradico,
falho, quente-num-minuto-frio-no-outro, francamente. ― Ela olhou para ele,
soltando a respiração. ― Realmente insensível comportamento. ― Ela secou as
lágrimas, zangada consigo mesma por ter ficado tão exaltada.
 ― Cala a boca. ― Daniel falou, mas ele falou suavemente e tão carinhosamente que
Luce surpreendeu ambos ao obedecer.
      ― Eu não acho que você é estúpida. ― Ele fechou os olhos. ― Eu acho que
você é a pessoa mais esperta que eu conheço. E a mais gentil. E. ― ele engoliu,
abrindo os olhos para olhar diretamente para ela. ― A mais bonita. ―
― Com licença? ―
Ele olhou para o oceano. ― Eu só ... estou tão cansado disso. ― Ele parecia tão
exausto.
― Do quê? ―
Ele olhou para ela, com a mais triste expressão no rosto dele, como se ele tivesse
perdido algo precioso. Esse era o Daniel que ela conhecia, apesar de ela não poder
explicar como ou de onde. Este era o Daniel que ela ... amava.
― Você pode me mostrar. ― Ela sussurrou.
Ele sacudiu a cabeça. Mas os lábios dele ainda estavam tão perto dos dela. E a
expressão nos olhos dele era tão fascinante. Era quase como se ele quisesse que ela
mostrasse para ele primeiro.
      O corpo dela tremia de nervos enquanto ela ficava nas pontas dos pés e se
inclinava em direção a ele.
Ela colocou a mão dela na bochecha dele e ele piscou, mas ele não se moveu. Ela se
moveu lentamente, tão lentamente, como se ela estivesse com medo de assustar
ele, cada segundo sentindo se petrificar. E então, quando eles estavam perto o
bastante que os olhos dela estavam quase vesgos, ela fechou eles e pressionou os
lábios dela contra os dele.
O mais leve, como uma pena, toque dos lábios deles era tudo o que conectava eles,
mas um fogo que Luce jamais havia sentido antes passou por ela, e ela soube que
ela precisava mais que tudo de Daniel. Seria pedir demais que ele precisasse dela da
mesma maneira, segurar ela nos braços dele como ele havia feito tantas vezes nos
sonhos dela, retribuir o beijo esperançoso dela com um mais poderoso.
Mas ele fez.
     Os músculos dos braços dele circularam a cintura dela. Ele puxou ela até ele, e
ela podia sentir a linha definida dos seus corpos conectando, pernas se enrolando
em pernas, quadris pressionados em quadris, peitos arfando em sincronia um com o
outro.Daniel a colocou com as costas contra o parapeito da passarela, prendendo
ela mais perto dele até que ela não conseguia de mover, até ele ter ela exatamente
onde ela queria estar. Tudo isso sem nenhuma vez quebrar a apaixonada ligação de
seus lábios.
E então ele começou a realmente beijá-la, carinhosamente a principio, fazendo
sutis, adoráveis sons de selinhos no ouvido dela. E então longo e doce e ternamente
ao longo da mandíbula dela e abaixando até o pescoço dela, fazendo ela gemer e
jogar sua cabeça para trás. Ele puxou firmemente no cabelo dela e ela abriu os olhos
para vislumbrar, por um segundo, as primeiras estrelas aparecerem no céu da noite.
Ela se sentiu mais perto do céu do que ela jamais sentiu antes.
Finalmente, Daniel voltou aos lábios dela, beijando ela com tanta intensidade,
sugando os lábios inferiores dela, então esticando sua língua macia só até um
pouco depois dos dentes dela. Ela abriu a boca dela mais, desesperada para deixar
mais dele entrar, finalmente sem medo de mostrar o quanto ela ansiava por ele.
Para empatar a força dos beijos dele com a dela.
     Ela tinha areia na boca dela e entre seus dedos do pé, o vento salgado levantou
arrepios em sua pele, e o mais doce, sentimento de fascinação derramava do seu
coração.
Ela poderia, naquele momento, ter morrido por ele.
Ele se afastou e olhou para ela, como se ele quisesse que ela dissesse algo. Ela sorriu
para ele e beijou ele delicadamente nos lábios, deixando os lábios dela perdurar nos
dele. Ela não conhecia nenhuma palavra, não tinha maneira melhor de comunicar o
que ela estava sentindo, o que ela queria.
― Você ainda está aqui. ― Ele suspirou.
― Eles não conseguiriam me arrastar. ― Ela riu.
Daniel deu um passo para trás e com um olhar sombrio para ela, o sorriso dele havia
sumido. Ele começou a andar de um lado para o outro, esfregando sua testa com as
mãos.
― O que está errado? ― ela perguntou levemente, puxando as mangas dele para
que ele voltasse para outro beijo. Ele correu os dedos dele pelo rosto dela, pelo
cabelo dela, ao redor do pescoço dela. Como se ele estivesse se certificando que ela
não era um sonho.
― Esse foi seu primeiro beijo de verdade? ― ela achou que não devia contar Trevor,
então tecnicamente era. E tudo parecia tão certo, como se ela tivesse sido
destinada para Daniel, e ele para ela. Ele cheirava ... lindo. A boca dele tinha um
gosto doce e rico. Ele era alto e forte e escorregando do abraço dela.
     ― Onde você está indo? ― ela perguntou.
Seus joelhos dobrados e ele afundaram alguns centímetros, inclinando-se contra o
parapeito de madeira da passarela e olhando para o céu. Ele parecia estar com dor.
 ― Você disse que nada poderia arrastar você. ― Ele falou em uma voz apressada. ―
Mas elas vão. Talvez elas só estejam atrasadas. ―
 ― Elas? Quem? ― Luce perguntou, olhando ao redor para a praia deserta. ― Cam?
Eu acho que despistamos ele. ―
 ― Não. ― Daniel começou a andar para longe pela passarela. Ele estava tremendo.
― É impossível. ―
 ― Daniel. ―
 ― Vai vir. ― Ele sussurrou.
 ― Você está me assustando. ― Luce seguiu atrás tentando alcançar. Porque de
repente, mesmo ela não querendo, ela tinha o pressentimento que sabia o que ele
queria dizer. Não Cam, mas outra coisa, alguma outra ameaça.
A mente de Luce pareceu enuveada. As palavras dele bateram em seu cérebro,
soando estranhamente verdade, mas o raciocínio por trás deles escapou dela.
Como o fio de um sonho que ela não conseguia se lembrar dele todo.
 ― Fale comigo. ― Ela falou. ― Me diga o que está acontecendo. ―
Ele se virou, sua face pálida como o florecer de uma peônia, os braços dele erguidos
em rendição. ― Eu não sei como parar isso. ― Ele suspirou. ― Eu não sei o que
fazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário