Quando Tristan acordou do vazio da escuridão, o sol brilhava pelas janelas do quarto de
Ivy. A cama estava
|
arrumada e havia uma colcha esticada em cima dela. Ivy
não estava lá.
|
Era a primeira vez que Tristan via a luz do dia desde
o acidente. Foi até a janela para admirar os detalhes do
|
verão, as complexas ranhuras das folhas, a forma como
o vento deslizava seus dedos pela grama, enviando uma
|
onda esverdeada ao topo da montanha. O vento. Apesar
de perceber a movimentação das cortinas, Tristan não
|
conseguia sentir o frescor do toque do vento.
Apesar de ver a invasão dos raios de sol dentro do quarto, não
|
conseguia sentir seu calor.
|
Ella
conseguia. A gata
estava sentada em
uma camiseta de
Ivy em um
canto iluminado do
quarto.
|
Cumprimentou Tristan abrindo os olhos e ronronando um
pouco.
|
– Aqui não tem muita roupa suja para você se deitar, não é?
– perguntou, pensando em quando
a gata
|
curtia
suas meias e agasalhos
sujos. O silencio da casa fez com que
falasse baixo, apesar de saber que podia
|
muito bem gritar o bastante para... bem, o bastante
para acordar os mortos, e só ele mesmo ouviria.
|
A solidão era intensa. Tristan temia ficar para sempre
sozinho daquela forma, vagando por aí sem nunca ser
|
visto, ouvido ou sendo chamado de Tristan. Por que ele
não viu a senhora do hospital depois que ela morreu?
|
Para onde ela teria ido?
|
Os mortos vão para o cemitério, pensou ao cruzar o
corredor da escadaria. Depois, parou. Em algum lugar
|
havia um tumulo com seu nome! Provavelmente ao lado de
seus avós. Desceu a escada correndo,
curioso para
|
ver o que tinha sido feito dele. Talvez encontrasse
aquela senhora ou alguém que tivesse morrido recentemente
|
que pudesse dar uma explicação para tudo isso.
|
Tristan tinha ido ao cemitério Riverstone Rise varias
vezes quando era criança. Nunca lhe pareceu um lugar
|
triste,
talvez porque o
jazigo de seus
avós sempr e inspirava
seu pai a
contar– lhe historias
interessantes e
|
engraçadas sobre eles. Sua mãe ficava podando as
plantas e plantando novas mudas. Tristan corria e subia nas
|
lápides e brincava
de salto à
distancia nos túmulos,
fazendo do cemitério
um playground com
corrida de
|
obstáculos.
|
Era estranho passar pelos altos portões de metal agora
– portões em que já havia brincado de escalar como
|
um macaco, como
sua mãe sempre
dizia – em
busca de sua
própria lápide. Não
sabia se estava
se
|
movimentando
de acordo com
sua memória ou
instinto, mas rapidamente
encontrou o caminho
e a curva
|
marcada por três pinheiros. Sabia que estava a 150
metros de distancia e se preparou para o choque de ler seu
|
próprio nome na lápide ao lado de seus avós.
|
Mas nem olhou para ela. Ficou tão surpreso com a
presença de uma garota que tinha se espreguiçado e estava
|
deitada confortavelmente em cima da grama fresca.
|
– Com licença
– disse, sabendo muito bem que as
pessoas não podiam ouvi– lo. – Você está deitada em
|
cima do meu túmulo.
|
Ela olhou para cima, o que o fez pensar se não estaria
brilhando novamente. A garota parecia ter a mesma
|
idade que a sua e tinha um semblante vagamente
familiar.
|
– Você deve ser
o Tristan – disse. – Sabia que, mais cedo ou mais tarde, ia acabar
aparecendo.
|
Tristan olhava fixamente para ela.
|
– É você, não
é? – disse, sentando– se, apontando para seu nome na lápide. – Morto
recentemente, certo?
|
– Vivo
recentemente – disse. Havia algo em seu jeito que lhe dava vontade de
discutir com ela.
|
Ela deu de ombros. – Cada um tem um ponto de vista.
|
Não conseguia
acreditar que ela conseguia ouvi– lo. – E você – disse, examinando sua
aparência um tanto
|
incomum. – O que você é?
|
– Não tão
recentemente.
|
– Entendo. É
por isso que seu cabelo é dessa cor?
|
Seu cabelo era curto e espetado e tinha
um estranho tom de magenta com mechas roxas, como se tivesse
|
ocorrido algum erro com a tintura.
|
– Quando morri,
estava dessa cor.
|
– Ah, desculpe.
|
– Sente– se –
disse, dando tapinhas no montinho de terra recém– formado. – Afinal de
contas, esse é o seu
|
descanso eterno. Só estava dando um tempo aqui.
|
– Então, você é
um... fantasma – disse.
|
– Como?
|
Queria que ela parasse de usar aquele tom arrogante.
|
– Você
disse fantasma ? Você mesmo recente. Não somos fantasmas,
querido – deu vários tapinhas no
|
ombro dele com suas unhas compridas, pintado de roxo
azulado.
|
Mais uma vez,
perguntou– se se ela agia dessa forma por não estar morta recentemente , mas ficou com
|
medo de que ela fosse perfurá– lo caso perguntasse.
|
Mas,
então, percebeu que
a mão dela
não atravessava o corpo dele.
Na verdade, eram feitos
do mesmo
|
material.
|
– Somos anjos,
querido. É isso mesmo. Pequenos ajudantes do céu.
|
Seu tom e sua tendência a exagerar as coisas estavam
começando a dar nos nervos dele.
|
Apontou para o céu. – Alguém tem um senso de humor
macabro. Sempre escolhe os menos prováveis.
|
– Não acredito
– disse Tristan. – Não acredito.
|
– Quer dizer
que essa é a primeira vez que visita sua cova? Perdeu seu próprio funeral,
hein? Isso – disse ela
|
– foi um grande erro. Curti cada minuto do meu.
|
– Onde você foi
enterrada? – perguntou Tristan, olhando ao redor. A lápide ao lado da de sua
família tinha o
|
desenho de um carneiro entalhado, o que não parecia
adequado a ela, e, do outro lado, a foto de uma senhora
|
serena com as mãos cruzadas em cima do peito e o olhar
voltado para o céu – uma outra má escolha.
|
– Não fui
enterrada. É por isso que estou sublocando a sua.
|
– Não entendi –
disse Tristan.
|
– Você não me
reconhece?
|
– Ah, não –
disse, com medo de que ela fosse dizer que eram parentes distantes, ou que
talvez ele tivesse
|
dado em cima dela no 7º ano.
|
– Olhe para mim
de perfil.
|
Tristan olhou para ela sem dar sinal de
reconhecimento.
|
– Cara, você
não vivia muito, vivia? Quando era vivo?
|
– O que você
está querendo dizer?
|
– Que você não
saia muito.
|
– Saía o tempo
todo – retrucou Tristan.
|
– Mas não ia ao
cinema.
|
– Ia o tempo todo.
|
– Mas você
nunca viu nenhum dos filmes da Lacey Lovitt.
|
– Claro que vi.
Todo mundo via, antes dela... Você é a Lacey Lovitt?
|
Ela revirou os olhos. – Espero que você seja mais
rápido para entender qual é a sua missão.
|
– Acho que é
porque a cor do seu cabelo está diferente.
|
– Você já falou
sobre o meu cabelo – disse, levantando– se do tumulo. Era estranho vê– la
encostada nas
|
arvores. Os salgueiros balançavam suas folhas em forma
de corda por causa da brisa, mas o cabelo dela não saía
|
do lugar, tão imóvel quanto uma fotografia.
|
– Estou me
lembrando. Seu avião caiu no mar. Nunca encontraram seu corpo – disse
Tristan.
|
– Imagine como
eu fiquei feliz quando me vi tendo de sair sozinha do Porto de Nova York.
|
– Isso
aconteceu há dois anos, não foi?
|
Ela abaixou a cabeça ao ouvi– lo. – Sim, bem...
|
– Lembro– me de
ter lido sobre seu funeral. Havia muita gente famosa.
|
– E muita gente quase famosa.
As pessoas estão sempre correndo
atrás de publicidade – havia uma certa
|
amargura em seu tom. – Queria que você tivesse visto
minha mãe chorando e se lamentando. – Lacey fez pose
|
imitando a escultura de mármore de uma mulher chorando no
jazigo ao lado. – Você ia pensar que ela tinha
|
perdido alguém que amava.
|
– E perdeu.
Você era a filha dela.
|
– Você é
ingênuo, não é? – era mais uma frase do que uma pergunta. – Você ia aprender
mais coisas sobre as
|
pessoas se tivesse seu próprio funeral. Talvez ainda
dê tempo de aprender. Há um enterro na ala leste hoje de
|
manhã. Vamos?
|
– Ir a um
enterro? Isso não é meio mórbido?
|
Ela riu. –
Nada mais é
mórbido, Tristan, quando
se está morto.
Além do mais, acho
que enterros são
|
extremamente
divertidos. E, quando
não são, faço
com que sejam,
e você está
com cara de
quem está
|
precisando se animar. Vamos? – Acho que dessa vez vou
passar.
|
Ela se virou e o examinou por um minuto, perplexa. – Tudo
bem. Que tal isso: vi um grupo de garotas um
|
pouco mais cedo indo em direção ao lado nobre do
cemitério. Talvez você goste mais. Um bom público, sabe,
|
não é fácil de encontrar, especialmente quando se está
morto e a maioria não consegue ver você.
|
Ela começou a andar em círculos.
|
– Sim, isso
seria bem melhor – parecia estar falando consigo mesma. – Vai me fazer ganhar
alguns pontos –
|
olhou para Tristan. – Sabe, ficar zoando em
funerais não é uma atitude muito aprovada. Mas isso funcionará
|
como a execução de um serviço. Da próxima vez, aquelas
garotas vão pensar duas vezes antes de desrespeitar os
|
mortos.
|
Tristan tinha esperanças de que encontrar uma pessoa
como ele esclarecesse um pouco mais as coisas, mas...
|
– Ah, anime–
se, Chorão! – e começou a caminhar.
|
Tristan a seguiu lentamente, tentando se lembrar se
alguma vez tinha lido algo que dizia sobre Lacey Lovitt
|
ser maluca.
|
Ela o levou
para a parte
mais velha do
cemitério, em que
havia jazigos bem
antigos, pertencentes aos
|
moradores mais
abastados de Stonehill. De um
lado da rua, mausoléus com fachadas
similares a templos em
|
miniatura
eram incrustados na
montanha. Do outro
lado, havia vários
gramados com monumentos
altos e
|
polidos, além de uma variedade de estatuas de mármore.
Tristan já havia estado lá antes. A pedido de Maggie,
|
Caroline tinha sido enterrada no jazigo da família
Baines.
|
– Elegante, não
é?
|
– Estou
surpreso que você tenha sublocado o meu.
|
– Ah, eu ganhei
milhões quando era viva. Milhões. Mas, em meu coração, sou uma garota
simples, do bairro
|
operário, na região leste de Nova York. Comecei com
novelas, lembra– se? E depois... mas acho que não preciso
|
falar sobre isso. Tenho certeza de que, agora que você
me reconhece, já sabe tudo sobre mim.
|
Tristan não se incomodou em corrigi– la.
|
– Então, o que
você acha que aquelas garotas tinha em mente? – perguntou, parando para olhar
ao redor.
|
Não havia ninguém por perto. Somente jazigos, flores e
o caminho esverdeado do gramado.
|
– Estava
pensando o mesmo sobre você – respondeu ele.
|
– Ah, vou agir
de improviso. Duvido que você vá me ajudar. Você ainda não tem nenhuma
habilidade de
|
verdade.
Provavelmente, tudo o
que consegue fazer
é ficar parado e
brilhar, parecendo um
enfeite idiota de
|
Natal – o que significa que apenas uma ou duas pessoas
que acreditam podem ver você.
|
– Apenas uma
pessoa que acredita?
|
– Quer dizer que
você ainda não percebeu isso? – balançou a cabeça, sem acreditar no que
ouvia.
|
Mas ele já tinha percebido, só não queria admitir, só não queria
que fosse verdade. A senhora do hospital
|
acreditava. Assim como Philip. Os dois o tinham visto
brilhar. Mas Ivy não viu. Ivy não acreditava mais.
|
– Você pode
fazer mais do que brilhar? – perguntou Tristan cheio de esperança.
|
Ela olhou para ele como se fosse totalmente imbecil. – E o que você acha
que fiquei fazendo nos últimos
|
dois anos?
|
– Não faço
idéia.
|
– Não me diga,
por– fa– vor, não me diga que vou ter de explicar o que são as missões para
você.
|
Ele ignorou o tom melodramático. – Você já mencionou
antes. Que missões?
|
– A sua missão.
A minha missão – respondeu rapidamente. – Cada um de nós tem uma missão. E
temos de
|
completá– la. Se quisermos ir para onde todos os
outros foram – começou a caminhar novamente, um pouco
|
mais rápido, e ele teve de se apressar para acompanhá–
la.
|
– Mas qual é a
minha missão?
|
– E eu lá sei?
|
– Bem, alguém
tem de me contar. Como posso completá– la se não faço idéia do que seja? – perguntou
|
frustrado.
|
– Nem venha
reclamar para mim! Você é quem tem de descobrir – repreendeu– o e acrescentou
com um
|
tom mais amigável.
|
– Então, tenho
pelo menos dois anos para...
|
– Bem, não. Não
é bem assim que funciona – disse, abaixando a cabeça do mesmo jeito engraçado
que tinha
|
visto um
pouco antes. Passou na frente dele e
atravessou uma cerca de ferro negro
cujas lanças entortadas e
|
enferrujadas deixavam marcas estranhas nas paredes da
velha capela de pedra. – Vamos encontrar as garotas.
|
– Espere um
pouco – disse, segurando no braço dela. Era a única coisa que conseguia
segurar. – Você tem
|
de me contar. Como funciona exatamente essa historia
de missão?
|
– Bem...
bem, você tem de descobrir
e completar sua missão assim que
possível. Alguns anjos
levam só
|
alguns dias, alguns meses.
|
– E você está
aqui há dois anos! Você está próxima de completar a sua?
|
Ela passou a língua nos dentes. – Não sei.
|
– Ótimo! Ótimo!
Não sei o que estou
fazendo, finalmente encontro uma guia,
e ela leva oito vezes mais
|
tempo do que todo mundo para completar sua missão.
|
– Duas vezes
mais tempo! Uma vez encontrei um anjo que levou um ano. Sabe, Tristan, sou
meio distraída.
|
Concentro–
me no que
tenho de fazer,
mas, às vezes,
aparecem oportunidades boas
demais para serem
|
desperdiçadas. Algumas delas não são vistas com bons
olhos.
|
– Algumas
delas? Como o que? – Tristan perguntou, suspeitando da atitude dela.
|
Ela deu de ombros. – Uma vez derrubei um lustre do palco na cabeça
do canalha do meu ex– diretor – é
|
claro que só passou de pertinho. Ele sempre foi super
fã do Fantasma da Ópera – e é isso que quero dizer com
|
não deixar a oportunidade passar, é assim que
geralmente acontece comigo. Estou dois pontos perto da minha
|
missão, daí acontece algo, e volto três pontos para
trás, nunca conseguindo entender muito bem qual é minha
|
missão.
|
– Mas não se
preocupe. Você, provavelmente, vai ser mais disciplinado que eu. Para você,
vai ser rapidinho.
|
Vou acordar, Tristan pensou, e esse pesadelo vai ter
acabado. Ivy estará deitada em meus braços...
|
– Quanto você
quer apostar que aquelas garotas estão na capela?
|
Tristan olhou para
o edifício de pedras acinzentadas. Suas portas estavam fechadas
com pesadas correntes
|
desde quando era criança.
|
– Há um jeito
de entrar?
|
– Para nós
há sempre um jeito
de entrar. Para elas,
há uma janela quebrada
nos fundos. Algum
pedido
|
especial?
|
– Como?
|
– Alguma coisa
que você queira me ver fazendo?
|
Acordar– me, pensou Tristan. – Ah, não.
|
– Sabe, não sei
o que se passa na sua cabeça , Tristan, mas você está agindo como se
estivesse mais morto do
|
que já está.
|
Ela atravessou a parede. Tristan a seguiu.
|
A capela estava escura, exceto pelo verde luminescente vindo da
janela quebrada no fundo. Folhas secas e
|
gesso esfarelado estavam espalhados pelo chão. Os
bancos de madeira tinha iniciais entalhadas, escurecidas com
|
símbolos que Tristan não sabia decifrar.
|
As
garotas, que deviam
ser onze ou
doze. Estavam sentadas
em circulo ao
redor do altar,
rindo
|
nervosamente.
|
– Certo, quem
você vai chamar? – perguntou uma delas. Entreolharam– se e depois passaram a
olhar por
|
cima dos ombros.
|
– Jackie
Onassis – disse uma garota com rabo de cavalo marrom.
|
– Kurt Cobain –
sugeriu outra.
|
– Minha avó;
|
– Meu tio– avô
Lennie.
|
– Já sei! –
disse uma loirinha sardenta. – Que tal Tristan Carruthers?
|
Tristan piscou.
|
– Macabro
demais – disse a líder.
|
– É – disse a
morena ajeitando seu rabo de cavalo. – Ele provavelmente teria formigas
saindo por detrás da
|
cabeça.
|
– Eca! Que nojento!
|
Lacey abafou o riso.
|
– Minha irmã disse que era apaixonada por ele – disse
a loira sardenta.
|
– Uma vez,
tipo, quando a gente estava de
bobeira na piscina, ele, tipo assim, soou o apito para nós. Foi
|
maneiro.
|
– Ele era bonitão!
|
Lacey enfiou o dedo na garganta e revirou os olhos.
|
– Mesmo assim, ele deve estar macabro agora – disse a
ruiva.
|
– Quem mais a gente pode chamar?
|
– Lacey Lovitt.
|
As garotas se entreolharam. Qual delas tinham dito
isso?
|
– Eu me lembro dela. Ela fez o filme
|
Dark Moon Running
|
.
|
–
|
Dark Moon Running
|
.
|
Era a voz de Lacey.Tristan percebeu, parecia a mesma
voz, mas era diferente, da mesma forma que a voz das
|
pessoas na
televisão era a mesma, mas
soava diferente do que ao
vivo. De alguma forma,
todas conseguiam
|
ouvir a voz dela.
|
As garotas olharam em volta, um pouco assustadas.
|
– Vamos unir as
mãos – disse a líder. – Estamos chamando
Lacey Lovitt. Se você está aqui, nos dê um sinal.
|
– Nunca gostei de Lacey Lovitt.
|
Tristan viu os olhos de Lacey soltarem faíscas.
|
– Shhh! Os espíritos estão por perto!
|
– Posso vê– los! – Disse a loira. – Vejo sua luz! São
dois!
|
– Não vejo nada! – disse a garota de rabo de cavalo.
|
– Vamos chamar outra pessoa que não seja a Lacey
Lovitt.
|
– É, ela era muito metida.
|
Foi à vez de Tristan abafar o riso.
|
– Gosto da garota nova que está em Dark Moon. A que
ficou no lugar dela.
|
– Eu também – concordou a loira.
|
– Ela é uma atriz bem melhor. E o cabelo dela também é
melhor.
|
Tristan deu uma risadinha e olhou com cautela para
Lacey.
|
– É, mas ela
não está morta – disse a líder. – Estamos chamando Lacey Lovitt. Se você está
aqui, Lacey, nos
|
dê um sinal.
|
Começou com um pequeno redemoinho de poeira. Tristan
viu que Lacey ficou um pouco fraca conforme a
|
poeira rodopiava para o alto. Depois, a poeira abaixou
e ela já tinha voltado a si, correndo por fora do círculo,
|
puxando os cabelos das garotas.
|
As garotas gritaram e seguraram suas cabeças. Ela
beliscou duas delas, depois pegou seus casacos e os jogou
|
de um lado para outro. Nessa hora, as garotas já
estavam de pé, ainda gritando e correndo em direção á janela
|
quebrada.
Garrafas vazias voaram sobre suas cabeças, sendo esmagadas contra a parede da capela. As garotas
|
fugiram rapidinho, seus gr itos cada vez mais
distantes, parecendo o tímido piar dos passarinhos.
|
– Bem – disse Tristan assim que o silêncio voltou a
tomar conta do local. – Acho que todo mundo deveria
|
estar contente por não haver um lustre aqui. Sente– se
melhor?
|
– Pestinhas!
|
– Como você faz isso? perguntou.
|
– Eu vi essa nova atriz. Ela é péssima!
|
– Tenho certeza de que ela não é nem um pouco
dramática como você! Você consegue puxar e jogar. Como
|
você faz isso?
|
Não consigo usar minhas mãos de forma alguma.
|
– Descubra sozinho! – ainda estava furiosa. – Melhor
cabelo! – puxou as mechas roxas. – Esse é o meu estilo!
|
– disse, olhando para Tristan.
|
Ele sorriu para ela.
|
– Quanto ao uso das mãos, você acha mesmo que vou
desperdiçar meu tempo precioso ensinado você?
|
Tristan concordou com a cabeça.
|
– Um bom publico não é fácil de encontrar,
especialmente quando se está morto e a maioria não consegue
|
ver você.
|
Então, ele
a deixou com seu mau humor na capela. Imaginou que
ela saberia como encontrá– lo quando
|
estivesse pronta.
|
De novo sob
a luz do
sol, Tristan piscou.
Apesar de não
sentir as mudanças
de temperatura, era
muito
|
sensível à
luz e à escuridão.
Na capela escura, tinha visto
as auras ao redor
das garotas, e
agora, no cenário
|
Talvez tenha sido por isso que acabou confundindo o
visitante com Gregory. A forma como caminhava, o
|
cabelo
escuro e o
formato da cabeça
convenceram Tristan de
que era Gregory
saindo do jazido
da família
|
Baines. Então, o visitante, como se tivesse sentido a
presença de alguém a observá– lo, virou– se para trás.
|
Era bem mais
velho que Gregory, devia
ter mais de
40 anos, e seu
rosto estava contorcido
pela dor da
|
tristeza. Tristan estendeu a mão para ele, mas o homem
se virou e foi embora.
|
Tristan fez o mesmo, mas não antes de perceber que,
bem no centro do túmulo coberto pelo verde da grama
|
fresca de
Caroline, havia uma rosa vermelha de cabo longo.
|
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