sábado, 1 de dezembro de 2012

Capítulo 1 (Beijada por um Anjo)


Nunca imaginei que o banco de trás de um carro pudesse ser romântico – disse Ivy, reclinando– se, sorrindo
para Tristan. Em seguida, olhou para a bagunça que estava no chão do carro. – Talvez fosse melhor você tirar a
sua gravata de dentro do corpo do Burger King.
Tristan pegou a gravata encharcada e jogou– a no banco da frente, depois sorriu e sentou– se ao lado de Ivy
novamente.
– Ai! – o odor de flores esmagadas espalhou– se por todo o carro.
Ivy deu uma gargalhada.
–Qual é a graça? – perguntou Tristan, tirando as rosas esmagadas grudadas em suas costas, não conseguindo
evitar o riso.
– E se alguém passar por ai e reparar no adeviso de sacerdote do seu pai colado no pára– choque do carro?
Tristan jogou as flores no banco da frente e trouxe Ivy para mais perto de si. Deslizou a mão pelo vestido de
seda, que ela usava deu um beijo suave em seu ombro. – Eu falaria que estava com um anjo.
– Ah! Que conversa fiada!
– Ivy, eu te amo – disse Tristan, ficando serio subitamente.
Ela olhou para ele e depois mordeu os lábios.
–Isso não é um jogo. Eu amo você, Ivy Lyons, e um dia você vai acreditar em mim.
Ela deu– lhe um abraço apertado. – Te amo, Tristan Carruthers – sussurrou em seu ouvido. Ivy acreditava e
confiava nele como jamais havia confiado em alguém. Um dia, criaria coragem para dizer, com todas as letras,
Eu te amo, Tristan.  Colocaria a cabe a para fora da janela e gritaria. E at  colocaria uma faixa bem no meu da
piscina da escola.
Depois disso, levaram alguns minutos para se arrumar. Ivy começou a rir de novo. Tristan sorriu ao vê– la
tentar  inutilmente  te  arrumar  os  cabelos  desalinhados.    Em  seguida,  ligou  o  carro,  passando  por  cima  dos
buracos e das pedras até chegar à estrada estreita.
–Última olhada no rio – disse assim que fizeram uma curva, desviando– se do lugar em que estavam.
O sol de junho  dominava toda a região  oeste  do interior de  Connecticut, enviando os  seus raios  de luz às
copas das arvores, cobrindo– as como se fossem ouro. A estrada sinuosa parecia um túnel de bordos, álamos e
carvalhos. Ivy sentia estar nadando em meio às ondas com Tristan, o sol brilhando no alto, os dois juntos em
movimento uníssono, em direção a um abismo de azul, roxo e verde– escuro. Tristan ligou os faróis do carro.
–Você não precisa correr – disse Ivy. – Não estou mais com fome.
– Eu matei a sua fome?
Ela balançou s cabeça negativamente. – Acho que me alimentei de felicidade – respondeu suavemente.
A velocidade do carro contorneava aumentando pelas curvas da estrada. – Já falei  que  a gente não precisa
correr.
–Engraçado. Não sei o que... Não parece que... – murmurou Tristan, olhando para os pés.
– Vá mais devagar está bem? Não tem problema se a gente se atrasar um pouquinho.
– Ah! – Ivy apontou para frente da estrada. – Tristan!
Havia algo saindo do meio dos arbustos e parando no meio da estrada. Não dava para ver o que era. Só dava
para perceber a movimentação por entre as sombras. E, então, o cervo parou. Virou a cabeça e olhou fixamente
para as luzes dos faróis.
– Tristan! – eles estavam cada vez mais próximos dos olhos brilhantes. – Tristan, você não está vendo?
A velocidade não parava de aumentar.
–Ivy, tem algo...
–Um cervo!

Os olhos do  animal reluziam.  Havia  uma luz atrás  dele, uma  mancha  brilhante em meio  à escuridão. Um
carro vinha na outra pista. Do outro lado, havia inúmeras árvores. Nã o tinha como eles desviarem nem para a
esquerda nem para a direita.
–Pare! – ela gritou.
–Estou...
–Pare! Porque você não para? – ela implorou. –Tristan, pare!
O para– brisas explodiu.
Nos dias que se seguiram àquele, Ivy não conseguia se lembrar de nada, além da cascata de vidro estilhaçado.
Ivy deu  um pulo  ao ouvir os tiros.  Odiava  piscinas, especialmente  piscinas cobertas. Apesar de  ela  e suas
migas estarem a uns 300 metros da piscina, sentia– se como se estivesse  nadando. O ambiente não passava de
uma névoa úmida, escura, de cor verde azulada e com um forte cheiro de cloro. Todo ecoava, o som dos tiros,
os gritos da multidão, os nadadores caindo na água. Assim que Ivy entrou na área da piscina coberta, sentiu falta
de ar. O que ela queria mesmo era estar lá fora, apreciando a brisa e o sol daquele belo dia de março.
–Deixe– me ver de novo. Qual deles é ele? – perguntou.
Suzanne Goldstein olhou para Beth Van Dyke.  E Beth também olhou para Suzanne. As duas balançaram a
cabeça negativamente, suspirando.
–Ah  ta,  como  é  que  eu  posso saber quem  é  ele?  Todos estão  depilados, todos  eles, sem  exceção:  braços
depilados, pernas depiladas e até peitos depilados – um bando de carecas usando toquinhas de borracha e óculos
de  natação. Todos  usam  sungas  com  as  cores  da  escola. Pelo  que  sei, podiam  muito bem ser um  bando  de
alienígenas.
– Se eles são alienígenas, vou me mudar para o planeta deles – disse Beth sem parar de clicar a ponta da sua
caneta.
Suzanne  tirou  a  caneta  das  mãos  de  Beth  e  disse  com  a  voz  rouca:  –  Meu  Deus,  como  eu  gosto  de
competição de natação!
– Mas você nem liga para os nadadores quando a competição começa – comentou Ivy.
– Porque estou olhando para o próximo grupo a subir nos trampolins – explicou Beth.
– Tristan  é o que está na raia central. Os melhores nadadores  sempre competem nas  raias  centrais – disse
Suzanne.
– Ele é o nosso homem– bala. É o melhor no estilo borboleta.
Na verdade, é o melhor de todo o Estado – acrescentou Beth.
Ivy já sabia disso. Havia cartazes da equipe de natação espalhados por toda a escola: Tristan emergindo da
água, seus ombros movimentando– se rapidamente em direção ao espectador, seus braços poderosos como se
fossem asas.
A  pessoa  encarregada  da  publicidade  sabia  o  que  estava  fazendo  ao  escolher  aquela  foto.  E  tinha  feito
inúmeras  cópias, o  que  foi  muito  bom, pois todos os cartazes  de Tristan viviam  desaparecendo  – indo  parar
dentro dos armários das garotas.
Foi em algum momento   no  meio  dessa  loucura  de  cartaz  que Beth  e  Suzanne começaram a  pensar  que
Tristan estava interessado em Ivy. Bastaram dois encontrões no cor redor em um mesma semana para convencer
Beth, a criativa escritora que já tinha lido uma coleção de romances de bolso.
– Mas Beth, já dei vários encontrões em você. Você sabe como eu sou – argumentou Ivy.
– Sabemos – disse Suzanne. – Cabeça nas nuvens. Quilômetros  de distância da Terra. Vive no mundo dos
anjos. Mas, mesmo assim, acho que a Beth tem razão quanto a isso. Lembre– se, foi ele quem deu um encontrão
em você.
–  Talvez  ele  seja  desajeitado  fora  da  água.  Como  os  sapos  –  disse  Ivy,  sabendo  que  não  havia  nada  de
desajeitado em Tristan Carruthers.
Lembrou– se de seu primeiro dia na escola. Estava nevando e era inicio de janeiro. Uma líder de torcida tinha
sido designada para mostrar a escola a Ivy e fez questão de lhe mostrar quem era Tristan quando se dirigiam à
lanchonete lotada.
– Você provavelmente se interessa por atletas – disse a líder de torcida.
Na  verdade, Ivy estava ocupada tentando entender o que era aquela  coisa verde que  estavam servindo aos
alunos na lanchonete.
– Na sua escola em Norwalk, as garotas devem sonhar com os astros do futebol. Mas muitas das garotas de
Stonehill...
Sonha com ele, Ivy pensou assim que percebeu o olhar da líder de torcida concentrar– se em Tristan.
– Na verdade, prefiro alguém que tenha cérebro – disse Ivy.
– Mas ele tem cérebro! – insistiu Suzanne quando Ivy lhe contou sobre o que tinha conversado anteriormente
com a líder de torcida.
Suzanne  era  a  única  garota  que  Ivy  já  conhecia  em  Stonehill  e,  de  algum  modo,  ela  tinha  conseguido
encontrar Ivy no meio da multidão naquele dia.
– Estou falando de um c rebro que não esteja cheio d‘água – acrescentou Ivy.
– Você sabe que eu nunca dei bola para atletas. Quero alguém com quem eu possa conversar.
– Você já conversa com os anjos – disse Suzanne.
– Não começa com isso – avisou Ivy.
– Anjos? – Beth perguntou. Ela estava sentada à mesa ao lado, ouvindo a conversa delas. – Você fala com
anjos?
Suzanne  revirou  os  olhos,  mostrando–  se  incomodada  por  ter  sido  interrompida.  Em  seguida,  voltou  à
atenção para Ivy novamente. – Será que em algum lugar nessa sua coleção de asas há um anjo de amor?
–Sim.
– Que tipo de conversa você tem com eles? – Beth perguntou novamente. Ela abriu um bloco de anotações e
foi logo pegando o lápis como se fosse escrever tudo p que Ivy ia dizer, palavra por palavra.
Suzanne  ignorou  a presença de  Beth. –  Bom,  se  você realmente tem  um anjo  do  amor, Ivy, ele  não está
fazendo muito bem o seu trabalho, não é mesmo? Alguém precisa lembrá– lo de sua missão.
Ivy deu de ombros. Seus dias estavam muito ocupados e não havia tempo para prestar atenção nos rapazes.
Tinha de se dedicar à musica, ao trabalho na loja, à manutenção de suas notas acima da média, além de ajudar a
cuidar do seu irmão de oito anos, Philip. Os últimos meses tinham sido muito tumultuados para Philip, sua mãe,
e até para ela mesma. Não teria agüentado sem a ajuda dos anjos.
Depois daquele dia de janeiro, Beth passou a procurar Ivy para  perguntar sobre sua  crença nos anjos, bem
como para lhe mostrar alguns de seus contos românticos. Ivy gostava de conversar com ela. Beth era uma garota
de rosto redondo e cabelos tingidos, na altura dos ombros. Vestia– se de um jeito que variava entre o estranho e
o fora de moda, e vivia romances incrivelmente apaixonados – só na sua imaginação.
Suzanne tinha magníficos cabelos pretos e sobrancelhas e bochechas expressivas, também vivia uma vida de
muitas paixões  –  na  sala  de  aula  e  nos corredores, deixando  os  garotos  da  escola  Stonehill emocionalmente
exaustos. Beth e Suzanne nunca tinham sido amigas, mas, no final de fevereiro, tinha se unido na tentativa de
transforma Ivy e Tristan em um casal.
– Ouvi dizer que ele é bem esperto – disse Beth durante uma almoço na lanchonete.
– Ele é todo cérebro – concordou Suzanne. – O melhor aluno da classe.
Ivy ergueu a sobrancelha.
–Ou um dos melhores.
– Natação é um esporte sutil – continuou Beth – Sei que parece que a pessoa está indo para frente e para trás,
mas um cara como o Tristan planeja, ele tem uma estratégia complexa para vencer cada competição.
– Ah– hã – disse Ivy.
– O que a gente quer dizer é que basta você vir a uma competição de natação – disse Suzanne.
– Mas tem de se sentar bem na frente – sugeriu Beth.
–  E pode  deixar  que  eu escolho suas roupas neste  dia –  acrescentou Suzanne. –  Você  sabe  que  eu sei  te
produzir muito melhor do que você mesma.
Ivy balançou a  cabeça positivamente,  imaginando por que suas  amigas achavam  que  alguém como Tristan
estaria interessado nela.
Mas, quando Tristan apareceu na reunião dos alunos do segundo ano do Ensino Médio dizendo a todos que
a equipe de natação precisava da sua presença na ultima competição, sem tirar os olhos de Ivy o tempo todo,
sentiu que tinha uma chance.
– Se agente perder essa competição, você vai ficar com a consciência pesada – disse Suzanne.
Era final de março e Ivy estava observando Tristan balançar seus braços e pernas. Ele tinha uma constituição
perfeita de nadador – ombros poderosos e largos e cintura fina. A touca escondia seus lisos cabelos castanhos,
mas ela lembrava que eram curtos e espessos.
– Cada pedacinho dele é feito de músculos – suspirou Beth. Depois de dar vários cliques na caneta, que já
tinha  pego  de volta de  Suzanne, começou a escrever no seu  bloquinho.
Como  rocha reluzente. Sinuosa na mão do
escultor, fundida nos dedos do amante...
Ivy deu uma olhada no bloquinho de Beth. – O que você está fazendo, poesia ou romance?
–Tem diferença? – respondeu Beth.
–  Nadadores,  preparem–  se! –  disse  o  organizador  da  competição  em  voz alta  e  todos  subiram  em  seus
trampolins.
–  Ah, meu  Deus! Aquelas sunguinhas  não deixam muito espaço para imaginação, não é mesmo? Imagino
como p Gregory ficaria em uma delas – murmurou Suzanne.
Ivy a respondeu. – Fale mais baixo. Ele está bem ali.
– Eu sei – disse Suzanne, passando as mãos pelos cabelos.
– Aos seus lugares...
Beth inclinou– se para dar uma olhada em Gregory Baines.
Seu corpo esbelto e longilíneo, faminto q quente.
Bum!
– Você sempre usa essas palavras – disse Suzanne.
Beth  concordou.  –  É  que são  palavras  fortes,  parecem  combinar  com  sua  respiração.  Faminto,  excitado,
emocionante...
– Você vai tentar pelo menos assistir à competição? – disse Ivy, interrompendo a conversa.
– São 400 metros, Ivy. Tudo o que Tristan tem de fazer é ir para frente e para trás.
– Entendi. E aquela historia de ele ser totalmente cérebro, com uma complexa estratégia  de vitória no sutil
esporte da natação? – perguntou Ivy.
Beth estava escrevendo novamente:
nadando como um anjo. Desejando que suas asas molhadas servissem de aconchego
para Ivy
. – Eu estou muito inspirada hoje!
– Eu também – disse Suzanne alternando seu olhar entre Gregory e os corpos que se aqueciam para nadar.
Ivy viu o  que  ela  estava fazendo, mas voltou  a  se  concentrar  nos  nadadores novamente. Nos últimos três
meses, Suzanne corria atrás de Gregory Baines de forma quente, excitante e faminta. Ivy queria que Suzanne se
interessasse por outra pessoa e que isso acontecesse logo, muito rápido, antes do primeiro sábado de abril.
– Quem é aquela moreninha? – perguntou Suzanne. – Odeio tipos mignon. Ela não combina com Gregory.
Rostinho, mãozinhas, pezinhos.
– Peitões! – disse Beth, olhando para cima.
– Quem é ela? Você já a viu antes, Ivy?
– Suzanne, você está na escola há mais tempo do que...
– Você nem está olhando – disse Suzanne, cortando a frase de Ivy.
–  Porque  estou  olhando  para  o  nosso  herói.  Não  é  isso  que  eu  devia  estar  fazendo?  O  que  significa
Demolidor? Todo mundo grita Demolidor quando Tristan faz a volta.
– É o apelido dele – respondeu Beth – Por causa da forma como ele ataca a parece, arremessando– se contra
ela com a cabeça primeiro. Assim, consegue dar um impulso mais rápido.
–Entendi – disse Ivy. – É, ele parece mesmo um cérebro total para mim, atirando– se contra uma parede de
concreto. Quanto tempo normalmente duram essas competições?
–Ivy, por favor – implorou Suzanne, pegando– a pelo braço.
–Veja se você sabe quem é a morena.
–Twinkie.
–Você está inventando! – disse Suzanne.
– É a Twinkie Hammonds –  insistiu Ivy. – Ela faz aula de musica comigo.
Percebendo  que Suzanne não  parava  de encará–  la, Twinkie  virou– se para  ela  e fez  uma careta. Gregory
prestou atenção em tudo, olhando por cima dos ombros. Ivy conseguiu notar que ele estava se divertindo com a
situação.
Gregory  Baines  tinha  um  sorriso  encantador,  cabelos  escuros  e  olhos  acinzentados.  Olhos  acinzentados
muito maneiros, pensou  Ivy.  Era  alto, mas não  era  a sua  altura que fazia com  que se  destacasse  no meio da
multidão. Era  sua autoconfiança. Ele  era  como  um  ator, como uma  estrada  de  cinema  fazendo  seu papel,  e,
quando o show terminava, afastava– se dos demais por acreditar ser melhor que os outros. A família Baines era
a mais rica da cidade de Stonehill, mas Ivy sabia que não era por causa do dinheiro de Gregory, e sim por causa
dessa frieza, dessa indiferença, que Suzanne estava louca por ele. Suzanne sempre queria o que não podia ter.
Ivy  pegou  no  braço  da  amiga  suavemente  e  apontou  para  os  nadadores  que  estavam  se  alongando  para
começar a competir, esperando, assim, distraí– la de alguma forma. Depois gritou: Demolidor!, quando Tristan
começou  a  última  volta.  –  Acho  que  estou  pegando  o  jeito  –  disse.  Mas  percebeu  que  os  pensamentos  de
Suzanne continuavam em Gregory. Dessa vez, temia Ivy, Suzanne parecia estar profundamente apaixonada.
– Ela está olhando para nós. Está vindo na nossa direção – disse Suzanne toda animada.
Ivy sentiu a tensão em seu corpo. – E a cachorrinha de estimação está vindo logo atrás.
Por quê? Ivy se perguntou. O que Gregory teria pra falar com ela depois de passar três meses ignorando– a?
Em janeiro, entendeu rapidamente que Gregory não tinha a intenção de notá– la. E, como se tivessem feito um 
acordo silencioso, nem ele  nem Ivy falaram nada sobre o fato de que o pai dele iria se casar com  a mãe dela.
Poucas pessoas sabiam que Gregory e Ivy passariam a morar na mesma casa no começo de abril.
–  Oi,  Ivy!  –  Twinkie  foi  a  primeira  a  falar.  Ela  tentou  se  sentar  perto  de  Ivy,  ignorando Suzanne  e  mal
olhando para a Beth. – Acabei de falar para o Gregory que sempre me sento ao seu lado na aula de música.
Ivy olhou para a garota com surpresa. Nunca tinha percebido em que lugar Twinkie se sentava.
– Ele disse que nunca ouviu você tocar piano, e eu estava falando para ele como você toca bem.
Ivy  abriu  a  boca  para  falar,  mas  não  conseguiu  pensar em nada para  dizer.  Na  última  vez em  que  tocou
alguma composição sua na sala, tudo o que Twinkie fez para mostrar seu interesse foi lixar as unhas.
Foi ai que Ivy percebeu que Gregory estava  olhando para ela.  Quando ela olhou para ele, este piscou .  Ivy
apontou para suas amigas e disse: – Vocês conhecem Suzanne Goldstein e Beth Van Dyke?
– Não muito – ele disse, sorrindo para as duas.
Suzanne  estava  radiante.  Beth  olhava  para  todos  com  o  interesse  de  uma  pesquisadora,  o  tempo  todo
clicando sua caneta.
– Sabe de uma coisa, Ivy? A partir de abril você vai morar bem perto da minha casa – disse Twinkie. – Vai
ficar mais fácil se a gente começar a estudar juntas agora.
Mais fácil?
– Posso te dar uma carona para escola. É rapidinho da minha casa até a sua.
Rapidinho?
– Talvez a gente possa passar mais tempo juntas?
Mais tempo?
–Então, Ivy – disse Suzanne, piscando exageradamente seus longos cílios. – Você nunca me contou que era
tão intima da Twinkie! Talvez nós todas devêssemos passar mais tempo juntas. Você iria gostar de ir à casa da
Twinkie, não iria, Beth?
Gregory mal conseguiu esconder o riso.
– Devíamos fazer uma noite de pijama, Twinkie.
Twinkie não pareceu muito entusiasmada.
– Poderíamos falar sobre os rapazes e fazer uma votação de mais bonitão daqui.
Suzanne voltou sua atenção para Gregory, olhando– o de cima a baixo, prestando atenção em cada detalhe.
Ele continuo mostrando que estava se divertindo muito.
–Conhecemos outras garotas, da escola antiga da Ivy em Norwalk – Suzanne continuou de forma animada.
Sabia que as garotas da alta sociedade de Stonehill, que iam e voltavam todo dia de Nova York, não tinham nada
a ver com as caipiras de Norwalk.
– Elas iam adorar vir até aqui. Assim podemos ser todas amigas. Você não acha que seria muito legal?
– Não, não acho – disse Twinkie dando as costas para Suzanne.
– Foi muito bom conversar com você, Ivy. Espero vê– la em breve. Venha, Gregory, está muito lotado aqui.
– disse Twinkie, aninhando– se debaixo dos braços dele.
Assim que Ivy voltou sua atenção para a piscina, Gregory pegou em seu queixo. Com as pontas dos dedos,
virou o rosto dela na sua direção. Estava sorrindo.
– Ingênua, Ivy – disse. – Você parece envergonhada! Isso tem acontecido comigo também, sabia? Há muitos
rapazes, que eu mal conheço, que de repente passaram a agir como se fossem meus melhores amigos, e estão
contando com o fato de poderem me visitar a partir  da primeira semana de abril. Porque você acha Ivy que isso
está acontecendo?
Ivy deu de ombros. – Acho que é porque você é uma pessoa muito popular.
–  Você é  mesmo ingênua! – disse  ele.  Ela  queria que  ele  parasse  de pegar no  seu pé. Olhou para a  outra
arquibancada, onde estavam os amigos dele. Eric Grent e um outro rapaz conversavam com Twinkie e riam. O
supermaneiro Will O‘ Leary olhava para ela.
Gregory tirou a  mão do queixo dela. Saiu  balançando  a  cabeça e foi em direção a seus amigos, seus olhos
ainda mostravam o quanto estava se divertindo com a situação. Quando Ivy voltou sua atenção para a piscina
novamente, viu que três rapazes com toucas de borracha e sungas exatamente iguais estavam olhando para ela.
Não fazia a mínima idéia se algum deles era Tristan.

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