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O que eu tinha na
cabeça? Eu era um completo idiota.
Foi fácil
ser valente em casa. Lá eu estava amparado pelas pequenas
estantes de livros e pelo amor cego da minha mãe por
sua prole bizarra. Era
fácil ser corajoso e fazer planos quando tudo que eu
precisava fazer era ler
alguns livros, sobreviver a um ataque de urticária
solar ou absorver a radiação
de cinco horas de televisão. Era fácil fazer planos
para seduzir e impressionar
todo mundo que eu conhecia, já que eu não conhecia
ninguém em Nova York
além das três pessoas obrigadas por lei a me amar:
minha mãe, que me pôs no
mundo; Luke, que partilhava meu DNA; e meu pai, que não
sabia muito das
coisas.
Agora, indo
para a Escola Pública de Pelham no meu Volvo, eu estava
morrendo de medo. Até o meu pequeno carro prateado
parecia envergonhado
por causa dos outros carros, maiores e mais robustos —
aqueles jipes e
utilitários com seus duvidosos equipamentos de
segurança, além do Hummer
amarelo que não estava nem aí para o meio ambiente.
Tentei entrar no
estacionamento, mas fui fechado por um carro vermelho
cujo motorista ouvia
um rap com sons de tiroteio, e ainda cantava junto. Dez
minutos na escola
pública e eu já tinha me metido num atentado em pleno
trânsito!
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Ao que tudo
indica, tem um adesivo no meu para-choque dizendo ―Sou
otário, pode me fechar‖, porque, depois que o primeiro carro me fechou, um
monte de garotos de bicicleta atravessou a rua na
frente do meu carro sem
nem olhar. Enquanto eu deixava todo mundo passar — por
tanto tempo que
deixei o carro em ponto morto –, pensei que talvez
fosse a diversidade que
estava me deixando nervoso com toda essa coisa de
escola nova e tal. Afinal,
sou do Meio-Oeste. Segundo a Wikipédia, minha cidade
natal, Alexandria, em
Indiana, tem ―0,46% de negros ou afro-americanos‖. Nossos vizinhos ficaram
tão animados quando uma família negra se mudou para a
nossa rua que lhe
deram uma cesta de boas-vindas com as três primeiras
temporadas de The
Cosby Show em
DVD. Em Indiana, eu ia para a escola com um monte de
outros caras brancos de colete vermelho e calça cáqui.
A maioria deles era
bem parecida comigo. E um deles era meu irmão gêmeo.
Mas as
pessoas não eram parecidas na Escola Pública de Pelham. E você
pode apostar a própria pele que ninguém usava gravata.
Estacionei o carro na
vaga mais distante da escola e estava pronto para fazer
o resto do percurso
andando. Eu não queria pegar uma vaga mais próxima, que
podia ser
reservada para idosos, outros estudantes ou algo assim.
E, olhando ao redor,
tinha um monte de alunos com quem eu não gostaria de me
meter.
Havia os
caras — caras de brinco, com jeans apertados, jeans rasgados,
caras que poderiam segurar minha cabeça com uma mão,
caras que eram
maiores, mais durões, mais bronzeados e muito mais
descolados do que eu. E
havia as meninas — meninas com blusa de alcinha, com
jeans apertados,
tentando provar alguma coisa, conversando em grupinhos,
revirando suas
bolsas enormes, meninas que balançavam o rabo de cavalo
sem mexer o corpo
(elas deviam ser bruxas para conseguir fazer isso!),
meninas torradas pelo sol,
meninas com sorrisos tão brilhantes que eu não
conseguia olhar diretamente
para elas.
Tentando
evitar contato visual com cento e cinquenta alunos de uma vez,
deslizei para dentro da onda de gente que ia em direção
ao portão de entrada
da escola.
— Ei! —
chamou um punk sentado na capota de um Chevy enferrujado.
Tinha outro cara sentado lá com ele, e mais outro no
teto do carro. Os três
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dividiam o mesmo cigarro, enquanto faziam desenhos com
marca-texto nos
tênis brancos.
Olhei em volta
e respondi:
— Ei.
— Escolheu
bem o lugar para estacionar — disse o garoto.
Os três
riram e olharam para o meu Volvo superseguro, com seus airbags
e o espaço do tamanho de uma piscina olímpica entre ele
e o carro ao lado.
Dei de ombros.
— Sua bicha
— o garoto gritou para mim.
Enquanto eu
saía do estacionamento de estudantes e andava em direção à
escola, via meu plano de vampiro pelos olhos de todos
aqueles alunos ao meu
redor. E, pelos olhos deles, meu plano parecia realmente
estúpido. Esse cara ia
fingir que era um vampiro para ser popular!, imaginei
aqueles garotos
sussurrando um para o outro e postando a conversa na
versão da Escola de
Pelham do site da Gossip Girl. Apesar da diversidade,
todos eles se juntariam
para rir de mim.
Baixei a
cabeça no estilo do Bisonho, amigo do Ursinho Puff. O mesmo
fracassado e miserável Finbar de sempre. E,
aparentemente, o mesmo
descoordenado e idiota de sempre, que tropeçou em
alguma coisa quando
nem estava olhando para onde ia. Aliás, tropeçou em
alguém.
Empoleirada
como uma gárgula no terceiro degrau, a menina ficou
indignada e largou um livro enorme que estava
segurando.
— Você me
chutou! — gritou, apertando os olhos na minha direção.
— Desculpe —
eu disse. — Sou mesmo um idiota. Sinto muito. É meu
primeiro dia aqui, e não faço ideia para onde estou
indo ou o que estou
fazendo, então...
— Você é
calouro? — ela perguntou. — Meu nome é Jenny.
— Não, eu
não sou...
— Você é
muito alto para um calouro — ela disse. — Tem o quê, um
metro e noventa? Você deve ser uns trinta centímetros
mais alto que eu.
Vamos medir.
Quando Jenny
se levantou para comparar nossa altura, seu livro caiu no
chão. Como havia gente passando apressadamente por nós,
eu me inclinei
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rapidamente para apanhá-lo e impedir que fosse
pisoteado. A capa tinha uma
mulher de vestido branco que me parecia familiar — um
vestido de renda e
com um decote generoso. E as letras grandes, gotejantes
e dramáticas,
chamaram minha atenção. Sede de sangue.
Jenny gostava de vampiros! Me endireitei e entreguei o
livro para ela. De
repente, todas aquelas pessoas ao meu redor não
representavam nada além de
tipos diferentes de inferioridade. Por Deus, eu era o
Chauncey Castle da
Escola Pública de Pelham! Os caras com marca-texto que
dirigiam latas-velhas
e as meninas com sapatos de salto assustador não podiam
comigo.
— Tenho que
entrar — eu disse a Jenny, acrescentando de maneira
despreocupada, mas sem deixar dúvidas:
— O sol não
me faz bem.
Quando eu
disse isso, Jenny pareceu totalmente intrigada. Sem nem ao
menos tentar, eu tinha achado o alvo perfeito. Ela
entrou na escola comigo,
quase tropeçando para não perder meu rastro. Depois me
acompanhou até a
secretaria, onde peguei o número do meu armário, e até
o meu armário, que
tive de chutar para abrir. Ficou fazendo perguntas o
tempo todo.
Qual era a
minha série? Segundo ano. A dela também. De onde eu era?
De longe. Mas... de onde exatamente?
— Você sabe,
do meio do país — respondi.
Eu queria
que o vampiro Finbar imitasse as vagas e filosóficas respostas
de Chauncey Castle. Infelizmente, acabei soando como o
Justin Bobby, de
The Hills.
Jenny
prosseguiu com o interrogatório: Quais eram as minhas aulas?
(Entreguei minha lista a ela e comparamos nossas
aulas.) Eu tinha carteira de
motorista? Sim. Tinha carro? Sim. Eu gostava de ler?
Sim, muito. Eu já tinha
lido livros de fantasia? Não. Por que não?
— Eu não
acho... — peguei o Sede de sangue da mão dela e dei uma
rápida olhada na capa.
— Não acho
que sejam muito realistas — completei, com um olhar cheio
de significado.
Eu esperava
que Jenny fosse entender a dica — de que os livros
fantásticos não eram tão realistas quanto minha própria
vida de vampiro. Mas
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ela estava ocupada demais me levando para nossa
primeira aula em comum,
história americana. Eu estava prestes a descobrir que,
ao contrário do St. Luke,
na Escola de Pelham não havia lugar certo para sentar (nada
de Johnny
Frackas perto de mim aqui!). Jenny escolheu um lugar no
fundo e se sentou
facilmente, enquanto eu tive de me espremer na carteira
ao lado dela. Desde o
meu estirão de crescimento no verão, eu batia os
joelhos nas mesas e agora na
carteira da escola. Eu estava tentando encontrar um
lugar para os meus pés
quando um garoto se sentou do outro lado da Jenny.
Aparentemente o pessoal
da Pelham não se preocupava com quem sentava ao lado de
quem, já que o
garoto nem piscou antes de botar a mochila lá.
Eu esperava
que Jenny fosse entender a dica — de que os livros
fantásticos não eram tão realistas quanto minha própria
vida de vampiro. Mas
ela estava ocupada demais me levando para nossa
primeira aula em comum,
história americana. Eu estava prestes a descobrir que,
ao contrário do St. Luke,
na Escola de Pelham não havia lugar certo para sentar
(nada de Johnny
Frackas perto de mim aqui!). Jenny escolheu um lugar no
fundo e se sentou
facilmente, enquanto eu tive de me espremer na carteira
ao lado dela. Desde o
meu estirão de crescimento no verão, eu batia os
joelhos nas mesas e agora na
carteira da escola. Eu estava tentando encontrar um
lugar para os meus pés
quando um garoto se sentou do outro lado da Jenny.
Aparentemente o pessoal
da Pelham não se preocupava com quem sentava ao lado de
quem, já que o
garoto nem piscou antes de botar a mochila lá.
— E aí, Jen
— ele disse devagar. No instante seguinte, dormiu.
Me inclinei
para frente para ver o garoto. Fiquei fascinado. Nunca tinha
visto alguém cair no sono numa sala de aula de verdade.
Pensava que só os
personagens de séries dos anos setenta e os anti-heróis
dos filmes do John
Hughes faziam isso. Mas lá estava um aluno do segundo
ano, com seu cabelo
encaracolado para cima e para baixo, num ritmo
tranquilo. Ele estava
dormindo mesmo. Dava até para ver um pouco de baba!
Quando nosso
jovem e ansioso professor entrou na sala — e se
atrapalhou todo durante
vinte minutos tentando usar o quadro e um notebook para
nos mostrar um
vídeo de dois minutos do Jon Stewart —, observei o
cochilo daquele cara na
carteira e tomei aquilo como um presságio. Um bom sinal
de que a Escola de
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Pelham seria, pelo menos em comparação com o St. Luke,
um lugar
descontraído.
Embora Jenny
fosse prestativa e eu tivesse sentado com ela nas duas
primeiras aulas, não tinha certeza se queria que todo
mundo pensasse que
éramos melhores amigos. Ela era um pouco estranha, com
sua enorme
coleção de livros fantásticos guardados na mochila que
ficava grudada em suas
costas o tempo todo. Com cabelo laranja e sardas, Jenny
podia parecer uma
garotinha de propaganda de bolacha recheada. Mas estava
sempre de preto —
gargantilha preta e camisa preta com caveiras e facas.
E também tinha tingido
o cabelo de preto, embora os fios alaranjados já
tivessem crescido, o que
deixava tudo metade laranja e metade preto. Ela tinha
um ar gótico sinistro
que alguém que anda com vampiros tem que ter, mas
faltava aquele algo a
mais sexy e descolado de que eu precisava.
Assim, na
terceira aula, de física, me separei de Jenny para sentar sozinho
numa mesa do laboratório e parecer melancólico. Como o
grupo de alunos até
agora tinha sido o mesmo em todas as aulas, e estava na
cara que passaríamos
um bom tempo juntos, era importante passar uma
impressão vampiresca para
eles. Por isso, enquanto o professor construía uma
montanha-russa de Lego,
eu fazia minha melhor imitação de
Edward-Cullen-na-aula-de-biologia.
Quando uma morena bonita sentou perto de mim, apenas
olhei para ela
brevemente antes de desviar o rosto. Tinha certeza que
esse olhar sombrio e
sinistro teria sobre ela o mesmo efeito que o do Edward
teve sobre a Bella em
Crepúsculo. Meu olhar ardente e raivoso e minha expressão amarga revelavam
um animal que lutava para controlar o próprio desejo de
avançar em seu
pescoço nu.
Obviamente
atraída pelo fascínio que eu exercia, a menina se virou para
mim e falou:
— Você quer
um sal de frutas?
Fiquei
totalmente confuso e meio que perdi meu olhar ardente.
— Como é? —
perguntei.
Ela puxou um
pote de sal de frutas da bolsa e disse:
— Parece que
você vai vomi.
— O quê? —
perguntei.
|
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— Vomitar —
esclareceu a menina.
Após esse
incidente, decidi não me aventurar tanto. Sabia que a Jenny
poderia me dar as informações necessárias sobre todo
mundo.
A morena?
— É a Ashley
Milano. Ela participa de tudo. E fala demais. E abrev.
— Ela o quê?
— Ela fala
usando abreviações — disse Jenny. — Ok, o próximo: Jason
Burke. Ele parece um atleta, mas na verdade é bem
inteligente.
— Matt Katz
— ela apontou para o garoto que tinha caído no sono na
aula de história americana. — Maconheiro. Ele é muito legal.
Sabe mais sobre
as batalhas do rap do que a sra. Karl sabe sobre força
centrífuga.
Matt Katz
não parecia alguém que conhece as batalhas do rap. Ele parecia
alguém que acampa no show do Dave Matthews e fuma
maconha até entrar
em órbita. Bom, eu também não tinha cara de fã de rap.
Claro que eu não era
tão fanático quanto o Matt, que aparentemente havia
elaborado uma tese para
provar que o Tupac ainda estava vivo.
— Nate
Kirkland — Jenny continuou, apontando para um garoto com
cabelo de surfista. A descrição foi breve:
— Caçador de
tatu.
— Sério? —
perguntei. Enfiar o dedo no nariz em plena sala de aula me
parecia bem corajoso. Ainda mais do que dormir durante
a aula.
— Ah, ele
enfiou o dedo no nariz uma vez na terceira série — ela contou.
— Como você
sabe? — perguntei.
— A gente
sempre estudou juntos — ela disse. — Fazia três anos que
não chegava ninguém novo. Todos nós achamos você...
muito misterioso.
Sorri
automaticamente, satisfeito. Meu plano estava funcionando! Então
lembrei que caras misteriosos — e vampiros — não
sorriem. Fechei a cara na
hora, numa carranca muito viril.
— Aquela é
Kayla Bateman — Jenny continuou, fazendo careta para a
menina.
Olhei para
ela. Ah, eu já tinha notado a Kayla Bateman.
— Ela está
sempre dando um jeito de mostrar os peitos — disse Jenny,
implacável.
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Naquele
instante, Kayla estava conversando com uns caras sobre os
colares que estava usando. Eles estavam fascinados. Ela
tirou um, depois o
outro, de dentro de seu decote sem fim.
— Meu pai
me deu uma estrela de davi, e minha mãe me deu um
crucifixo — ela explicou. — É que, tipo, por que eu não
posso levar os dois
no peito?
— Ãhã — os
caras concordaram, completamente hipnotizados pelo par
de... colares.
A aula de
educação física foi uma agradável surpresa. E eu nunca havia
dito isso em todos os meus anos de escola. Quando
cheguei, tinha um
treinador sentado numa mesa e uns sessenta e cinco
alunos em fila na frente
dele, todos de mochila. Cada vez que um aluno se
afastava da mesa, sentava
no chão e começava a preencher uns papéis. Aquilo
parecia mais um exame
psicotécnico do que educação física. E, para falar a
verdade, eu prefiro o
psicotécnico à educação física.
Entrei na
fila e perguntei para a menina na minha frente:
— Todo
mundo aqui está na aula de educação física do segundo ano?
Tem, tipo, uns setenta alunos na fila.
Aquele jogo
de queimada ia ser um inferno. Fiquei imaginando sessenta e
nove pessoas contra mim. Eu ia virar pó.
— Tem só,
tipo, umas vinte vagas por aula — ela disse. — E umas trinta
no futebol. Aqueles caras chegaram cedo na fila para
conseguir se inscrever no
futebol.
— Espera
aí, então quer dizer que a gente pode escolher o que quer
fazer? — perguntei.
Quando
cheguei ao início da fila, o professor de educação física gritou:
— Nome?
— Frame,
senhor.
— Frame.
Certo, Frame — ele me entregou um cadeado trancado e um
cartão de instruções. — Número do armário e senha.
Em seguida,
me deu uma folha amarela dobrada que tinha tirado de uma
pilha.
|
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— Esta é a
lista de aulas. Marque sua primeira e segunda opção. E sinto
informar que...
O treinador
riscou um enorme X vermelho na primeira opção da folha.
Até os professores de educação física usam caneta
vermelha?
— ... não
há mais vagas para futebol.
— Que saco!
— eu disse. Foi minha tentativa patética de parecer
contrariado. Na verdade, eu estava aliviado. O futebol
sempre acabava com
uns agarrando a virilha dos outros.
Com a folha
amarela na mão, fui procurar um lugar vazio no chão do
ginásio. Sentei, cruzei as pernas e comecei a examinar
minhas opções.
Levantamento de peso. Nem a pau. Basquete. Nã.
CardioPump, CardioFunk,
CardioFlex... constrangedor. Ciências nutricionais?
— Que
merda, cara. Só sobrou ciências nutricionais — disse um garoto
que estava saindo da fila com outro cara. Os dois
sentaram perto de mim.
— Ei, o que
é isso? — perguntei. — Ciências nutricionais?
— Você fica
sentado na sala falando sobre vegetais — ele disse. — Tem
até prova. É um saco.
— É, parece
horrível — eu disse.
Prova? Eu
adorava provas! Eu era ótimo em provas! Virando meu papel
para que eles não pudessem ver, escrevi um número 1
gigante ao lado de
ciências nutricionais. Dobrei a folha ao meio e a
coloquei na pilha na mesa do
treinador.
O primeiro
dia correu tão bem que eu esqueci um detalhe desagradável: a
sala de orientação. Na verdade, eu não tinha lembrado
até agora, quando
comecei a recordar tudo.
Essas aulas
reúnem alunos em ordem alfabética e são sempre um porre.
Durante quinze minutos entre o primeiro período
(história) e o segundo
(física), fiquei mergulhado num caldeirão de alunos de
diferentes panelinhas,
sendo o F do sobrenome a única coisa que tínhamos em
comum. Nosso
orientador era o sr. Pitt.
— Frame? —
o sr. Pitt, que tinha duas manchas de suor embaixo dos
braços, olhou a lista de chamada.
— É Frame
mesmo? Onde está o Frame?
|
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Tentei me
esconder atrás de dois garotos que jogavam bola entre as
mesas.
— É... é...
— gaguejei. Mas então lembrei que era um vampiro e me
levantei, de peito estufado.
— Sou eu —
declarei.
— É Frame?
Seu nome? — ele perguntou, olhando para a lista.
— Frame é o
sobrenome — esclareci.
— Então o
nome é Finbar?
— Isso
mesmo.
Sentei.
— Nossa —
disse um jogador de lacrosse do meu lado. — Que nome gay
é esse?
O amigo
dele, com um daqueles bonés brancos de beisebol que jamais
tinham visto água e sabão, soltou uma risadinha
estúpida.
Esperei,
mantendo a calma a todo custo, até que o cara do lacrosse se
virasse para ver minha reação.
O velho
Finbar teria ficado vermelho de vergonha. Agora, como um
verdadeiro vampiro, mantive minha pálida serenidade e
me concentrei em
pegar um chiclete, que também fazia parte do meu plano.
Por algum motivo,
mascar chiclete e ser descolado são duas coisas
associadas na minha cabeça.
Quando ele
se virou para mim, enxerguei melhor o rosto cheio de acne
do jogador de lacrosse. Todo jogador de lacrosse que
conheci era coberto de
espinhas. A Neutrogena deve ganhar fortunas com aqueles
capacetes
fechados.
— Você é
mudo, cara? — provocou. — Que nome gay é esse?
Apontei para
uma espinha particularmente desenvolvida no queixo dele.
Tinha a marca de duas meias-luas no lugar em que ele claramente
tentou
espremer com as unhas, mas não conseguiu.
— Tem alguma
coisa no seu rosto... bem ali — eu disse.
Deus abençoe
a estupidez do amigo dele, que soltou a mesma risada
idiota com o meu comentário, como tinha feito quando o
outro falou comigo.
— Cala a
boca, cara — o jogador de lacrosse murmurou vagamente para
o amigo, ou para nós dois.
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O sinal
tocou. A tortura da sala de orientação havia acabado e eu me
sentia diferente de antes, quando zombavam de mim. No
St. Luke, eu sempre
afundava na cadeira ou me encolhia. Hoje, me senti nas
alturas.
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