DEZESSETE
Alguns dias depois, Lissa me encontrou longe do pessoal e me
deu a melhor noticia do mundo.
“O tio Victor vai pegar a Natalie e a levar ela esse final
de semana para o ir ao shopping em
Missoula. Para o baile. Eles disseram que eu podia ir
junto.”
Eu não disse nada. Ela parecia surpresa com o meu silencio.
“Isso não é legal?”
“Pra você, eu acho. Não vejo nenhum shopping ou baile no meu
futuro.”
Ela sorriu excitada. “Ele disse Natalie que ela podia levar
duas pessoas além de mim. Eu a
convenci em levar você e Camille.”
Eu ergui minhas mãos. “Bom, valeu, mas eu não posso nem ir
na biblioteca depois da aula.
Ninguem vai me deixar ir até Missoula.”
“O tio Victor acho que ele pode convencer a diretora Kirova
em deixar você ir. Dimitri também
está tentando.”
“Dimitri?”
“Eh. Ele tem que ir comigo se eu sair do campus.” Ela
sorriu, pegando meu interesse em
Dimitri tanto quanto no shopping. “Eles descobriram minhas
finanças finalmente – eu tenho
minha mesada de volta. Então nós podemos comprar outras
coisas além do vestido. E você
sabe, se eles deixarem você ir ao shopping, eles vão deixar
você ir no baile.”
“Nós vamos a bailes agora?” Eu disse. Nós nunca tínhamos ido
antes. Eventos patrocinados
pela escola? De jeito nenhum.
“É claro que não. Mas você sabe que vai haver todo tipo de
festa secreta. Nós vamos no inicio
da baile e depois saímos de fininho.” Ela disse feliz. “Mia
está com tanto ciúmes que ela mal
consegue agüentar.”
Ela continuou falando sobre todas as lojas onde a gente
iria, e todas as coisas que podíamos
comprar.Eu admito, eu estava meio ansiosa sobre a
perspectiva de comprar roupas novas, mas
eu duvidava que eu pudesse pegar os novos lançamentos
míticos.
“Oh ei,” ela disse excitada. “Você deveria ver os sapatos
que a Camille me emprestou. Eu
nunca soube que a gente usava o mesmo tamanho. Guenta aí.”
Ela abriu sua mochila e
começou a remexer.
De repente, La gritou e jogou pra longe. Livros e sapatos
caíram. E também uma pomba morta.
Era uma das pombas marrom pálido que ficavam em fios na
estrada e sob as arvores no
campus. Tinha tanto sangue que eu pude imaginar qual eram os
ferimentos. Quem ia saber
que algo tão pequeno ia ter tanto sangue assim?
Independentemente, o pássaro
definitivamente estava morto.
Cobrindo sua boca, Lissa encarou sem palavras, com os olhos
arregalados.
“Filho da mãe,” eu xinguei. Sem hesitar, eu peguei um
graveto e tirei o corpo da pequena ave.
Quando estava fora do caminho, eu comecei a colocar as
coisas dela de volta na mochila,
tentando não pensar em germes de aves mortas. “Porque diabos
isso continua- Liss!”
Eu me abaixei e peguei ela, puxando-a para longe. Ela estava
ajoelhada no chão, com suas
mãos esticadas para o pombo. Eu não acho que ela nem se deu
conta do que ela estava
prestes a fazer. O instinto nela era tão forte, que agiu
sozinho.
“Lissa,” eu disse, endurecendo minhas mãos ao redor dela.
Ela ainda estava se inclinando em
direção ao pássaro.”Não. Não faça isso.”
“Eu posso salva-lo.”
“Não, você não pode. Você prometeu,lembra? Algumas coisas
tem que permanecer mortas.
Deixa isso pra lá.” Ainda sentindo sua tenção, eu implorei.
“Por favor, Liss. Você prometeu.
Nada mais de curas. Você disse que não faria. Você me
prometeu.”
Depois de mais alguns minutos, eu senti sua mão relaxar e o
seu corpo tropeçar no meu. “Eu
odeio isso, Rose. Eu odeio tudo isso.”
Natalie apareceu, inconsciente da vista horrível que a
esperava.
“Hey,vocês – oh meu Deus!” Ela gritou, vendo o pombo.”O que
é isso?”
Eu ajudei Lissa a se levantar. “Outra, hum, brincadeira.”
“Isso...tá morto?” Ela fez um careta de nojo.
“Sim”, eu disse com firmemente.
Natalie, absorvendo nossa tensão, olhou pra nós. “O que mais
está errado?”
“Nada.” Eu entreguei pra Lissa sua mochila.”Isso é só uma
estúpida e doente piada, e eu vou
contar pra Kirova para que eles limpem isso.”
Natalie se virou, parecendo um pouco verde. “Porque as
pessoas continuam fazendo isso com
você? É horrível.”
Lissa e eu trocamos olhares.
“Eu não faço idéia,” eu disse. E no entanto enquanto eu
andava para o escritório de Kirova, eu
comecei a me perguntar.
Quando nós encontramos a raposa, Lissa tinha achado que
alguém deveria saber sobre o
corvo. Eu não tinha acreditado nisso. Nós estávamos sozinhas
na floresta aquela noite, e a Sra.
Karp não teria contado pra ninguém. Mas e sem alguém
realmente tivesse visto? E se alguém
ficava fazendo isso, não para assustar ela, mas fazer se ela
podia fazer de novo? O que a nota
que estava junto com o coelho dizia? Eu sei o que você é.
Eu não comentei nada disso com Lissa; Eu acho que só existe
um certo numero das minhas
teorias de conspiração que ela pode agüentar. Além do mais,
quando eu a vi no outro dia, ela
tinha praticamente esquecido sobre o pombo devido as outras
noticias: Kirova tinha me dado
permissão para ir na viagem do fim de semana. A perspectiva
de um shopping pode fazer com
que muitas situações negras se iluminem – mesmo assassinato
de animais – e eu pus minhas
preocupações em espera.
Mas, quando veio a hora, eu descobri que eu fui liberada com
algumas condições.
“A diretora Kirova acha que você tem se saído bem desde que
voltou,” Dimitri me disse.
“Fora o fato de ter começado uma briga na aula do Sr. Nagy?”
“Ela não culpa você por isso. Não inteiramente. Eu a
convenci de que você precisa de um
tempo... e que você poderia usar isso como um exercicio de
treinamento.”
‘Exercício de treinamento?”
Ele me deu uma explicação breve enquanto nós andávamos para
nos encontrar com os outros
que iam conosco. Victor Dashkov, mais doente que nunca,
estava lá com seus guardiões, e
Natalie praticamente grudada a ele. Ele sorriu e deu a ela
um cuidadoso abraço, que terminou
quando uma tosse tomou conta. Os olhos da Natalie se
alargaram de preocupação enquanto
ela esperava a tosse passar.
Ele alegou que estava bem para nós acompanhar, e enquanto
admirava sua determinação, eu
pensei que ele estava passando por bastante coisa só sair as
compras com um bando de
garotas adolescentes.
Nós fizemos uma viagem de duas horas até Missoula numa van
escolar grande, partindo logo
depois do sol nascer. Muitos Moroi viviam separados dos
humanos, mas muitos também
viviam junto com eles, e para fazer compras no shopping,
você tinha que ir no horário deles. A
janela de trás da van tinha cobertura para filtrar a luz e
manter o pior longe dos vampiros.
Nós tínhamos nove pessoas no grupo: Lissa, Victor, Natalie,
Camille, Dimitri,eu e mais três
outros guardiões. Dois dos guardiões, Bem e Spiridon, sempre
viajavam com Victor. O terceiro
era um guardião da escola: Stan, o idiota que tinha me
humilhado no primeiro dia de volta.
“Camille e Natalie não tem guardiões pessoais ainda,”
Dimitri me explicou. “Ambas estão sob
proteção dos guardiões de sua família. Já que elas são
estudantes da academia saindo do
campus, um guardião da escola tem que acompanha-las – Stan.
Eu vou porque eu sou o
guardião responsável por Lissa. A maioria das garotas da
idade dela não teria um guardião
responsável ainda, mas as circunstancias a faz especial.”
Eu sentei no fundo da van com ele e Spiridon, para que eles
pudessem me mandar mais da
sabedoria dos guardiões como parte do “exercício de
trainamento.” Bem e Stan sentaram na
frente, enquanto os outros sentaram no meio. Lissa e Victor
conversam entre si bastante,
botando a fofoca em dia. Camille, criada para ser educada
entre outros da realeza, sorria e
concordava. Natalie, por outro lado, parecia deslocada e
ficava tentando tirar a atenção do seu
pai de Lissa. Não funcionou. Ele aparentemente tinha
aprendido a se desligar da conversa dela.
Eu me virei de volta pra Dimitri. “Ela supostamente deveria
ter dois guardiões. Príncipes e
princesas sempre tem.”
Spiridon era da idade de Dimitri, com cabelos loiros
pontudos e uma atitude mais casual.
Apesar do seu nome grego, ele tinha um sotaque sulista. “Não
se preocupe, ela terá vários
quando a hora chegar. Dimitri já é um deles. As chances são
de que você será a outra.E é por
isso que você está aqui hoje.”
“A parte do treinamento,” eu chutei.”
“Sim. Você será a parceira do Dimitri.”
Houve um momento de silencio esquisito, provavelmente
ninguém notaria a não ser eu e
Dimitri. Nossos olhos se encontraram.
“Parceira guardiã,” Dimitri especificou sem necessidade,
como se talvez ele também estivesse
pensando em outro tipo de parceria.
‘É,” concordou Spiridon.
Sem perceber a tensão envolta dele, ele continuou explicando
como as duplas de guardiões
funcionavam. Eram coisas padrão, tiradas direto dos meus
livros, mas significa mais agora que
estávamos fazendo no mundo real. Guardiões eram enviados ao
Moroi baseados na
importância. Dois era o mais comum, um provavelmente trabalharia
com Lissa. Um guardião
ficaria perto do alvo; o outro ficava atrás e ficava de olho
nos arredores.
De forma maçante, aqueles que ficavam suas posições eram
chamados de guardiões de perto
e de longe.
“Você provavelmente sempre será a guardiã de perto,” Dimitri
me disse. “Você é mulher e da
mesma idade que a princesa. Você pode ficar perto dela sem
chamar muita atenção.”
“E eu não posso nunca tirar meus olhos dela,” eu acenei. “Ou
você.”
Spiridon riu de novo e levantou uma sobrancelha para
Dimitri. “Você tem uma estudante
brilhante aqui. Você deu a ela uma estaca?”
“Não. Ela não está pronta.”
“Eu estaria se alguém me mostrasse como usar uma,” eu
discuti. Eu sabia que todo guardião
na van tinha uma estaca e uma arma escondida.
“Tem mais do que simplesmente usar uma estaca,” disse
Dimitri do seu jeito velho sábio.
“Você ainda tem que estudá-las. E você tem que ser capaz de
matá-los.”
“Porque eu não seria capaz?”
“A maioria dos Strigoi costumavam ser Moroi que se
transformaram de propósito. As vezes
eles são Moroi ou dhampirs que foram forçados a mudar. Não
importa. Tem uma
probabilidade bem alta de que você conheça algum deles. Você
poderia matar alguém que
você costumava conhecer?”
Essa viagem estava ficando cada vez menos divertida a cada
minuto.
“Eu acho que sim. Eu teria que fazer isso, certo? Se for
eles ou a Lissa...”
“Ainda sim você pode hesitar,” disse Dimitri. “E essa
hesitação poderia matar você. E ela.”
“Então como você se certifica de que não vai hesitar?”
“Você tem que ficar repetindo a si mesmo que aquelas não são
mais as pessoas que você
costumava conhecer. Eles se transformaram em algo negro e
distorcido. Algo que não é
natural. Você tem que abandonar o que te ligava a eles e
fazer o que é certo. Se eles tiverem
qualquer vestígio deles mesmos, eles provavelmente ficaram
agradecidos.”
“Agradecidos por eu mata-los?”
“Se alguém te transformasse numa Strogoi, o que você
gostaria?” ele perguntou.
Eu não sabia como responder isso, então eu não disse nada.
Sem nunca tirar seus olhos de
mim, ele continuou pressionando.
‘O que você iria querer se você soubesse que eles iriam te
converter em um Strigoi contra a
sua vontade?” Se você soubesse que iria perder todo o senso
de moral e entendimento do que
é certo e errado? Se você soubesse que iria viver o resto da
sua vida – sua vida imortal –
matando pessoas inocentes? O que você iria querer?”
A van tinha ficado desconfortavelmente silenciosa. Encarando
Dimitri, exausta por todas
aquelas perguntas, eu de repente entendi porque eu e ele
tínhamos essa atração estranha,
fora a beleza. Eu nunca tinha conhecido ninguém que levava
tão serio ser um guardião, que
entendi as consquencias de vida ou morte. Certamente ninguém
da minha idade; Mason não
havia sido capaz de entender porque eu não podia relaxar e
beber na festa. Dimitri tinha dito
que eu entendia meu trabalho melhor que muitos guardiões
mais velhos, e eu não entendi
porque – especialmente quando eles teriam visto tantas
mortes e perigo. – Mas eu soube
naquele momento que ele tinha razão, que eu tinha um senso
esquisito de como vida ou
morte, bondade e maldade funcionavam entre si. E ele também.
Nós podemos nos sentir
sozinhos as vezes.Nós talvez tenhamos que colocar nossa
diversão de lado. Nós talvez não
sejamos capazes de viver nossas vidas do jeito que a gente
quiser. Mas esse era o jeito que
tinha que ser. Nós nos entendíamos, entendíamos que tínhamos
outros pra proteger.Nossas
vidas nunca seriam fáceis.
E tomar decisões dessas era apenas uma parte dela.
“Se eu me transformasse numa Strigoi... eu iria querer que
alguém me matasse.”
“Eu também,” ele disse baixo.Eu pude perceber que ele teve
os mesmos flash de
entendimento , o mesmo senso de conexão entre nós.
“Me lembrou de Mikhail caçando Sonya,” murmurou Victor que
estava pensativo.
“Quem eram Mikhail e Sonya?” Perguntou Lissa?
Victor parecia surpreso. “Bom, eu pensei que você sabia.
Sonya Karp.”
“Sonya Kar... você quer dizer a Sra. Karp? O que temela?”
Ela olhou pra mim e para o tio dela.
“Ela... se transformou numa Strigoi,” Eu disse, sem olhar
para os olhos de Lissa. “Por escolha.”
Eu sabia que Lissa ia descobrir algum dia. Era a peça final
da saga da Sra. Karp, um segredo que
eu mantive pra mim mesma. Um segredo que me preocupava
constantemente. O rosto de
Lissa e o nosso laço registrou um enorme choque, crescendo
intensamente enquanto ela se
dava conta, que eu sabia e nunca tinha contado para ela.
“Mas eu não sei quem é Mikhail,” eu acrescentei.
“Mikhail Tanner,” disse Spiridon.
“Oh. O guardião Tanner. Ele estava lá antes de partimos.” Eu
congelei. “Porque ele estava
perseguindo a Sra. Karp?”
“Para matá-la,” disse Dimitri. “Eles eram amantes.”
O negocio todo do Strigoi mudou de foco diretamente pra mim.
Se encontrar com um Strigoi
durante a batalha era uma coisa. Caçar propositalmente
alguém... alguém que eu havia
amado. Eu não sabia se eu seria capaz de fazer isso, mesmo
que fosse tecnicamente a coisa
certa se fazer.
‘Talvez esteja na hora de falar sobre outra coisa,’ disse
Victor gentilmente.”Hoje não é um dia
de ficar arrastando tópicos deprimentes.”
Eu acho que todos nós ficamos aliviados ao chegar no
shopping. Mudando para o papel de
guarda-costas, eu fiquei ao lado de Lissa enquanto nós íamos
de loja a loja, olhando pra todos
os estilos que tinham ali. Era bom estar em publico de novo
e fazer algo com ela que era só
divertido e não envolvia nenhuma outra política distorcida
da Academia. Era quase como nos
velhos tempos. Eu sentia falta da gente só sair juntas. Eu
sentia falta da minha melhor amiga.
Embora recém tinha passado metade de novembro, o shopping
estava cheio de enfeites de
natal e decorações. Eu decidi que eu tinha o melhor trabalho
do mundo. Eu admito, eu me
senti um pouco excluída quando eu me dei conta que eu não
tinha um daqueles aparelhos de
comunicação que os outros guardiões tinham.Quando eu
protestei por não ter um, Dimitri
havia me dito que eu aprenderia mais sem usar um. Que se eu
pudesse dar conta de proteger
Lissa do jeito antigo, eu podia lidar com qualquer coisa.
Victor e Spiridon ficaram conosco enquanto Dimitri e Ben se
espalhavam, de alguma forma
conseguindo não parecer uns perseguidores de garotas
adolescentes esquisitos.
“Isso é tão você,” disse Lissa na loja Macy, me entregando
uma camisa sem manga enfeitada
com laços.’Eu foi comprar pra você.”
Eu olhava aquilo ansiosa, já me imaginando naquilo. Então,
fazendo com que meus olhos se
encontrassem com o de Dimitri eu balancei a cabeça e voltei
pra realidade. “O inverno está
chegando. Eu vou ficar com frio.”
“Nunca impediu você antes.”
Dando nos ombros, ela colocou de volta. Ela e Camille
experimentaram uma quantidade
imensa de roupas, suas mesadas enormes permitindo que preço
não fosse um problema. Lissa
se ofereceu pra comprar qualquer coisa que eu quisesse. Nós
tínhamos sido generosas com
nós mesmas nossa vida toda, e eu não hesitei em aceitar a
oferta. Minha escolha a
surpreendeu.
“Você tem três camisas térmicas e um canguru.” Ela me
informou, revirando uma montanha
de jeans BCBG. “Você agindo como uma chata, comigo.”
“Hey, eu não vejo você comprando tops de vadias.”
“Não sou eu que os uso.”
“Muito obrigado.”
“Você sabe o que eu quero dizer. Você está até mesmo usando
o seu cabelo preso.”
Era verdade. Eu tinha aceitado o conselho de Dimitri e tinha
prendido meu cabelo em um
coque, ganhando um sorriso quando ele o viu. Se eu tivesse
tatuagens molnija, elas estariam
aparecendo. Olhando ao redor, ela se certificou que mais
ninguém pudesse nos ouvir. Os
sentimentos na nossa ligação mudando para algo mais
problemático.
“Você sabia sobre a Sra. Karp.”
“Sim. Eu ouvi sobre isso mais ou menos um mês depois que ela
partiu.”
Lissa jogou um par de calças jeans decoradas por cima do
braço, sem olhar pra mim. “Porque
você não me disse?”
“Porque você não precisava saber.”
“Você achou que eu não conseguia dar conta?”
Eu mantive meu rosto em branco. Enquanto eu a encarava,
minha mente voltava ao tempo,
dois anos atrás. Já tinham se passado dois dias desde a
minha suspensão por supostamente ter
destruído o quarto de Wade quando um da realeza visitou a
escola. Eu tinha recebi permissão
pra ir para a recepção mas estava sobre forte guarda para
terem certeza que eu não “tentaria
nada.”Dois guardiões me escoltaram pela cafeteria e
conversavam baixo entre eles no
caminho.
“Ela matou o doutor que estava cuidando dela e quase pegou
metade dos pacientes e
enfermeiras que estavam no caminho.”
“Eles tem alguma idéia de pra onde ela foi”?
“Não, eles a estão perseguindo... mas, bem, você sabe como
é.”
“Eu nunca esperei que ela fizesse isso. Ela não parecia o
tipo.”
“É, bom, Sonya era maluca. Você viu como ela estava ficando
violenta perto do fim?Ela era
capaz de qualquer coisa.”
Eu estava me arrastando miseravelmente quando eu levantei
minha cabeça pra cima.
“Sonya?Você quer dizer a Sra. Karp?” Eu perguntei. “Ela
matou alguém?”
Os dois guardiões trocaram olhares. Finalmente, um disse
seriamente. “Ela se tornou uma
Strigoi, Rose.”
Eu parei de andar e o encarei. “A Sra. Karp? No... ela não
faria...”
“Eu temo que sim,” o outro respondeu. “Mas... você deve
manter isso pra você mesma. É uma
tragédia. Não faça fofoca disso pela escola.”
Eu passei o resto da noite confusa. A Sra. Karp. Karp Louca. Ela tinha
matado alguém para se
tornar uma Strigoi. Eu não podia acreditar.
Quando a recepção acabou, eu consegui escapar dos meus
guardiões e consegui alguns
minutos precisos com Lissa. A ligação já estava forte, e eu
não precisei ver seu rosto pra saber
o qual miserável ela estava se sentindo.
“Qual o problema?”Eu perguntei pra ela. Nós estávamos no
canto do corredor, perto da
cafeteria. Seus olhos estavam vazios. Eu podia sentir que
ela estava com dor de cabeça; a dor
se transferiu pra mim. “Eu... eu não sei.Eu me sinto
esquisita. Eu sinto como se estivesse sendo
seguida, como se eu tivesse que ter cuidado, sabe?”
Eu não sabia o que dizer. Eu não achei que ela estava sendo
seguida, mas a Sra. Karp
costumava dizer a mesma coisa. Sempre paranóica.
“Provavelmente não é nada.” Eu disse
rapidamente.
“Provavelmente,” ela concordou. Seus olhos de repente se
estreitaram. “Mas Wade não é. Ele
não para de falar sobre o que aconteceu. Você não pode
acreditar nas coisas que estão
dizendo sobre você.”
Eu podia, mas eu não estava nem ai.”Esqueça ele. Ele não é
nada.”
“Eu odeio ele,” ela disse. Sua voz estava afiada de maneira
não característica. “Eu estou no
comitê para angariar fundos com ele, e eu odeio ouvir ele
falar com a sua boca gorda todo dia
vendo ele fletar com qualquer garota que passa.Você não
deveria ter sido punida pelo que ele
fez. Ele precisa pagar.”
Minha boca ficou seca. “Está tudo bem... eu não ligo. Se
acalme, Liss.”
“Eu me importo,” ela surto, virando sua raiva pra mim. “Eu
queria que tivesse um jeito de fazer
ele fazer ele pagar. Algum jeito de machucar ele como ele
machucou você.” Ela colocou suas
mãos nas costas e se remexeu pra frente e pra trás furiosa,
seus passos fortes e decididos. O
ódio e a raiva estavam fervendo dentro dela. Eu podia sentir
através da ligação. Parecia uma
tempestade, e me assustou pra caramba. Ao redor de tudo
estava uma incerteza, uma
instabilidade que fazia com que Lissa não soubesse o que
fazer, mas ela queria
desesperadamente fazer algo.Qualquer coisa. Minha mente
voltou para a noite com o taco de
baseball. E então em pensei na Sra. Karp. Ela se tornou uma
Strigoi, Rose. Foi o momento mais
assustador da minha vida. Mais assustador que vê-la no
quarto de Wade. Mais assustador que
vê-la curar o corvo. Mais assustador que os guardiões me
pegarem. Porque naquele momento,
eu não conhecia minha melhor amiga. Eu não sabia do que ela
era capaz. Um ano antes, eu
teria rido de qualquer um que dissesse que ela queria ser
uma Strigoi. Mas a um ano, eu
também teria rido de qualquer um que me dissesse que ela
queria cortar seus pulsos ou fazer
alguém “pagar.”Naquele momento, eu de repente acreditava que
ela poderia fazer o
impossível. E eu tinha que ter certeza que ela não o faria.
Salve ela. Salve ela de si mesma.
“Nós estamos indo embora,” eu disse, pegando o braço dela e
a guiando pelo corredor. “Agora
mesmo.” Confusão substituiu a raiva momentaneamente. “O que
você quer dizer?Você quer ir
pra floresta ou algo assim?”
Eu não respondi. Algo em minha atitude ou palavras deve ter
assustado ela, porque ela não fez
perguntas enquanto eu a levava para fora da cafeteria,
passando pelo campus em direção ao
estacionamento onde os visitantes chegavam.Estava cheio de
carros, que pertenciam aos
convidados da festa. Um deles era um carro Lincoln Town
grande, e eu observei quando o
motorista o ligou.
“Alguem está indo embora cedo,” eu disse, olhando pra ele
por um amontoado de arbustos.Eu
olhei para trás de nós e não vi nada. “Eles provavelmente
estarão aqui em um minuto.”
Lissa entendeu. “Quando você disse, “Nós estamos indo
embora.” Você quis dizer... não.Rose,
nós não podemos sair da Academia. Nós nunca iríamos passar
pelos pontos de checagem.”
“Nós não precisamos,” eu disse firme. “Ele passa.”
“Mas como ele vai nos ajudar?”
Eu respirei fundo, me arrependendo do que eu tinha que dizer
mas vendo que era o menor
dos males. “Você sabe como você fez Wade fazer aquelas
coisas?”
Ela hesitou e acenou.
“Eu preciso que você faça a mesma coisa. Vá até aquela cara
e diga a ele que ele precisa nós
esconder no carro.”
Choque e medo se apoderaram dela. Ela não entendeu, e ela
estava assustada. Extremamente
assustada. Ela tinha estado assustada a semanas agora, desde
ter curado o corvo e o humor e
Wade. Ela estava frágil e a beira de algo que nenhuma de nós
ia entender. Mas apesar de tudo
isso, ela confiava em mim. Ela acreditava que eu a manteria
segura.
“Ok,” ela disse. Ela deu alguns passos em direção a ele, e
então olhou de volta pra mim.
“Porque? Porque nós estamos fazendo isso?”
Eu pensei na raiva de Lissa, seu desespero, seu desejo de
fazer qualquer coisa para se vingar
de Wade. E eu pensei na Sra. Karp – na bonita e instável
Sra. Karp – se tornando uma Strigoi.
“Eu vou cuidar de você,” eu disse. “Você não precisa saber
de mais nada.”
No shopping de Missoula, parada entre cabides de roupas
desejáveis, Lissa perguntou de novo,
“Porque você não me disse?”
“Você não precisava saber,” eu repeti.
Ela foi em direção ao provador, ainda sussurrando pra
mim.”Você estava preocupada que eu
fosse perder a cabeça. Você está preocupada que eu me torne
uma Strigoi também?”
“Não. De jeito nenhum. Isso foi só ela.Você nunca faria
isso.”
“Mesmo se eu fosse louca?”
“Não,” eu disse, tentando fazer uma piada. “Você apenas
rasparia a cabeça e viveria com 30
gatos.”
Os sentimentos de Lissa ficaram mais obscuros, mas ela não
disse mais nada. Parando fora do
provador, ela puxou um vestido preto do cabide. Ela o
lustrou um pouquinho.
“Esse é o vestido para o qual você nasceu. Eu estou me
lixando pro quão pratica você é agora.”
Feito de um sedoso material preto, o vestido não tinha alças
nem mangas, caindo até os
joelhos. Embora tivesse uma leve barra de saia, o resto
parecia que definitivamente seria
capaz de arranjar seria ação. Super sexy. Talvez até
desafiando-o-código-de-vestimenta-daescola
sexy.
“Esse é o meu vestido,” eu admiti. Eu continuei olhando pra
ele, o querendo tanto que eu senti
uma coceira no peito. Esse era o tipo de vestido que podia
mudar o mundo. O tipo de vestido
que começava religiões. Lissa colocou perto de mim.
“Experimente.”
Eu balancei minha cabeça e comecei a me afastar. “Eu não
posso. Comprometeria você. Um
vestido não vale a sua morte horrenda.”
“Então nós vamos simplesmente comprar sem que você o
experimente.” Ela comprou o
vestido.
A tarde continuou, e eu me encontrei ficando cansada. Sempre
observando e estando em
guarda de repente se tornou bem menos divertido. Quando nós
chegamos na nossa ultima
parada, uma loja de jóias, eu me senti meio feliz.
“Aqui vamos nós,” disse Lissa, apontando para uma nas
caixas. “O colar feito para ir com o
vestido.”
Eu olhei. Uma pequena corrente de ouro com dourado e cheio
de diamantes pendente rosa.
Ênfase na parte do diamantes.
“Eu odeio coisas rosas.”
Lissa sempre tinha adorado me dar coisas rosas – só para ver
minha reação, eu acho. Quando
ela viu o preço do colar, o sorrisou dela desapareceu.
“Oh, veja isso. Até mesmo você tem limites,” eu provoquei.
“Seus gastos loucos são parados
finalmente.”
Nós esperamos que Victor e Natalie terminasse. Ele
aparentemente estava comprando algo
pra ela, e ela parecia que podia criar asas e voar para
longe de tanta felicidade.Eu estava feliz.
Ela estava morrendo pra ter sua atenção. Talvez ele
estivesse comprando pra ela algo
extremamente caro para compensar. Nós voltamos pra casa em
silencio, nosso horário de
dormir todo invertido por causa da viagem de dia. Sentada
perto de Dimitri, eu me reclinei
contra o banco e bocejei, muito ciente que nossos braços
estavam se tocando. Aquele
sentimento de proximidade e conexão queimou entre nós.
“Então, eu posso algum dia
experimentar roupas de novo?” Eu perguntei baixinho sem
querer acordar os outros. Victor e
os guardiões estavam acordados, mas as garotas tinham
dormido.
“Quando você está em serviço, você não pode. Você pode fazer
quando estiver de folga.”
“Eu nunca vou querer folga. Eu quero sempre cuidar de
Lissa.” Eu bocejei de novo. “Você viu
aquele vestido?”
“Eu vi o vestido.”
“Você gostou?”
Ele não respondeu. Eu entendi como um sim.
“Eu vou por em perigo minha reputação se eu o usar no
baile?”
Quando ele falou, eu mal pude ouvir ele. “Você vai por em
perigo a escola.”
Eu sorri e peguei no sono.
Quando eu acordei, minha cabeça descansava contra os ombros
dele. Aquele casaco longo
dele- a capa- me cobria como um cobertor. A van tinha
parado; nós estávamos de volta na
escola.Eu tirei a capa e levantei procurando por ele, de
repente me sentindo bem acordada e
feliz. Pena que a minha liberdade estava pra acabar.
“De volta a prisão,” eu suspirei, andando ao lado de Lissa
nos dirigindo até a cafeteria. “Talvez
se você fingir um ataque cardíaco, eu posso dar uma
escapada.”
“Sem as suas roupas?” Ela me entregou minha sacola, e eu a
balancei feliz. “Eu não posso
esperar pra ver o vestido.”
“Eu também não. Se eles me deixarem ir.Kirova ainda está
decidindo se eu fui boa o
suficiente.”
“Mostre a ela aquelas camisetas sem graça que você comprou.
Ela vai entrar em coma.Eu
estou quase entrando.”
Eu ri e saltei num daqueles bancos de madeira, andando junto
com ela enquanto eu andava
junt. Eu pulei de volta pro chão quando eu cheguei no fim do
banco. “Eles não são tão sem
graça.”
“Eu não sei o que eu penso dessa nova, e responsável Rose.”
Eu pulei em outro banco. “Eu não sou tão responsável.”
“Hey,” chamou Spiridon. Ele e o resto do grupo nos seguiram
mais atrás. “Você ainda está em
serviço. Diversão não é permitida aqui.”
“Não tem diversão aqui,” eu respondi, ouvindo uma risada em
sua voz. “Eu juro – merda.”
Eu estava no terceiro banco, perto do fim dele. Meus
musculos tensos, prontos pra pular pra
baixo. Mas quando eu tentei, meu pé não foi comigo.A madeira
que parecia forte e solida,
tinha quebrado sobre os meus pés, quase como papel. Se
desintegrou. Meu pé atravessou o
buraco, meu tornozelo ficando preso no buraco enquanto o
resto do meu corpo tentava ir em
outra direção. O banco me segurou, empurrando meu corpo pro
chão ainda segurando o meu
pé. Meu tornozelo se curvou em uma direção nada natural. Eu
cai.Eu ouvi o som de algo
quebrando que não era a madeira. A pior dor da minha vida
passou pelo meu corpo. E então
eu desmaiei.
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