terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Capítulo 11 (Sorte ou Azar)
Capítulo 11:
Pareceu que aquilo havia sido verdade, pelo menos naquele dia. Os tempos de
Tory lançar feitiços haviam acabado. Naquela noite, quando voltei da casa de
Chanelle, Petra estava borbulhando com mais novidades. — Tirei o único dez de
toda a minha turma de gliconutrição – desembuchou ela no minuto em que entrei
na cozinha para pegar um refrigerante. — Uau – elogiei. – Parabéns, Petra. —
São tantas coisas boas num dia só! – Petra suspirou, feliz. – Nem posso
acreditar. — Eu também não! – exclamei. — Ah, Jean. O Zach ligou. Olha aqui o
recado. Ele pediu para você ligar de volta. Não me incomodei em ir ao meu
quarto para ligar para Zach. Nem me ocorreu. Em vez disso, peguei o papel que
Petra me entregou e digitei o número no telefone da cozinha, imaginando o que
Zach teria a dizer, pois eu já havia passado uma hora com ele naquela tarde,
dando pedaços de pretzel a alguns patos no Central Park, depois de escapar do
jogo de softball que o professor Winthrop havia organizado para a nossa turma
no campo de beisebol. Zach havia recebido a má notícia – sobre a próxima visita
de Willem a Manhattan – de modo muito maduro, na minha opinião. — Ah, meu Deus,
é você. – A voz profunda de Zach fez meu corpo todo formigar. – Adivinha. — O
quê? — Bem, você sabe que meu pai vive conseguindo ingressos de graça para as coisas,
por causa do trabalho dele não é? — Sei. — Bem, alguém deu dois ingressos a ele
para ver um violinista no sábado à noite no Carnegie Hall. Ele não quer ir, mas
sei como você gosta de violino, por isso pensei que talvez você tivesse ouvido
falar do cara, Nigel Kennedy... Não pude conter um som ofegante. Parecendo que
estava rindo, Zach continuou: — É, foi o que pensei. Parece que ele é bom. Por
isso imaginei se você estaria interessada. Pensei em ir junto, como amigo,
claro. Quero dizer, a não ser que você prefira levar alguém da orquestra, ou
algo assim. Nigel Kennedy! Não dava para acreditar!
— Nossa, Zach – berrei ao telefone. – É fantástico! Mas tem certeza que
você não vai achar uma chatice? — Acho que consigo suportar. Você pode me
cutucar se eu cair no sono. Respirei fundo, feliz, e então prendi o fôlego,
enquanto Tory entrava na cozinha vindo do quintal e me olhava da porta, com uma
expressão sombria. Será que ela tinha ouvido? — Pensei que a gente poderia
jantar antes, ou algo assim – continuou Zach. – Como amigos, claro. Talvez você
pudesse me dar mais umas dicas sobre como ganhar a Petra. — Rá! – falei ao
telefone. Tory tinha ouvido, claro. O olhar dela ia ficando mais ameaçador a
cada segundo. – Claro. Parece ótimo. — Legal. Vejo você na escola. — Até lá. –
Desliguei. Ainda encostada no portal, Tory me encarava. — Então – disse ela. –
Você e o Zach vão sair esta noite? — No sábado à noite. E só como amigos. Não é
um encontro nem nada. O pai dele ganhou dois ingressos grátis para ver Nigel Kennedy,
o violinista inglês, no Carnegie Hall, e Zach quis saber se eu estaria
interessada em ir com ele... Tory me olhou, inexpressivamente. — Não sabia que
o Zach gostava de música clássica. — Bem... – Olhei para Petra, que estava
parada ali perto, cortando legumes. Além do fato de seus ombros terem ficado
meio tensos, Petra não deu sinal de que estivesse prestando atenção à nossa
conversa. – Não si. Talvez ele queira expandir os horizontes ou algo assim. —
Não é uma graça? – o tom de Tory sugeria que ela pensava exatamente ao
contrário. – O que aconteceu com seu cabelo? Levantei a mão instintivamente
para tocar o cabelo. Tinha esquecido que Chanelle havia feito umas experiências
com ele durante a tarde. Ela o havia escovado fazendo um coque bufante e doido,
e insistiu que eu fosse para casa assim. — Ah, isso. Foi Chanelle. A gente
estava de bobeira na casa dela e resolveu experimentar. — Bom. Que ótimo.
Primeiro você rouba meu namorado. Depois rouba minha melhor amiga. É assim que
fazem as coisas lá em Iowa? Porque certamente por aqui as coisas não funcionam
assim.
Tentando manter a calma, falei: — Você sabe perfeitamente bem que Zach não
gosta de mim, a não ser como amiga. E ele nunca foi seu namorado. Você tem
namorado. O Shawn, lembra? – Não queria trazer à tona o lance do ―amigos com
benefícios‖ na frente de Petra, por isso só acrescentei: – E Chanelle acha que,
desde que você começou a andar com Gretchen e Lindsey, não se importa com ela.
Você nem parece querer passar algum tempo com ela. Então por que eu não deveria
fazer isso? — Não me interessa com quem você passa o tempo – disse Tory, cheia
de escárnio. – Só estou imaginando por que alguém passaria tanto tempo com
um cara que você diz que nem está interessado em você. Como se não bastasse
passar a aula de educação física com ele todos os dias. Ah, não. Agora ainda
vai a um concerto com ele. Olhei para Petra. Ela ainda estava picando legumes.
— Olha, Tory, se isso vai deixar você chateada, eu ligo para ele dizendo que
não posso ir... Porque, o que mais eu iria dizer? Mas Tory pareceu não gostar
dessa idéia, também. — Ah, não. Não deixe de ir por minha causa. Não me importo
como você desperdiça o seu tempo. Ele é seu. Imagina só, ir a um concerto de
música clássica com Zach Rosen. O que me importa? Quando acabar, talvez vocês
possam fazer um passeio pelo Central Park, já que parecem gostar tanto disso.
Não seria divertido? Diversão boa e limpa. Porque Deus sabe que a prima Jean de
Iowa nunca faria nada ruim. A não ser matar a educação física, claro. Olhei para
Petra, que havia desistido de fingir que não estava escutando. Tinha se virado
da tábua de picar e ouvia totalmente, o olhar focalizado em Tory, a expressão
indecifrável. — Imagino o que o professor Winthrop diria se descobrisse o que
vocês dois estão aprontando – disse Tory, num tom pensativo. – Você e o Zach.
Juntos todos os dias na educação física. Você sabe, o professor Winthrop não
suporta quando as pessoas matam a aula dele. Engoli em seco. — Isso é uma
ameaça, Tory?
Tory gargalhou. Havia tirado o uniforme da escola e posto outra de suas
minissaias pretas. Esta parecia feita de couro. — Não. Isso é, imagino se Zach
iria continuar sendo seu amiguinho se por acaso eu mencionasse que aquele livro
que você comprou na Encantos não era para sua irmã, afinal de contas, e sim
para seu uso pessoal... — Torrance – chamou Petra. Tory estivera andando
lentamente na minha direção enquanto falava. Neste momento, ela se virou,
impaciente. — O que é? – Tory praticamente gritou para Petra. Mas Petra estava
perfeitamente calma enquanto dizia: — Sua mãe ligou do escritório hoje. Disse
que seu orientador entrou em contato com ela, no trabalho. Sua mãe quer que eu
garanta que você estará em casa hoje na hora do jantar, para que ela e seu pai
possam conversar com você. Acho que você sabe qual é o assunto. Então, por
favor, fique em casa esta noite, certo? Tory não disse nada. Em vez disso,
lançou um olhar de puro ódio na minha direção. O olhar dizia claramente demais:
Você fez isso, não fez? Balancei a cabeça. Claro que não tinha feito! O que
quer que fosse, Tory havia provocado sozinha. Mas era muito tarde. Tarde
demais. Tory soltou um riso que não tinha nenhum humor.
— Está certo. É guerra, Jinx. Em seguida se virou e saiu correndo da
cozinha. Alguns segundos depois ouvimos a porta da frente bater, com força
suficiente para chacoalhar as janelas. Foi Petra que rompeu o silêncio em
seguida. — Escute, Jinx. Vá à tal coisa, a coisa do violino. Vá com o Zach.
Balancei a cabeça. — Não, Petra. Não vale a pena, se ela vai ficar tão
chateada. Está tudo bem, de verdade. De que adiantava? Tory só iria contar ao
Zach, na primeira oportunidade, sobre meu passado de fazer feitiços... pelo
menos o que ela sabia a respeito, que, felizmente, não era muito. E ele
perceberia que sou tão pirada quanto ela – talvez até mais – e me largaria como
uma batata quente.
— Não, não está tudo bem – Petra levantou a voz
pela primeira vez desde que eu a havia conhecido. Pelo menos para mim.
Espantada, olhei para ela. – Tem alguma coisa errada nesta casa, eu sei. E
estou dizendo: o que há de errado nesta casa é aquela ali. – Petra apontou com
a faca na direção da porta por onde Tory havia acabado de sair. – Não é justo
ela dizer isso a você, que você não pode ver o Zachary. Ele não pertence a ela.
Ele nunca fez nenhuma promessa a Tory. Saia com ele. — Não vale a pena, Petra.
Só vai deixar Tory com raiva. — Ela já está com raiva. – Petra se virou de novo
para as cenouras. – Deixe que eu cuido da raiva dela. Estou acostumada. Não
pude deixar de sorrir um pouco diante das costas fortes e esguias de Petra. Ela
não fazia idéia do que estava falando. Era realmente engraçado, se a gente
pensasse bem. — E o que ela quis dizer com aquilo? – a au pair se virou de
novo. – O que ela falou sobre uma guerra? — Nada. – Levantei a mão e toquei o
pentagrama pendurado no pescoço. Pelo jeito, eu precisaria da sorte que ele
deveria me trazer mais cedo do que esperava.
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