terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capítulo 61 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 61

Aquela não era a primeira vez que Warren Bellamy era vendado. Assim como todos os seus
irmãos maçons, ele havia usado a "venda" ritual durante a ascensão aos escalões superiores da
Maçonaria. Mas aquilo tinha acontecido entre amigos. Ali era diferente. Aqueles homens truculentos
o haviam amarrado, coberto sua cabeça com um saco e agora o obrigavam a marchar entre as
estantes de livros. Os agentes haviam ameaçado Bellamy fisicamente e exigido que ele revelasse o
paradeiro de Robert Langdon. Sabendo que seu corpo envelhecido não suportaria muita punição,
Bellamy contara logo sua mentira.
– Langdon não desceu até aqui comigo! - Disse ele, arquejando para recuperar o fôlego. - Eu
disse a ele para subir até a galeria e se esconder atrás da estátua de Moisés, mas não sei para onde ele
foi!
Aparentemente, a história os convenceu, pois dois dos agentes saíram no encalço de Langdon.
Os outros dois o conduziram por entre as estantes.
O único consolo de Bellamy era saber que Langdon e Katherine estavam levando a pirâmide
para um lugar seguro. Em breve, Langdon receberia a ligação de um homem que podia lhes oferecer
abrigo. Confie nele. O homem para quem Bellamy tinha telefonado sabia muito sobre a Pirâmide
Maçônica e o segredo nela contido - a localização de uma escada em caracol oculta que conduzia
para dentro da terra, até o esconderijo de um poderoso saber antigo havia muito enterrado. Bellamy
finalmente conseguira entrar em contato com o homem enquanto eles fugiam da sala de leitura, e
estava seguro de que seu curto recado seria perfeitamente compreendido.
Agora, enquanto avançava pela mais completa escuridão, Bellamy pensava na pirâmide de
pedra e no cume de ouro dentro da bolsa de Langdon. Faz muitos anos desde que essas duas peças
estiveram juntas no mesmo lugar. O Arquiteto nunca esqueceria aquela dolorosa noite. A primeira de
muitas para Peter. Bellamy tinha sido convidado à propriedade dos Solomon em Potomac para o 18°
aniversário de Zachary. Apesar de ser um adolescente rebelde, o rapaz era um Solomon, o que
significava que, naquela noite, segundo a tradição familiar, iria receber sua herança. Bellamy era um
dos melhores amigos de Peter e um irmão maçom de confiança, motivo pelo qual fora convidado
para servir de testemunha. Mas Bellamy não fora chamado para assistir apenas à transferência do
dinheiro. Havia muito mais em jogo ali.
Bellamy tinha chegado cedo e, conforme solicitado, ficara aguardando no escritório particular
de Peter. A maravilhosa sala antiga recendia a couro, lareira e chá de boa qualidade. Warren já estava
sentado quando Peter entrou com filho. Ao ver Bellamy, o rapaz magricelo de 18 anos fechou a cara.

– O que está fazendo aqui?
– Servindo de testemunha. - Respondeu Bellamy. - Parabéns, Zachary.
O rapaz soltou um resmungo e olhou para o outro lado.
– Sente-se, Zach. - Disse Peter.
Zachary se sentou na única cadeira diante da escrivaninha do pai. Solomon trancou a porta do
escritório. Bellamy ficou um pouco mais afastado. Solomon se dirigiu ao filho em tom sério.
– Você sabe por que está aqui?
– Acho que sim. - Respondeu Zachary. Solomon deu um profundo suspiro.
– Sei que faz algum tempo que você e eu não ficamos cara a cara, Zach. Eu fiz o que pude para
ser um bom pai e preparar você para este momento.
Zachary não disse nada.
– Como você sabe, quando ficam adultos, todos os filhos da família Solomon recebem o que é
seu por direito: uma parcela da nossa fortuna destinada a ser uma semente... Uma semente para você
cuidar, fazer crescer e usar para ajudar a alimentar a humanidade.
Solomon andou até um cofre na parede, destrancou-o e tirou lá de dentro uma grande pasta
preta.
– Filho, esta pasta contém tudo de que você precisa para transferir legalmente a sua herança
para seu nome. - Ele pôs a pasta sobre a escrivaninha. O objetivo é que você use esse dinheiro para
construir uma vida de produtividade, prosperidade e filantropia.
Zachary estendeu a mão para a pasta.
– Valeu.
– Espere aí. - Disse o pai, pondo a mão sobre a pasta. - Ainda preciso explicar mais uma coisa.
Zachary lançou um olhar insolente para o pai e tornou a afundar na cadeira.
– Existem aspectos da herança dos Solomon que você ainda não conhece. - O pai passou a
encarar o filho com intensidade. - Você é meu primogênito, Zachary, o que significa que tem direito a
uma escolha.
O adolescente se empertigou, parecendo intrigado.
É uma escolha que pode muito bem determinar a direção do seu futuro, então, recomendo
que você reflita com calma.
– Que escolha é essa? - Seu pai respirou fundo.
– A escolha... Entre riqueza e saber. - Zachary o encarou sem expressão. 
– Riqueza e saber? Não estou entendendo.
Solomon se levantou e foi novamente até o cofre, de onde tirou uma pesada pirâmide de pedra
com símbolos maçônicos gravados. A seguir depositou-a sobre a escrivaninha, ao lado da pasta.
– Esta pirâmide foi criada há muito tempo e confiada à nossa família por muitas gerações.
– Uma pirâmide? - Zachary não parecia muito animado.
– Filho, esta pirâmide é um mapa... Que revela a localização de um dos maiores tesouros
perdidos da humanidade. Esse mapa foi criado para que o tesouro um dia pudesse ser redescoberto.
A voz de Peter então se encheu de orgulho: - E, hoje à noite, segundo a tradição, eu posso
oferecê-la a você... Sob algumas condições.
Zachary espiava a pirâmide, desconfiado.
– Qual é o tesouro?
Bellamy pôde ver que essa pergunta grosseira não era o que Peter esperava. Mesmo assim,
Solomon não se abalou.
– Zachary, é difícil explicar isso sem remontar à origem da história. Mas esse tesouro, em
essência, é algo que nós chamamos de Antigos Mistérios.
Zachary soltou uma risada, aparentemente achando que o pai estava de brincadeira.
Bellamy pôde ver a tristeza nos olhos de Peter aumentar.
É muito difícil para mim descrever isso, Zach. Tradicionalmente, quando um Solomon
completa 18 anos, está prestes a começar sua instrução superior em...
– Eu já disse! - Disparou Zachary em resposta. - Não estou interessado em fazer faculdade!
– Eu não estou falando de faculdade. - Disse o pai com a voz ainda calma baixa. - Estou
falando da Francomaçonaria. Estou falando de uma instrução nos mistérios eternos da ciência
humana. Se você tivesse planos de se juntar a mim nessa irmandade, estaria prestes a receber o
conhecimento necessário para compreender a importância da decisão que deve tomar hoje. - Zachary
revirou os olhos.
– Me poupe de mais esse sermão maçônico. Eu sei que sou o primeiro Solomon a não querer
entrar para a irmandade. Mas e daí? Será que você não entende? Eu não tenho o menor interesse em
ficar brincando de me fantasiar com um bando de velhos!
Seu pai ficou um bom tempo calado, e Bellamy reparou nas finas rugas que haviam começado
a aparecer ao redor dos olhos ainda joviais de Peter.
– Sim, eu entendo. - Disse ele por fim. - Os tempos são outros. Entendo que a Maçonaria possa
parecer estranha para você, ou talvez até chata. Mas quero que saiba que essa porta vai estar sempre
aberta caso mude de ideia algum dia.
– Pode esperar sentado. - Resmungou Zach.
– Agora chega! - Disparou Peter, pondo-se de pé. - Eu sei que você está atravessando uma fase
difícil, Zach, mas eu não sou seu único exemplo. Existem homens bons à sua espera, que irão recebê-
lo de braços abertos na Francomaçonaria e lhe mostrar seu verdadeiro potencial.
Zachary deu uma risadinha e relanceou os olhos para Bellamy.
É por isso que o senhor está aqui, Sr. Bellamy? Para que, juntos, os irmãos maçons possam
me intimidar?
Bellamy não disse nada. Em vez disso, lançou um olhar respeitoso para Peter Solomon - um
lembrete para Zachary de quem detinha o poder ali. Zachary tornou a se virar para o pai.
– Zach - disse Peter -, assim nós não vamos chegar a lugar nenhum... Então, deixe-me dizer só
uma coisa. Quer você compreenda ou não a responsabilidade que lhe está sendo oferecida, é minha
obrigação familiar apresentá-la. - Ele gesticulou na direção da pirâmide. - Proteger essa pirâmide é
um raro privilégio. Eu o aconselho a pensar sobre essa oportunidade durante alguns dias antes de
tomar sua decisão.
– Oportunidade? - Disse Zach. - De bancar a babá de uma pedra?
– Existem grandes mistérios neste mundo, Zach. - Disse Peter com um suspiro. - Segredos que
transcendem a mais desenfreada imaginação. Esta pirâmide protege esses segredos. E, o que é mais
importante, vai chegar um dia, provavelmente ainda durante seu tempo de vida, em que esta pirâmide
finalmente será decifrada e seus segredos, desenterrados. Será um momento de grande transformação
humana... E você tem a oportunidade de desempenhar um importante papel nesses acontecimentos.
Quero que pense nisso com cuidado. A riqueza é algo comum, mas o saber é raro. - Ele gesticulou
em direção à pasta e em seguida apontou para a pirâmide. - Imploro a você que se lembre de que
riqueza sem sabedoria pode muitas vezes terminar em tragédia.
Zachary parecia estar pensando que o pai havia perdido a razão.
– Tudo bem, pai, mas eu nunca vou abrir mão da minha herança por causa disso aí. - Ele
indicou a pirâmide.
Peter uniu as mãos na frente do corpo.
– Se você decidir aceitar a responsabilidade, eu guardarei seu dinheiro e a pirâmide até você ter
concluído com sucesso sua instrução junto aos maçons. Isso levará anos, mas depois você terá
maturidade para receber o dinheiro e a pirâmide. Riqueza e sabedoria. Uma combinação poderosa.
Zachary se levantou com um pulo.
– Meu Deus do céu, pai! Você não desiste, não é? Não está vendo que eu não ligo a mínima
para os maçons nem para pirâmides de pedra e mistérios antigos? - Ele estendeu a mão e recolheu a
pasta preta, brandindo-a em frente ao rosto do pai. - Isto aqui é meu por direito! O mesmo direito dos
Solomon que vieram antes de mim! Não acredito que você tentou me passar a perna com essas
histórias ridículas sobre antigos mapas do tesouro para eu não receber minha herança!
Ele enfiou a pasta debaixo do braço e passou pisando firme por Bellamy até as portas do
escritório que davam para a varanda.
– Zachary, espere! - Peter correu atrás do filho enquanto ele saía altivamente porta afora. - Faça
o que fizer, você nunca pode falar sobre a pirâmide que viu! - A voz de Peter Solomon fraquejou. -
Com ninguém! Nunca!
Mas Zachary o ignorou e sumiu noite adentro.
Os olhos cinzentos de Peter Solomon estavam cheios de pesar quando ele voltou à escrivaninha
e sentou-se pesadamente na cadeira de couro. Após um longo silêncio, ergueu os olhos para Bellamy
e forçou-se a dar um sorriso triste.
– Tudo bem.
Bellamy suspirou, compartilhando a dor de Solomon.
– Peter, eu não quero parecer insensível, mas... Você confia nele?
Solomon fitou o vazio com um olhar inexpressivo.
– Quer dizer... - Insistiu Bellamy - ...você acredita que ele vai guardar segredo sobre a
pirâmide?
O rosto de Solomon estava sem vida.
– Eu realmente não sei o que dizer, Warren. Não tenho certeza mais nem se o conheço.
Bellamy se levantou e pôs-se a zanzar lentamente diante da grande escrivaninha.
– Peter, você cumpriu seu dever de família, mas agora, levando em conta o que acabou de
acontecer, acho que precisamos tomar precauções. Seria melhor eu lhe devolver o cume para que
você encontre um novo lar para ele. Alguma outra pessoa deveria protegê-lo.
– Por quê? - Perguntou Solomon.
– Se Zachary contar a alguém sobre a pirâmide... E mencionar minha presença hoje à noite...
– Ele não sabe nada sobre o cume e é imaturo demais para achar que a pirâmide tem
importância. Não precisamos de um novo lar para o cume. Vou deixar a pirâmide dentro do meu
cofre. E você vai guardar o cume num local seguro. Como sempre fizemos.
Seis anos depois, no dia de Natal, quando a família ainda estava se curando da morte de
Zachary, o monstro que afirmava tê-lo matado invadiu a propriedade dos Solomon. O intruso tinha
ido até lá buscar a pirâmide, mas roubara apenas a vida de Isabel Solomon.
Dias depois, Peter convocou Bellamy a seu escritório. Trancou a porta e tirou a pirâmide do
cofre, depositando-a sobre a escrivaninha entre os dois.
– Eu deveria ter escutado você.
Bellamy sabia que Peter estava mortificado por causa daquilo.
– Não teria feito diferença. - Solomon respirou fundo, cansado.
– Você trouxe o cume?
Bellamy tirou do bolso um pequeno embrulho em forma de cubo. O papel pardo desbotado
estava amarrado com barbante e exibia o lacre de cera do anel dos Solomon. Bellamy pôs o
embrulho sobre a mesa, sabendo que, naquela noite, as duas metades da Pirâmide Maçônica estavam
mais próximas do que deveriam.
– Encontre outra pessoa para cuidar disso. Não me diga quem é.
Solomon aquiesceu.
– E eu sei onde você pode esconder a pirâmide. - Disse Bellamy. Ele contou ao amigo sobre o
segundo subsolo do Capitólio. - Não existe lugar mais seguro em toda a Washington.
Bellamy se lembrava de que Solomon abraçara a ideia na mesma hora, porque lhe parecia
adequado esconder a pirâmide no coração simbólico do país. Típico de Solomon, pensara. Idealista
mesmo durante uma crise. Agora, 10 anos depois, enquanto era empurrado às cegas pela Biblioteca
do Congresso, Bellamy tinha certeza de que a crise daquela noite estava longe do fim. Também sabia
quem Solomon escolhera para proteger o cume... E rezava a Deus para Robert Langdon ser digno
daquela tarefa.
 

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