quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capítulo 21 (O Simbolo Perdido)



CAPÍTULO 21

A Apoteose de Washinggton - um afresco de 433 metros quadrados que adorna a cúpula da
Rotunda do Capitólio - foi concluída em 1865 por Constantino Brumidi. Conhecido como
"Michelangelo do Capitólio", Brumidi deixou sua marca na Rotunda do mesmo modo que
Michelangelo deixou a sua na Capela Sistina: pintando um afresco na tela mais sublime do recinto -
o teto. Assim como Michelangelo, Brumidi fizera alguns de seus melhores trabalhos dentro do
Vaticano. No entanto, ao emigrar para os Estados Unidos em 1852, ele havia trocado o maior altar de
Deus por um novo altar, o Capitólio dos Estados Unidos, que agora reluzia com exemplos de sua arte
- do trompe l'oeil dos Corredores de Brumidi aos frisos do teto da Sala do Vicepresidente. Mas era
a gigantesca imagem que pairava sobre a Rotunda do Capitólio que a maioria dos historiadores
considerava sua obra-prima.
Robert Langdon ergueu os olhos para o enorme afresco que cobria o teto. Em geral ele
apreciava as reações espantadas de seus alunos às bizarras imagens da pintura, mas, naquele
momento, sentia-se apenas preso em um pesadelo que ainda precisava entender.
A diretora Sato estava parada ao seu lado com as mãos nos quadris, as sobrancelhas franzidas
para o teto distante. Langdon sentiu que ela estava tendo a mesma reação que muitos tinham na
primeira vez em que paravam para observar a pintura no coração de seu país. Perplexidade total.
A senhora não é a única, pensou Langdon. Para a maioria das pessoas, quanto mais se olhava
para A Apoteose de Washington, mais estranha a pintura ficava. 
– Aquele ali no painel central é George Washington. - Disse Langdon, apontando para o meio
da cúpula quase 60 metros acima. - Como a senhora pode ver, ele está usando vestes brancas e, com
o auxílio de 13 donzelas, ergue-se acima dos mortais sobre uma nuvem. Esse é o instante da sua
apoteose... Da sua transformação em deus. Sato e Anderson não disseram nada.
– Ao redor dele - prosseguiu Langdon -, vocês podem ver uma estranha e anacrônica série de
personagens: deuses antigos oferecendo aos nossos pais fundadores um conhecimento avançado.
Podemos ver Minerva concedendo inspiração tecnológica aos grandes inventores de nosso país: Ben
Franklin, Robert Fulton, Samuel Morse. - Langdon os apontou um a um. - E ali temos Vulcano nos
ajudando a construir um motor a vapor. Ao seu lado temos Ceres, deusa dos grãos e raiz etimológica
de nossa palavra cereal; ela está sentada sobre a colheitadeira McCormick, a inovação agrícola que
permitiu a este país se tornar líder mundial em produção de alimentos. Do lado oposto está Netuno,
demonstrando como instalar o cabo transatlântico. O afresco retrata de forma bastante clara os
nossos pais fundadores recebendo um grande saber dos deuses. - Ele abaixou a cabeça e olhou para


Sato. - Conhecimento é poder, e o conhecimento certo permite ao homem realizar tarefas milagrosas,
quase divinas. - Sato tornou a baixar os olhos para Langdon e esfregou o pescoço.
– Instalar um cabo telefônico é algo muito diferente de ser um deus.
– Para os homens modernos, pode até ser. - Retrucou Langdon.
– Mas, se George Washington soubesse que nós viramos uma raça com o poder de nos
comunicar através dos oceanos, voar à velocidade da luz e pisar na Lua, ele iria supor que nós nos
transformamos em deuses, capazes de tarefas milagrosas. - Ele fez uma pausa. - Nas palavras do
futurista Arthur C. Clarke: "Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da
magia."
Sato franziu os lábios, aparentemente entretida com os próprios pensamentos. Baixou os olhos
para a mão e, em seguida, os ergueu de volta para a cúpula, na direção apontada pelo indicador
esticado.
– Professor, o senhor foi informado de que Peter iria apontar o caminho, correto?
– Sim, senhora, mas...
– Chefe - disse Sato, virando as costas para Langdon -, pode nos fazer ver a pintura mais de
perto?
Anderson aquiesceu.
– Sim, há uma passarela que contorna a parte interna da cúpula.
Langdon olhou bem lá para cima, para a minúscula grade logo abaixo do afresco, e sentiu o
corpo se retesar.
– Não há necessidade de ir até lá em cima. - Ele já subira uma vez naquela passarela raramente
visitada, a convite de um senador e sua esposa, e quase desmaiara por causa da altura estonteante e
da precariedade da estrutura.
– Não há necessidade? - Repetiu Sato. - Professor, nós temos um homem que acredita que esta
sala contém um portal capaz de transformá-lo em um deus; temos um afresco no teto que simboliza
exatamente essa transformação; e temos a mão de alguém apontando direto para essa pintura. Parece
que tudo está nos incentivando a subir.
– Na verdade - interveio Anderson, olhando para cima -, poucas pessoas sabem disso, mas
existe um painel hexagonal na cúpula que se abre como um portal e pelo qual é possível olhar e...
– Esperem um instante - disse Langdon -, vocês estão entendendo mal. O portal que esse
homem está procurando é um portal figurado... Que não existe. Quando ele disse "Peter apontará o
caminho", estava falando em termos metafóricos. O gesto da mão que aponta, com o indicador e o
polegar esticados para cima, é um símbolo conhecido dos Antigos Mistérios, e aparece na arte antiga
do mundo todo. Esse mesmo gesto aparece em três das obras-primas codificadas mais famosas de

Leonardo da Vinci: A Última Ceia, A Adoração dos Magos e São João Batista. É um símbolo da
conexão mística do homem com Deus. - Assim em cima como embaixo. A bizarra escolha de
palavras do louco começava a parecer mais relevante.
– Nunca vi esse gesto antes - disse Sato.
É só assistir à ESPN, pensou Langdon, que sempre achava graça ao ver atletas profissionais
apontando para o céu para agradecer a Deus depois de um touchdown ou de um home run.
Perguntava-se quantos deles sabiam que estavam dando continuidade a uma tradição mística pré-
cristã de reconhecer o poder superior que, por um breve instante, os havia transformado em um deus
capaz de realizar feitos milagrosos.
– Não sei se adianta alguma coisa - disse Langdon -, mas a mão de Peter não é a primeira desse
tipo a aparecer na Rotunda. - Sato olhou para o professor como se ele estivesse louco.
– Como é que é?
Langdon gesticulou na direção do BlackBerry dela.
Procure no Google "George Washington Zeus".
A diretora fez cara de desconfiada, mas começou a digitar as palavras. Anderson se aproximou
dela devagar, olhando por cima de seu ombro com interesse. Langdon disse:
– Antigamente, esta Rotunda era dominada por uma gigantesca escultura de George
Washington nu da cintura para cima... Retratado como um deus. Ele estava sentado exatamente na
mesma posição que Zeus no Panteão, com o peito à mostra, segurando uma espada na mão esquerda
enquanto a direita se erguia com o polegar e o indicador esticados.
Sato, pelo jeito, havia encontrado uma imagem da escultura na internet, porque Anderson
encarava o BlackBerry com uma expressão chocada.
– Esperem aí, esse é George Washington?
É. - Respondeu Langdon. - Retratado como Zeus.
– Olhem para a mão direita dele. - Disse Anderson, ainda espiando por cima do ombro de Sato.
- Está exatamente na mesma posição que a do Sr. Solomon.
Como eu disse, pensou Langdon, a mão de Peter não é a primeira a aparecer nesta sala. Quando
a estátua de Horacio Greenough representando George Washington nu foi exibida pela primeira vez
na Rotunda, muitos brincaram dizendo que Washington devia estar levantando a mão numa tentativa
desesperada de encontrar alguma coisa para vestir. Porém, à medida que os ideais religiosos norte-
americanos mudavam, essa crítica jocosa se transformou em polêmica, e a estátua foi removida e
banida para um barracão no jardim leste. Atualmente, estava no Museu Nacional de História Norte-
Americana do Instituto Smithsonian. Quem a via ali não tinha o menor motivo para desconfiar que se
 

tratava de um dos últimos vestígios de uma época em que o pai da nação havia protegido o Capitólio
como um deus... Assim como Zeus protegia o Panteão.
Sato começou a digitar um número no BlackBerry, aparentemente julgando aquele momento
oportuno para entrar em contato com sua equipe.
– O que vocês descobriram? - Ela escutou pacientemente. - Entendi... - Olhou para Langdon,
depois para a mão de Peter. - Tem certeza? - Ficou em silêncio por mais um instante. - Tudo bem,
obrigada. - Sato desligou e tornou a se virar para Langdon. - Minha equipe de apoio fez algumas
pesquisas e confirmou a existência da sua suposta Mão dos Mistérios, corroborando tudo o que o
senhor disse: cinco marcas nas pontas dos dedos, a estrela, o sol, a chave, a coroa e a lamparina, bem
como o fato de essa mão representar um antigo convite para receber um saber secreto.
– Fico feliz. - Comentou Langdon.
– Não fique. - Retrucou ela com rispidez. - Parece que agora estamos em um beco sem saída
até o senhor compartilhar comigo o que quer que ainda não tenha me contado.
– Como assim?
Sato deu um passo em sua direção.
– Nós voltamos à estaca zero, professor. O senhor não me disse nada que a minha própria
equipe não pudesse ter me informado. Então, vou lhe perguntar mais uma vez. Por que o senhor foi
trazido até aqui hoje? O que o torna tão especial? O que é que só o senhor sabe?
– Nós já falamos sobre isso. - Devolveu Langdon. - Nem imagino por que esse cara acha que
eu sei alguma coisa! - Langdon se sentia inclinado a perguntar como diabos Sato sabia que ele estava
no Capitólio naquela noite, mas eles também já tinham falado sobre isso. Sato não vai dizer nada.
– Se eu soubesse qual é o próximo passo - falou ele -, diria à senhora. Mas não sei.
Tradicionalmente, a Mão dos Mistérios é oferecida por um professor a um aluno. Então, pouco
depois, a mão é seguida por uma série de instruções... Explicações de como chegar a um templo, o
nome do mestre encarregado do ensinamento... Alguma coisa! Mas tudo o que esse cara nos deixou
foram cinco tatuagens! Não chega a... -Langdon se interrompeu no meio da frase.
Sato o encarou.
– O que foi?
Os olhos de Langdon se voltaram rapidamente para a mão. Cinco tatuagens. Ele percebeu
naquele instante que o que estava dizendo talvez não fosse inteiramente verdade.
– Professor? - Insistiu Sato.
Langdon se aproximou lentamente do objeto medonho. Peter apontará o caminho.
– Mais cedo, passou pela minha cabeça que talvez esse cara tivesse deixado algum objeto preso
entre os dedos de Peter... Um mapa, uma carta ou instruções por escrito.


– Mas não deixou. - Disse Anderson. - Como o senhor pode ver, os três dedos não estão muito
apertados.
– Tem razão. - Disse Langdon. - Mas acaba de me ocorrer que... - Ele então se agachou,
tentando olhar por debaixo dos dedos para ver a parte escondida da palma da mão de Peter. - Talvez
não esteja escrito em papel.
– Acha que está tatuado? - Indagou Anderson. Langdon aquiesceu.
– O senhor está vendo alguma coisa na palma? - Perguntou Sato.
Langdon se agachou mais ainda, tentando espiar por debaixo dos dedos fechados sem muita
firmeza.
– Deste ângulo não dá. Não consigo...
– Ah, pelo amor de Deus! - Disse Sato, movendo-se na sua direção. - Abra essa maldita coisa e
pronto!
Anderson se colocou na sua frente.
– Senhora, nós precisamos realmente esperar pela perícia antes de...
– Eu quero respostas. - Disse Sato, empurrando-o para passar. Ela se agachou, afastando
Langdon.
Ele se levantou e ficou olhando, incrédulo, enquanto a diretora tirava uma caneta do bolso,
inserindo-a cuidadosamente sob os três dedos dobrados. Então, ela os puxou um a um para cima até a
mão ficar totalmente aberta, com a palma visível.
Sato ergueu os olhos para Langdon, e um leve sorriso se espalhou por seu rosto.
– Acertou de novo, professor. 

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