CAPÍTULO 15
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Em meio à escuridão cerrada, Katherine Solomon tateou à procura da porta externa de seu
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laboratório. Depois de achá-la, abriu a porta revestida de
chumbo e entrou depressa no pequeno hall.
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A travessia levara apenas 90 segundos, mas seu coração batia feito louco. Depois de três anos, eu já
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deveria ter me acostumado com isso. Katherine sempre se sentia
aliviada ao escapar do breu do
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Galpão 5 e entrar naquele espaço limpo e bem iluminado.
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O Cubo era uma grande caixa sem janelas. Cada centímetro das paredes e do teto lá dentro era
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coberto por uma tela rígida de fibra de chumbo revestida de
titânio, o que dava a impressão de uma
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imensa jaula construída dentro de uma câmara de cimento. Divisórias de plexiglas fosco separavam o
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espaço em diferentes compartimentos - um laboratório, uma sala de controle, uma sala
de máquinas,
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um banheiro e uma pequena biblioteca para pesquisas.
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Katherine caminhou depressa até o laboratório principal. O espaço
de trabalho claro e estéril
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reluzia com vários equipamentos quantitativos avançados: dois encefalógrafos interligados, um pente
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de frequência em fentossegundos, um isolador magneto-ótico e GEAs de ruído eletrônico com
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indeterminação quântica, mais simplesmente conhecidos
como Geradores de Eventos Aleatórios.
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Apesar do uso de tecnologias de ponta pela ciência noética, as descobertas em si eram
muito mais
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místicas do que as máquinas frias e hightech que as
produziam. Magia e mito se transformavam
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rapidamente em realidade com a chegada de novas e espantosas
informações, todas elas confirmando
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a ideologia básica da ciência noética - o potencial ainda não explorado da mente humana.
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A tese geral era simples: nós não chegamos nem perto de usar todo o
potencial de nossas
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mentes e nossos espíritos. Experiências conduzidas em instalações como o Instituto de Ciências
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Noéticas (ICN) da Califórnia e o Laboratório de Pesquisas de Anomalias da
Engenharia (LPAE) de
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Princeton haviam provado categoricamente que o pensamento
humano, quando adequadamente
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direcionado, tem a capacidade de afetar e modificar a massa física. Essas experiências não eram
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truques de salão do tipo "entortar
colheres", mas sim investigações altamente controladas que
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produziam todas o mesmo resultado extraordinário: nossos pensamentos de fato
interagem com o
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mundo físico, quer saibamos disso ou não, dando origem a mudanças que abrangem até o domínio
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subatômico.
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A mente domina a matéria.
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Em 2001, nas horas que se seguiram aos terríveis acontecimentos do dia 11 de
Setembro, o
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campo da ciência noética deu um salto quântico. Quatro cientistas descobriram
que, à medida que o
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específica, as leituras de 37 Geradores de Eventos Aleatórios diferentes espalhados pelo
mundo de
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repente se tornaram significativamente menos aleatórias. De alguma forma, a unicidade
dessa
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experiência compartilhada, a união de milhões de mentes, havia afetado a função de aleatoriedade
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dessas máquinas, organizando suas leituras e criando ordem a partir do
caos.
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Essa descoberta chocante parecia estar relacionada à antiga crença espiritual em uma
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"consciência cósmica" - uma vasta união de intenções humanas que, na verdade, teria a
capacidade
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de interagir com a matéria física. Recentemente, estudos sobre
meditação e prece coletivas
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produziram resultados similares em Geradores de Eventos Aleatórios, contribuindo para a afirmação
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de que a consciência humana, como a descrevia a
autora especializada em noética Lynne McTaggart,
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é uma substância externa aos limites do corpo...
Uma energia altamente ordenada capaz de modificar
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o mundo físico. Katherine ficara fascinada pelo livro de McTaggart, A
Experiência da Intenção, e por
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seu estudo global feito pela internet -
www.theintentionexperiment.com - que tinha por objetivo
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descobrir como a intenção humana é capaz de afetar o mundo. Alguns
outros textos progressistas
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também haviam despertado o interesse de Katherine.
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A partir dessa base, a pesquisa de Katherine Solomon dera um
salto adiante, provando que o
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"pensamento direcionado" pode afetar literalmente
qualquer coisa - a velocidade de crescimento das
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plantas, a direção em que os peixes nadam dentro de
um aquário, a forma como as células se dividem
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em uma placa de Petri, a sincronização de sistemas auto matizados
separadamente e as reações
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químicas do corpo de uma pessoa. Até mesmo a estrutura cristalina de um
sólido em formação se
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torna mutável graças à mente; Katherine havia criado cristais de gelo lindamente simétricos enviando
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pensamentos amorosos na direção de um copo d'água enquanto este congelava.
Incrivelmente, o
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inverso também é verdadeiro: quando ela enviava
pensamentos negativos e perniciosos na direção da
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água, os cristais de gelo congelavam
em formas caóticas, fraturadas.
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O pensamento humano pode literalmente transformar o mundo físico.
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À medida que os experimentos de
Katherine iam ficando mais ousados, os resultados se
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tornavam mais espantosos. Seu trabalho naquele laboratório havia provado sem qualquer
sombra de
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dúvida que a expressão "a mente domina a matéria" não é apenas um mantra de auto-ajuda da
Nova
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Era. A mente é capaz de alterar o estado da matéria em si e, mais importante, possui
o poder de
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incentivar o mundo físico a se mover em uma direção específica. Nós somos os mestres de nosso
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próprio universo.
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No nível subatômico, Katherine tinha mostrado que as próprias partículas existiam e deixavam
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de existir com base apenas em sua intenção de observá-las. Em certo sentido, o seu desejo
de ver
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uma partícula... Materializava essa partícula. Heisenberg já havia sugerido essa realidade décadas
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McTaggart: ''A consciência viva é, de certa forma, a influência que transforma a possibilidade
de
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algo em algo real. O ingrediente mais essencial para a criação de nosso universo é a consciência que
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o observa."
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No entanto, o aspecto mais surpreendente do trabalho de
Katherine tinha sido a descoberta de
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que a capacidade da mente de afetar o mundo físico pode ser aumentada por meio da
prática. A
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intenção é uma habilidade adquirida. Como na meditação, controlar o verdadeiro poder do
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"pensamento" exige treinamento. Mais importante
ainda... Algumas pessoas nascem com mais
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aptidão para fazer isso do que outras. E, ao longo da história, alguns poucos indivíduos se tornaram
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verdadeiros mestres.
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Esse é o elo perdido entre a ciência moderna e o misticismo antigo.
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Katherine havia aprendido isso com Peter, e agora, voltando a
pensar nele, sua preocupação
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começou a aumentar. Ela foi até a biblioteca do laboratório e espiou lá para dentro. Vazia. A
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biblioteca era uma pequena sala de leitura - duas poltronas
Morris, uma mesa de madeira, duas
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luminárias de piso e uma parede inteira de prateleiras de mogno
contendo cerca de 500 livros.
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Katherine e Peter tinham reunido ali seus textos preferidos,
englobando assuntos que iam desde
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física de partículas até misticismo antigo. Sua coleção havia se transformado em uma mistura
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eclética de novo e antigo... Vanguarda e história. A maioria dos livros de
Katherine possuía títulos
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como Consciência Quântica, A Nova Física e Princípios da Neurociência. Os de seu irmão eram mais
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antigos e mais esotéricos, tais como o Caibalion, o
Zohar, A Dança dos Mestres Wu Li e uma
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tradução das tabuletas sumérias publicada pelo Museu Britânico. ''A chave para nosso futuro
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científico", dizia sempre seu irmão, "está escondida em nosso passado."
Peter, que passara a vida
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inteira estudando história, ciência e misticismo, havia sido o
primeiro a incentivar Katherine a
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aprimorar sua formação universitária científica debruçando-se sobre a filosofia hermética primitiva.
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A irmã tinha apenas 19 anos quando Peter despertou seu interesse pelo
elo entre a ciência moderna e
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o misticismo antigo.
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– Então me diga, Kate - perguntara-lhe o irmão quando ela estava de férias em casa durante seu
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segundo ano em Yale -, o que vocês estão lendo no curso de Física Teórica?
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Na vasta biblioteca da família, Katherine recitara sua
desafiadora lista de leitura. -
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Impressionante - retrucou seu irmão. - Einstein, Bohr e Hawking são gênios modernos. Mas você
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está lendo algo mais antigo? - Katherine coçou a cabeça.
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– Você quer dizer... Tipo Newton? - Ele sorriu.
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– Mais antigo ainda. - Aos 27 anos, Peter já havia construído uma reputação no mundo
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acadêmico, e ele e Katherine tinham adquirido o hábito de se divertirem com aquelas
disputas
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– Mais antigo do que Newton? - A cabeça de Katherine então se encheu de nomes distantes
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como Ptolomeu, Pitágoras e Hermes Trismegisto. Ninguém mais lê essas coisas. Seu irmão correu
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um dedo pela comprida prateleira de lombadas de couro rachadas e
velhos volumes empoeirados.
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– O conhecimento científico dos antigos era
impressionante... Só agora é que a física moderna
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está começando a compreender tudo o que eles diziam.
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– Peter - falou Katherine -, você já me disse que os egípcios entenderam o funcionamento de
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alavancas e polias muito antes de Newton e que o trabalho dos
primeiros alquimistas era comparável
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à química moderna, mas e daí? A física de hoje em dia lida com
conceitos inconcebíveis para os
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antigos.
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– Como por exemplo...?
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– Bom... Como a teoria do entrelaçamento, por exemplo! - A pesquisa
subatômica tinha
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provado categoricamente que toda matéria estava interligada... Entrelaçada em uma única trama
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unificada... Uma espécie de unidade universal. - Você está me dizendo que os antigos ficavam
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sentados conversando sobre a teoria do entrelaçamento?
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– Sem dúvida! - disse Peter, afastando dos olhos a comprida franja
escura. - O entrelaçamento
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estava no cerne das crenças primitivas. Seus nomes são tão antigos quanto a história... Dharmakaya,
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tao, brâman. Na verdade, a mais antiga busca espiritual do homem era
para perceber seu próprio
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entrelaçamento, sentir sua interconexão com todas as coisas.
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– O homem sempre quis se tornar "um" com o Universo...
Alcançar o estado de união. - Seu
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irmão arqueou as sobrancelhas. - Até hoje, judeus e cristãos ainda buscam a redenção... Embora a
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maioria de nós tenha se esquecido de que, na
verdade, o que estamos buscando é a união. - Katherine
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deu um suspiro, pois tinha se esquecido de como era difícil discutir com um homem tão versado em
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história.
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– Tudo bem, mas você está generalizando. Eu estou falando de
física específica.
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– Então seja específica. - Os olhos dele agora a
desafiavam.
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– Tudo bem, que tal algo tão simples quanto a polaridade... O
equilíbrio entre positivo e
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negativo do universo subatômico. É óbvio que os antigos não enten...
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– Espere aí! - Seu irmão puxou da estante um grande volume
empoeirado, que deixou cair com
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um baque sobre a mesa da biblioteca. - A polaridade moderna nada
mais é do que o "mundo dual"
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descrito por Krishna aqui no Bhagavad Gita mais de dois mil anos
atrás. Uma dezena de outros livros
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desta biblioteca, incluindo o Caibalion, falam sobre sistemas
binários e forças opostas na natureza.
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Katherine estava cética.
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– Tá, mas se falarmos das modernas descobertas subatômicas... Do princípio da incerteza de
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Heisenberg, por exemplo...
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– Nesse caso, devemos procurar aqui - disse Peter, avançando pela estante comprida e pegando
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outro livro. - As escrituras védicas sagradas dos hindus conhecidas
como Upanishads. - Ele deixou o
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volume cair pesadamente sobre o primeiro. - Heisenberg e
Schrodinger estudaram este texto e lhe
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deram o crédito por tê-los ajudado a formular algumas de suas teorias. - A explicação prosseguiu por
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vários minutos, e a pilha de livros empoeirados sobre a
escrivaninha foi ficando cada vez mais alta.
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Por fim, Katherine jogou as mãos para o alto, frustrada.
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– Tá bom! Você provou seu argumento, mas eu quero estudar física teórica de ponta. O futuro
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da ciência! Duvido muito que Krishna ou Vyasa tivessem muita coisa a
dizer sobre a teoria das
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supercordas e sobre modelos cosmológicos multidimensionais.
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– Tem razão. Não tinham mesmo. - Seu irmão fez uma pausa, um sorriso cruzando
seus lábios.
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- Se você estiver falando em teoria das supercordas... - Ele tornou a se
aproximar da estante. - Então
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está se referindo a este livro aqui. - Ele sacou da prateleira um
volume pesadíssimo com
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encadernação em couro e deixou-o cair sobre a mesa com um estrondo. - Tradução do século XIII do
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aramaico medieval original.
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– Teoria das supercordas no século XIII?! - Katherine não estava acreditando. - Faça-me o
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favor!
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A teoria das supercordas era um modelo cosmológico novinho em folha. Baseado nas
mais
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recentes observações científicas, ela sugeria que o universo
multidimensional era constituído não por
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três... Mas sim por dez dimensões, todas elas interagindo feito
cordas vibratórias, parecidas com as
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cordas ressonantes de um violino.
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Katherine aguardou enquanto o irmão abria o livro e examinava o sumário impresso em letras
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floreadas, avançando em seguida até um trecho logo no início.
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– Leia isto aqui. - Ele apontou para uma página desbotada de texto e diagramas.
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Obediente, Katherine analisou a página. A tradução era antiquada e difícil de ler, mas, para seu
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total espanto, o texto e os desenhos delineavam com clareza
exatamente o mesmo universo descrito
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pela moderna teoria das supercordas - um universo de cordas
ressonantes em 10 dimensões. Então,
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ao avançar na leitura, ela de repente arquejou de espanto e recuou.
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– Meu Deus, eles descrevem até como seis das dimensões estão entrelaçadas e agem como uma
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só?! - E, dando um passo assustado para trás. - Mas que livro é este?
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Seu irmão escancarou um sorriso.
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– Um livro que espero que você leia um dia. - Ele tornou a virar
as páginas até a folha de rosto,
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onde um elaborado frontispício impresso continha quatro
palavras.
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O Zohar - Versão Integral.
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Embora Katherine nunca tivesse lido o Zohar, sabia que era o
texto fundamental do misticismo
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judaico primitivo, outrora considerado tão poderoso a ponto de ser reservado
apenas para os rabinos
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mais eruditos. Ela olhou de esguelha para o livro.
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– Está me dizendo que os místicos primitivos sabiam que seu
universo tinha 10 dimensões?
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– Claro. - Ele gesticulou para a ilustração da página, 10 círculos entrelaçados chamados
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Sephiroth. - É óbvio que a nomenclatura é esotérica, mas a física é muito avançada. Katherine não
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soube como reagir.
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– Mas... Então por que mais pessoas não estudam isto aqui? - Seu irmão sorriu.
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– Elas vão estudar.
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– Não estou entendendo.
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– Katherine, nós nascemos em uma época maravilhosa. Uma mudança está por vir. Os seres
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humanos estão no limiar de uma nova era em que vão começar a prestar novamente atenção na
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natureza e nos antigos costumes... Nas ideias contidas em livros
como o Zohar e outros textos
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antigos do mundo todo. Toda verdade poderosa tem sua própria força da gravidade e, mais cedo ou
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mais tarde, as pessoas acabam atraídas por ela. Vai chegar o dia em que
a ciência moderna começará
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a estudar a sério o conhecimento dos antigos... E
esse será o dia em que a humanidade encontrará
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respostas para as grandes questões que ainda não compreende.
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Naquela noite, Katherine começou a ler com grande interesse os
textos antigos do irmão e logo
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começou a entender que ele tinha razão. Os antigos possuíam um profundo conhecimento científico.
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A ciência atual não estava propriamente fazendo
"descobertas", mas sim "redescobertas". Era como
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se a humanidade um dia tivesse compreendido a verdadeira
natureza do Universo, mas a houvesse
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deixado escapar... E cair
no esquecimento.
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A física moderna pode nos ajudar a lembrar! Essa busca havia se
tornado a missão de
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Katherine na vida - usar a ciência avançada para redescobrir a sabedoria
perdida dos antigos. O que a
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mantinha motivada era mais do que o entusiasmo acadêmico. Por baixo de tudo isso havia
sua
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convicção de que o mundo precisava daquela compreensão... Agora mais do que nunca.
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No fundo do laboratório, Katherine viu o jaleco branco
do irmão pendurado em um gancho ao
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lado do seu. Por reflexo, sacou o celular para ver se havia
algum recado. Nada. Uma voz tornou a
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ecoar em sua lembrança. Aquilo que seu irmão acredita que está escondido na capital... Pode ser
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encontrado. Às vezes uma lenda que dura muitos séculos... Tem um motivo para durar.
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- Não - disse Katherine em voz alta. - Não é possível que seja real.
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