quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capítulo 11 (O Simbolo Perdido)



CAPÍTULO 11

Por que Peter não atende? - perguntou-se Katherine Solomon enquanto desligava o celular.
Onde ele está? Durante três anos, Peter Solomon sempre tinha sido o primeiro a chegar a seus
encontros semanais às sete da noite de domingo. Aquele era o ritual familiar deles, uma forma de
permanecerem em contato antes do início de uma nova semana e de Peter se manter atualizado em
relação ao trabalho de Katherine no laboratório.
Ele nunca se atrasa, pensou ela, e sempre atende o telefone. Para piorar, Katherine ainda não
tinha certeza do que iria dizer ao irmão quando ele finalmente chegasse. Como vou lhe perguntar
sobre o que descobri hoje?
O clicar ritmado dos seus passos ecoava pelo corredor de cimento que percorria o CAMS como
uma espinha dorsal. Conhecido como "A Rua", o corredor interligava os cinco imensos galpões de
armazenagem do edifício. A 12 metros do chão, um sistema circulatório composto de dutos laranja
latejava com as batidas do coração do complexo - os sons pulsantes de milhares de metros cúbicos de
ar filtrado que circulavam pelo ambiente.
Em geral, durante a caminhada de quase 400 metros até o laboratório, Katherine se sentia
tranquilizada pelos ruídos da respiração do complexo. Naquela noite, entretanto, a pulsação a deixou
nervosa. O que ela descobrira a respeito do irmão deixaria qualquer um perturbado, mas, como Peter
era seu único parente na face da Terra, Katherine se sentia especialmente incomodada ao pensar que
ele pudesse estar lhe escondendo algum segredo.
Até onde ela sabia, o irmão só ocultara algo dela uma vez... Um segredo maravilhoso
escondido no final daquele corredor. Três anos antes, Peter havia conduzido Katherine por ali,
apresentando-a ao CAMS enquanto lhe exibia alguns dos objetos mais incomuns do complexo: o
meteorito de Marte ALH-84001, o diário pictográfico de Touro Sentado, uma coleção de jarros
lacrados com cera de abelha contendo espécimes originais coletados por Charles Darwin. Em
determinado momento, os dois passaram por uma porta pesada com uma pequena janela. Katherine
viu de relance o que havia atrás dela e levou um susto. 
– Mas o que é isso?
Seu irmão deu uma risadinha e continuou andando.
– Galpão 3. É o que chamamos de Galpão Molhado. Bem inusitado, não é? 
– Aterrorizante, eu diria. - Katherine apertou o passo para alcançá-lo. Aquele complexo parecia
outro planeta. 


– O que eu realmente quero lhe mostrar é o Galpão 5 - Disse Peter enquanto a conduzia pelo
corredor aparentemente sem fim. - É o nosso mais novo anexo. Foi construído para abrigar artefatos
do porão do Museu Nacional de História Natural. A coleção está programada para ser transferida
para cá daqui a uns cinco anos, o que significa que o Galpão 5 está vazio no momento.
Katherine olhou naquela direção.
– Vazio? Então por que estamos indo para lá?
Os olhos cinzentos de seu irmão exibiram um brilho travesso familiar.
– Pensei que, já que ninguém está usando o espaço, talvez você pudesse usá-1o.
– Eu?
– Claro. Imaginei que você gostaria de ter um laboratório exclusivo... Um lugar onde possa de
fato realizar alguns dos experimentos sobre os quais vem teorizando durante todos esses anos.
Chocada, Katherine encarou o irmão.
– Mas, Peter, essas experiências são teóricas! Realizá-las seria quase impossível!
– Nada é impossível, Katherine, e este lugar é perfeito para você. O CAMS não é apenas um
depósito de tesouros, é um dos centros de pesquisa científica mais avançados do mundo.
Frequentemente pegamos alguma peça da coleção para examiná-la usando as melhores tecnologias
quantitativas que o dinheiro pode comprar. Você teria à sua disposição todo equipamento de que
pudesse vir a precisar.
– Peter, as tecnologias necessárias para fazer essas experiências estão...
– Bem aqui. - Ele deu um largo sorriso. - O laboratório está pronto.
Katherine parou onde estava. Seu irmão apontou para o final do longo corredor.
– Estamos indo para lá agora. - Katherine mal conseguia falar.
– Você... Você construiu um laboratório para mim?
É o meu trabalho. O Smithsonian foi criado para promover o avanço do conhecimento
científico. Como secretário, devo levar a sério esse dever. Eu acredito que as experiências que você
propôs têm potencial para expandir as fronteiras da ciência a territórios inexplorados. - Peter parou,
olhando-a bem nos olhos. - Quer você fosse ou não minha irmã, eu me sentiria obrigado a apoiar essa
pesquisa. Suas ideias são brilhantes. O mundo merece ver aonde elas podem chegar.
– Peter, eu não posso de jeito nenhum...
– Tudo bem, relaxe... Eu paguei do meu próprio bolso, e ninguém está usando o Galpão 5 neste
momento. Quando você terminar suas experiências, pode desocupá-lo. Além disso, o Galpão 5 tem
propriedades singulares que são perfeitas para o seu trabalho.


Katherine não conseguia imaginar o que um gigantesco galpão vazio poderia proporcionar no
sentido de auxiliar sua pesquisa, mas tinha a sensação de que estava prestes a descobrir. Eles haviam
acabado de chegar a uma porta de aço com letras grossas gravadas:

GALPÃO 5

Seu irmão inseriu o cartão de acesso e um teclado eletrônico se acendeu. Ele ergueu o dedo
para digitar o código de segurança, mas se deteve, arqueando as sobrancelhas com o mesmo ar
travesso de quando era menino.
– Tem certeza de que está pronta?
Ela aquiesceu. Meu irmão, sempre perfeito no comando do espetáculo.
– Para trás. - Peter apertou as teclas.
A porta de aço se abriu com um silvo alto. Além da soleira havia apenas um breu total... Um
imenso vazio. Um gemido oco parecia ressoar das profundezas. Katherine sentiu uma corrente de ar
frio emanar lá de dentro. Era como olhar para o Grand Canyon à noite.
– Imagine um hangar vazio esperando uma frota de Airbus - disse-lhe o irmão -, e vai ter uma
ideia geral.
Katherine se pegou dando um passo para trás.
– O galpão em si é grande demais para ser aquecido, mas seu laboratório é uma sala de
concreto, mais ou menos no formato de um cubo, com isolamento térmico. Ela está situada bem lá no
fundo do galpão para ficar o mais afastada possível.
Katherine tentou visualizar aquilo. Uma caixa dentro de uma caixa. Esforçou-se para enxergar
na escuridão, mas esta era impenetrável.
– A que distância ela está?
– A uma boa distância... Um campo de futebol caberia facilmente aqui dentro. Mas devo avisar
que o trajeto é um pouco perturbador. É excepcionalmente escuro. Katherine espiou pela quina,
hesitante.
– Não tem interruptor?
– O Galpão 5 não tem fiação elétrica.
– Mas... Então como é que um laboratório pode funcionar aí dentro?
Ele deu uma piscadela.
– Gerador de hidrogênio.
O queixo de Katherine caiu.
– Você está de brincadeira, não é


– Energia limpa suficiente para abastecer uma cidade pequena. O seu laboratório está
totalmente isolado das ondas de rádio emitidas pelo restante do complexo. Além disso, toda a parte
externa do galpão é revestida de membranas foto-resistentes de modo a proteger da radiação solar os
artefatos em seu interior. Basicamente, este galpão é um ambiente isolado e neutro do ponto de vista
energético.
Katherine estava começando a entender o atrativo do Galpão 5. Como grande parte do seu
trabalho consistia em quantificar campos energéticos anteriormente   desconhecidos, suas
experiências precisavam ser feitas em um local isolado de qualquer radiação externa ou "ruído
branco". Isso incluía interferências tão sutis quanto "radiações cerebrais" ou "emissões de
pensamento" geradas por pessoas próximas. Por esse motivo, um laboratório situado em um campus
universitário ou em um hospital não daria certo, mas um galpão deserto no CAMS não poderia ser
mais perfeito.
– Vamos até lá dar uma olhada. - Peter estava sorrindo ao adentrar a vasta escuridão. - É só me
seguir.
Katherine ficou parada na soleira da porta. Mais de 100 metros na escuridão total? Quis sugerir
uma lanterna, mas seu irmão já havia desaparecido no abismo.
– Peter? - chamou ela.
– Dêosalto da fé - disse ele lá da frente, com a voz já começando a sumir. - Você vai
encontrar o caminho. Confie em mim.
Ele está de brincadeira, não é? O coração de Katherine batia disparado enquanto ela avançava
poucos metros além da soleira, tentando ver alguma coisa no escuro. Não enxergo nada! De repente,
a porta de aço sibilou, fechando-se atrás dela com um baque e fazendo-a mergulhar nas trevas. Não
havia uma só centelha de luz em lugar nenhum.
– Peter? - Silêncio.
Você vai encontrar o caminho. Confie em mim. Hesitante, ela foi avançando vagarosamente, às
cegas. Salto da fé? Katherine não conseguia sequer enxergar a própria mão diante do rosto.
Continuou seguindo em frente, mas em poucos segundos ficou totalmente perdida. Para onde estou
indo?
Isso fazia três anos.
Agora, ao chegar diante da mesma porta de aço, Katherine percebeu o enorme caminho que
havia percorrido desde aquela primeira noite. Seu laboratório - apelidado de Cubo - havia se tornado
seu lar, um santuário nos recônditos do Galpão 5. Exatamente como Peter previra, ela havia
encontrado seu caminho em meio à escuridão naquela noite, e em todos os outros dias desde então -


graças a um sistema de direcionamento engenhosamente simples que seu irmão lhe permitira
descobrir sozinha.
Muito mais importante, a outra previsão de Peter também havia se realizado: as experiências de
Katherine tinham produzido resultados impressionantes, sobretudo nos últimos seis meses - avanços
que iriam alterar paradigmas inteiros de pensamento. Katherine e o irmão haviam concordado em
guardar segredo total quanto aos resultados até suas implicações ficarem mais claras. Mas ela sabia
que um dia, em breve, divulgaria algumas das revelações científicas mais transformadoras da história
humana.
Um laboratório secreto dentro de um museu secreto, pensou ela, inserindo o cartão de acesso
na porta do Galpão 5. O teclado se acendeu e Katherine digitou sua senha. A porta de aço se abriu
com um silvo.
O conhecido gemido oco foi acompanhado pela mesma rajada de ar frio. Como sempre,
Katherine sentiu sua pulsação se acelerar.
O trajeto mais estranho do mundo para chegar ao trabalho. Tomando coragem para a travessia,
Katherine Solomon olhou de relance para o relógio de pulso ao pisar no vazio. Naquela noite, porém,
não conseguiu se livrar das preocupações ao entrar no galpão. Onde está Peter?

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