Capitulo 10 Onde há Fumo
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― O que você está esperando? ― Penn perguntou apenas um segundo
depois que
Daniel saiu com Roland. ― Vamos. ― Ela puxou a mão de Luce.
― Para onde? ― perguntou Luce. Seu coração continuava batendo
forte pela
conversa com Daniel ― e da visão dele se afastando. A forma
em que seus
esculpidos ombros cortavam o corredor fazia parecer maior
do que o próprio
Daniel.
Penn bateu levemente em um lado da cabeça de Luce. ― Oi? Para
a biblioteca,
como eu disse a você em meu bilhete... ― ela captou a expressão
em branco de
Luce. ― Você não recebeu nenhum dos meus bilhetes? ― Ela bateu
a perna,
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frustada. ― Mas eu entreguei a Todd para passar ao Cam, para
passar pra você. ―
― Pony Express.17 ― Cam se meteu na frente de Penn e apresentou
a Luce dois
pedaços de papel dobrado colocados entre o indicador e o dedo
médio.
― Me dê um descanço.
Teu cavalo morreu de esgotamento no caminho? ― Penn
bufou, recolhendo os bilhetes. ― Eu te dei estes faz uma hora.
Por que levou tanto
tempo? Você não os leu... ―
― Claro que não. ―
Cam levou uma mão a seu peito largo, ofendido. Ele usava um
grosso anel preto em seu dedo médio. ― Se você recorda, Luce
se meteu em
problemas por trocar bilhetes com Molly... ―
― Eu não estava trocando
bilhetes com Molly... ―
― Não me importa, ―
disse Cam, pegando os bilhetes da mão de Penn e
entregando-os finalmente a Luce. ― Eu só estava olhando por
seus interesses.
Esperando a oportunidade certa. ―
― Bem, obrigada. ―
Luce meteu os bilhetes em seu bolso e deu de ombros para
Penn como se disesse ‘o que quer que eu faça.’
― Falando de esperar
o momento certo, ― ele disse. ― Eu estava fora no outro dia
e vi isto. ― Ele tirou uma pequena caixa de joías de veludo
vermelho e o manteve
aberto para que Luce visse.
Penn deu um puxão no ombro de Luce com a intenção de dar uma
olhada.
Dentro, uma fina corrente de ouro que envolvia um pequeno
pingente circular com
uma linha esculpida no centro e uma pequena cabeça de serpente
na ponta.
Luce olhou para ele. Estava brincando com ela?
Ele tocou no pingente. ― Pensei que, depois do outro dia...
queria te ajudar a
enfrentar seu medo, ― ele disse em um tom quase nervoso, com
medo de que ela
não fosse aceitar.
Deveria aceitá-lo? ― Só uma brincadeira. Eu gostei. É único,
me lembrou você. ―
Era único.E muito lindo, e isso fez Luce se sentir estranhamente
indigna.
― Você foi às compras?
― Se encontrou perguntando, porque era mais fácil falar
de como Cam havia deixado o campus do que estar se perguntando
Porque eu? ―
Pensei que uma das normas da escola é que estamos todos presos
aqui. ―
Cam levantou o queixo ligeramente e sorriu com os olhos. ―
Há maneira, ― disse
em voz baixa. ― Eu te mostrarei um dia. Poderia te mostrar...
está noite? ―
― Cam, carinho, ― disse
uma voz atrás dele. Era Gabbe, batendo-lhe no ombro.
Uma parte fina da frente de seu cabelo era uma trança francesa
e presa até atrás de
sua orelha, como uma perfeita pequena bandana. Luce a olhou
com ciúmes.
― Preciso de sua ajuda
com os preparativos, ― Gabbe ronronou.
Luce olhou ao seu redor e percebeu que eram as únicas quatro
pessoas que ficaram
na sala de aula.
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― Vou dar uma pequena festa em meu quarto mais tarde, ― disse
Gabbe,
apertando o queixo no ombro de Cam para dirigir-se a Luce
e a Penn. ― E todos
estão indo, certo? ―
Gabbe, cuja boca parecia sempre pegajosa pelo brilho labial,
cujo os cabelos loiros
nunca paravam de deixar sua marca no segundo que um cara começava
a falar com
Luce. Mesmo que Daniel tenha dito que não havia nada entre
eles, Luce sabia que
ela nunca iria ser amiga dessa garota.
Então outra vez, você não tem que gostar de alguém para ir
a sua festa,
especialmente quando certamente outra pessoa que você gosta,
provavelmente vai
está lá...
Ou ela deveria aceitar a oferta de Cam? Ele estava realmente
sugerindo que eles
escapassem?
Só ontem, um rumor tinha voado por toda a classe quando Jules
e Phillip, o casal
língua furada, não apareceram para a aula da Miss Sophia.
Aparentemente, eles
tinham tentado sair do campus no meio da noite, para um encontro
secreto que
saiu errado ― e agora estavam em algum tipo de confinamento
solitário, cuja
localização ainda não era conhecida por Penn.
O mais estranho de tudo foi a Miss Sophia ― que geralmente
não tolera os
sussurros ― não calou os estudantes que fofocavam loucamente
durante a aula. Era
quase como se quisesse que os estudantes imaginassem o pior
castigo possível por
quebrar alguma de suas regras ditatoriais.
Luce engoliu em seco, olhando para Cam. Ele ofereceu seu cotovelo,
ignorando
inteiramente Gabbe e Penn. ― O que me diz, garota? ― ele perguntou,
soando tão
encantadoramente um clássico de Hollywood que Luce se esqueceu
de tudo o que
tinha acontecido a Jules e a Phillip.
― Desculpe. ― Interrompeu
Penn, respondendo a ambos e afastando Luce do
cotovelo dele. ― Mas nós temos outros planos. ―
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Cam olhou para
Penn como se estivesse tentando descobrir de onde ela tinha
vindo tão repentinamente. Ele fazia Luce se sentir como uma
versão melhor, mais
calma, de si mesma. E ele tinha uma maneira de cruzar em seu
caminho no
momento certo depois que Daniel a tinha feito se sentir exatamente
o oposto. Mas
Gabbe ainda continuava flutuando ao lado dele, e o aperto
de Penn era cada vez
mais forte, então finalmente Luce só agitou a mão que ainda
estava segurando
Cam.
― Um, talvez da próxima vez! Obrigada pelo colar. ―
Deixando Cam e Gabbe confusos na sala atrás delas, Penn e
Luce sairam de
Agustine. Era assustador está sozinha no escuro edificil tão
tarde, e Luce podia
dizer pelos ruído apressador das sandalias de Penn nas escadas
que ela sentia o
mesmo também.
Do lado de fora, havia vento. Uma coruja cantava em sua pequena
Palmeira.
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Quando elas passaram sob os Carvalhos ao lado do edifícil,
ganchos desordenados
de musgos espanhol tocando-as como emaranhados de fios de
cabelos.
― Talvez na próxima
vez? ― Penn imitou a voz de Luce. ― O que foi isso? ―
― Nada... eu não sei.
― Luce queria mudar de assunto. ― Você fez um som muito
elegante, Penn, ― ela disse, rindo enquanto caminhava ao longo
do pátio.
― Outros planos...
pensei que você se divertiu na festa da semana passada. ―
― Se você alguma vez
andou lendo minha última correspondência, verá por que
temos coisas mais importantes em nosso prato. ―
Luce esvaziou seus bolsos, descobrindo cinco M&M’s não-consumidos,
e
compartilhando-os com Penn, que fez uma expressão muito Penn
― como dizendo
que esperava que viessem de um lugar limpo, mas os comi de
todo jeito.
Luce abriu o primeiro bilhete de Penn, no qual parecia uma
cópia da página de um
dos arquivos da sala de arquivos subterrâneo:
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Gabrielle
Givens
Cameron Briel
Lucinda Prince
Todd Hammond
Localizações Anteriores:
Todos no Nordeste, com exceção de T. Hammond
(Orlando, Florida)
Arriane Alter
Daniel Grigori
Mary Margaret Zane
Localizações Anteriores:
Los Angeles, California
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O grupo de Lucinda foi anotado que chegou em
Sword & Cross em 15 de
Setembro deste ano. O segundo grupo tinha chegado em 15 de
Março, de três anos
antes.
― Quem é Mary Margaret Zane? ― Luce perguntou, apontando.
― Apenas a muito virtuosa Molly, ― Penn disse.
O nome de Molly é Mary Margaret? ― Não é de se estranhar que
é tão irritada com
o mundo, ― Luce disse. ― Então, onde você consegue tudo isso?
―
― Peguei de uma das caixas que a Miss Sophia derrubou no outro
dia, ― disse
Penn. ― É a letra da Miss Sophia. ―
Luce olhou pra ela. ― O que isso significa? Por que ela tinha
a necessidade de
guardar isso? Pensava que eles tinham todas as nossas fichas
de chegada separadas
em nossos arquivos. ―
― Eles tem. Não consigo entender isso também, ― Penn disse.
― E eu quero dizer,
que embora você se apresentasse ao mesmo tempo que os outros
garotos, não é
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como se você tivesse algo em comum com eles. ―
― Eu não poderia ter
menos em comum com eles, ― Luce disse, prevendo o olhar
recatado de Gabbe sempre colado ao seu rosto.
Penn coçou o queixo. ― Mas quando Arriane, Molly e Daniel
apareceram, eles já se
conheciam. Creio que eram do mesmo Centro de Recuperação em
Los Angeles. ―
Em algum lugar existia uma chave para a historia de Daniel.
Tinha que ser para ele
algo mais que um Centro de Recuperação na California. Mas
pensando em como
seria sua reação ― que desaparecesse ao horror que Luce poderia
ter o interesse de
saber algo sobre ele ― bem, a fez sentir que tudo o que ela
e Penn estavam fazendo
era inútil e imaturo.
― Qual é o ponto de
tudo isso? ― Luce perguntou, de repente irritada.
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Não posso imaginar
por que a Miss Sophia estaria conferindo toda essa
informação. Embora a Srta Sophia chegou a Sword & Cross
o mesmo dia que
Arriane, Daniel e Molly... ― Penn se apagou. ― Quem sabe?
Talvez isso não
signifique nada. Aqui mencionam só um pouco de Daniel nos
arquivos, imaginei que
deveria te mostrava tudo o que encontrasse. Por tanto, bilhete
B.
Ela apontou para o segundo bilhete na mão de Luce.
Luce suspirou. Parte dela queria deixar a busca e parar de
se sentir envergonhada
sobre Daniel. Outra parte insistente dela ainda ansiava por
conhecê-lo melhor... o
qual, estranhamente, era muito mais fácil de fazer quando
ele não estava
tecnicamente presente para lhe dar novos motivos para sentir-se
envergonhada.
Ela olhou para o bilhete, uma cópia de um cartão antigo da
biblioteca.
Grigori, D. Os Observadores: Mito Medieval
Europa. Seraphim Press, Roma, 1755.
Número de Identificação: R999.318 CR!
― Parece que um dos antepassados de Daniel foi um estudioso,
― Penn disse,
lendo por cima do ombro de Luce.
― Isso deve ter sido
o que ele quis dizer, ― Luce disse em voz baixa. Olhou para
Penn. ― ele me disse que o estudo da religião estava em sua
familia. Isto deve ser o
que ele quis dizer. ―
― Pensei que ele era
órfão... ―
― Não pergunte, ― Luce
disse, agitando sua mão. ― É um tema delicado para ele.
― Ela passou o dedo sobre o título do livro. ― O que um observador?
―
― Só há uma maneira
de descobrir, ― Penn disse. ― Embora podemos viver para
lamentar. Porque isto possivelmente parece com o livro mais
chato de todos. No
entanto, ― ela acrescentou, batendo seus dedos em sua camisa.
― Tomei a
liberdade de checar o catálago. O livro deve estar nas estantes.
Você pode me
agradecer mais tarde. ―
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― Você é boa. ― Luce sorriu. Estava ansiosa por chegar à biblioteca.
Se
alguém na familia de Daniel tinha escrito um livro, não poderia
ser chato. Ou não
para Luce, de qualquer modo. Mas então ela olhou outra coisa
que tinha em sua
mãos. A caixa aveludade de joías de Cam.
― O que você acha que
isso significa? ― ela perguntou a Penn, enquanto começava
a caminhar até o mosaico de azulejos das escadas da biblioteca.
Penn deu de ombros. ― Seus sentimentos sobre as serpentes
são... ―
― O ódio, a agonia,
a paranóia extrema e o desgoto, ― Luce listou.
― Talvez seja como...
ok, eu costumava ter medo de cactus. Não podia nem me
aproximar deles... não ria, alguma vez foi picada por uma
dessas coisas?
Permanecem em sua pele durante vários dias. Mesmo assim, um
ano, no meu
aniversário, meu pai me presentiou com onze plantas de cactus.
Ao princípio eu
queria desfazer-me delas. Mas então, você sabe, me acostumei
com elas. Deixei de
dar a volta a cada momento que eu estava próximo de um. No
final, superei
totalmente. ―
― Então você está me
dizendo que o presente de Cam, ― Luce disse, ― é na
verdade muito suave. ―
― Eu acho, ― disse
Penn. ― Mas se eu soubesse que ele estava louco por ti, eu não
teria confiado nossa correspondencia particular. Desculpe
por isso. ―
― Ele não está louco
por mim, ― começou a dizer Luce, tocando o pingente de
ouro dentro da caixa, imaginando como seria o aspecto contra
sua pele, ela não
tinha contado nada a Penn sobre seu dia de campo com Cam,
porque ― bem, ela
realmente não sabia o porque. Isto tinha a ver com Daniel,
e como Luce ainda não
sabia se queria estar ou não estar ― com qualquer um deles.
― Há. ― Gritou Penn.
― O que significa que você gosta um pouco dele! Traindo
Daniel. Eu não posso continuar com você e seus homens. ―
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― Como se estivesse
acontecendo algo com qualquer um deles, ― disse Luce
com tristeza. ― Acha que Cam leu os bilhetes? ―
― Se ele fez isso,
e ainda te deu esse colar, ― disse Penn, ― então ele realmente
gosta de você. ―
Elas entraram na biblioteca e as pesadas portas duplas deram
um golpe surdo atrás
delas. O som resoou na sala. A Miss Sophia levantou a vista
das montanhas de
papéis que cobriam sua mesa à fraca luz.
― Oh, oi, garotas,
― ela disse, sorrindo de maneira tão ampla que Luce se sentia
culpada de novo pela bagunça que aconteceu durante sua aula.
― Espero que
tenham desfrutado de minha breve sessão de estudos. ― Disse
praticamente
cantando.
― Muito. ― Luce assentiu
com a cabeça, embora não tinha escrito nada a respeito.
― Nos viemos aqui para revisar algumas coisas antes do exame.
―
― Isso mesmo, ― interveio
Penn. ― Você nos inspirou. ―
|
― Que maravilhoso! ― Sussurrou Miss Sophia atraves de sua
papelada. ― Tenho
uma nova lista de leitura em alguma parte. Ficarei feliz em
fazer uma cópia. ―
― Genial, ― mentiu Penn, dando a Luce um pequeno empurrão
até as estantes. ―
Nós a faremos saber se precisarmos. ―
Do outro lado da mesa da Miss Sophia, a biblioteca estava
em silêncio. Luce e Penn
seguiam olhando os números de identificação enquanto passavam
de estante em
estante até os livros de religião. As lâmpadas de poupança
de energia detectavam o
movimento e se supunha que faziam cada vez que cruzavam um
corredor, mas só a
metade delas funcionavam. Luce percebeu que Penn ainda segurava
seu braço, e
então percebeu que não queria que ela soltasse.
|
As garotas chegaram
a sessão de estudos que em geral estava lotada, onde só
tinha uma lâmpada de mesa queimada. Todo mundo devia estar
na festa de Gabbe.
Todo mundo exceto Todd. Ele tinha os pés levantados na cadeira
em frente a ele e
parecia estar lendo um atlas mundial do tamanho de uma mesa
de café. Quando as
garotas caminhavam até ele, ele as olhou com uma expressão
que queria dizer que
ou estava muito bem sozinho ou ligeiramente irritado por ter
sido perturbado.
― Vocês garotas estão
atrasadas. ― Disse categoricamente.
― Assim como você,
― replicou Penn, mostrando a lingua dramaticamente.
Quando tinham posto algumas estantes entre elas e Todd, Luce
arqueou uma
sobrancelha a Penn. ― O que foi isso? ―
― O quê? ― Disse Penn.
― Ele flirta comigo. ― Ela cruzou os braços sobre peito e
soprou um cacho de seu cabelo marrom dos olhos. ― Como assim.
―
― Você está na quarta
série? ― Luce brincou.
Penn levantou o dedo indicador para Luce com uma intensidade
que teria feito
Luce saltar se ela não estivesse rindo muito. ― Você conhece
mais alguém que quer
mergulhar na história da família de Daniel Grigori com você?
Acho que não. Deixe-
me em paz. ―
Até então, tinham chegado ao canto traseiro da biblioteca,
onde todos os 999 livros
se organizavam ao longo de uma única estante de cor metal.
Penn se agachou e
traçou a lombada dos livros com seus dedos, Luce sentiu um
tremor, como se
alguém percorresse um dedo pelo seu pescoço. Ela esticou a
cabeça ao redor e viu
uma nuvem de fumaça cinza. Não negra, como eram as sombras
em geral, senão
mais leve, mas fina. Mas igualmente indesejada.
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Ela observou com
os olhos arregalados, com a sombra estendida em um longo
traço diretamente sobre a cabeça de Penn. Desceu lentamente,
como uma agulha
enfiada e Luce não queria pensar no que poderia acontecer
se tocasse em sua
amiga. No outro dia no ginásio tinha sido a primeira vez que
a sombra a tinha
tocado ― e ela ainda se sentia violada, quase suja. Ela não
sabia que outra coisa elas
podiam fazer.
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Nervosa, insegura, Luce esticou o braço como se fosse um bastão
de baseball. Deu
uma respiração profunda e lançou para frente. Arrepiou-se
ao contato frio
enquanto afastava a sombra ― e golpeou o topo da cabeça de
Penn.
Penn pressionou suas mãos contra seu crânio e olhou Luce em
choque. ― Qual é o
seu problema? ―
Luce se sentou junto a ela e tocou a parte de cima do cabelo
de Penn, ― Desculpe.
Havia... pensei que vi uma abelha... pousar em sua cabeça.
Me assustei. Não queria
que te picasse. ―
Ela podia sentir quão absurdamente, totalmente pobre essa
desculpa era e esperou
que sua amiga lhe dissesse que ela estava louca ― por que
uma abelha estaria em
uma biblioteca? Ela esperou que Penn ficasse furiosa.
Mas o rosto redondo de Penn se suavizou. Ela pegou a mão de
Luce entre a sua e as
agitou. ― As abelhas me aterrorizam também. ― Ela disse. ―
Sou mortalmente
alérgica. Basicamente você salvou a minha vida. ―
Foi como se tivessemos um grande momento de conexão ― só que
não era, porque
Luce estava completamente consumida pelas sombras. Se tão-somente
pudesse
afastá-las de sua mente, afastar as coisas das sombras, sem
assustar Penn. Luce
tinha um forte e inquieto presentimento sobre esta sombra
cinza-clara. A
uniformidade das sombras nunca tinham sido reconfortantes,
mas estas últimas
variações eram novas em um nível desconcertante.
|
Significava que
mais tipos de sombras estavam encontrando uma maneira de
chegar à ela? Ou só era ela que estava ficando melhor em distingui-las?
E o que era
este estranho momento durante a leitura da Miss Sophia, quando
ela,
praticamente, comprimiu uma sombra antes que pudesse entrar
em seu bolso? Ela
tinha feito isso sem pensar, e não tinha razão para esperar
que seus dois dedos
pudessem fazer algo à sombra, mas eles tinham feito ― ela
deu uma olhada ao
redor das estantes ― pelo menos temporariamente.
Ela se perguntava se ela tinha arrumado algum tipo de precedente
para interagir
com as sombras. Exceto que para chamar o que ela tinha feito
com a sombra
pairando sobre a cabeça de Penn de ― interagir ― – inclusive
Luce sabia que era um
eufemismo. Um frio e doentio sentimento cresceu em seu interior
quando percebeu
que o que ela tinha começado a fazer com as sombras era mais
como... lutar com
elas.
― Essa é a coisa mais
estranha. ― Penn falou do chão. ― Deveria ser exatamente
aqui entre O
Dicionário dos Anjos e esta coisa horrível de Billy Graham
fogo-e-
enxofre ― . Ela levantou a vista para Luce. ― Mas sumiu. ―
― Pensei que você tivesse
dito... ―
― Eu disse. O computador
tinha listado as estantes quando procurei esta tarde,
mas não podemos conectar a está hora para checar de novo.
―
― Pode perguntar à
Todd, ― Luce sugeriu. ― Talvez ele esteja usando como capa
|
para suas Playboys. ―
― Que
nojento. ― Penn bateu em sua coxa.
Luce saiba que só tinha feito essa brincadeira para baixar
um pouco sua decepção.
Isso era tão frustrante. Ela não podia encontrar nada sobre
Daniel sem correr contra
uma parede. Ela não sabia o que poderia encontrar nessas páginas
do livro de sua
tatará-tatará- o que seja do livro, mas pelo menos lhe diria
algo mais sobre Daniel.
No qual era melhor que nada.
― Fique aqui, ― disse
Penn, levantando-se. ― Vou perguntar para a Miss Sophia se
alguém o tirou hoje. ―
|
Luce a observou
ir sobre o longo corredor até a mesa da frente. Ela riu quando
Penn apertou o passo quando passou pela área onde Todd estava
sentado.
Sozinha no canto de trás, Luce roçou alguns dos outros livros
na estante. Ela fez
uma rápida e mental revisão de todos os estudantes em Sword
& Cross, mas não
podia pensar em nenhum candidato para tirar um velho livro
de religião. Talvez a
Miss Sophia tinha usado como referência para sua sessão de
revisão mais cedo.
Luce se perguntou o que deve ter sido para Daniel ficar sentado
lá, escutando a
bibliotecária falar sobre coisas que tinham sido provavelmente
temas da mesa de
jantar em sua casa quando ele estava crescendo. Luce queria
saber como tinha sido
a infância dele. O que tinha acontecido a sua familia? Teve
sua educação em um
orfanato religioso? Ou tinha sido sua infância como a dela,
onde as únicas coisas
perseguidas religiosamente eram boas notas e honras acadêmicas?
Ela queria saber
se Daniel tinha lido este livro escrito por seu ancestral
e o que ele tinha pensado
sobre isso, e se ele gostava de escrever.
Ela queria saber o que ele estava fazendo exatamente agora
na festa de Gabbe e
quando era seu aniversário e qual o tamanho do sapato que
usava e se ele alguma
vez desperdiçou um segundo de seu tempo pensando nela.
Luce sacudiu sua cabeça. Este tipo de pensamento estava dirigindo-se
diretamente
a Cidade da Piedade, e ela queria sair. Tirou o primeiro livro
da estante ― a tão
desinteressante surrada capa do Dicionário dos Anjos ― e decidiu
se distrair lendo
até que Penn voltasse.
Ela tinha ido até o ponto quando o anjo caido Abbadon, que
se arrependeu de estar
do lado de Satanás e constantemente lamentava sua má decisão
― bocejo ―
quando um som forte soou sobre sua cabeça. Luce olhou para
cima para ver a luz
vermelha do alarme de incêndio.
|
― Alerta. Alerta,
― uma monotona voz robótica anunciava em voz alta. ― O
alarme de incêndio foi ativado. Evacuem o prédio. ―
Luce deslizou o livro de volta para a estante e começou a
correr. Eles tinham feito
este tipo de coisa em Dover o tempo todo. Depois de um tempo,
tinha chegado ao
ponto onde nem mesmo os professores ouviam as simulações de
incêndios
|
mensalmente, então o Departamento de Bombeiros tinha realmente
começado a
configurar o alarme só para as pessoas responderem. Luce podia
ver claramente os
administradores em Sword & Cross fazendo a mesma coisa.
Mas quando ela começou a caminhar até a saida, foi surpreendida
ao encontrar-se
tossindo. Tinha fogo de verdade na biblioteca.
― Penn? ― Ela gritou,
escutando o eco de sua voz em seus ouvidos. Ela sabia que
seria abafada pelo ruido do alarme. O odor da fumaça fez ela
instataneamente
voltar às chamas na noite com Trevor. Imagens e sons flutuavam
em sua cabeça,
coisas que ela tinha abafado tão profundamente de sua memória
que poderiam
muito bem ter sido apagadas. Até agora.
Os surpreendentes olhos brancos de Trevor contra a luz alaranjada.
As individuais
chamas enquanto o fogo se dispersava entre cada um de seus
dedos. O agudo e
interminavel grito que ressoava em sua cabeça como uma sirene
muito depois que
Trevor tivesse dado por vencido. E todo o tempo, ela tinha
estado ali parada,
observando, ela não podia deixar de ver, congelada neste banho
de calor. Ela não
tinha sido capaz de mover-se. Ela não tinha sido capaz de
fazer algo para ajudá-lo.
Então ele morreu.
Sentiu um agarre de uma mão em seu pulso esquerdo e se virou,
esperando ver
Penn. Era Todd. O branco de seus olhos eram enormes, e ele
estava tossindo
também. ― Temos que sair daqui, ― ele disse, respirando rápido.
― Acho que a
saída está na parte de trás. ―
|
― E Penn e a Miss
Sophia? ― Luce perguntou. Ela estava se sentindo fraca e
enjoada. Esfregou os olhos. ― Elas estavam alí. ― Quando ela
apontou para o
corredor até a entrada, ela podia ver o quanto a fumaça tinha
se tornado mais
grossa nesta direção.
Todd olhou receoso por um segundo, mas depois assentiu, ―
Ok, ― ele disse,
mantendo-se agarrado ao pulso dela enquanto se agachavam e
corriam até as
portas principais da biblioteca. Foram para a direita quando
um corredor parecia
particulamente estar cheio de fumaça, encontraram-se em uma
parede de livros
sem nenhuma pista de até onde correr. Os dois pararam para
respirar.
A fumaça que só a alguns momentos estava sobre suas cabeças,
agora pressionava
abaixo de seus ombros. Ainda agachados nela, eles estavam
se asfixiando. E não
podia ver nada mais que alguns metros à frente deles. Certificando-se
de se manter
agarrada a Todd, Luce deu uma volta em círculo, repentinamente
insegura de qual
direção eles tinham vindo. Ela estendeu a mão e sentiu um
metal quente de uma
estante. Ela nem sequer podia ver os títulos nos livros. Estavam
na sessão de D ou
O?
Não tinham pista que guiasse até Penn e a Miss Sophia, e nenhuma
pista que os
guiassem para a saída tampouco. Luce sentiu uma onda de pânico
passar por ela,
fazendo mais difícil respirar, ― Elas já devem ter saído pelas
portas da frente! ―
|
Todd gritou, parecendo meio convencido. ― Temos que voltar!
―
Luce mordeu seu lábio. E se alguma coisa conteceu com Penn.
Ela mal podia ver
Todd, que estava parado exatamente em frente a ela. Ele tinha
razão, mas qual era
o caminho de volta? Luce assentiu silenciosamente, e sentiu
a mão dele tomando a
dela.
|
Por um longo tempo,
ela se moveu sem saber onde estavam indo, mas
enquanto eles seguiam, a fumaça se desvanecia, pouco a pouco,
até que,
eventualmente, ela viu o brilho vermelho da saída de emergência.
Luce deu um
suspiro de alívio enquanto Todd procurava pela maçaneta da
porta e finalmente a
abriu.
Eles estavam em um corredor que Luce jamais tinha visto. Todd
fechou a porta
atrás deles. Eles ofegaram e encheram seus pulmões com ar
limpo. Tinha um gosto
tão bom, Luce queria queria afundar seus dentes nisso, beber
um galão disso,
banhar-se nisso.
Ela e Todd tossiram a fumaça para fora de seus pulmões até
que começaram a rir,
uma inquieta, quase aliviada risada. Eles riram até que ela
estava chorando. Mas
mesmo quando Luce terminou de chorar e tossir, seus olhos
continuavam
lacrimejando. Como podia respirar neste ar quando ela nem
sequer sabia o que
tinha acontecido a Penn? E se Penn não tinha conseguido sair
― se estava presa em
algum lugar lá dentro ― então Luce tinha falhado com alguém
a quem lhe
importava novamente. Só que desta vez seria muito pior.
Ela limpou os olhos e viu uma nuvem de fumaça passando por
baixo da rachadura
da base da porta. Ainda não estavam a salvo. Tinha outra porta
no final do corredor.
Através do painel de cristal da porta, Luce podia ver a forma
de um ramo de uma
árvore na noite. Exalou. Em pouco tempo, estariam do lado
de fora, longe dessa
fumaça intoxicante.
Se fossem o suficiente rápido, podiam ir para a entrada principal
e assegurar-se de
que Penn e a Miss Sophia tinham saído.
― Vamos, ― Luce disse
a Todd, que estava curvado, respirando com dificuldade. ―
Temos que continuar. ―
Ele se endireitou, mas Luce podia ver que estava realmente
mal. Seu rosto estava
vermelho, seus olhos eram selvagens e molhados. Ela praticamente
teve que
arrastá-lo até a porta. Ela estava tão concentrada em sair
dalí que levou um tempo
para processar o pesado ruído que tinha caido sobre eles,
silenciando o alarme.
|
Ela olhou para
o redemoinho de sombras. Um espectro de sombras de tons
cinzas e o mais profundo negro. Ela só devia ser capaz de
ver um pouco mais sobre
o teto, mas as sombras pareciam de alguma maneira extender-se
sobre os limites.
Em um estranho e escondido céu. Todas estavam amontoadas umas
sobre as
outras, mas ainda assim, de alguma maneira eram distintas.
|
No meio delas estava a sombra mais clara e cinza que ela tinha
visto anteriormente.
Não era mais da forma alongada de uma agulha, mas agora parecia
quase como a
chama de um fósforo. Se balançou até eles no corredor. Ela
realmente tinha
apartado essa forma obscura quando tinha ameaçado esfolar
a cabeça de Penn? A
recordação fez com que suas palmas lhe coçassem e seus dedos
se enrolarem.
Todd começou a bater-se contra as paredes, como se o corredor
estivesse
aproximando-se dele. Luce sabia que eles estavam em nenhum
lugar próximos da
porta. Ela pegou sua mão, mas suas maõs suadas se deslizaram
uma e outra vez.
Ela enrolou seus dedos fortemente ao redor do pulso dele.
Ele estava tão pálido
como um fantasma, agachou-se do chão, quase encolhido. um
gemido de pavor
escapou de seus lábios.
Era porque a fumaça agora estava chegando no corredor?
Ou era porque ele também podia ver as sombras?
Impossível.
Mas ainda assim, seu rosto estava comprimido e horrorizado.
Muito mais agora que
as sombras estavam aproximando-se.
― Luce? ― Sua voz tremeu.
Outra onda de sombras se levantou diretamente em seu caminho.
Uma manta de
negro intenso se estendeu sobre as paredes e fez impossível
para Luce ver o chão.
Ela viu Todd ― ele podia ver isso?
― Corre! ― Ela gritou.
Ele ainda podia correr? Seu rosto estava cinzendo e suas palpébras
fechadas. Ele
estava a ponto de desmaiar. Mas então, repentinamente parecia
como se ele
estivesse carregando-a.
Ou algo estava carregando os dois.
― Que demônios? ― Todd
gritou.
|
Seus pés se levantaram
do chão só por um momento. Sentiu como se estivesse
em uma onda no oceano, um cume leve que a levantava mais alto,
levando seu
corpo ao ar. Luce não sabia até onde iria ― ela nem sequer
podia ver a porta, só um
monte de sombras ao redor. Próximo dela, mas não a tocaram.
Ela deveria ter
estado horrorizada, mas não estava. De alguma maneira se sentia
protegida das
sombras, como se algo a estivesse protegendo ― algo flexível
mas impenetrável.
Algo estranhamente familiar.
Algo forte, mas gentil. Algo ― quase muito rápido, ela e Todd
estavam na porta.
Seus pés tocaram o chão de novo, e ela se lançou contra porta
de emergencia.
Então ela soltou. Sufocada. Ofegante. Com ansia de vômito.
Outro alarme estava soando. Mas estava soando muito longe.
O vento roçou seu pescoço. Eles estavam do lado de fora! Parados
em um pequeno
peitoral, Um lance de escadas chegavam até a áreal principal,
e inclusive quando
tudo em sua cabeça se sentia nublado e cheio de fumaça, Luce
pensou que podia
|
escutar vozes em algum lugar próximo. Ela virou para tentar
saber o que tinha
acontecido. Como ela e Todd tinham saído através dessa grossa,
negra e
impenetrável sombra? E o que era essa coisa que os tinha salvado?
Luce sentiu sua
ausência.
Ela quase queria voltar para procurá-la.
Mas o corredor estava escuro, e seus olhos ainda estavam cheios
de lágrimas, e ela
já não podia distinguir as retorcidas formas das sombras.
Talvez tivessem ido.
|
Depois houve uma
irregular pincelada de luz, algo que parecia com o tronco de
árvore com ramos ― não, como um torço amplos, longos membros.
Uma pulsante,
quase violeta coluna de luz movendo-se pra cima deles. Isso
fez com que Luce
pensasse, absurdamente, em Daniel. Ela estava vendo coisas.
Ela respirou fundo e
tentou piscar as lágrimas de fumaça de seus olhos. Mas a luz
ainda estava ali. Ela
sentia mais que ouvi-la chamar, acalmando-a, uma canção de
ninar em meio a uma
zona de guerra.
Então ela não viu chegar a sombra.
Bateu no corpo dela e de Todd, rompendo seu agarre um do outro,
e lançando Luce
no ar.
Ela aterrizou ao pé das escadas. Um grunido agonizante escapou
de seus lábios.
Por um longo momento sua cabeça latejava. ela nunca tinha
conhecido uma dor tão
profunda e abrasadora como eMiss ela chorou durante a noite,
no conflito de luz e
sombra sobre sua cabeça.
mas então tudo se tornou muito e Luce se entregou, fechando
os olhos.
|
― Está com medo?
― Daniel perguntou. Sua cabeça estava inclinada para o
lado, seu cabelo loiro desgrenhado por uma brisa suave. Ele
estava segurando-a, e
enquanto seu aperto estava firme em torno de sua cintura,
era tão suave e leve
como um lenço de seda. Seus próprios dedos estavam entrelaçados
atrás do
pescoço sem camisa dele.
Ela estava com medo? Claro que não. Ela estava com Daniel.
Finalmente. Em seus
braços. A verdadeira questão incomodando nos fundos de sua
mente era: Ela
deveria ficar com medo? Ela não podia ter certeza. Ela nem
mesmo sabia onde
estava.
Ela conseguia sentir o cheiro de chuva no ar, próxima. Mas
tanto ela quanto Daniel
estavam secos. Ela conseguia sentir um longo vestido branco
fluindo até seus
tornozelos. Havia só um pouco de luz do dia restante. Luce
sentiu um
arrependimento penetrante ao desperdiçar o pôr-do-sol, como
se houvesse algo
que ela pudesse fazer para detê-lo. De alguma forma ela sabia
que esses raios de luz
finais eram tão preciosas quanto as últimas gotas de mel em
um jarro.
― Você fica comigo?
― ela perguntou. Sua voz era o mais fino sussurro, quase
|
deles, soprando o cabelo de Luce em seus olhos. Daniel cruzou
seus braços com
mais força ao redor dela, até que ela conseguisse respirar
a respiração dele, pudesse
sentir o cheiro da pele dele na dela.
― Para sempre, ― ele
sussurrou de volta. O som doce de sua voz a completou.
Havia um pequeno arranhão do lado esquerdo da testa dele,
mas ela esqueceu dele
enquanto Daniel pegou suas bochechas entre as mãos e trouxe
seu rosto mais para
perto. Ela inclinou sua cabeça para trás e sentiu todo o seu
corpo ficar frouxo de
expectativa.
Finalmente, finalmente, os lábios dele desceram nos dela com
uma urgência que
tirou seu fôlego. Ele beijou ela como se ela pertencesse a
ele, tão naturalmente
como se ela fosse alguma parte dele há muito tempo perdida
que ele pudesse enfiar
recuperar.
|
Então a chuva começou
a cair. Ensopou seus cabelos, correu pelos seus rostos
e em suas bocas. A chuva estava quente e inebriante, como
os próprios beijos.
Luce esticou sua mão ao redor das costas dele para puxa-lo
mais para perto, e suas
mãos deslizavam em algo aveludado. Ela correu uma mão sobre
isso, depois outra,
buscando seus limites, e então olhou para além do rosto brilhante
de Daniel.
Algo estava se desenrolando atrás dele.
Asas. Lustrosas e iridescentes, batendo devagar, sem esforço,
brilhando na chuva.
Ela as tinha visto antes, talvez, ou algo parecido com elas,
em algum lugar. ―
Daniel, ― ela disse, arfando. As asas consumiram sua visão
e sua mente. Elas
pareciam girar em um milhão de cores, fazendo sua cabeça doer.
Ela tentou olhar
para outro lugar, para qualquer outro lugar, mas de todos
os lados, tudo que ela
podia ver além de Daniel eram os rosas e azuis infinitos do
céu se pondo. Até que
ela olhou para baixo e observou uma última coisa.
O chão.
Milhares de metros abaixo deles.
Quando ela abriu seus olhos, estava muito claro, sua pele
muito seca, e havia uma
dor imobilizante na parte de trás de sua cabeça. O céu tinha
ido embora, assim
como Daniel.
Outro sonho.
Só que esse a deixou se sentindo quase doente de desejo.
Ela estava em um quarto de paredes brancas. Deitada em uma
cama de hospital. À
sua esquerda, uma cortina fina como papel tinha sido arrastada
pela metade do
quarto, separando-a de algo se movimentando no outro lado.
Luce delicadamente tocou o ponto tenro na base do seu pescoço
e choramingou.
|
Ela tentou se orientar.
Ela não sabia onde estava, mas tinha uma nítida
sensação de que não estava mais na Sword & Cross. Seu
vestido branco ondeado
era ― ela deu um tapinha nas laterais ― uma folgada camisola
de hospital. Ela
|
conseguia sentir cada parte do sonho escapulindo ― tudo exceto
aquelas asas. Elas
tinham sido tão reais. O toque delas tão aveludado e fluído.
Seu estômago agitou-
se. Ela fechou e abriu seus punhos, hiper-consciente de seu
vazio.
Alguém agarrou e apertou sua mão direita. Luce virou sua cabeça
rapidamente e
recuou. Ela tinha assumido que estava sozinha. Gabbe estava
empoleirada na beira
de uma cadeira giratória azul desbotada que parecia, irritantemente,
realçar a cor
dos olhos.
Luce queria se desvencilhar ― ou pelo menos, ela esperou querer
se desvencilhar ―
mas então Gabbe lançou-lhe o sorriso mais quente, um que fez
Luce se sentir, de
alguma forma, segura, e ela percebeu que estava feliz por
não estar sozinha.
― Quanto disso foi
um sonho? ― ela murmurou.
Gabbe riu. Ela tinha um pote de creme para cutículas na mesa
ao lado dela, e
começou a esfregar o negócio branco com aroma de limão nas
unhas de Luce. ―
Isso tudo depende, ― ela disse, massageando os dedos de Luce.
― Mas não se
importe com sonhos. Eu sei que sempre quando sinto o meu mundo
virando de
cabeça para baixo, nada me acalma como uma manicure. ―
Luce olhou para baixo. Ela nunca fora muito de esmalte, mas
as palavras de Gabbe
a lembraram de sua mãe, que sempre sugeria que elas fossem
à manicure quando
Luce tinha um dia ruim. Enquanto as mãos lentas de Gabbe trabalhavam
em seus
dedos, Luce se perguntava se todos esses anos ela estivera
perdendo isso.
― Onde nós estamos?
― ela perguntou.
― Hospital Lullwater.
―
Sua primeira viagem para fora do campus e ela acabara em um
hospital há cinco
minutos da casa dos seus pais. Na última vez em que ela estivera
aqui fora para tirar
três pontos de seu cotovelo quando ela caíra da sua bicicleta.
Seu pai não havia
deixado o seu lado. Agora ele não estava em lugar algum.
|
― Há quanto tempo
estou aqui? ― ela perguntou.
Gabbe olhou para o relógio branco na parede e disse, ― Eles
te acharam desmaiada
devido a inalação de fumaça na noite passada por volta das
onze. É procedimento
operacional padrão chamar o Técnico de Emergência Médica quando
encontram
alguém do reformatório inconsciente, mas não se preocupe,
Randy disse que vão te
deixar sair daqui logo logo. Assim que seus pais assentirem–
―
― Meus pais estão aqui? ―
― E cheios de preocupação com a filha deles, até as pontas
do cabelo com
permanente da sua mamãe. Eles estão no corredor, se afogando
em papelada. Eu
disse a eles que ficaria de olho em você. ―
Luce resmungou e apertou seu rosto no travesseiro, convocando
a profunda dor na
parte de trás de sua cabeça novamente.
― Se você não quiser vê-los... ―
|
de ver seus pais. Ela estava se lembrando da biblioteca, do
fogo, e da nova geração
de sombras que ficava mais assustadora cada vez que a encontravam.
Elas sempre
foram escuras e feias, elas sempre a fizeram se sentir nervosa,
mas ontem à noite,
tinha quase parecido como se as sombras quisessem algo dela.
E então houve
aquela outra coisa, a força levitante que a libertou.
― Que cara é essa?
― Gabbe perguntou, inclinando sua cabeça e acenando sua
mão no ar na frente do rosto de Luce. ― No que está pensando?
―
Luce não sabia como assimilar a bondade repentina de Gabbe
com ela. Assistente
de enfermeira não parecia exatamente o tipo de emprego em
que Gabbe seria
voluntária, e não era como se houvesse algum cara por aqui
cuja atenção ela
pudesse monopolizar.
Gabbe nem mesmo parecia gostar de Luce. Ela não apareceria
aqui por vontade
própria, apareceria?
Mas mesmo tão bondosa quanto Gabbe estava sendo, não havia
jeito de explicar o
que tinha acontecido na noite passada. A reunião pavorosa
e inexprimível no
corredor. A sensação surreal de ser impulsionada para frente
por aquela escuridão.
A figura estranha e atraente da luz.
|
― Onde o Todd está?
― Luce perguntou, lembrando-se dos olhos
amedrontados do rapaz. Ela perdera seu aperto sobre ele, saiu
voando, e então...
A cortina de papel foi repentinamente atirada para trás, e
ali estava Arriane, usando
patins em linha e um uniforme vermelho-e-branco cor de doce
listrado. Seu curto
cabelo preto estava retorcido em uma série de nós no alto
da sua cabeça. Ela rolou,
carregando uma bandeja na qual estavam três cascas de côco
cobertas com
canudos de festa em formato de guarda-chuva de cor neon.
― Agora me deixa entender,
― ela disse numa voz rouca, nasal. ― Ponha a lima no
côco e beba ambos ― opa, caras azedas. O que estou interrompendo?
―
Arriane parou as rodas no pé da cama de Luce. Ela estendeu
um coco com um
guarda-chuva rosa balançando.
Gabbe pulou e agarrou o coco primeiro, dando uma cheirada
em seu conteúdo. ―
Arriane, ela acabou de passar por um trauma, ― ela repreendeu.
― E para sua
informação, o que você interrompeu foi o assunto Todd. ―
Arriane jogou seus ombros para trás. ― Justamente o por que
dela precisar de algo
potente, ― ela debateu, segurando a bandeja possessivamente
enquanto ela e
Gabbe envolviam-se em um concurso de encarar.
― Ótimo, ― Arriane
disse, olhando para longe de Gabbe. ― Darei a ela sua velha
bebida chata. ― Ela deu a Luce o coco com o canudo azul.
Luce devia estar em algum tipo de atordoamento pós-traumático.
Onde é que elas
poderiam ter conseguido esse negócio? Cascas de coco? Bebidas
com guarda-
|
chuvas? Era como se ela tivesse adormecido no reformatório
e acordado no Club
Med18.
― Onde vocês conseguiram todas essas coisas? ― ela perguntou.
― Quero dizer,
obrigada, mas– ―
― Nós unimos nossos recursos quando precisamos, ― Arriane
disse, ― Roland
ajudou. ―
As três se sentaram bebendo de forma barulhenta as bebidas
geladas e doces por
um momento, até que Luce não conseguisse aguentar mais. ―
Então, voltando
para o Todd ...? ―
|
― Todd, ― Gabbe
disse, limpando sua garganta. ― O negócio é que... ele
simplesmente inalou muito mais fumaça do que você, doçura–
―
― Ele não inalou, ―
Arriane cuspiu. ― Ele quebrou o pescoço. ―
Luce arfou, e Gabbe bateu em Arriane com sua bebida de guarda-chuva.
― O quê? ― Arriane
disse. ― Luce pode aguentar isso. Se ela vai descobrir
eventualmente, por que adoçar a verdade? ―
― A evidência ainda
é inconclusiva, ― Gabbe disse, sublinhando as palavras.
Arriane deu de ombros. ― Luce estava lá, ela deve ter visto–
―
― Eu não vi o que aconteceu
com ele, ― Luce disse. ― Nós estávamos juntos e
então, de alguma forma, fomos separados. Eu tive um mau pressentimento,
mas eu
não sabia, ― ela sussurrou. ― Então ele... ―
― Se foi desse mundo,
― Gabbe disse suavemente.
Luce fechou seus olhos. Um frio, que não tinha nada a ver
com a bebida, se
espalhou por ela. Ela se lembrou do Todd batendo freneticamente
nas paredes, sua
mão suada apertando a dela quando as sombras rugiram sobre
eles, o momento
terrível quando os dois foram separados e ela ficara muito
chocada para ir até ele.
Ele tinha visto as sombras. Luce estava certa disso agora.
E ele morrera.
Depois de Trevor ter morrido, nenhuma semana se passou sem
uma carta de ódio
encontrando seu caminho até Luce. Seus pais começaram a tentar
vetar o correio
antes que ela pudesse ler as coisas venenosas, mas muito ainda
chegava a ela.
Algumas cartas eram escritas à mão, alguns eram digitadas,
uma tinha até sido
cortada de letras de revistas, estilo bilhete de resgate.
Assassina, Bruxa. Eles a
tinham chamado de nomes cruéis o bastante para encher uma
página de recados,
causado agonia o bastante para mantê-la trancada dentro de
casa durante todo o
verão.
Ela pensara que tinha feito tanto para se afastar daquele
pesadelo: deixando seu
passado para trás quando ela foi para a Sword & Cross,
concentrando-se em suas
|
aulas, fazendo amigos... ah Deus. Ela inspirou uma respiração.
― E quanto a Penn?
― ela perguntou, mordendo seu lábio.
|
― Penn está ótima,
― Arriane disse. ― Ela é totalmente matéria de primeira
página, testemunha do incêndio. Tanto ela quanto a Miss Sophia
saíram, cheirando
como um poço de fumaça do leste da Geórgia, mas ainda assim
bem. ―
Luce soltou sua respiração. Pelo menos havia uma boa notícia.
Mas sob os lençóis
finos como papel fino da enfermaria, ela estava tremendo.
Logo, certamente os
mesmos tipos de pessoas que foram atrás dela após a morte
de Trevor iriam atrás
dela novamente. Não apenas os que escreveram as cartas zangadas.
Dr. Sanford.
Seu agente da condicional. A polícia.
Bem como antes, seria esperado que ela tivesse a história
toda reunida. Que
lembrasse de cada detalhe mínimo. Mas é claro que, exatamente
como antes, ela
não seria capaz. Numa hora, ele estivera ao seu lado, apenas
os dois. Na seguinte–
― Luce! ― Penn irrompeu
pela sala, segurando um grande balão de hélio marrom.
Tinha a forma de um band-aid e dizia Arranca em letras cursivas
azuis. ― O que é
isso? ― ela perguntou, olhando para as outras três garotas
criticamente. ― Algum
tipo de festa do pijama? ―
Arriane tinha desamarrado seus patins e subido na minúscula
cama ao lado de Luce.
Ela estava segurando as duas bebidas de cocos e deitando sua
cabeça no ombro de
Luce.
Gabbe estava pintando esmalte transparente na mão livre de
coco de Luce.
― É, ― Arriane gargalhou.
― Junte-se a nós, Pennyloafer19. Estávamos prestes a
jogar Verdade ou Desafio. Deixaremos você ir primeiro. ―
Gabbe tentou encobrir sua risada com um delicado espirro falso.
Penn colocou suas mãos nos quadris. Luce se sentiu mal por
ela, e também um
pouco assustada.
Penn pareceu bastante feroz.
― Um dos nossos colegas
morreu na noite passada, ― Penn enunciou
cuidadosamente. ― E Luce poderia ter se machucado muito. ―
Ela balançou sua
cabeça. ― Como vocês podem brincar numa hora como essa? ―
ela fungou. ― Isso
é álcool? ―
|
― Ohhh, ― Arriane
disse, olhando para Penn, seu rosto sério. ― Você gostava
dele, não gostava? ―
Penn pegou um travesseiro da cadeira atrás dela e jogou-o
em Arriane. O negócio
era que Penn estava certa. Era estranho que Arriane e Gabbe
estivessem tomando a
|
morte de Todd como algo quase leve. Como se elas vissem esse
tipo de coisa
acontecer o tempo todo.
Como se isso não as afetasse da forma como isso afetava Luce.
Mas elas não
podiam saber o que Luce sabia sobre os últimos momentos de
Todd. Elas não
poderiam saber por que ela se sentia tão enojada agora. Ela
de um tapinha no pé da
cama para Penn e entregou-lhe o que restava de seu coco gelado.
― Nós saímos pela saída
traseira, e então– ― Luce não conseguia nem mesmo
dizer as palavras. ― O que aconteceu com você e a Miss Sophia?
―
Penn olhou desconfiadamente para Arriane e Gabbe, mas nenhuma
se movimentou
para ser insolente. Penn desistiu e se sentou na beirada da
cama.
― Eu simplesmente fui
lá perguntar a ela sobre– ― Ela olhou para as outras duas
garotas novamente, então lançou a Luce um olhar astucioso.
― A pergunta que eu
tinha. Ela não sabia a resposta, mas ela queria me mostrar
outro livro. ―
Luce tinha esquecido tudo sobre a busca dela e de Penn na
noite passada. Isso
parecia tão distante e tão irrelevante depois do que havia
acontecido.
― Nós nos afastamos
dois passos da mesa da Miss Sophia, ― Penn continuou, ― e
houve essa explosão maciça de luz de canto de olho. Quero
dizer, li sobre
combustão espontânea, mas isso foi... ―
Todas as três outras garotas estavam se inclinando para a
frente nesse momento. A
história de Penn era notícia de primeira página.
― Algo deve ter começado
isso, ― Luce disse, tentando imaginar a mesa da Miss
Sophia em sua mente. ― Mas eu não acho que havia mais alguém
na biblioteca. ―
|
Penn sacudiu a
cabeça. ― Não havia. A Miss Sophia disse que um fio deve ter
dado curto-circuito em uma lâmpada. O que quer que tenha acontecido,
que o fogo
tinha bastante combustível. Todos os documentos dela se foram
rapidamente. ―
Ela estalou os dedos.
― Mas ela está bem?
― Luce perguntou, dedilhando a bainha parecida com papel
de sua camisola de hospital.
― Perturbada, mas bem,
― disse Penn. ― Os extintores de incêndio foram ligados
eventualmente, mas eu acho que ela perdeu um bando das coisas
dela. Quando lhe
contaram o que aconteceu com o Todd, foi quase como se ela
estivesse dormente
demais até mesmo para entender. ―
― Talvez estejamos
todos dormentes demais para entender, ― Luce disse. Dessa
vez Gabbe e Arriane assentiram de cada lado dela. ― Os ― os
pais do Todd sabem?
― ela perguntou, querendo saber como diabos ela explicaria
para seus próprios pais
o que tinha acontecido.
Ela os imaginou preenchendo papelada no salão. Será que eles
iriam querer vê-la?
Será que eles conectariam a morte do Todd com a de Trevor...
e traçariam ambas as
histórias terríveis até ela?
― Eu ouvi Randy no
telefone com os pais de Todd, ― Penn disse. ― Eu acho que
|
eles vão processar. O corpo dele está sendo mandado de volta
para a Flórida mais
tarde hoje. ―
Só isso? Luce engoliu em seco.
― A Sword & Cross
vai fazer um serviço memorial para ele na quinta, ― Gabbe
disse silenciosamente. ― Daniel e eu vamos ajudar a organizar.
―
― Daniel? ― Luce repetiu
antes que pudesse se controlar. Ela olhou para Gabbe, e
mesmo em seu estado abatido pelo luto, ela não conseguiu evitar
reverter à sua
imagem inicial da garota: uma sedutora loira de lábios rosa.
― Foi ele quem achou
vocês dois na noite passada, ― Gabbe disse. ― Ele carregou
você da biblioteca até o escritório da Randy. ―
|
Daniel tinha carregado
ela? Tipo... seus braços em volta do corpo dela? O
sonho voltou correndo e a sensação de voar ― não, de flutuar
― a inundou. Ela se
sentiu amarrada demais em sua cama. Ela sentia falta do mesmo
céu, da chuva, da
boca dele, dos dentes dele, da língua dele fundindo com a
dela novamente. Seu
rosto ficou quente, primeiro com desejo, então com a impossibilidade
agonizante
de tudo aquilo acontecer enquanto ela estivesse acordada.
Aquelas asas gloriosas e
cegantes não eram as únicas coisas fantásticas nesse sonho.
O Daniel da vida real
somente a carregaria para a enfermaria. Ele nunca iria querer
ela, nunca a pegaria
em seus braços, não desse jeito.
― Hãn, Luce, você está
bem? ― Penn perguntou. Ela estava abanando as
bochechas coradas de Luce com sua bebida de guarda-chuva.
― Ótima, ― Luce disse.
Era impossível afastar aquelas asas de sua mente. Esquecer
da sensação do rosto dele sobre o dela. ― Ainda estou me recuperando,
suponho.
―
Gabbe deu um tapinha em sua mão. ― Quando ficamos sabendo
sobre o que tinha
acontecido, nós bajulamos a Randy para nos deixar vir visitar,
― ela disse, revirando
seus olhos. ― Não queríamos que você acordasse sozinha. ―
Houve uma batida na porta. Luce esperava ver os rostos ansiosos
de seus pais, mas
ninguém entrou. Gabbe ficou de pé e olhou para Arriane, que
não fez menção
alguma de se levantar.
― Fiquem aqui. Eu lidarei
com isso. ―
Luce ainda estava sobrepujada pelo que tinham lhe contado
sobre Daniel. Mesmo
não fazendo sentido algum, ela queria que fosse ele fora daquela
porta.
― Como ela está? ―
uma voz perguntou em um sussurro. Mas Luce a ouviu. Era
ele. Gabbe murmurou algo de volta.
― Que congregação toda
é essa? ― Randy rosnou do lado de fora da sala. Luce
sabia, com o coração afundado, que isso significava que as
horas de visita tinham
acabado. ― Quem quer que tenha me convencido a deixar vocês,
seus hooligans,
virem junto recebe detenção. E não, Grigori, não aceitarei
flores como suborno.
Todos vocês, entrem na minivan. ―
|
Ouvindo a voz da atendente, Arriane Penn se encolheram, então
correram
para esconder as cascas de coco debaixo da cama. Penn enfiou
os guarda-chuvas da
bebida dentro de seu estojo e Arriane espirrou um forte perfume
almíscar de
baunilha no ar. Ela deu um pedaço de chiclete de hortelã para
Luce.
Penn engasgou numa nuvem flutuante de perfume, então se inclinou
rapidamente
para Luce e sussurrou, ― Assim que estiver boa de nova, acharemos
o livro. Acho
que será bom para nós duas ficarmos ocupadas, tirar nossas
mentes das coisas. ―
Luce apertou a mão de Penn em agradecimento e sorriu para
Arriane, que parecia
ocupada demais amarrando o cadarço de seu patins para ter
ouvido.
Foi então que Randy empurrou com tudo a porta. ― Mais congregação!
― ela
gritou. ― Inacreditável. ―
― Nós estávamos apenas–
― Penn começou a dizer.
― Indo embora, ― Randy
terminou por ela. Ela tinha um buquê de peônias brancas
selvagens em sua mão. Estranho. Elas eram as favoritas de
Luce. E era tão difícil
achá-las florescendo por aqui. Randy abriu um armário debaixo
da pia e fuçou por
um minuto, então puxou um vaso pequeno e empoeirado. Ela o
encheu com a água
turva da torneira, colocou as peônias rudemente dentro, e
as assentou na mesa ao
lado de Luce. ― São dos seus amigos, ― ela disse, ― que irão
todos agora se
despedir. ―
A porta estava largamente aberta, e Luce conseguia ver Daniel
encostado contra a
moldura. Seu queixo estava levantado e seus olhos cinzentos
estavam nublados
com preocupação. Ele encontrou o olhar de Luce e deu-lhe um
pequeno sorriso.
Quando ele tirou seus cabelos de perto de seus olhos, Luce
conseguiu ver um
pequeno corte vermelho escuro em sua teMiss
Randy dirigiu Penn, Arriane e Gabbe porta afora. Mas Luce
não conseguia tirar seus
olhos de Daniel. Ele ergueu uma mão no ar e balbuciou o que
ela achava ser Sinto
muito, logo antes de Randy empurrar-los para fora.
― Espero que eles não
tenham te exaustado, ― Randy disse, espreitando na
entrada com um franzir de testa antipático.
|
― Ah não! ― Luce
sacudiu sua cabeça, percebendo o quanto ela tinha
aprendido a contar com a lealdade de Penn, e a maneira peculiar
de Arriane animar
até mesmo o humor mais sombrio. Gabbe, também, tinha sido
realmente bondosa
com ela. E Daniel, embora ela mal o tenha visto, tinha feito
mais para restaurar sua
paz de espírito do que jamais saberia. Ele tinha vindo para
checar ela. Ele estivera
pensando nela.
― Bom, ― Randy disse. ― Porque o horário da visita ainda não
acabou. ―
Novamente, o coração de Luce acelerou enquanto ela esperava
ver seus pais. Mas
houve apenas um ligeiro ruído no chão de linóleo, e logo Luce
viu a minúscula
moldura da Miss Sophia. Uma pashmina de outono colorida estava
guarnecida
sobre seus ombros magros, e seus lábios estavam pintados de
um vermelho
|
profundo para combinar. Atrás dela andava um homem baixo e
careca de terno, e
dois policiais, um gordinho e um magro, ambos com linhas capilares
retrocedendo e
braços cruzados.
O policial gordinho era mais jovem. Ele sentou-se na cadeira
ao lado de Luce, então
― percebendo que ninguém mais tinha se mexido para sentar
–levantou-se
novamente recruzou os braços.
O careca deu um passo a frente e ofereceu sua mão à Luce.
― Sou o Mr. Schultz,
advogado da Sword & Cross. ― Luce apertou sua mão duramente.
― Esses policiais
simplesmente vão te fazer algumas perguntas. Nada a ser usado
em um tribunal,
apenas um esforço para corroborar os detalhes do acidente–
―
― E eu insisti em estar aqui durante o questionamento, Lucinda,
― a Miss Sophia
acrescentou, indo para a frente para acariciar o cabelo de
Luce. ― Como está,
querida? ― ela sussurrou. ― Em estado amnéstico de choque?
―
― Estou bem– ―
Luce cortou quando avistou mais duas figuras na entrada. Ela
quase caiu em
prantos quando viu a cabeça escura e encaracolada de sua mãe
e os grandes óculos
de couraça de tartaruga de seu pai.
|
― Mãe, ― ela sussurrou,
baixo demais para alguém mais ouvir. ― Pai. ― Eles
se apressaram em direção à cama, jogando seus braços em volta
dela e apertando
suas mãos. Ela queria abraçá-los tanto, mas ela se sentia
fraca demais para fazer
muito mais do que ficar parada e absorver o conforto familiar
do toque deles. Os
olhos deles pareciam tão assustados quanto ela se sentia.
― Doçura, o que aconteceu?
― sua mãe perguntou.
Ela não conseguia dizer uma palavra.
― Eu disse a eles que
você é inocente, ― a Miss Sophia disse, virando-se para
lembrar os policiais.
― Ao diabo com semelhanças
estranhas. ―
Claro que eles tinham o acidente de Trevor registrado, e é
claro que os policiais
iriam encontrá-lo ... notavelmente devido à morte do Todd.
Luce tinha prática o
bastante com os policiais para saber que ela apenas iria deixá-los
frustrados e
irritados.
O policial magro tinha costeletas longas que estavam ficando
grisalhas. O arquivo
aberto dela na mão dele parecia exigir sua atenção total,
porque nenhuma vez ele
olhou para ela. ― Miss Price, ― ele disse com um lento sotaque
suliMiss ― Por que
você e o Sr. Hammond estavam sozinhos na biblioteca numa hora
tão tardia
quando todos os outros estudantes estavam numa festa? ―
Luce olhou para seus pais. Sua mãe estava mordiscando seu
batom. O rosto do seu
pai estava tão branco quanto o lençol da cama.
― Eu não estava com
o Todd, ― ela disse, não entendendo a linha de
questionamento. ― Eu estava com a Penn, minha amiga. E a Miss
Sophia estava lá.
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Todd estava lendo sozinho e quando o incêndio começou, eu
me perdi da Penn, e
Todd foi o único que consegui achar. ―
― O único que conseguiu achar... para fazer o quê? ―
― Espera um minuto. ― O Sr. Schultz deu um passo para frente
para interromper o
policial. ― Isso foi um acidente, devo lembrar-lhe. Você não
está interrogando um
suspeito. ―
― Não, eu quero responder, ― Luce disse. Havia tantas pessoas
nesse minúsculo
quarto que ela não sabia para onde olhar. Ela olhou o policial.
― O que quer dizer?
―
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― Você é uma pessoa
nervosa, Miss Price? ― Ele agarrou a paMiss ― Você se
definiria como solitária? ―
― Já chega, ― seu pai
interrompeu.
― Sim, Lucinda é uma
estudante séria, ― a Miss Sophia acrescentou. ― Ela não
tinha nenhuma má vontade em relação a Todd Hammond. O que
aconteceu foi um
acidente, nada mais. ―
O policial olhou em direção a porta aberta, como se desejando
que a Miss Sophia se
deslocasse para fora dela. ― Sim, madame. Bem, com esses casos
de reformatório,
dar o benefício da dúvida nem sempre se é o mais responsável–
―
― Eu lhe contarei tudo
o que sei, ― Luce disse, embolando seu lençol em seu
punho. ― Eu não tenho nada a esconder. ―
Ela os conduziu da melhor maneira que conseguiu, falando devagar
e claramente
para que não levantasse novas perguntas para seus pais, para
que os policiais
pudessem tomar nota. Ela não se deixou escorregar para a emoção,
o que parecia
ser exatamente o que todos estavam esperando. E ― deixando
de fora a aparição
das sombras ― a história fazia bastante sentido. Eles tinham
corrido para a porta
traseira. Eles tinham encontrado a saída no final de um longo
corredor.
A escada desprendeu-se rapidamente, inclinando-se para longe
da base, e ela e
Todd ambos estiveram correndo com tanta força, não conseguiram
se impedir de
tombar escada abaixo. Ela o perdera de vista, batera sua cabeça
forte o bastante
para acordar aqui doze horas depois. Isso era tudo de que
ela se lembrava.
Ela deixou a eles muito pouco que se discutir. Havia apenas
a lembrança verdadeira
da noite para que ela combatesse ― por conta própria.
Quando acabou, o Sr. Schultz deu aos policiais uma inclinação
de cabeça do tipo
estão-satisfeitos?, e a Miss Sophia sorriu de alegria para
Luce, como se juntas elas
tivessem tido sucesso em algo impossível. A mãe de Lúcia soltou
um longo suspiro.
― Iremos refletir sobre
isso na delegacia, ― o policial magro disse, fechando o
arquivo de Luce com tal resignação que parecia que ele queria
ser agradecido por
seus serviços.
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Então os quatro saíram da sala e ela ficou sozinha com seus
pais.
Ela lançou-lhes seu melhor olhar me-levem-para-casa. O lábio
de sua mão tremeu,
mas seu pai só engoliu em seco.
― Randy vai te levar
de volta para a Sword & Cross essa tarde, ― ele disse. ― Não
pareça tão chocada, doçura. O médico disse que você estava
bem, ―
― Mais do que bem,
― sua mãe acrescentou, mas ela parecia incerta.
Seu pai deu-lhe um tapinha no braço. ― Te vemos no sábado.
Apenas mais alguns
dias. ―
Sábado. Ela fechou seus olhos. Dia dos Pais. Ela estivera
ansiando-o desde o
momento que chegara na Sword & Cross, mas agora tudo estava
tingido pela morte
do Todd. Seus pais pareciam quase ansiosos para deixá-la.
Eles tinham um jeito de
não querer exatamente lidar com as realidades de ter uma filha
em um
reformatório. Eles eram tão normais. Ela não podia realmente
culpá-los.
― Descanse um pouco
agora, Luce, ― seu pai disse, abaixando-se para beijá-la sua
teMiss
― Você teve uma noite
longa e difícil. ―
― Mas– ―
Ela estava exauMiss Ela fechou seus olhos brevemente e quando
os abriu, seus pais
já estavam acenando da entrada.
Ela arrancou uma rechonchuda flor branca do vaso e a levou
lentamente até seu
rosto, admirando as folhas profundamente lobuladas e as pétalas
frágeis, as gotas
ainda úmidas de néctar dentro de seu centro. Ela respirou
o odor suave e aromático
da flor.
Ela tentou imaginar o modo como teriam parecido nas mãos de
Daniel. Ela tentou
imaginar onde ele as tinha conseguido, e o que tinha estado
em sua mente.
Fora uma escolha tão estranha de flor. Peônias selvagens não
floresciam no
pantanal da Geórgia. Elas nem aderiam ao solo no jardim do
seu pai em
Thunderbolt. E, ainda, essas não pareciam quaisquer peônias
que Luce já tivesse
visto. As flores eram tão grandes quanto palmas das mãos vertidas
em conchas, e o
cheiro a lembrava de algo que ela não conseguia exatamente
identificar.
Sinto muito, Daniel dissera. Só que Luce não conseguia entender
exatamente pelo
que.
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