ONZE
“VOCÊ PRECISA DE ALGUMA COISA PARA VESTIR?” Lissa perguntou.
“Hmn?”
Eu olhei de relance para ela. Nós estávamos esperando a aula
de artes do Mr. Nagy Slavic
começar, e eu estava preocupada em ouvir Mia negar os
rumores sobre seus pais para os
amigos dela.
“Não é como se eles fossem serviçais ou coisa parecida.” Ela
exclamava,claramente frustrada.
Endireitando sua expressão, ela optou por arrogância. “Eles
são conselheiros praticamente. Os
Drozovs não decidem nada sem eles.”
Eu estrangulei um riso e Lissa balançou sua cabeça.
“Você está aproveitando muito esse momento.”
“Porque ele é impressionante. O que você acabou de me
perguntar?” Eu remexia na minha
mochila ,a procura do meu brilho labial. Eu fiz uma careta
quando eu o encontrei. Estava quase
vazio; Eu não sabia aonde estava ia arranjar mais.
“Eu perguntei se você vai precisar de alguma cosia para
vestir hoje à noite,” ela disse.
“Bem,sim, lógico que quero. Mas nenhuma de suas coisas cabem
em mim.”
“O que você vai fazer?”
Eu dei de ombros. “Improvisar,como sempre. De qualquer jeito
eu não me importo. Eu apenas
estou feliz porque Kirova me deixou ir.
Nós tínhamos uma assembléia hoje a noite. Era dia 1 de
Novembro, Dia de todos os santos –
também significava que fazia um mês que voltamos. Um grupo
da realeza estava visitando a
escola, inclusive a rainha Tatiana em pessoa. Honestamente,
não era isso que me empolgava.
Ela já tinha visitado a academia antes. Isso era muito comum
e muito menos legal do que
soava. Além de, após viver entre os humanos e seus lideres
eleitos, eu não pensava muito na
realeza. Mesmo assim, consegui permissão para ir pois todos
estariam lá. Essa era uma chance
de dar uma volta com pessoas reais para variar em vez de ficar
trancada no meu quarto. Por
um pouco de liberdade, definitivamente valia a dor de sentar
e escutar um discurso tedioso.
Eu não fiquei conversando com Lissa depois da aula como eu
geralmente fazia. Dimitri estava
mantendo a sua promessa de treinamentos e eu estava tentando
manter a minha. Eu agora
tinha duas horas adicionais de treinamento com ele, uma
antes e outra depois das aulas.
Quanto mais eu o assistia em ação, mais em compreendia a sua
fama de fodão. Ele claramente
sabia muito – suas seis marcas molnija provavam isso – e eu
ansiava por ele me ensinar o que
sabia.
Quando eu cheguei no ginásio, eu observei que ele estava com
uma camiseta e largas calças de
corrida, que era o oposto do seu usual jeans. Era um bom
visual para ele. Muito bom. Pare de
olhar ,eu imediatamente avisei a mim mesma.
Ele me posicionou para que nós pudéssemos nos encarar sobre
o colchonete então ele cruzou
seus braços. “Qual é o primeiro problema que você vai
encontrar quando confrontar um
Strigoi?”
“Eles são imortais?”
“Pense em alguma coisa mais básica.”
Mais básico que isso? Eu considerei. “Eles podem ser maiores
que eu. E mais fortes.”
A maioria dos Strigois- ao menos que tenham sido humanos
antes- tinham a mesma altura que
seus primos Moroi. Strigoi também tinham mais
força,reflexos, e sentidos que dhampir. Esse
era o porquê os guardiões treinavam tão duro; nós tínhamos
uma “curva de aprendizagem”
para compensar.
Dimitri concordou. “O que torna isso difícil mas não
impossível. Você pode usar a altura e peso
extra de uma pessoa contra elas.”
Ele se virou e demonstrou várias manobras,salientando onde
se mover e como derrubar
alguém. Passando os movimentos com ele, eu ganhei um pouco
de conhecimento em porque
eu levava, regularmente, tantas surras na prática em grupo.
Eu absorvi suas técnicas
rapidamente e não podia esperar para poder usá-las. Perto do
final do nosso tempo junto,ele
me deixou tentar.
“Vá em frente.” Ele disse “Tente me bater”
Não precisava pedir duas vezes. Indo em frente,eu tentei dar
um golpe e fui prontamente
bloqueada e derrubada no tapete. Dor surgiu pelo meu
corpo,mas eu me recusei a ceder a ela.
Eu pulei novamente, esperando pegar ele fora de guarda. Eu
não peguei.
Depois de muitas tentativas fracassadas, eu me levantei e
gesticulei com as mãos um sinal de
trégua. “Ok,o que eu estou fazendo de errado?”
“Nada”
Eu não estava convencida. “Se eu não estivesse fazendo nada
errado, eu já teria deixado você
inconsciente.”
“Improvável. Seu movimentos estão certos,mas é a primeira
vez que você tenta. Eu faço isso
há anos.”
Eu balancei minha cabeça e rolei meus olhos para as
velhas-e-sábias formas. Uma vez ele me
disse que tinha vinte e quatro anos. “Tanto faz o que você
diz,vovô. Podemos tentar de novo?”
“Nós não temos tempos. Você não quer ir se arrumar?”
Eu olhei para o relógio empoeirado pendurado na parede e me
animei. Era quase a hora do
banquete. Esse pensamento me fez sentir tonta e me senti
como a cinderela, mas sem as
roupas.
“Diabos, yeah, eu quero.”
Ele andou na minha frente. Eu o estudei com cuidado, percebi
que não podia deixar a
oportunidade passar. Eu pulei atrás dele,me posicionando
exatamente como ele me ensinou.
Eu tinha o elemento surpresa. Tudo estava perfeito,e ele nem
me veria chegando.
Antes de eu fazer contato,ele girou em uma ridiculamente
alta velocidade. Em um movimento,
ele me agarrou como se eu não pesasse nada e me jogou no
chão,me deixando lá.
Eu gemi. “Eu não fiz nada errado!”
Os olhos dele estavam no mesmo nível que os meus enquanto
ele segurava meus pulsos, mas
ele não estava tão sério como ele estava durante a aula. Ele
parecia achar isso engraçado. “O
grito de guerra meio que te entregou. Tente não gritar da
próxima vez.”
“Faria diferença se eu tivesse ficado quieta?”
Ele pensou sobre isso. “Não. Provavelmente não”
Eu suspirei ruidosamente, eu ainda estava de muito bom humor
para deixar que aquele
desapontamento me entristecesse. Tinha algumas vantagens em
ter um mentor tão bom – um
que era quase uma cabeça mais alto que eu e me superava no
peso consideravelmente. E isso
sem considerar sua força. Ele não era todo musculoso mas seu
corpo tinha muitos músculos
duros e esbeltos. Se eu pudesse vencer ele , eu venceria
qualquer um.
De repente,me ocorreu que ele ainda estava me segurando. A
pele de seus dedos estava
quente enquanto ele agarrava meus pulsos. Seu rosto se
encontrava a centímetros do meu,e
suas pernas e tronco estavam se pressionando contra mim.
Alguns de seus longos cabelo
castanhos caíam sobre seu rosto,e ele parecia estar
reparando em mim também,como aquela
noite na sala. E oh Deus ,ele tinha um cheiro tão bom.
Respirar se tornou difícil para mim,e não
tinha nada a ver com o meu treino ou com meus pulmões sendo
esmagados.
Eu seria capaz de dar qualquer coisa para ler a mente dele
naquela hora. Desde aquela noite
na sala,eu percebo ele me olhando com aquela mesma expressão
estudiosa. Ele nunca
realmente faz isto durante os treinos – aqueles eram apenas
negócios. Mas antes e depois, ele
às vezes aliviava um pouco,e eu via ele olhando para mim de
um jeito que era quase
admiração. E às vezes, se eu fosse muito,muito sortuda, ele
sorria para mim. Um sorriso de
verdade,também – não um seco como o que acompanhava o
sarcasmo que usávamos com
freqüência. Eu não queria admitir isto a ninguém – não a
Lissa, nem para mim mesma – mas
alguns dias,eu vivia por aqueles sorrisos. Eles iluminavam o
rosto dele. “Maravilhoso” nem de
longe era adequado para descrever ele.
Esperando parecer calma,eu tentei pensar em algo
profissional e relacionado a guardiões para
dizer. Em vez disso eu disse: “Então hm... você tem algum
outro movimento para me
mostrar?”
Seus lábios se torceram,e por um momento,eu pensei que iria
obter um daqueles sorrisos.
Meu coração pulou. Então, com um visível esforço,ele retirou
tirou o sorriso e mais uma vez se
tornou meu mentor durão-gentil. Ele saiu de cima de
mim,inclinando-se nos calcanhares e
levantou. “Venha. Precisamos ir.”
Eu tropecei em meus próprios pés e o segui para fora do
ginásio. Ele não olhou para trás
enquanto andava,e eu mentalmente me chutei no caminho até
meu quarto.
Eu estava tendo uma queda pelo meu mentor. Tendo uma queda
pelo meu mentor mais velho.
Eu tinha que estar fora de mim. Ele era sete anos mais velho
que eu. Velho o suficiente para
ser meu... bem, ok, nada. Mas ainda mais velho que eu. Sete
anos era muito. Ele estava
aprendendo a escrever quando eu nasci. Eu estava aprendendo
a escrever e jogar livros em
meus professores, ele provavelmente estava beijando garotas,
considerando a sua aparência.
Então eu não precisava de mais uma complicação na minha vida
agora.
Eu achei um suéter passável lá no meu quarto e depois de um
banho rápido, eu me dirigi até o
campus para a recepção.
Apesar da iminência das paredes de pedra,estátuas caras,e
torres do lado de fora do prédio, o
interior da academia era bastante moderno. Nós tínhamos
Wi-fi, luzes florescentes,e qualquer
coisa tecnológica que você possa imaginar. Os áreas comuns,
em particular, se pareciam muito
o restaurante no qual eu comia em Portland e Chicago, com
mesas retangulares simples,
paredes aconchegantes, e uma pequena sala larga ao lado onde
nossas duvidosas refeições
eram servidas. Alguém tinha pelo menos pendurado fotos em
preto-e-branco ao longo da
parede, em um esforço para decorá-la, mas eu não considero
fotos de vasos e árvores “arte”.
Esta noite, no entanto, alguém tinha conseguido transformar
as áreas comuns chatos em uma
boa sala de jantar. Vasos transbordando com rosas vermelhas
e delicados lírios brancos. Velas
brilhantes. Toalhas de mesa feitas de – esperem isso - linho
vermelho sangue. O efeito foi
deslumbrante. Era difícil acreditar que era o mesmo lugar
que eu normalmente comia
sanduíches com pedaços de galinha. Parecia feito para, bem,
uma rainha.
As mesas tinham sido arrumadas em linha reta,criando um
corredor no meio da sala. Tivemos
os lugares marcados, e naturalmente, eu não pude sentar nem
perto de Lissa. Ela sentou na
frente com um outro Moroi; e eu sentei nos fundos com os
aprendizes. Mas ela trocou um
olhar comigo quando entrei e ela me mandou um sorriso. Ela
tinha pegado um vestido de
Natalie emprestado – tomara-que-caia azul de cetim – que
ficava lindo com suas
características pálidas. Quem diria que Natalie tinha uma
coisa tão boa? Isso fez meu suéter
perder alguns bons pontos.
Eles sempre conduziam esses banquetes da forma. Uma mesa
principal ficava na frente do
estrado, onde nós podíamos fazer os “ohh” e “ahh” e assistir
a rainha Tatiana e os outros
nobres comiam o jantar. Os guardiões alinharam-se nas
paredes,tão duros e formais como
estátuas. Dimitri estava entre eles, e uma sensação estranha
se retorceu meu estomago
quando eu recordei o que aconteceu no ginásio. Os olhos
deles estavam fixados diretamente
para frente, como se estivesse se concentrando em nada e em
tudo na sala em uma só vez.
Quando a hora da entrada da realeza chegou, todos nós nos
levantamos em respeito e
prestamos atenção enquanto andavam pelo corredor. Eu
reconheci alguns, a maioria que
tinham filhos freqüentando a academia. Victor Dashkov estava
entre eles, caminhando
devagar e com uma bengala. Enquanto eu estava feliz por ver
ele, eu me encolhi por ver cada
agonizante passo que ele dava até a frente da sala.
Uma vez que o grupo tinha passado,quatro guardiões solenes
com casacos listrados vermelhos
e pretos entraram no cômodo. Todos menos os guardiões ao
longo da parede ficaram de
joelhos para uma idiota demonstração de lealdade.
Quanta cerimônias e pose, eu pensava cansadamente. Monarcas
Moroi eram escolhidos pelo
monarca precedente de dentro das famílias reais. O rei ou a
rainha não podiam escolher entre
seu ou sua própria descendência, e um conselho de nobres e
famílias reais poderiam escolher
com um motivo suficiente. O que nunca aconteceu, no entanto.
Rainha Tatiana seguiu seus guardas,vestindo um vestido de
seda vermelha com um casaco
combinando. Ela estava no início dos seus sessenta anos e
tinha cabelos cinza escuro cortado
na altura do queixo e coroada com uma tiara no estilo Miss
America. Ela andava lentamente,
como se estivesse dando um passeio, com mais quatro
guardiões às suas costas.
Ela se moveu através da sessão dos aprendizes bastante
rapidamente, apesar de ter acenado e
sorrido aqui e ali. Dhampirs podia ser meio humano, filhos
ilegítimos dos Moroi, mas nós
treinávamos e dedicávamos nossas vidas para servi-los e
protegê-los. A probabilidade de que
muitos de nós aqui morreria jovem era alta, e a rainha tinha
que mostrar respeito por isso.
Quando ela chegou na sessão dos Moroi,ela fez uma longa
pausa e até falou com alguns
estudantes. Era um grande negócio ser reconhecido, sobretudo
um sinal de que os pais de
alguém estava nas graças dela. Naturalmente, a realeza tinha
mais atenção. Ela não disse
muito a eles que fosse realmente interessante, na maioria dos
casos foram só algumas
palavras bonitas.
“Vasilisa Dragomir”
Minha cabeça levantou. Alarme fluindo através da ligação ao
som do nome dela. Quebrando o
protocolo, eu saí de minha posição e me ajustei para ter uma
visão melhor, sabendo que
ninguém iria me notar quando a rainha em pessoa chamava a
última dos Dragomir. Todo
mundo estava ansioso para ver o que a monarca iria dizer
para Lissa, a princesa fugitiva.
“Nós ouvimos falar que você retornou. Nós estamos felizes em
ter os Dragomirs de
volta,embora só reste um. Lamentamos profundamente a perda
de seus pais e seu irmão, eles
estavam entre os melhores dos Moroi, sua morte foi uma
verdadeira tragédia."
Eu nunca realmente entendi a realeza,a coisa do “nós”, mas
fora isso, tudo soou bem.
“Você tem um nome interessante,” ela continuou. “Muitas
heroínas de contos de fadas na
Rússia se chamavam Vasilisa. Vasilia a Corajosa, Vasilisa a
Bonita. Elas eram mulheres
diferentes,todas tendo o mesmo nome e as mesmas excelentes
qualidades:
força,inteligência,disciplina e virtude. Todas realizaram
grandes coisas,triunfando sobre seus
adversários.”
“Da mesma forma,o nome Dragomir comanda o mesmo respeito.
Reis e rainhas Dragomir tem
governado sabiamente e justamente em nossa história. Eles
tem usado seus poderes para fins
miraculosos. Eles tem matado Strigois, lutando ao lado de
seus guardiões. Eles eram da realeza
por um motivo"
Ela esperou um momento, deixando o peso de suas palavras
fazerem efeito. Eu podia sentir o
humor mudar na sala,bem como a surpresa e um tímido prazer
crescia em Lissa. Isso iria
mexer na balança social. Nós provavelmente poderíamos
esperar alguns tietes tentando cair
nas graças de Lissa amanhã.
“Sim” Tatiana continuou, “você provavelmente tem um nome com
poder. Seus nomes
representam as melhores qualidades que uma pessoa pode
oferecer e olhando para o passado
esperar por atos de grandeza e valor.” Ela parou um momento.
“Mas, como você teve
demonstrando, nomes não não fazem uma pessoa. Nem tem
qualquer relação no que essa
pessoa se transforma.”
E com esse tapa verbal na cara,ela virou de costas e
continuou sua procissão.
Um choque coletivo encheu a sala. Eu brevemente contemplei,
e em seguida, desisti de
qualquer tentativa de pular no corredor e atacar a rainha.
Meia dúzia de guardiões iriam me
derrubar no chão antes de eu tivesse dado cinco passos.
Então me sentei impaciente durante o
jantar, todo o tempo sentindo a absoluta mortificação de
Lissa.
Quando a recepção pós-jantar começou, Lissa fez uma linha
reta em direção aos pátios. Eu
segui, mas me retardei tendo de acenar por aí e evitando me
misturar, socializar com as
pessoas.
Ela vagava num pátio adjacente, um que combinava com o
estilo externo da academia. Um
teto entalhado com torções de madeira cobria o jardim, com alguns
buracos aqui e ali para
permitir a entrada de alguma luz, mas não o suficiente para
causar danos aos Moroi. Árvores,
folhas agora caídas por causa do inverno, alinhavam a área e
os caminhos levando para fora os
outros jardins, pátios, e um pátio central. Um lago, também
esvaziada para o inverno, ficava
num canto, e de pé sobre ela uma estátua imponente do
próprio São Vladimir. Esculpida em
pedra cinza, ele usava vestes longas e tinha uma barba e um
bigode.
Rodeando uma esquina, eu parei quando vi que Natalie tinha
me batido em relação à Lissa. Eu
considerei interromper, mas voltei antes de me verem.
Espionar poderia ser ruim, mas eu
estava repentinamente curiosa para ouvir o que Natalie tinha
a dizer para Lissa.
“Ela não deveria ter dito aquilo” Natalie disse. Ela usava
um vestido amarelo semelhante ao
corte de Lissa, mas de alguma maneira estava faltando a
graça e o porte para fazê-lo parecer
bonito. Amarelo também era uma cor horrível para ela.
Colidia com seu cabelo preto, que ela
quis colocar num coque central. “Isso não foi certo” ela
continuou. “Não deixe isso incomodar
você”
“Um pouco tarde para isso” os olhos de Lissa estavam fixados
numa pedra distante.
“Ela estava errada”
“Ela esta certa ,” Lissa exclamou. “Meus pais...e Andre...
eles iriam me odiar pelo que eu fiz.”
“Não,eles não iriam” Natalie disse com uma voz gentil.
“Fo estúpido fugir. Irresponsável.”
“Então o quê? Você cometeu um erro. Eu cometo erros o tempo
todo. Outro dia, eu estava
fazendo um trabalho de ciências, e era sobre o capitulo dez,
mas eu li o capitulo onz –” Natalie
parou,e em uma amostra notável de comedimento, ela voltou
aos trilhos. “As pessoas mudam.
Nós estamos sempre mudando, certo? Você não é a mesma de
quando era naquela época. Eu
não sou a mesma daquela época.”
Na verdade, Natalie parece exatamentea mesma para mim, mas
isso não me incomoda mais.
Eu tinha me afeiçoado a ela.
“Além do mais,” ela adicionou, “fugir foi mesmo um erro?
Você deve ter feito isso por uma
razão. Você deve ter obtido algo com isso, certo? Havia um
monte de coisas ruins acontecendo
com você, não é? Com seus pais e seu irmão. Quero dizer,
talvez era a coisa certa a fazer.”
Lissa escondeu um sorriso. Ambas de nós tínhamos certeza de
que Natalie estava tentando
descobrir porque nós tínhamos ido embora – assim como todo
mundo na escola. Ela meio que
era péssima em ser discreta.
“Eu não sei se isso foi, não,” Lissa respondeu. “Eu era
fraca. Andre não teria fugido. Ele era tão
bom. Bom em tudo. Bom em ficar junto das pessoas e toda essa
porcaria de realeza.”
“Você é boa nisso também.”
“Eu acho. Mas eu não gosto disso. Eu quero dizer, eu gosto
de pessoas... mas a maioria das
coisas que elas fazem é tão falsa. É disso que eu não
gosto.”
“Então não se sinta mal por não se envolver.” Natalie disse.
“Eu não ando com todas aquelas
pessoas, e olhando para mim . Eu estou bem. Papai dizia que
ele não se importava se eu andar
com a realeza ou não. Ele só quer me ver feliz.”
“E isso,” eu disse,finalmente me fez aparecer, “é porque ele
deveria estar governando em vez
daquela rainha vadia. Ele foi roubado.”
Natalie pulou quase dez passos. Eu tinha quase a absoluta
certeza de que o vocabulário de
xingamentos dela consistiam basicamente de “deus do céu” e
“maldição”.
“Estava me perguntando por onde você andava,” Lissa disse.
Natalie olhou para frente e para trás entre nós, de repente
parecendo um pouco
envergonhada de estar entre um grupo de melhores amigas. Ela
se mexeu
desconfortavelmente e enfiou um pouco do seu desorganizado
cabelo atrás de sua orelha.
“Bem... Eu deveria encontrar meu papai. Te vejo lá no
quarto.”
“Até logo,” Lissa disse. “E obrigada.”
Natalie saiu apressadamente.
“Ela chama mesmo ele de ‘papai’?”
Lissa me cortou com um olhar. “Deixe ela em paz. Ela é
legal.”
“Ela é, de verdade. Eu ouvi o que ela falou, e por mais que
eu odeie admitir, não tinha nada do
que fazer graça. Era tudo verdade.” Eu parei. “Eu vou matar
ela,você sabe. A rainha,não
Natalie. Se ferrem os guardiões. Eu faço isso. Ela não pode
se safar dessa.”
“Deus, Rose! Não diga isso. Eles vão te prender por traição.
Deixe disso.”
“Deixar isso? Depois do que ela disse para você? Na frente
de todo mundo?”
Ela não respondeu e nem olhou para mim. Ao invés
disso,brincou distraidamente com os
ramos de um desordenado arbusto, que tinha ficado adormecido
pelo inverno. Havia um olhar
vulnerável nela que eu pude reconhecer – e temia.
“Hey” Eu abaixei minha voz. “Não fique assim. Ela não sabe
do que ela estava falando, ok? Não
deixe isso te deixar triste. Não faça nada que você não
deva.”
Ela olhou de relance para mim. “Vai acontecer de novo, não
é?” ela sussurrou. A mão dela,
ainda agarrando a árvore,começou a tremer.
“Não se você não deixar.” Eu tentei olhar para seus pulsos
sem ser muito óbvia. “Você não
teve?...”
“Não” Ela sacudiu a cabeça e piscou para reprimir as
lágrimas. “Eu não queria. Eu estava
chateada por causa da raposa, mas está tudo bem. Eu gosto da
coisa de andar na correnteza.
Eu sinto falta de ver você, mas tudo vai ficar bem. Eu
gosto...” Ela pausou.
Eu pude ouvir as palavras se formando na mente dela.
“Christian”
“Eu desejo que você não pudesse fazer isso. Ou nãofizesse.”
“Desculpe. Eu preciso te dar a conversa sobre o Christian é
um psicopata perdedor de novo?”
“Eu acho que tenho isso memorizado depois das dez últimas
vezes.” Ela murmurou.
Eu estava começado a de número onze quando eu ouvi o som de
risos e o barulho de saltos
altos nas pedras. Mia andou com alguns amigos a reboque, mas
sem Aron. Imediatamente,
meus instintos de defesa se ligaram.
Internamente, Lissa ainda estava abalada com os comentários
da rainha. Tristeza e humilhação
estavam serpenteando dentro dela. Ela se sentia envergonhada
pelo que os outros iriam
pensar dela agora e continuava pensando sobre como a família
dela a teria odiado por fugir.
Eu não acreditava nisso, mas parecia real para ela, e suas
emoções obscuras se agitavam e
agitavam. Ela nãoestava bem, não importando o quanto casual
ela estava tentando agir, e eu
estava preocupada que ela fosse fazer algo imprudente. Mia
era a ultima pessoa que ela
precisava ver agora.
“O que você quer?” Eu exigi.
Mia sorriu arrogantemente para Lissa e me ignorou, dando
alguns passos a frente. “Só quero
saber como é se sentir tão importante e tão nobre. Você deve
ter ficado tão empolgada de
que a rainha falou com você.” Risinhos vieram a tona a
partir do grupo reunido.
“Você está muito perto.” Eu me pus de pé entre elas, e Mia
recuou um pouco, provavelmente
ainda preocupada com que eu pudesse quebrar o braço dela. “E
hey, pelo menos, a rainha
sabia o nome dela, que é mais do que eu posso dizer sobre
você e o seu presunçoso ato real.
Ou de seus pais."
Eu pude ver a dor que isso causou a ela. Cara, ela queria
tanto ser da realeza. “Ao menos eu
vejo meus pais,” ela retrucou.
“Ao menos eu sei quem são ambos. Só Deus sabe quem é o seu
pai. E sua mãe é a guardiã mais
famosa por aqui, mas ela também não dá a mínima para você.
Todos sabem que ela nunca te
visita. Provavelmente ficou feliz quando você foi embora. Se
ela ao menos notou isso."
Essa doeu. Eu trinquei meus dentes. “Yeah, bem, pelo menos
ela é famosa. Ela realmente
aconselha a realeza e os nobres. Ela não faz a limpeza
depois disso.”
Eu ouvi um de seus amigos abafar uma risadinha atrás dela.
Mia abriu a boca, sem dúvidas
para soltar várias de suas réplicas que ela deve ter
acumulado desde que a história começou,
quando uma lâmpada subitamente apagou em cima de sua cabeça.
“Foi você,"ela disse abrindo os olhos. “Alguém me
contou que foi Jesse que começou com isso,
mas ele não podia saber nada sobre mim. Ele pegou isso de
você, quando você dormiu com
ele."
Agora ela estava realmente começando a me aborrecer. “Eu não
dormi com ele.”
Mia apontou para Lissa e voltou a mim. “Então é isso, huh?
Você fez o trabalho sujo dela
porque ela é patética demais para fazer por ela mesma. Você
não poderá sempre protegê-la”
Ela avisou. "Você também não está segura.”
Ameaças vazias. Eu me inclinei para frente, fazendo minha
voz parecer a mais ameaçadora
possível. E no meu humor atual, não era difícil. “É?
Experimente e me toque agora e
descubra.”
Eu esperava que o fizesse. Eu queria. Nós não precisávamos
de uma vingança suja nas nossas
vidas exatamente agora. Ela era uma distração – uma que eu
queria muito socar agora.
Olhando atrás dela, eu vi Dimitri se movendo no jardim, os
olhos procurando alguma coisa –
ou alguém. Eu tinha uma idéia muito boa de quem era. Quando
ele me viu, ele seguiu adiante,
mudando a sua atenção quando ele percebeu a multidão em
torno de nós. Guardiões
conseguem sentir cheiro de luta a uma milha de distancia. É
claro, uma criança de seis anos
poderia sentir o cheiro dessa luta.
Dimitri ficou ao meu lado e cruzou seus braços. “Está tudo
bem?”
“Certamente, Guardião Belikov.” Eu sorri enquanto disse
isso, mas eu estava furiosa.
Enraivecida, até. Todo esse confronto com Mia só fez Lissa
se sentir pior. “Nós estamos apenas
trocando histórias familiares. Já ouviu a de Mia? É
fascinante."
“Vamos” ela disse a seus seguidores. Ela os levou embora,
mas não sem antes me dar um
último olhar frio. Eu não precisava ler a mente dela para
saber o que ela dizia. Não estava
acabado. Ela ia tentar pegar uma de nós ou as duas
novamente. Legal. Pode vir, Mia.
“Eu deveria levá-la de volta ao seu dormitório,” Dimitri me
disse secamente. “Você não estava
prestes a começar uma luta, estava?”
“Claro que não,” eu disse, ainda olhando fixamente para a
entrada vazia pela qual Mia tinha
desaparecido. “Eu não começo lutas onde as pessoas possam
ver elas”
“Rose,” Lissa gemeu.
“Vamos. Boa noite, princesa.”
Ele se virou, mas eu não me movi. “Você vai ficar bem,
Liss?”
Ela acenou com a cabeça. “Eu estou bem.”
Isso era uma mentira, eu não pude acreditar que ela teve a
coragem de tentar passar essa em
mim. Eu não precisava da ligação para ver lágrimas brilhando
em seus olhos. Nós nunca
deveríamos ter voltado a este lugar, eu percebi desolada.
“Liss...”
Ela me deu um pequeno, e triste sorriso e acenou na direção
de Dimitri. “Eu disse a você, eu
estou bem. Você tem que ir.”
Relutante,eu segui ele. Ele me levou para fora, na direção
do outro lado do jardim. “Nós
deveríamos acrescentar um treinamento extra de auto
controle.” Ele observou.
“Eu tenho um abundante auto contr– hey!”
Eu parei de falar quando vi Christian passar por nós, se
movendo pelo trajeto que nós
tínhamos vindo. Eu não o tinha visto na recepção, mas se
Kirova tinha me permitido vir esta
noite, eu suponho que ela tenha feito o mesmo com ele.
“Você esta indo ver Lissa?” Eu exigi, deslocando minha raiva
de Mia para ele.
Ele colocou suas mãos dentro dos bolsos e me deu um olhar de
bad-boy indiferente. “E se eu
estivesse?”
“Rose, essa não é a hora,” Dimitri disse.
Mas era a hora. Lissa tinha ignorado meus avisos sobre
Christian há semanas. Essa era a hora
de ir em frente e parar com aquele ridículo flerte entre os
dois de uma vez por todas.
“Por que você não deixa ela em paz? Você está tão ferrado e
desesperado por atenção que
você não pode dizer quando alguém não gosta de você?” Ele
olhou com raiva. “Você é um tipo
de assediador louco, e ela sabe disso. Ela me contou tudo
sobre sua estranha obsessão – como
vocês estão sempre no sótão juntos, como você ateou fogo em
Ralf para impressioná-la. Ela
acha que você um esquisito, mas ela é muito boazinha para
dizer alguma coisa.”
Seu rosto ficou pálido,e alguma coisa obscura se agitava nos
olhos dele. “Mas você não é
muito boazinha?”
“Não. Não quando eu sinto pena de alguém.”
“Chega” Dimitri disse, me dirigindo para longe.
“Obrigado pela ‘ajuda’ então.” Christian repreendeu, a voz
dele transbordando animosidade.
“Sem problemas,” eu disse por cima dos meus ombros.
Quando fomos um pouco mais para frente, eu relancei um olhar
para trás de mim e vi
Christian logo além do jardim. Ele parou de andar e agora se
estava olhando o caminho que
levava até Lissa no pátio. Sombras cobriam seu rosto
enquanto ele pensava e, em seguida, ele
se virou voltando para o dormitório Moroi.
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